Bia desapareceu? Como assim? Não tem como ficar pior... Ou tem?

Não consigo nem pensar, minha cabeça está um pouco louca e perdida, na verdade eu nem consigo ouvir o que todos falam e repetem a minha volta. Só vejo vultos andando e falando alguma coisa.

Me sentei no sofá e tentei organizar minha mente e meu corpo. Balancei a cabeça algumas vezes.

- Felipe, tudo bem? – ouvi a voz da Kate perto de mim.

Assenti sem olhar para ela. Me levantei do sofá e andei em passos lentos até o banheiro que tinha aqui em baixo. Tranquei a porta e deixei meu corpo cair deslizando pela parede branca e fria. Coloquei as mãos na cabeça e notei que eu estava suando desesperadamente, não sei se é porque descobri que a Bia acordou e ainda sumiu ou por causa da mordida.

Me apoiei na pia para ficar de pé e olhei meu rosto no espelho. Demorou alguns segundos para eu poder ver meu reflexo com nitidez. Eu estava pálido, na verdade muito pálido. Tinha olheiras como se não tivesse dormido a semanas, meus olhos estavam num verde... Estranho. Não que fossem normais, mas...

Aproximei meu rosto do espelho e abri mais os olhos para ver direito, me afastei de imediato vendo que tinha alguma coisa se... Mexendo dentro deles.

- Droga! – resmunguei e levantei a camisa, tirei com cuidado o curativo que estava sujo de sangue.

Gemi de dor até ele se soltar. Me arrependi de ter feito isso quando vi no que a mordida estava se transformando. No lugar do sangue vermelho estava uma secreção preta, um liquido estranho em volta, a lateral do meu corpo estava ficando escuro, meio roxo e estranho.

Soltei a camisa para me apoiar na pia novamente e respirei sentindo uma dor no peito. Levantei a camisa de novo e percebi que as veias em volta da ferida estavam ficando pretas assim como o sangue. Segui com os olhos e iam subindo pela minha barriga até uma parte do braço.

Senti uma dor me atingir no estomago, ah não!! Vomito não!

Foi só tempo de inclinar na pia e vomitar, senti a cabeça girar e a visão escurecer. Depois de quase colocar meus órgãos para fora, consegui respirar e ver meu reflexo ainda mais pálido agora. Olhei a pia e lá estava o que eu menos esperava... Sangue, mas não um sangue comum, estava preto e tinha alguma outra coisa ali.

Não suportei olhar mais e abri a torneira, abri o armário também a procura de álcool ou a Kate e todos da sala iam sentir o cheiro de sangue vindo de mim por todos lados.

Joguei álcool no banheiro inteiro inclusive em mim e respirei só sentindo o cheiro dele e nada mais.

Neguei com a cabeça, isso não era nada bom.

- Felipe você está bem? – ouvi batidas na porta em seguida a voz da Kate.

Levei um susto e desci a camisa rapidamente.

- Tudo bem! – falei sem pensar.

- Quero falar com você. – a voz dela era de preocupação.

Suspirei e abri a porta e lá estava ela de braços cruzados e com um olhar preocupado. Nem percebi que ela havia cortado os seus fios loiros que agora estavam batendo nos ombros a deixando ainda mais parecida com uma boneca.

- Não tenho tempo pra conversa. Preciso achar a Bia! – falei passando por ela que me impediu segurando meu braço. Senti meu corpo reagir com seu toque, pela dor que me passou.

- Não vou pegar muito do seu tempo. – falou olhando o meu braço e acho que notou eu me encolher um pouco. – O que está acontecendo? E que cheiro de álcool insuportável é esse?

Ela farejou o ar e depois me encarou.

- Agora? A Bia sumiu do hospital. – falei ríspido. – E quanto ao álcool, eu acabei derramando sem querer ali no banheiro. Não se preocupe! Eu já limpei.

Ela ergueu uma sobrancelha e depois deu de ombros.

- Não tó falando da Bia, estou falando de você.

