Quatro Elementos: O Confronto escrita por Amanda Ferreira


Capítulo 25
Cemitério


Notas iniciais do capítulo

Oláa! Como vão? Espero que bem.
Capítulo não saiu do jeito que eu queria, maaaaaas o próximo sai :D
Estou disponível a pedidos de fotos, gifs, ect!
Obs: Como estão vendo estou postando uma semana sim e outra não. Será assim agora, porque fica mais fácil de escrever e tenho mais tempo.
Tó sem ideias para falar agora, então ate mais.
Boa leitura queridos! beijos



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Felipe

O vento frio sacudiu as arvores mais uma veze pude sentir gotas finas tocarem meu rosto, indicando a chuva que logo chegaria. Suspirei sentindo o ar frio entrar pelas minhas narinas e o cheiro de terra molhada.

A Bia apertou o braço em volta do meu e a ouvi dar outro soluço baixo. Levantei os olhos e olhei em volta. Os rostos familiares poderiam ser definidos de uma única forma: desolados.

Todos pareciam distantes, perdidos em seus pensamentos ou simplesmente... se lamentando. Qualquer um de nós poderia ter impedido isso, mas ao invés, estávamos ocupados demais a procura do... nada. Afinal de contas, a Jeniffer não estava onde pensávamos. E sim, debaixo dos nossos narizes. E agora, o João estava morto e a culpa era nossa. Nos distraímos, caímos bem no plano dela, mais uma vez.

Olhei a cova antes vazia, agora ocupada por um caixão preto e comprido. Senti um aperto no peito sentindo a morte a nossa volta.

É aquie agora. - todos os olhares foram direcionados a Claudia.

Ela estava com calça preta e um casaco comprido, também preto. Os cabelos tinham crescido um pouco, agora abaixo dos ombros, num castanho-dourado. Os olhos chocolate estavam vermelhos como o nariz. Ela não tinha dito nenhuma palavra desde que nos encontramos de manhã no instituto. Estava tentando ficar sozinha na sua perda.

Ele lutou ate o ultimo momento. - ela continuou levando a mão no rosto para limpar uma lagrima intrusa. - Nenhum de nós estava lá para ajuda-lo, mas o que podíamos fazer? Quem iria prever? Será que coseríamos impedir? - ela engoliu o choro e suspirou, parecendo cansada para continuar. - Agora nós devemos lutar. Lutar por ele, lutar pelo certo, pelos que amamos e pela Lucy.

Olhei para o chão mais uma vez sentindo o peço da culpa cair sobre mim. A Lucy estava com a Jeniffer agora e sabe-se Deus o que ela fará. Enquanto isso acontecia, eu estava só pensando em mim. Me esqueci completamente que tem um mundo aqui fora e fui despertado da pior maneira.

Está tudo pronto para ela. - a Claudia se manifestou mais uma vez, ate porque acho que nenhum de nós conseguiria dizer algo. - A vampira tem tudo o que precisa: doze sacríficos humanos, um sacrifico imortal puro e... não vai demorar muito para conseguir a lapide. Mas nós vamos impedi-la. Juntos.

Vamos matá-la! - o Rick sussurrou. Todos nos viramos para olha-lo surpresos.

O Rick também não falou nada desde a manha. Estava com uma expressãovazia, mas agora eu sabia que não era exatamente isso e sim uma expressão de raiva. Agora, ele olhava para os próprios pés com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco preto.

Quem a encontrar primeiro... - ele continuou com uma voz sem vida. - A mata primeiro.

Ele levantou a cabeça e varreu cada rosto com o olhar ate encontrar os meus olhos. Vi que não era brincadeirae nunca o vi perder o sorriso torto e falarde maneira tão seria antes. Ele sustentou meu olhar, deixando claro sua raiva na própria cor dos olhos. O castanho estava sendo tomado pelo vermelho, deixando-o... sombrio.

A morte de um de nós. - ele falou ainda com sua voz seca. - Vai custar muito para ela.

...

Fecheiaportatentandonãofazermuitobarulho.A Clairesubiuasescadas devagar demais. O Rick e a Kate foram com a Claudia para o instituto e nos encontraríamos em uma hora.

A casa da Kate era mesma de sempre. Familiar e... cheia de lembranças. Tirei o casaco e pendurei numa cadeira que estava ali. Olhei a janela vendo o Jonny cortar madeira sem dificuldade e erguer sua obra: estacas com as pontas afiadas e compridas.

