Quatro Elementos: O Confronto escrita por Amanda Ferreira


Capítulo 17
Carta


Notas iniciais do capítulo

Oi gente lindahh! Finalmente de volta. Nossa quase tive um troço com o site em manutenção, mas ainda bem que voltou. hehe
Eu ja tinha postado esse capítulo em outro site e ai vai ele. Espero que gostem e um beijãooo!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/388660/chapter/17

Respirei lentamente me sentando na cama de novo, sendo recebido por um olhar curioso e preocupado da Bia.

– O que é isso? – perguntou por fim depois de alguns minutos.

– Uma carta que vem me acompanhando desde que meus pais me expulsaram de casa quando criança. – olhei o papel mais uma vez.

– E de quem é? – ela colocou as pernas para fora da cama ficando sentada do meu lado.

Dei um sorriso me lembrando do meu remetente.

– De uma amiga. – virei encontrando seus olhos curiosos. – Ou se preferir, do meu primeiro amor, amor infantil. – sorri.

– E por que isso agora? – não entendi sua expressão.

– Tive um sonho. – suspirei. – Talvez essa carta tenha as respostas que tanto procuramos.

– Como? Disse que é de quando era criança.

– Sim. Mas quem a escreveu sabia as respostas do futuro, sabia o que aconteceria.

Ela não disse nada, apenas desviou os olhos dos meus e encarou a carta nas minhas mãos.

– Então abre. – falou.

Assenti e girei a carta nas mãos procurando o melhor ângulo para abri-la. Puxei devagar o papel até soltar a parte que estava com cola. Tirei um papel branco com linhas vermelhas de dentro.

Tanto tempo guardando isso e nunca me lembrei de abri-la. Talvez a Vick tivesse razão, não! Ela tinha certeza. Eu sonharia e me lembraria. Desdobrei o papel e vasculhei vendo a mesma letra redonda do envelope.

– Tudo bem? – a voz da Bia estava baixa. Virei dando um meio sorriso e voltei meus olhos ao que estava escrito.

“Sabe Felipe, eu sempre tive medo do que meu dom pudesse me causar. Sempre tive medo de que fosse perder as pessoas que amo por ser diferente, mas essa noite eu tive uma visão...

Me sinto vazia, sinto que uma escuridão está chegando, mas não pra mim. Pra você.”

Suspirei pegando forças para continuar, para me lembrar de cada detalhe do que houve. Continuei:

Eu consegui ver três caminhos. Mas você quem vai escolher, você que irá sentir as consequências da sua escolha e por isso eu te digo: pense e escolha aquilo que você achar ser o melhor.

Tenho certeza que quando ler isso já vai ter passado por todas as coisas que vi e então não preciso detalhar algo que te fez sofrer. E com toda certeza você quer esquecer. Sei que tem perguntas que as respostas são quase impossíveis. Quase!

Tudo tem um começo, meio e fim. Você só está no começo de tudo e as respostas que procura estarão dentro de você e isso ninguém pode te tirar. Nem mesmo as sombras. Elas estão perto Felipe, estão tentando sair, tentando invadir a luz e destruir seus protetores.

Pessoas a sua volta vão se perder nela, vão embora. Seja forte e lute por eles, lute para você. Poderei lhe dar respostas e caso queira, estarei por perto. Deixe seu coração e seu dom te guiar.

Tenho certeza que entenderá. Quem sabe não nos encontramos em breve.

Vick.

Continuei parado sentindo as palavras fluírem por minha mente. Ela não deixou muito claro o que queria e nem o que aconteceria, mas uma coisa eu entendi e bem: alguém próximo a mim irá morrer.

***

Claire

A sua mão subia e descia pelas minha costas. Continuei de olhos fechados apenas sentindo seu toque quente e seu perfume familiar.

É tão fácil ficar com o Rick, é tão fácil me sentir bem perto dele. Acho que essas semanas me serviram de lição de que estava me comportando como uma garota mimada e egoísta.

Meus pais se foram e eu tenho que aceitar isso, e não me recorrer ao sobrenatural e tentar ressuscita-los. Isso é loucura! E só agora fui ver na minha sanidade que agi errado. Eu não preciso trazer ninguém de volta. Quem mais importa está aqui, comigo, meu.