- Eu só vou ficar bem quando souber onde ela está! – puxei meu braço e voltei a andar.

Nem dei o próximo passo e ela já estava na porta me impedindo de passar.

- Quero pedir desculpas. – falou isso baixo sem me olhar.

Suspirei e acho que também devo desculpas a ela.

- Só desculpo se você me desculpar primeiro.

Ela levantou o olhar e deu um sorriso aliviada.

- Claro que sim meu anjo! – me puxou para um abraço me apertando até demais e de novo eu me encolhi sentindo dor e ela afrouxou seu abraço. – Desculpa por ter sido tão egoísta! Você tem toda razão de ter explodido.

Senti uma dor de traição me percorrer por saber que não ia contar a ela sobre o que estava me acontecendo. Fechei os olhos e inspirei seu perfume de mel.

- Eu fui idiota Kate... – falei quase num sussurro. – E você é a pessoa com quem eu jamais devia ser egoísta.

- Vampira! – ela se afastou e sorriu.

- A vampira! – tentei sorrir.

- Eu te amo tanto meu anjo. E prometo que vou fazer de tudo pra que você a Bia sejam felizes, você de todos nós aqui é o que mais merece. – ela acariciou meu rosto.

- Também te amo loira e me desculpa.

Ela assentiu e me puxou de novo para outro abraço.

Se afastou e me encarou, seu olhar mudou ficando em dúvida.

- Você está mentindo pra mim! – arregalei os olhos e neguei com a cabeça. – Porque você está pálido assim e parece que não dorme mais?

- Não tenho dormido mesmo e nem me alimentado direito também! – não era mentira, só que isso não era o culpado completo do meu estado.

Ela assentiu, mas pareceu não acreditar.

- Eu vou procurar a Bia! – falei saindo e ela voltou a me impedir ficando na minha frente.

- Eu não vou deixar você levar o que quer que seja sozinho. Não vou!

Assenti e a contornei indo até a sala.

- Vou dar um jeito de procurar a Bia. – falei e os outros me olharam.

- Como? Você nem sabe se ela saiu mesmo ou foi sequestrada! – o Rick falou.

- Vou descobrir isso. – falei olhando brevemente para ele.

- Tenho um jeito mais fácil. – foi o Jonny a falar dando um sorriso sacana.

- E qual seria? – a Kate perguntou o olhando.

- Ela! – ele apontou para a Caroline. – Uma aprendiz ao contrário do ela diz tem o poder suficiente para nos ajudar e assim saberemos onde a dominadora da agua foi. – o Jonny explicou.

- Como assim? – andei um passo até ele.

- Ela pode fazer um feitiço e localizar a Bianca. – falou. – Só precisa de uma imagem dela, lembrança.

- É sério? E o que a gente está esperando pra fazer isso? – o Rick falou indo até onde a Caroline estava.

- Já disse que não tenho capacidade disso. E nem tenho lembrança nenhuma dela. – a Caroline falou levantado da cadeira. – E vou embora. Se a sua namorada fugiu, deve ter seus motivos. – ela falou me olhando e indo até a porta.

- Ela está mentindo! – a Kate falou suspirando. – E o jonny pode fazer com que veja.

Não sei porque, mas me subiu uma raiva que fez meu sangue ferver.

Não pensei duas vezes, movi na minha velocidade sobre-humana parando na frente dela e segurei seu braço direito à encarando.

- Para de mentir e ajuda logo com essa porcaria de localização Caroline. Eu não estou de brincadeira com você! – ela se encolheu tentando puxar o braço.

- Para Felipe! Está me machucado! – ela falou olhando o braço e depois pra mim.

Minha mente estava girando e eu mal ouvia a voz dela e de alguém perto de mim. Só senti a Kate puxando meu braço me encurralando na parede.

- O que deu em você? – perguntou e finalmente ouvi direito.

- O que estou fazendo? Ela não está ajudando em nada e fica mentindo! – falei empurrando a Kate e indo até a porta.