Remexi no cabelo e vi a Bia sentadano sofá meio curvada e de braços cruzados. Andei ate ela e me sentei ao seu lado. Ela virou um pouco a cabeça para me olhar. O rosto parecia molhado, os olhos castanho-escuros estavam vermelhos, o nariz também, meio rosado. Seus cabelos caiam ate o meio das costas dando leves cachos nas pontas e ela usava uma toca de lã marrom.

Era claro que a morte do João afetou a todos, mas a ela e a Claudia principalmente. Afinal eram elas que estavam com ele a mais tempo.

Ela estremeceu em mais um soluço e mordeu os lábios. Se virou para olhar o chão e seu corpo estremeceu mais uma vez.

Ei! - estendi os braços a puxando devagar para mim. Ela se aconchegou no meu abraço e ouvi–a se render ao choro de novo.

Seu choro tinha um som de dor, medo, tristeza. Engoli a dor que estava se formando na minha garganta e senti as lagrimas se acumularem nos meus olhos. Afundei o rosto no seu cabelo sentindo seu perfume de flores preencher e sufocar a dor.

Ele... - ela começou entre soluços. - Ele não merecia isso. - mais soluços. - Por...P...por que isso... tá-tá acon...acontecendo?

Eu não sei. - passei a mão pelo seu cabelo tentando acalma-la.

Uma-uma... vez. - ela se afastou um pouco limpando o rosto com a manga da blusa de frio comprida. - Uma vez el–ele me disse que... que a morte. - ela respirou profundamente e me olhou. - Que a morte era a cura de toda a-a-a dor que nós... que nós sentimos aqui.

Ela balançou a cabeça respirando fundo de novo e secando o rosto com as mãos.

Mas por que dói tanto? - vi as lagrimas quase transbordarem dos seus olhos. - Por que eu acho que a morte não énada bom?

Balancei a cabeça a puxando de encontro a mim de novo. Acariciei seu cabelo.

Talvez a morte seja.... a chave da liberdade ou apenas... uma nova chance.

O João era como um pai que nunca tive. Ele me acolheu, me ajudou, me ensinou coisas que nunca imaginaria aprender sozinha. - ela afundou a cabeça no meu peito. - Ele me salvou e agora... eu nunca mais vou poder retribuir.

Ele se orgulhava de você. - assenti. - E nós vamos impedir que a Jeniffer consiga o que quer. Vamos trazer a Lucy de volta... por ele.

Vamos matá-la. Ela vai pagar pelo que fez.

Deixei um beijo nos seus cabelos e suspirei. Se a Jeniffer merece morrer? Claro que sim. mas será que conseguimos para-la?

***

Claire

Encarei meu reflexo no espelho.

Passei a mão na cabeça abaixando um fio que escapava do meu rabo-de-cavalo. Suspirei e puxei o feixe do casaco cinza. Talvez tudo acabe hoje ou... não.

A porta se abriu lentamente trazendo um ruído baixo. Me virei assentindo para que ele entrasse. Ele passou fechando a porta com cuidado e depois ficou me olhando.

Estava com uma blusa preta com bolsos e capuz, uma calça jeans escura e sapatos escuros também. Os cabelos negros estavam desalinhados, a pele clara destacava seus traços e os olhos grandes e verdes. Ele retorceu os lábios, acho que tentado dizer um "oi". Suas mãos estavam enfiadas nos bolsos da blusa.

Como... - ele olhou o quarto por um instante depois me olhou de novo. - Como ele está?

Terrível, mas eu nem sei direito. - falei suspirando. - Eu nem sei dizer o que o afetou mais. Se foi a morte do João ou a Lu...

Os dois juntos. - sussurrou.

Eu não sei. Ele não falou comigo desde... desde que descobrimos.

Você está bem? - ele andou alguns passos ate mim, mas ainda ficou distante.

Eu não... - engoli as lagrimas que queriam sair. - Eu não sei.

Ah Claire! - olhei para baixo e me surpreendi quando seus braços me envolveram. Me rendi passando os braços na sua volta e afundando a cabeça no seu pescoço sentindo seu perfume doce que nunca reparei antes. Um doce e confortável cheiro de menta.

Eu não sei mais o que fazer. - sussurrei contra sua blusa. - Não sei Felipe.

Shiii! - ele me apertou mais. - Tudo bem! Chega uma hora que não dá mais para segurar.