Eu tenho que agradecer pelo Rick ser tão paciente. Entender meu momento de crise, meu momento de loucura. Tem coisas mais importantes que devo me preocupar, como: amanhã é lua cheia e o Vicente vai ficar mais forte e vai sair do feitiço da Liz. Ele e a Maria vão levar a lapide, matar pessoas e completar tudo para conseguir o poder suficiente de trazer os mortos de volta.

Eu preciso pensar em algo e rápido. Só não podemos perde-los agora, precisamos de mais tempo. E acho que a Liz não tem feitiço pra isso.

– Hey! – o Rick falou perto do meu rosto fazendo seu gosto doce invadir minha mente. – Vai ficar aqui o dia todo enquanto o mundo desaba lá fora?

Abri os olhos encontrando seu sorriso malicioso. O puxei pelo pescoço colando nossos lábios. Meu corpo estremeceu como sempre fazia quando nos beijamos. Uma reação involuntária e boa.

– Eu ficaria. – sorri beijando a ponta do seu nariz.

– Eu também. – beijou minha testa.

– Mas ultimamente eu mal tenho dormido, então... – fiz uma careta e passei a mão no seu cabelo bagunçado. O castanho-avermelhado ali era um contraste perfeito com a cor dos olhos e sua pele.

Ele suspirou fechando os olhos por um instante.

– No ano novo eu prometo que vamos a praia. Vamos comemorar a virada do ano como qualquer casal faria. Vamos ver os fogos, pular ondas e fazer pedidos. E eu vou te dar um beijo assim que der meia noite e um. – abriu os olhos dando um sorriso encantador.

– Fazendo planos antes da hora? – sorri descendo a mão pelo seu rosto.

– Vamos resolver tudo isso Claire! Eu prometo!

Deslizei a ponta dos dedos pelo seu nariz, bochecha, boca, e me aproximei lhe dando um beijo lento. Queria mostrar que acreditava e que confiava nele.

– Eu te amo! – sussurrei ainda de olhos fechados.

– Eu te amo! – repetiu me beijando de novo.

...

Fiquei parada na soleira da porta observando o Rick remexer no cabelo e olhar várias vezes para o celular.

– Anda! – falei começando a ficar curiosa com o que ele tanto olhava e agora digitava.

– Tó indo! – me olhou dando um sorriso e guardou o celular no bolso.

– Com quem você tanto conversa? Posso saber? – perguntei enquanto ele fechava a porta.

– Com o Felipe! – ele me olhou com um sorriso um tanto suspeito.

Ergui uma sobrancelha e o encarei. Ele soltou uma gargalhada ecoando pelo corredor e depois me puxou pela cintura.

– Não acredita? É sério! – falou entre risos.

– Não é isso não! É que...- revirei os olhos e lhe beijei rapidamente. – Estou de olho em você!

Ele deu uma risadinha e encostou a ponta do nariz no meu fazendo sua respiração quente bater no meu rosto me causando arrepios.

– Claire. – eu gosto quando ele diz meu nome, sai extremamente lindo e sedutor. – Queria te pedir uma coisa. – falou enquanto dava beijos pelo meu pescoço.

– Hm! – foi só o que saiu de mim.

– Será que... você podia ficar na Kate hoje de novo? – falou no meu ouvido.

Suspirei e o empurrei devagar para poder olhar seu rosto.

– De novo? Mais a gente tinha combinado que seria você Rick! – contestei

– Eu sei amor. Mas é que eu preciso fazer uma coisa. – falou isso mais baixo do que devia.

– Fazer o que? – perguntei tentando decifrar seu olhar.

– Preciso ir comprar uma coisa. – falou isso rapidamente quase atropelando as palavras.

– Você está brincando né? Comprar o que Rick? – o encarei incrédula.

– Uma coisa Claire. Quanta pergunta! – fez uma careta. – Você fica?

Ele estava escondendo alguma coisa e isso era evidente. Vou dar um voto de confiança e fingir que não notei nada.

– Tudo bem. – falei seca.

– Obrigado sua linda! – me puxou levantando meu queixo para me dar um beijo e depois sorrir animado.

– Então eu vou. – falei em desanimo. – A gente se vê!

– Obrigado. – sorriu.

– Nada! E não apronta.