- Eu encontro a Bia sozinho! Não preciso da ajuda da minha querida irmã! – dei um olhar sombrio para a Caroline.

Abri a porta e quando ia sair ouvi a voz da Caroline num sussurro.

- Eu faço!

Fechei a porta e a analisei vendo se estava mentindo.

- Preciso de alguém que seja bem próximo a ela e de um mapa da cidade. E preciso de foto ou alguma coisa assim.– falou nos olhando.

- Tenho um mapa no armário! – a Kate falou sumindo nas escadas.

- Quanto a imagem eu cuido disso minha linda! – o Jonny estendeu a mão para ela que me olhou e eu assenti.

A Caroline segurou a mão do Jonny e fechou os olhos esperando, apenas vi a cor negra dos olhos do Jonny mudarem ficando num vermelho intenso e ele dar um sorrisinho depois soltar a mão dela e assentir.

- Agora preciso de alguém bem próximo a ela para fazer a localização com o sangue. – a Caroline falou.

Todos me olhavam esperando algo.

- Que foi? – perguntei pensando que poderiam estar vendo minha veias ficando pretas ou algo do tipo.

- Pessoa próxima Felipe! Ou seja, você! – a Claire falou.

O Rick se sentou no sofá de novo e a Claire continuou a me encarar enquanto o Jonny parecia entediado e a Kate já voltava com o mapa nas mãos.

- Não acho que seja uma boa ideia. – falei e o Jonny deu um risadinha enquanto a Claire arregalou os olhos. – A Kate pode fazer.

Não seria legal se ela precisasse do meu sangue e eu sei que ele está preto e estranho, não teria desculpa dessa vez e fora que a Kate também é próxima da Bia.

A Kate me encarou confusa e eu dei de ombros.

- Eu faço! – falou desconfiada

Assenti e todos voltaram os olhares para a Kate, que colocou o mapa em cima da mesa e a Caroline se sentou de frente.

Pediu a mão da Kate e uma faca, estendeu o mapa sobre a mesa e disse algumas coisa em outra língua. Despois pegou a faca que a Claire havia trazido e cortou a mão da Kate deixando o sangue pingar sobre o mapa. Falou mais alguma coisa e depois tirou a mão da Kate a fechando para se curar.

Cheguei perto do mapa para ver e o sangue se... Movia pelo mapa até parar molhando a parte sul da cidade onde ficava a mata.

- Aqui! Ela está aqui! – a Caroline falou apontando para a marca do sangue.

- Viu só! Fica inventando que não consegue. – o Rick falou se levantando.

- Legal! Estou indo então antes que suma e novo. – falei indo até a porta.

- Eu vou com você e a Claire vai ficar com a Lucy pra certificar que nada aconteça, o Jonny fica aqui com a sua irmãzinha do olho verde e a ruiva malvada e a Kate vem conosco. – o Rick falou vindo na minha direção.

- Acho melhor a Kate ficar. Eu não confio no Jonny! – olhei para o Jonny que estava perto da escada. – E pelo menos lá fora eu posso ver se ele está mesmo sendo sincero.

Era verdade que eu não confiava no Jonny, mas ter a Kate por perto não ia ajudar nas minhas mentiras.

- Tudo bem! Eu fico aqui. – a Kate falou me olhando.

- Legal! Vamos rápido então? – o Rick andou até a porta.

Assenti e o segui com o Jonny atrás de mim.

Eu só tinha que encontra-la e pelo menos estaria completo para... Minha morte.

***

Rick

Acho que nem foi uma boa ideia eu ter me oferecido para vir, confesso que pensar na Bia me traz uma coisa que eu venho tentando apagar... Todos os dias.

Andei meio devagar logo atrás do Cabeça Dura e o vampiro. Não sei porque mais o Felipe estava mais estranho que o normal, se é que ele é normal as vezes.

- Eu vou sozinho e você vai com o Rick, até porque não gosto de você! – o Felipe falou encarando o Jonny.

- E quem disse que eu gosto dele? – perguntei e o Jonny revirou os olhos.