Suspirei deixando as lagrimas descerem pelo meu rosto. Tudo o que eu queria agora era falar. Falar com alguém, alguém que realmente queira escutar.

Eu e o Rick nos afastamos, eu nem sei o que ele está pensando agora, não sei o que dizer. - senti ele suspirar.O que a gente faz agora Felipe? - me soltei devagar do seu abraço e encarei seus olhos. - Eu nem sei o que vai acontecer se a Lucy for...

Não! - ele estendeu a mão tampando minha boca. - A Lucy não. Vamos lutar por ela. Ouvi você dizer isso tantas vezes, o que a fez mudar de ideia?

Suas sobrancelhas se uniram e ele me encarou esperando uma boa resposta.

Não mudei.Eu só... não consigo acreditar em nada disso que está acontecendo.

Uma fase de má sorte. - ele esticou a mão limpado meu rosto. - Vamos superar isso. Já fizemos antes.

Assenti e estendi os braços vendo-o dar um meio sorriso e me abraçar de novo.

Eu nem conhecia o João tanto, mas sabia o suficiente que... que não deveria ser assim.

É. Não deveria.

...

Assim que sai porta afora encontrei o olhar do Felipe que estava do outro lado segurando a mão da Bia e com a Caroline do seu lado. Ele assentiu e deu aquele seu sorriso de anjo. Tentei retribuir com um sorriso, mas o único que me saiu foi um suspiro.

Andei apressada na direção do Jonny que estava mais perto da floresta, acho que tentando ouvir alguma coisa. Parei perto de uma pedra grande onde ele deixou facas e varias estacas prontas e afiadas.

Só deu tempoderespirar mais uma vez, quando olhei para o Jonny de novo, só pude ver um vulto escuro sair da floresta vindo na minha direção e então fui atingida por um peso e meu corpo foi forçado a ir para trás me fazendo perder o equilibro e cair de costas na grama molhada. Senti minha coluna reclamar, abri os olhos encontrando um par de olhos dourados me encarando e presas afiadas em um focinho comprido.

Um rosnado saiu da sua garganta e sua boca foi se fechando devagar ate não parecer mais tão ameaçador. Olhei dentro dos seus olhos dourados e senti uma onda de calor passar pelo meu corpo.

Daniel. - sussurrei para mim mesma e o lobo, ali em cima de mim quase assentiu.

Suas patas enormes deixaram o meu corpo livre e ele ficou de pé ao meu lado ainda me olhando, deixando os pelos marrons se balançarem no vento que começava. Ele se virou e me forcei a ficar pelo menos sentada.

Da floresta bem na minha frente mais cinco lobos surgiram. Grandes, três escuros e os outros dois mais claros. E logo atrás deles ele surgiu com um meio sorriso ao me ver no chão.

Hora de conversar velhos amigos!

***

Rick

Tudo parecia errado e fora do lugar. A morte do João, a Jeniffer, a Lucy. Ate mesmo o dia parecia fora do lugar. Nuvens espessas cobriam todo o céu, deixando-o num tom alaranjado, mostrando que frio chegaria mais tarde ou ate mesmo a chuva.

Nunca me senti pior, nem mesmo quando terminei com a Bia a mais ou menos um ano atrásou... ela terminou comigo... Mas algo estava claro ate para mim: o que a Jeniffer fez não iria passar ileso.

O mundo parecia se deslocar lento demais, o tempo parecia passar devagar demais e tudo o que eu conseguia pensar agora era na Lucy nas mãos da vadia louca. Eu só tinha que me concentrar em encontra-la e depois sim... eu a mataria, mataria a vampira.

Rick? - a Kate me tirou do transe. - Vamos?

Olhei em volta me sentindo meio nostálgico. Já havia minutos que eu estava sentado na cadeira ao lado do quarto da Claudia. Nem prestei atenção quando elas entraram e agora saíram com roupas diferentes, roupas de inverno.

Olhei rapidamente a Kate que me esperava paciente. Os cabelos loiros caiam nos ombros, ela usava uma leg preta, um casaco comprido num azul bem escuro e botas também pretas.

Me levantei devagar demais, como se a atmosfera me puxasse para baixo. Andei passos lentos e parei perto da escada para espera-las. A Claudia saiu do quarto com roupas pretas e uma enorme mala nas mãos.