Assentiu e deu um sorriso malicioso. Me aproximei o puxando para um beijo. Travei os dedos no seu cabelo e deixei que ele comandasse. Sua língua deslizou lentamente pela minha boca enquanto sua mão me apertava pela cintura.

Desci a mão pelas suas costas até ele segurar meu pulso me parando antes de onde eu queria chegar.

– Nada disso. – me deu outro beijo e se afastando sem soltar minha mão.

– Você é malvado. – fiz um biquinho.

– Depois você faz isso. – me deu um selinho e sorriu malicioso.

Revirei os olhos e retribui o sorriso.

– Mais tarde. – sugeri puxando minha mão e o trazendo para mim de novo.

– Mais tarde. – repetiu ficando a centímetros do meu rosto.

Me aproximei agarrando seu pescoço e o devorando em mais um beijo. Só o soltei quando faltava o ar.

– Você... me ... mata... qualquer dia! – falou tentando normalizar a respiração.

– Quem manda você ser irresistível. – falei mordendo o lábio.

Ele revirou os olhos e sorriu. Me deu um beijo rápido.

– A gente se vê depois.

Assenti enquanto ele quase corria pelo corredor.

Eu as vezes não acredito que gosto tanto dele. Os sentimentos são muito estranhos e extremamente bons.

***

Bia

Primeiro: o Felipe guardou uma carta a um tempão. Segundo: a pessoa que a escreveu parece ser mais importante do que a própria carta. Terceiro: acho que estou com ciúmes de uma garota que provavelmente não vai aparecer.

Bom... é normal ter ciúmes... certo? Eu odeio sentir isso, e odeio pensar que o Felipe pode fugir de mim a qualquer momento, ainda mais com o que aconteceu a noite. Eu vacilei, de novo.

Às vezes fico pensando no porquê do Rick ter ficado com a Jullya, por mais que ele tenha dito que foi... deixa pra lá!

Me olhei no espelho. Talvez tenha que cortar o cabelo, talvez pintar, pegar um sol, estou praticamente pálida e estranha.

– Tudo bem? – dei um pulo para a frente quase batendo no espelho. Nem ouvi que ele tinha voltado.

O Felipe segurou o riso quando olhei para ele. Assenti sentindo minhas bochechas esquentarem de vergonha.

– Eu já estava indo. – falei baixo demais. – A gente se vê depois. – me aproximei lhe dando um beijo na bochecha.

Peguei minha blusa de frio em cima da cama e abri a porta rapidamente, pronta para fugir dali. Antes que eu pudesse pensar em sair, a porta se fechou o pouco que eu tinha abrido e ele estava parado segurando-a.

– O que você tem? – perguntou com seu tom de voz preocupado.

– Nada. Já vou. – falei sem olhar para ele com medo de encarar suas perguntas e seu olhar.

– Bianca? O que foi?

Levantei o olhar encontrando seus olhos lindos e perfeitos me encarando. Neguei com a cabeça e fui com a mão na maçaneta de novo.

– Hey! Fala comigo. – esticou a mão segurando meu queixo.

– Desculpa Felipe. Eu só estou cansada. – menti.

Ele franziu a testa sem acreditar em mim e me puxou num abraço inesperado. Fechei os olhos afundando a cabeça no seu peito inspirando seu aroma.

– Eu fiz alguma coisa errada? – sua voz saiu abafada no meu cabelo.

– Claro que não Lipe! – me afastei.

– O que foi então?

Ele me encarava com preocupação. Analisei sua expressão com atenção. Me esqueci da resposta que estava elaborando quando o seu sorriso torto apareceu deixando-o de novo sexy.

Me aproximei devagar para não assustá-lo e fiquei na ponta dos pés para beija-lo. Ele se inclinou retribuindo de uma maneira calma e paciente. Puxei o seu pescoço aprofundando o beijo. Ele passou as mãos na minha cintura com tanta delicadeza que até eu achei estranho.

Cessamos o beijo devagar e eu continuei de olhos fechados ouvindo nossos corações baterem num ritmo constante e único. Ele se afastou devagar me obrigando a abrir os olhos.

– Você... – tentou. – Você me deixa confuso.

Sorri timidamente e ele acariciou meu rosto.