O Felipe deu de ombros e voltou a andar.

Eu e o jonny nós olhamos.

- Que foi? Não gosto mesmo de você! A Bia só está aqui por culpa sua. – falei passando por ele e indo pelo lado oposto do Felipe.

A terra estava um pouco úmida e a mata meio escura já que o sol fraco não ajuda muito para iluminar, e fora que estava ficando frio e se tem uma coisa que eu odeio... É o frio.

- Está sentindo cheiro dela ou alguma coisa parecida? – perguntei ao Jonny que estava em silencio depois de alguns minutos.

Ele parou a alguns metros de mim a minha frente e farejou o ar para depois me olhar com uma expressão confusa.

- Que foi? – perguntei olhando em volta para ver o que o incomodava.

- Ela passou por aqui ou... – não terminou a frase e alguma coisa se mover e logo depois duas estacas atravessarem o corpo dele e um gemido baixo. Ele me olhou e abaixou as mãos puxando as estacas.

Ele respirou com dificuldade e caiu de lado revelando quem o havia atacado.

- Má companhia!

***

Claire

Minha mente estava um pouco nublada com tantas informações ao mesmo tempo. Só consigo focar em uma coisa: achar a Lucy e pronto!

Olhei sala por sala e nada dela, talvez tenha saído com o João ou a Claudia.

Pensando em outra coisa... Eu faltei a aula de novo e ainda bem que as férias estão vindo, amanhã preciso ir ou... Já viu ne!

Parei aliviada quando avistei a Lucy no pátio com uma bicicleta. Fui até ela e acenei assim que me viu.

Ela desceu da bicicleta e correu na minha direção, estendi os braços para abraça-la. Ela se jogou em cima de mim me apertando.

- Que saudade Claire! Você sumiu! – falou me olhando com os dois olhos cor de leite com café.

- Desculpa! Tenho andado ocupada. – falei sorrindo.

- Cadê o Rick? – ela perguntou olhando o ambiente.

- Ele foi fazer uma tarefa.

- Ah! – ela suspirou e voltou a me olhar. Pelo menos ela não estava curiosa ou eu teria que responder as perguntas embaraçosas dela.

- Cadê a mamãe ou papai? – perguntei.

- Estão na sala deles. – ela me soltou e ergueu a mão para me guiar.

...

O João já estava sabendo sobre a Bia ter sumido e eu tive que explicar a ele todo o resto da história e sobre a lapide e tal.

- E onde está a lapide? – a Claudia perguntou assim que eu terminei de falar tudo.

- Com a Kate. – afirmei.

- Tem certeza de que vai ficar segura por lá? – o João perguntou.

- Assim como a Lucy. – eles ainda não achavam certo ela ter que ficar na casa da Kate.

Ainda acho que é mais seguro para ela, já que a tal Juliana sabe sobre o instituto e lá pelo menos vai ter um monte de pessoas para protege-la melhor.

- Eu ainda não sei. Precisamos resolver esse assunto da Bianca primeiro e depois vemos isso. – o João falou.

- Já estão resolvendo isso e quanto a Lucy... – olhei ela mexendo em algumas flores com a Claudia. – Precisa de todos nós.

***

Rick

La estava ela, com uma roupa branca que devia ser do hospital, os cabelos estavam mais compridos, bem mais compridos e com leves cachos nas pontas. Ela não parecia muito feliz em ver o Jonny e acho que as duas estacas de gelo nas suas mãos também diziam isso.

Olhei para o chão e vi o Jonny se contorcer enquanto ela se aproximava dele. Eu poderia muito bem tê-lo deixado morrer e até seria legal, mas...

Corri o pulando e entrando na frente dela que me olhou confusa.

- Acredite... Não vai querer fazer isso. – falei.

Ela girou as estacas nas mãos e apontou para mim.

- Quer ser o próximo Henrique? – sua voz estava... Sombria.

- Não, só não acho que seja...

Não tive tempo de terminar nem meu pensamento só de esticar uma das mãos e segurar a estaca que ela lançou na minha direção. Até senti um leve arrepio de pensar naquela ponta afiada atravessando meu corpo.