As duas andaram na minha direção e a Kate puxou minha mão direita do bolso, a apertou com força me lançando um olhar serio e falou em voz baixa:

A raiva não vai salvar a Lucy. E sim a sua sanidade e o seu dom.

Fixei nos seus olhos dourados e assenti tendo a sensação de calma me invadir.

Vamos. - a Claudia chamou já do fim da escadaria. - Temos muito o que fazer.

...

O vento estava congelante, tudo parecia cinza e sem vida, ate mesmo a expressão das pessoas que passavam por nós. Tudo estava longe de ficar bonito, ou ate mesmo... bem.

A grama da casa da Kate estava seca e num verde quase cinzento. Os pingos de chuva deixavam gotículas nas folhas das arvores e agora no meu capuz preto. A chuva fina começava a cair fazendo o vento frio parecer cada vez pior.

Fui o primeiro a subir os degraus da varada e abrir a porta afim de entrar sob o teto aquecido da sala de estar da loira. Passei pela porta e parei na mesmaassim que vi um grupo bem maior do que tinha deixado quando sai.Olhei em volta reconhecendo os rostos familiares. A Claire perto da janela, o Felipe sentado no sofá com a Bia do seu lado. O Jonny escorado na soleira da porta da cozinha com uma expressão rancorosa e por fim o...

Vicente? - saiu mais alto do que eu pretendia. - Que diabos ele está fazendo aqui?

Que diabos todos esses estão fazendo aqui? - a Kate perguntou atrás de mim.

Viemos em missão de paz. - o Vicente deu um passo a frente dando um sorriso torto.

Revirei os olhos e olhei diretamente para o Felipe que devia ter evitado isso. Ele deu de ombros e balançou a cabeça.

Eles podem ajudar e falar coisas que nós não sabemos. - a Claire falouolhando rapidamente para nós e depois deu um meio sorriso para um cara que ate agora eu ainda não tinha notado. Estava perto da escada com uma calça jeans, camisa preta com um casaco por cima. Era mais baixo do que eu e tinha a pele clara, pálida na verdade e os cabelos num castanho-loiro caindo sobre a testa.

Ele se endireitou e olhou para nós, me encarando por alguns longos segundos e depois desviando o olhar para falar com uma voz rouca e baixa:

Sabemos onde a garota está, a vampira e lápide.

Mas a lápide ainda está com... - a Kate começou a falar e sua voz foi sumindo.

Estava conosco. - o Jonny se manifestou saindo da sua posição e andando ate nós. - Além de bruxa original e poderosa, a Liz é uma ótima atriz.

Foi ela que devolveu a lápide. Era mentira então? Nós mesmos conferimos. - me virei para a Kate que assentiu.

–Como eu não vi? - a Kate perguntou olhando as próprias mãos.

Era um truque. - o garoto voltou a falar.

–E você... quem é? - me virei encarando-o.

–Daniel. - ele respondeu rapidamente.

–Não importa. - ouvi a Kate resmungar.

A bruxa estava com a verdadeira lápide e... com a vampira também.– ele ignorou a loira e continuou.

Como assim com a vampira? - a Claudia perguntou.

Para ser completo, a lápide ativada, ela não precisa só da garota imortal. O que adiantaria se não tivesse quem pratica magia para ativar o poder? - ele olhou para nós. - Quem realmente nasceu para praticar magia.

Uma bruxa original. - falei colocando tudo em ordem agora.

A Liz nunca apareceu para ajudar. Tudo o que aconteceu no hospital, aqui, era parte do plano. Ela queria todos juntos, todos os elementos juntos e vivos.

O equilíbrio vai cair. - o Vicente falou ficando ao lado do garoto. - E quem irá pagar por isso é ninguém menos, ninguém mais...

Que os quatro elementos. - o interrompi completando sua frase.

Todos me olharam e o Vicente deu um meio sorriso.

A vampira precisa canalizar muito poder para conseguir ativar um pedaço da lapide. - o Vicente continuou. - Hoje é lua nova, ela tem a imortal, a lapide, a bruxa e os mortos.

Ou seja. - o garoto voltou a falar completando a explicação. - Ela vai usar a força dos mortos num antigo cemitério na fronteira. Ele está abandonadoa muito tempo, mas sempre foi alvo de magia negra.

Então só temos até a lua nascer. - o Felipe falou em voz baixa.

Então iremos antes. - falei respirando com força. - E destruiremos os seus planos.