– Eu vou ver a Lucy. – falei. – O Rick mandou mensagem pedindo para que eu olhasse ela hoje.

Ele assentiu e se aproximou segurando meu rosto com as mãos.

– Saiba que você pode confiar em mim e me contar o que quiser. – beijou minha testa.

– Pode contar o que quiser pra mim também. – sorri.

Concordou com a cabeça e seus lábios tocaram os meus de novo, mas dessa vez com mais pressa. Depois ele me olhou dando seu sorriso de anjo.

– Mais tarde a gente conversa. – falei.

– Tudo bem. – passou as costas da mão de leve na minha bochecha.

Ele abriu a porta para mim e deu espaço para que eu passasse. Lhe dei um selinho e um sorriso saindo em seguida.

Minha insegurança as vezes me ataca de tal forma que não consigo controlar.

***

Felipe

Realmente eu fico meio confuso perto da Bia e ainda mais quando ela me ataca do nada. Eu nem consigo pensar e só agora que ela saiu levando seu perfume que minha mente se organiza.

A carta da Vick, além de tudo o que estava escrito. Bem lá no final tinha um endereço bem pequenininho e talvez seja onde ela está. Mas eu fico me perguntando como ela sabia até do endereço. Isso é mesmo incrível.

Bom... eu não vou sozinho num lugar que nem sei se existe, e sabe-se lá o que pode ter. Então chamei alguém que pode me ajudar.

Duas batidas na porta era o meu aviso de que ele conseguiu. Abri-a dando um sorriso sacana. La estava ele com um sorriso torto de satisfação. Estava com uma calça jeans, camiseta branca e uma jaqueta de couro. Com um tênis preto e seu cabelo desgrenhado.

– Você é ótimo cara! – falei indo pegar a chave da moto do João que ele me emprestou por hoje.

– Pode me dar um prêmio! Enganar a Claire não é nada fácil. – falou fechando a porta quando sai.

– Eu imagino. Mas você conseguiu Rick. – sorri.

– É! Eu espero que valha a pena todo o meu esforço.

– Eu também! – suspirei.

...

O Rick ainda tinha a moto dele. Isso era ótimo, pois não precisei dar carona. A moto do João era bem moderna para minha surpresa. Era uma R1 prata bem bonita.

O Rick tinha uma BMW preta. Nada do que uma boa moto para facilitar nossa vida.

– Gostou? – perguntou quando notou meu olhar na moto.

– Sinto falta da minha idosa.

Ele deu um risada.

– A minha é velha mais é ótima! – falou sorrindo.

Sorri também e peguei o papel do meu bolso da jaqueta. Olhei o endereço mais uma vez.

– Não é muito longe. – falei colocando o capacete.

– Posso saber pelo menos quem a gente vai procurar? – perguntou colocando seu capacete também.

– Uma garota. – falei ligando a moto.

– Ah, então está explicado o segredo com a Bia e a Claire. Vai procurar uma garota por que?

– Ela pode ajudar Rick. E muito. – suspirei sentando na moto. – E além do mais, não é um segredo pra Bia e a Claire. Eu só preciso ter certeza primeiro e ai vou falar com elas.

– Está bom né! – ele ligou a moto. – Bom, então vamos nessa Cabeça Dura?

Revirei os olhos e assenti acelerando. Eu só espero que tenha algo nesse endereço. Algo que seja suficiente.

***

Claire

A Kate tinha me dado uma chave da casa, então tudo fica mais fácil pra mim.

Entrei devagar e ainda curiosa com o que o Rick foi fazer, mas antes disso tenho alguns “pequenos” problemas para resolver, como: Maria e Vicente.

– Kate? – falei deixando a bolsa no sofá.

O ambiente estava silencioso, a sala agora sem a estante de vidro que se transformou em pedaços tinha um espaço vago. A janela quebrada já tinha sido consertada e estava em perfeita condição sem deixar rastros de que houve uma luta nessa sala. Os sofás de couro estavam no centro e tinha agora só uma pequena mesinha com uísques e bebidas em geral, que parece que a Kate não dispensa.

Eu sinceramente nunca vi uma pessoa beber tanto na minha vida, mas a Kate diz que isso ameniza a “fome de verdade”. Ela não fica bêbada e até porque ela não é só uma pessoa, é uma vampira acima de tudo.