***

Bia

Observei a Kate entrar e sair da casa com algumas mochilas. O Felipe subir e descer escadas trazendo alguns cintos e sacolas. A Claire remexer na cozinha parecendo cansada e estressada. O Rick continuava sentado na escada com as mãos na cabeça parecendo meio perturbado e em algum mundo paralelo.

Pela janela eu podia ver o Jonny sumir e voltar das arvores. O Vicente conversar apressadamente com a Claudia e um dos seus lobos andar de um lado para o outro. Um lobo grande e negro cujo os olhos dourados encontraram os meus. O encarei por segundos curtos e logo desviei voltando a minha tarefa: encontrar qualquer feitiço de portal nos livros da Kate.

Iriamos seguir para o tal cemitério daqui alguns minutos. Tudo o que o Vicente disse foi: "Vamos ao lar dos antigos mortos".Isso não me agrada nem um pouco e ainda mais sabendo que a Lucy está lá com aquela louca da Jeniffer.

Fechei o ultimo livro e me levantei arrumando a roupa no corpo. Puxei a touca de lã na minha cabeça para tampar os ouvidos e sai para o quintal, onde o vento sacudia as folhas das arvores. Observei seus cabelos castanhos esvoaçarem enquanto ela enfiava as mãos nos bolsos do casaco marrom.

Tentei sorrir assim que ela se aproximou, mas o máximo que saiu de mim foi uma careta estranha. Ela deu um sorriso amarelo e parou na minha frente.

Primeiro: eu sinto muito! - falou olhando o chão por um segundo depois para mim. Segundo: quero ajudar de alguma forma. Terceiro: eu nunca soube o que a Liz planejava e estou ate me sentindo mal por isso.

Olha Caroline, a Liz... é uma idiota. - suspirei.

É uma traidora. - ela falou me analisando com seus olhos verdes. - Mas eu não. Estou aqui pelo Felipe, é claro. Mas aquela garota não... não precisa passar por isso.

A Lucy é importante pra todos nós e vamos lutar por ela. Custe o que custar.

Ela assentiu colocando algumas mechas do cabelo liso atrás da orelha.

Lutarei por ela também. - ela tentou sorrir.

Obrigado!

Sorriu e se afastou de mim da mesma maneira que apareceu: rápida e pratica.

Tudo o que vocês tem que fazer é encontrar uma tumba que fica no centro do cemitério. - a Claudia anunciava a todos nós. - Lá foi velada uma bruxa antiga e poderosa, de onde será tirado o poder da ativação da lapide. - ela colocou uma mochila nas costas. - Lembrem-se: sem bruxa, sem feitiço.

...

Uma hora e meia depois estávamos no ponto final, ate onde poderíamos ir com o carro. A floresta da Tijuca, o fim dela pelo menos. Uma parte afastada da urbanização.

Minhas botas chacoalhavam na terra molhada e o vento... o vento estava louco, como se quisesse avisar que algo ruim estava chegando. Não só o vento, mas o céu escuro acima de nós. Nuvens pesadas se formavam e a escuridão começa a chegar. Uma tarde de tempestades.

Olhei em volta vendo o lobo negro nos acompanhando e chiado sair da sua garganta. Apertei com força a mão do Felipe e engoli o cheiro de chuva chegando.

Tudo bem? - o Felipe perguntou tentando olhar meu rosto.

Só... só não estou tendo um bom pressentimento. - levantei o olhos para vê–lo.

Sua expressão era... distante, como se estivesse sentindo o mesmo que eu.

Eu não sei o que vamos fazer. - ele remexeu os olhos rapidamente. - Não sabemos nem com quem estamos lidando.

Está se referindo a Liz?

Também. - ele assentiu e começou a olhar para frente. - A Jeniffer. Pensei que já tinha conhecido todas as artimanhas dela, mas... acabei percebendo que não.

Nunca conhecemos um inimigo por completo.

Não. - suspirou. - Eu só não seiaté onde ela ainda pode ir.

Vamos descobrir. - apertei sua mão de novo. - Juntos.

Ele me olhou e deu o seu sorriso torto, me apertou mais se virando um pouco para depositar um beijo na minha testa.

Um rugido baixo do nosso lado nos deu o sinal final: havíamos chegado.A estrada vazia erao que separava a floresta do cemitério. Do outro lado lá estava ele. Parecia ser pequeno do lado de fora. As paredes baixas não estavam todas de pé, alguns lados sim, outros não. A paisagem mórbida dava um ar assustador. Arvores sem folhas e retorcidas, pedras grandes indicavam que elas havia derrubado as poucas paredes. Um portão alto e enferrujado se destacavano centro, com seu ferro torto ele subia em uma pirâmide. Bem em cima do portão com letras tortas estava: CEM TIO C MU I TÁR O. Que obviamente era Cemitério Comunitário.

Pelas falhas das paredes caídas dava para ver o lado de dentro. Túmulos e mais túmulos formavam filas compridas umas aos lados das outras. Alguns túmuloscaídos irrompendo fileiras, outros realmente destruídos. Mas olhando agora para todas as tumbas, o cemitério não parecia assim tão pequeno, e sim, grande demais.

O lobo negro deu a frente indo primeiro. Eu e o Felipe nos olhamos e ele assentiu tentando me passar a sua confiança. Engoli a sensação estranha que começava a se formar na minha garganta e andei seguindo os passos do Felipe.

O lobo não teve nenhuma dificuldade de pular uma das paredes derrubadas, mas eu, com minha pernas pequenas... o Felipe voltou para me segurar pela cintura e levantar-me, me passando sem dificuldade.

Os passos pesados do lobo negro na nossa frente era a única coisa que se podia ouvir. Se era mesmo ali onde a Jeniffer estava, era silencioso demais. Os túmulos derrubados estavam sendo tomados pelo musgo verde-escuro. Os túmulos ainda de pé, alguns. Ainda era possível ver os nomes pintados e as datas de suas mortes.

Tem alguma coisa errada. - o Felipe resmungou para si mesmo.

Minhas pernas travaram e parei o Felipe junto comigo. Olhei em volta sentindo um calafrio na nuca. O lobo também parou e ergueu as orelhas pontudas detectando algum som.

Um rugido baixo saiu da nossa frente, mas eu sabia que não era do grande lobo preto. Tive certeza assim que um outro lobo marrom bem escuro saiu de um tumulo mais alto.O lobo marrom olhou diretamente para mim, depois parou seu olhar no Felipe que pareceu enrijecer ao meu lado. O lobo o analisou quase como se sorrisse. Engoli em seco e esperei seu ataque, mas ele recuou assim que o nosso lobo preto se postou na nossa frente mostrando os dentes. Eles se encararam por poucos segundos, ate o marrom se curvar eriçando os pelos e mostrando os dentes afiados e brilhantes, soltando um rugido alto e confiante. O lobo negro também se curvou e eriçou os pelos soltando um rugido assustador. Os dois arreganharam os dentes ao mesmo tempo mostrando que a batalha começaria.

***

Claire

Olhei para o lado encontrando o olhar dourado do lobo grande e avermelhado. Dei um meio sorriso e ele apenas mexeu os olhos e acelerou o passo para acompanhar a Claudia. Suspirei e apressei o passo também, tentando ficar no mesmo ritmo que o Rick. Parei ao seu lado.

Ele parecia ignorar tudo o que acontecia a sua volta, inclusive eu. Respirei fundo e estiquei a mão tocando na sua que estava livre ao lado do corpo. Segurei-a lentamente entrelaçando nossos dedos. Ele olhou nossas mãos, depois virou o rosto para me olhar. Sustentei seu olhar, penetrando meus olhos nos seus. Senti meu coração palpitar.

Ele parou e se virou para mim levando minha mão ate seu peito e pude sentir seu coração batendo acelerado. Ele soltou minha mão e esticou a sua tocando minha bochecha com leveza me fazendo fechar os olhos. Quando os abri ele estava a poucos centímetros de mim e tocou seus lábios tão devagar nos meus que mal os senti. Quando respirei de novo ele já tinha se afastado, me deixando sozinha e confusa.

Suspirei frustrada e voltei a andar. Esfreguei as mãos uma na outra para tentar esquenta-las, mas foi meio em vão. Senti um casaco me envolvendo por trás:

Devia vestir um casaco mais grosso se não quiser congelar.

Me virei tentando me afastar do casaco, mas ele esticou a mão o colocando em mim de novo.

Você é que não devia me dar o seu casaco. - falei olhando para a terra.

Sou um lobo a maior parte do tempo Claire. Não sinto tanto frio. - ele deu de ombros.

Nesse caso. - ergui os olhos. - Obrigado!

Ele deu um sorriso mostrando suas covinhas. Desviei os olhos e voltei a andar, ouvindo seus passos atrás de mim.