– Alguém por ai? – andei até a cozinha e nada.

Vi um papel dobrado em cima da mesa redonda da cozinha. Peguei-o e abri.

“Fui abastecer minha geladeira, pois minha “comida” está em falta. A propósito, a Carol foi falar com a Liz sobre o feitiço e sobre o fato do Vicente conseguir sair. Não vou demorar!

Com amor, Kate.”

Dobrei o papel de volta o colocando no bolso da minha calça jeans. Fui até a geladeira abrindo-a. Peguei uma latinha de suco de uva e um cheiro familiar veio leve no ar me pegando de surpresa. Fechei a porta da geladeira e um calafrio percorreu minha coluna.

– Acho que devo explicações!

Engoli o susto assim que o vi encostado despreocupadamente no balcão da cozinha. Estava com uma calça jeans preta, blusa azul escura, jaqueta preta e botas curtas sujas de terra. O rosto pálido com leves olheiras. O cabelo preto estava maior e meio bagunçado, combinando perfeitamente com seu sorriso torto e malicioso.

– O que você está fazendo aqui? Traidor! – acusei quase jogando a lata em cima da mesa.

– Eu entendo que esteja com raiva, mas eu posso explicar. – falou com uma voz calma e cautelosa.

– Eu não quero ouvir nada Jonny! Você traiu a nossa confiança. A de todos, da Kate! Que deixou você ficar aqui. – dei um passo para a frente.

– Eu sei Claire. Mas o que eu fiz teve um motivo e se me deixar explicar e...

– Não! Não quero ouvir nada! Quero que saia daqui agora. – o volume da minha voz aumentou.

– Claire...

– Se não sair daqui Jonny, eu mesma vou colocar você pra fora. – ameacei.

Ele deu uma risadinha abaixando a cabeça. Estava duvidando de mim? Serio?

Suspirei lentamente e fui na sua direção fechando minhas mãos em punho. Parei imediatamente quando ouvi um barulho vindo do andar de cima.

– Tem mais alguém na casa? Vi que a Kate saiu. – falou mais baixo que o normal.

– Não que eu saiba. – suspirei. – Sai daqui agora, ou melhor, some Jonny! Não volta mais.

Girei nos calcanhares para ir até a porta da cozinha e ver se estava tudo no seu lugar. Ele me impediu segurando meu braço.

– O que eu fiz com a Maria faz parte do plano, e eu vou segui-lo e não preciso da sua permissão. Estou aqui pela Katherine, e vou fazer o que for preciso por ela. – falou me encarando com seus olhos negros.

– Que se dane! – puxei meu braço. – Mas fique avisado: se fizer qualquer coisa para nos prejudicar, eu mesma tiro você de cena.

Lhe dei as costas e fui até a porta a abrindo com tudo e me deparando com o que eu temia. La no círculo feito no chão pela Liz onde a Maria e o Vicente estavam tinha uma coisa errada, na verdade, muito errada. Dentro do círculo onde se mantinha o feitiço só estava o Vicente, a Maria sumiu.

Andei alguns passos o encarando. Ele estava sentado despreocupado me olhando com um sorriso satisfeito.

– Como que ela saiu? – perguntei olhando em volta para me certificar de que ela não me atacaria a qualquer momento.

– Parece que a bruxa loira acabou de deixar uma brecha aberta. O que foi bom, pois um de nós pode sair e como amanhã é lua cheia eu acredito que eu não vou ficar aqui mais tempo. – falou orgulhoso.

Minha raiva borbulhou e só tive que pensar em uma palavra: lapide.

Forcei minhas pernas a correrem para dentro de volta, corri escada acima entrando no quarto da Kate e fui direto a caixa vermelha dentro da gaveta na cômoda ao lado da cama. Abri e não tinha nada ali.

– Vadia! – me limitei a gritar. A maldita da Maria havia pegado.

Desci as escadas de novo e puxei o Jonny pela jaqueta assim que cheguei perto dele.

– Era uma distração. Estava mentindo de novo! Seu maldito! Mas eu avisei e agora não tem mais volta.

– Acha que ela sumiu por minha culpa? Por que eu iria soltar aquela idiota? – perguntou sem se importar muito com a minha mão.

– Você a transformou! Quer motivo maior do que esse? – gritei.

– Que parte você não entendeu de quero ajudar? Em vez de ficar me julgando, por que não faz uma coisa útil e liga para a Kate.

– Não vou ligar porcaria nenhuma. – o soltei. – Vou procurar a Maria e você vai vir comigo. Não quero correr o risco de que solte o Vicente também. E aproveitando você fica por lá. – falei indo ruma a cozinha.

Ouvi ele suspirar e provavelmente revirar os olhos me seguindo. Olhei o Vicente com um olhar mortal ao passar por ele. Fui rumo a floresta ainda na esperança de encontrar a Maria e a lapide.

***

Bia

A Lucy estava brincando na piscina. Estava um dia com sol, não aquele sol que até queima sua pele, mas era suportável. A Lucy cismou também, de vir na piscina e eu deixei. Ela parecia se divertir enquanto percebia que não precisava ficar muito tempo respirando e podia ficar em baixo da água por muitos minutos sem problema.

Eu resolvi que não ia nadar, então vesti um short, camiseta e estou apenas olhando ela. Coloquei também um óculos de sol e aqui estou: sentada tentando me concentrar num livro.

O Felipe sumiu, também não vi o Rick e nem a Claire hoje, pelo menos ela me mandou uma mensagem dizendo que ia para casa da Kate, que só voltaria a tarde e que o Rick está guardando um segredo dela. Eu só espero que esse sumiço do Rick não tenha nada a ver com o sumiço do Felipe também.

Fui acordada das minhas ilusões com a Lucy resmungando alguma coisa do meu lado. Olhei para ela que agora estendia uma toalha na cadeira e se deitava. Sorri e voltei a ler meu livro. Não é um livro cheio de aventuras, e sim descobertas. Fala sobre feitiços, controle e inclusive conexões que podem ocorrer.

Eu sei que quando aceitei fazer o feitiço para ajudar o Felipe teria consequências, mas não posso ficar o resto da minha vida sendo amparada pelos meus amigos por medo de me machucar demais e não me curar ou até mesmo morrer. Preciso fazer alguma coisa e lendo pode ajudar bastante.

Tem uma outra coisa também que não tive tempo de perguntar ao Felipe, eu sempre me esqueço disso quando estou com ele. Quando eu estava no hospital eu precisava de doação de sangue para me recuperar, e pelo que sei o meu sangue é raro e o doador foi um anjo de ter me ajudado. Eu só queria saber quem foi, se isso é possível e agradecer. Não é todo dia em que temos tanta sorte.

Fui despertada dos meus pensamentos com um gemido da Lucy. Me ajeitei na cadeira tirando o óculos e a olhando.

– Lucy o que foi?

Ela enrijeceu na cadeira e mais um gemido saiu.

– Lucy? O que foi? – a preocupação evidente na minha voz. – O que está havendo?

Me inclinei na direção dela que agora gemia sem parar.

– Dói. – falou entre gemidos.

– O que? – olhei para cima vendo que o sol tinha aumentado. Voltei meu olhar a ela e vi que sua pele pálida estava... – Queimando!

Um grito agudo saiu da sua garganta e não pensei duas vezes. Me levantei da cadeira a pegando no colo e usei minha velocidade sobre-humana pulando com ela na piscina. Pude ouvir como se algum fogo estivesse sendo apagado.

Como fui tão idiota de não me lembrar que sol e vampiro não combinam. Me esqueci desse pequeno detalhe. Que ótima cuidadora eu sou!

Tirei o cabelo que grudava no meu rosto e olhei para a Lucy.

– Queimou. O que aconteceu Bia? – ela me olhava com uma carinha confusa.

– Desculpa meu anjo. – me aproximei tirando seu cabelo do rosto. – O sol, é... O sol machuca você, machuca as pessoas como você. Se ficar muito tempo...

Eu nem sabia como explicar isso a ela. Nunca fui muito bom com crianças, e nem em explicar coisas para elas.

– Vai queimar. – ela completou a frase dando um sorriso angelical.

– Isso mesmo. – sorri.

Acontece que a Lucy é diferente das outras crianças. Ela é mais... como se soubesse o que falar sempre no momento certo.

– Me desculpa Lu!

– Está tudo bem! – sorriu. – Agora eu já sei né!