Olhaeu sei o... - ele vacilou em continuar.

O que? - parei para ele andar ao meu lado. - Fala.

Sei como é. - ele parecia... envergonhado de falar daquilo. Percebi isso, porque ele olhava para chão e não para mim como sempre fazia. - Odeio bruxas.

Deu uma risadinha e suspirou levantando o rosto para me olhar.

Perdi a minha família. - ele suspirou. - Sei como é, ter alguém importante, alguém que você ama em perigo.

As bruxas... foram elas?

Se mataram minha família? - ele balançou a cabeça. - Amaldiçoaram. Todos. Então, eles se mataram. Mas pode-se dizer que sim. Elas os mataram.

Sinto muito. - falei sincera.

É. - ele olhou para o céu carregado acima de nós. - Eu também.

Voltei a olhar para frente e o silencio tomou conta. Respirei devagar sentindo o perfume de eucalipto no casaco. Me virei para observa-lo e encontrei o seu olhar. Senti minhas bochechas queimarem e continuei encarando seus olhos...

Usa lentes? - perguntei sem pensar. Ele excitou e assentiu.

Usava.

Franzi as sobrancelhas e aproximei tentando ver direito. Ele recuou e me olhou confuso.

Então esqueceu de tirar uma, porque seus olhos estão um de cada...

É uma doença. - me interrompeu. - Não estou usando lentes agora. Meus olhos são assim.

Serio? - me aproximei de novo, o fazendo recuar mais uma vez.

Algumas pessoas tem isso. É Heterocromia.

Nossa! - Puxei seu braço para pararmos. Cheguei mais perto de novo e ele recuou. Apertei seu braço e me aproximei o suficiente para ver com nitidez. Seu olho direito era no mesmo tom cinza-azulado que me lembro, mas o esquerdo, mesmo com o tom azulado tem quase uma metade de castanho claro. Duas cores.

Deixei um sorriso escapar e o encarei por mais alguns segundos.

É lindo! - sussurrei.

Não muito.

Sorri me afastando. Ele me encarou e vi sua expressão mudar instantaneamente. Ele se virou lentamente em direção a floresta densa. Segui seu olhar e fechei minhas mãos sentindo a raiva fluir pelo meu corpo.

Ela sorriu mostrando as presas afiadas e falou com naturalidade:

É bom saber que tenho tantos fãs.

***

Felipe

Eu sabia que era ela. A maldita loba que me mordeu outro dia. A que quase me matou.

Vi apenas o lobo preto dar outro rugido e avançar para o ataque. A lobo-Juliana rugiu também e esperou. Eles passaram centímetros um do outro com os dentes. Mordidas de um lado ede outro. Ela estava perdendo, também o outro lobo era muito mais alto e forte.

A loba se afastou e antes que o lobo negro pudesse atacar de novo, ela uivou. Alto e... basicamente um pedido de socorro.

Engoli em seco quando os vi. Aproximadamente seis lobos saíram de trás dos túmulos. Eram mais altos que lobo preto que estava conosco. Respirei tentando pensar e senti a Bia apertar o meu braço. Olhei para ela rapidamente.Ela assentiu e como se nossos pensamentos sincronizassem, soltamos nossas mãos e saímos. Ela ficaria bem e eu... espero.

Pus-me a correr o mais rápido que conseguia, mas logo ouvi passos pesados atrás de mim. Dois lobos, três no máximo. Minha única alternativa era ir para floresta, ate porque, correr pulando túmulos não seria mais fácil.

Pulei uma das paredes quebradas e atravessei a rua entrando de novo na floresta verde. Passei por varias arvores e decidi que era hora de lutar. Parei bruscamente e me virei esperando os lobos me alcançarem.Cerrei os punhos e senti a pressão começar na marca do meu braço direito e então fluir rapidamente pelo resto do meu corpo. Assim que avistei dois lobos se aproximando, abri as mãos e como imaginei, raízes grosas surgiram do chão.

Os lobos recuaram parecendo surpresos, avancei um passo e as raízes acompanharam. Rugidos e os lobos voltaram a recuar. Ouvi outro rugido, mas não na minha frente. Assim que me virei meu corpo foi para trás e senti minhas costas acertarem no chão.Arregalei os olhos sentindo seu hálito no meu rosto. Estiquei as mãos tentando afasta-lo de cima de mim. Ele soltou um chiado e mostrou as presas, que quase rasparam na minha bochecha. Forcei mais uma vez no seu corpo peludo, mas o lobo claro em cima de mim parecia forte demais. Olhei para cima vendo a lua nascendo no céu alaranjado.

Droga! - resmunguei tentando segurar o lobo o mais longe possível de mim.

Seus olhos brilharam num azul intenso e eletentou atacar mais uma vez. Segurei seu pescoço entre os pelos claros e usei toda a minha força para gira-lo para esquerda. O lobo se debateu, mas por fim ouvi um longo estalo junto com um gemido e seu corpo ficou mole sobre o meu. Respirei aliviado e o empurrei jogando-o ao meu lado.

Me levantei e olhei diretamente para os outros dois lobos que avançavam de novo. Senti a ponta dos dedos formigarem e ergui a mão direita. No mesmo instante a terra tremeu e uma pedra grande se levantou junto com a minha mão. Dei um sorriso e estiquei minha mão como se estivesse jogando algo, mas na verdade estava. A pedra atingiu velocidade como se realmente eu a tivesse atirado com as mãos.

O lobo da direita arregalou os olhos dourados e a pedra o acertou com toda força. O outro lobo da esquerda me olhou assustado e não se atreveu a me atacar, deu meia volta e correu floresta adentro.Balancei a cabeça e comecei a correr na mesma direção do lobo. Passei pelas arvores e senti a terra se conectar com os meus pés e meu corpo ir mais rápido. Ouvi os sons a minha volta: os pássaros, o vento, o barulho das folhas, passos pesados.Me concentrei no som e logo avistei o lobo que havia fugido. Forcei meu corpo a ir mais rápido e pude ouvir a respiração ofegante dele. Apenas me inclinei conseguindo pegar a sua cauda. O puxei para trás com força acertando-o na arvore.Ele se levantou e sacudiu se virando para mim, mostrando as presas. Suas patas pesadas levantaram terra enquanto ele vinha na minha direção. Estiquei a mão em defesa, mas foi em vão. Seus dentes rasparam no meu pescoço e tive que usar a força para não deixa-lo me morde. Movi as pernas acertando-lhe e o tirando de cima de mim. Coloquei as mãos no chão para me levantar, mas ouvi o som dele vindo de novo. Ergui os olhos a tempo de ver sua pata grande se erguendo na minha direção. Minha cabeça virou para o lado e senti a pele queimar onde ele acertará.

Fechei os olhos sentido o tempo ficar mais lento, os sons mais baixos e uma força invadir meu corpo. Meus dedos afundaram na terra úmida e fechei minha mão direita com força. Um som abafado começou a subir debaixo de mim e em seguida senti tudo a minha volta tremer.Abri os olhos, meu corpo estava leve, como se eu não o comandasse mais, apenas estivesse ali, com a mente. Meu corpo se curvou ficando de pé, olhei para o lobo atordoado tentando se manter de pé diante da terra que tremia debaixo de nós.

Senti o sangue escorrer do rosto, de onde as unhas afiadas do lobo bateram. Estendi a mão de novo e foi como se estivesse conectado com as arvores a minha volta. Vozes sussurravam coisas que não conseguia entender, mas uma energia me possuía agora.

A arvore mais próxima do lobo deu alguns estalos antes dos seus galhos se moverem, literalmente. Fechei as mãos em punho e os galhos das arvores se retorceram, descendo para se fechar em volta do lobo. Ele se remexeu parecendo aflito, apertei mais meus punhos e os galhos escorregaram ate o seu pescoço.

Andei alguns passos para perto dele e pude ouvir sua respiração presa, o coração batendo num ritmo confuso e seu sangue correr sem rumo. Seus olhos dourados foram mudando rapidamente, sendo tomados pelo preto. Seu corpo peludo foi sendo substituído por uma pele lisa e cor de chocolate. No lugar dos rugidos baixos, vieram os gemidos ate que... ele se calou.

Meus lábios se puxaram num sorriso. Estava satisfeito. Satisfeito de vê–lo morrer. Satisfeito de saber que fui eu que o matei.

Algo dentro de mim dizia que era o certo, que era bom e que me deixaria forte, mas minha mente dizia outra coisa. Não precisava ser assim.

Só ai me dei conta de que eu realmente não estava no controle. A terra estava.


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Notas finais do capítulo

Sorry pelos erros, mas por mais que eu corrija sempre sai algo errado :/
beijins e ate depois.



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