Assenti sorrindo e mergulhei a puxando pelo pé. Eu queria rir da cara dela dentro da água, mas era impossível.

– Pra quem não ia entrar, você está ótima! – falou olhando minha roupa molhada.

– Fazer o que né. – dobrei a camiseta tentando faze-la parecer um top. – Vamos ver quem vai mais rápido?

– Claro que vou ganhar sua lenta. – ela deu um sorriso animado e disparou para o outro lado.

– Vamos ver então sua convencida. – nadei até ela afundando sua cabeça na água.

Bom... agora é só não me esquecer de que ela não pode ficar torrando no sol querendo pegar uma “cor”, até porque isso não é possível.

Só preciso passar a tarde com ela e achar coisas que a distraia por algumas horas.

***

Felipe

Paramos em frente a um casarão antigo com algumas colunas de pedra e as paredes também. Isso dava um ar de antiguidade chamando pouca atenção das pessoas. Tinha algumas garotas sentadas perto do portão de ferro e prateado, erguido entre duas colunas. Um jardim meio ressecado rodeava a casa juntamente ao portão.

Tirei o capacete e me virei encontrando o Rick encostado na moto com o capacete nas mãos.

– Tem certeza que é aqui? – perguntou me encarando.

– Não! Mas, o endereço é esse. – falei estendendo o papel para ele.

– Tudo bem! – falou olhando o papel. – Vamos conferir então meu caro amigo.

Concordei e tirei a chave da moto colocando no bolso. Nós andamos mais devagar do que o momento pedia, até chegar perto do portão sendo recebidos desde que descemos das motos por olhares curiosos das garotas.

Resolvi que perguntar seria a maneira mais educada e civilizada a se fazer, porque pelo Rick nós sairíamos entrando, e que se dane quem está olhando. Então parei perto de uma mulher loira, alta, cabelos em leves cachos indo até a cintura. Estava com uma blusa de decote chamativo, saia que parecia ser jeans e um salto não muito alto.

– Oi! – dei o meu melhor sorriso tentando ser convincente e educado. Ouvi uma risadinha do Rick atrás de mim e o ignorei.

– Oi! – ela retribui o sorriso, mas o dela tinha um toque de malicia ali.

– Será que você poderia dar uma ajuda a mim e ao meu amigo aqui? – puxei o Rick passando o braço no seu ombro. Vi ele revirar os olhos e depois dar um sorriso torto para a loira.

– Claro! No que posso ajudar lindinhos? – vi seus olhos nos varrerem rapidamente e depois se focar no meu rosto.

– Então... aqui é um... – eu nem sabia o que perguntar.

– Pode chamar de motel lindo. É assim que o apelidamos. – ela olhou a casa e depois deu de ombros. – Sou a Keyla! – estendeu a mão para me cumprimentar.

– Hm! Sou o Felipe. – sorri pegando sua mão devagar. Ela deu um sorriso malicioso e senti seu polegar deslizar pela palma da minha mão antes dela solta-la e fazer o mesmo para cumprimentar o Rick.

– Sou o Rick. – ele falou me olhando brevemente.

– É um prazer! – ela falou.

– Então... eu estou procurando uma garota, que na verdade eu nem sei se está mesmo aqui.

– Um chute! – o Rick falou rindo baixo. O encarei e ele fez uma cara inocente.

– Qual delas? – a mulher me perguntou e olhou algumas garotas depois pra mim.

– Bom... o nome dela é Victoria. – afirmei.

– Victoria? – ela ergueu uma sobrancelha fina e bem alinhada.

– Vick! – talvez assim ela saiba.

– Vick? Serio? – deu uma risada. Olhei para o Rick que deu de ombros e voltei a olhar a mulher. – Eu não sei como ela consegue! Muitos querem a Vick.

– Então a conhece? – era meio obvio isso ne Felipe!

– Claro! A Vick é ótima. Vai ver é a beleza rara dela que atrai vocês. – sorriu.

Me limitei a sorrir tentando ter paciência.

– Eu levo vocês até ela. – se virou para seguir.

– Foi mais fácil do que eu pensei. – o Rick falou caminhando do meu lado.

– Eu estava sentindo falta da minha sorte. – sorri de felicidade.

– Olha... vai ser os dois? – a Keyla parou de repente antes de abrir o portão para nos perguntar.

– Vai! – eu e o Rick respondemos em coro e a expressão dela foi de incredulidade a uma certa inveja, eu diria.

– Tudo bem. – abriu o portão nos dando espaço para passarmos primeiro. – Mas, caso queiram mais. Eu estou aqui.

Eu e o Rick nós olhamos e depois encaramos a loira dando o mesmo sorriso de “ah!”. Não acredito que ouvi isso, mas tudo bem!

Ela nos guiou pelo jardim seco até a porta principal. Era bem grande, revestida de madeira com alguns detalhes em pedra. Abriu a enorme porta para nós e sorriu apontando para entrarmos.

Diferente do lado de fora que agora me pareceu só uma fachada, o lado de dentro não era nada antigo. Os detalhes rústicos deixavam o ambiente agradável. Era bem iluminado com um balcão em meia lua feito de mármore onde estava uma mulher de cabelos pretos e curtos, pele morena e traços bem marcantes.

Ali também tinha duas escadas. Cada uma de um lado do balcão que ficava no meio. Algumas plantas decoravam o ambiente e as janelas sem cortinas estava meio abertas. Dois sofás marrom completavam a decoração.

– Sabe se a Vick está com algum cliente? – a Keyla perguntou a mulher de cabelos pretos.

– Eu não sei! Acho que não. – a mulher falou. – Dá uma olhada lá!

– Vou fazer isso. – se inclinou no balcão para sussurrar para a outra. – Os dois querem a Vick. Dá pra acreditar? Depois a gente registra.

Revirei os olhos com a sorte de poder ouvir o sussurro dela.

– Vamos subir? Eu vejo se a Vick está desocupada. – a Keyla falou apontando para a escada a direita do balcão.

Eu e o Rick a seguimos pelas escadas que era em curva. Chegamos ao andar de cima onde as portas de madeira formavam uma fileira com números indicados. Fomos até o quarto doze.

– Esperem aqui por favor. – falou educada entrando no quarto sem bater.

– Que legal em Felipe! Se a Claire souber que vim aqui vai arrancar partes importantes do meu corpo e você vai pagar minha cirurgia de reposição. – o Rick falou me fazendo rir.

– Relaxa! Não vamos fazer nada.

– Diz isso pra ela!

Dei outra risada e encostei na parede. A porta se abriu e a loira saiu de lá com um sorrisinho.

– A Vick está no banho, mas vocês podem entrar e esperar. – anunciou meio desanimada.

– Muito obrigado! – dei um sorriso sincero e ela retribuiu.

– Até mais! – foi pelo corredor ainda olhando para trás até descer as escadas.

– Fica aqui. – falei e o Rick me encarou. – Não vou demorar. Só quero ter certeza de que ela mesmo.

– Tá! – veio se encostar na parede.

Abri a porta devagar e entrei a fechando em seguida. O quarto era mais simples e comum em comparação com a “recepção”. Tinha uma janela ampla iluminando tudo. Uma cama com lençóis brancos, duas cômodas ao lado, um espelho grande, um armário e uma porta que devia ser o banheiro.

Suspirei pensando no que falar se fosse mesmo ela. Me sentei na cama tentando não bagunçar nada.

Dei um pulo me levantando assim que a porta se abriu.

– Desculpa ter demorado. Estava dando um... – interrompeu sua fala assim que se virou e me viu.

La estava quem eu queria encontrar. E não tinha dúvidas que era a Vick que eu procurava. Sua pele clara, as bochechas cor de pêssego, um corpo com curvas finas e delicadas, os cabelos caiam molhados abaixo dos ombros em leves e finos cachos. O ruivo intenso não mudou nada e os olhos... seus olhos se iluminaram ao me analisar com cuidado, os mesmos olhos grandes e azuis.

Dei um sorriso satisfeito e avancei um passo. Ela sorriu e pude ver seus olhos se encherem de lagrimas.

– Quanto tempo! – consegui encontrar minha voz. – É bom te ver Vick!

Em resposta ela deu um sorriso iluminado deixando as bochechas rosadas. Sua voz saiu baixa e doce:

– Felipe...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

:))



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quatro Elementos: O Confronto" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.