Olhei perplexo para ela que apenas girou a outra estaca na mão e voltou andar vindo na direção do jonny.

- Bianca para! – gritei indo até ela. – Me escuta! – estendi a mão segurando seus pulsos devagar e senti uma corrente elétrica percorrer meu corpo ao tocar na sua pele fria. – Ele não é o problema.

- É mesmo? Eu discordo! – ela puxou os braços e eu a impedi.

- Bianca. Por favor! – olhei dentro dos seus olhos castanhos e nunca pensei que fosse sentir aquilo novamente. Senti um aperto no peito e a velha dor de perda.

Claro que não é algo como quando eu namorava com ela, mas era... Como se tivesse faltando alguma coisa, nunca pensei que quando olhasse a Bianca fosse sentir isso de novo. Talvez eu seja maluco e nem consiga definir meus sentimentos de verdade.

Acho que foi meu erro, ela se soltou de mim e sem muito esforço me empurrou para longe dela e avançou passando as pernas em volta do corpo do Jonny.

Apontou a estaca no rumo do coração dele que se acelerou de imediato.

- Hora de pagar as consequências! – ela falou dando um sorriso.

É! Eu não conseguiria impedi-la a essa altura do campeonato. Não daria tempo de tira-la dali.

- Bia...- virei em direção a voz e lá estava o Cabeça de Pedra. – Por favor... Não!

A Bianca olhou surpresa para o Felipe e se levantou se esquecendo do Jonny ali.

- Felipe... – ela sussurrou.

- Ele não é o problema. – o Felipe falou segurando em uma arvore como se fosse cair a qualquer momento.

A Bia soltou à estaca no chão e foi na direção dele, confesso que me senti até aliviado por ela não matar o Jonny ou eu teria que explicar tudo isso para a Kate.

A Bia parou em frente ao Felipe e deu um sorriso.

- Bia... – ele tombou sendo amparado por ela.

- Felipe? – a voz da Bianca exalava preocupação.

Corri na direção deles e segurei o Felipe antes que caísse. Ele estava pálido, bem mais. E pude ver com nitidez um liquido preto escorrer pelo braço dele e pingar no chão cheio de folhas.

- O que está acontecendo? – a Bia perguntou me olhando.

- Eu não sei!

...

Já tinha ligado para a Kate milhões vezes e nada de chamar.

Desliguei emburrado e olhei a Bia encarando o Jonny não com uma cara muito prestativa pois ele estava se levantando sozinho e tirava as lascas de gelo que estava no seu corpo.

Confesso que ver ele assim me deixa até empolgado. Estou me divertindo por dentro, agora o Felipe não parece nada bem.

Disquei o número e esperei até ser atendido pela sua voz doce.

- Encontrou ela? Ela está bem? – perguntou.

- Já sim e está ótima! Mas... – pulei a parte de que a Bia tentou matar o Jonny.

- O que foi Rick?

- O Felipe. – engoli o cheiro de sangue que saia dele agora. – Temos um probleminha Claire.

- O que aconteceu? – a voz dela já estava diferente.

- Acho que... – olhei a Bianca que se mantinha paralisada do lado do Felipe.

- Fala Rick! – a Claire já estava irritada do outro lado.

- Acho que ele está morrendo!

- Traz ele pra Kate agora! – ela ordenou.

- Tá!

Guardei o celular no bolso da calça jeans e fui na direção do Jonny.

- Precisa de ajuda? – perguntei segurando a risada. Ele levantou a cabeça e fez uma careta.

- Como se você quisesse ajudar.

Dei de ombros e fui até a Bia.

- Ele está morrendo não é? – ela me olhou, e lá estava a dor evidente.

- Claro que não! – na verdade eu acho que sim.

- Se não está agora... Ele vai.

- Por que acha isso Bianca? – perguntei olhando o Felipe brevemente.

- Por isso! – ela levantou a camisa dele e agora tenho certeza de que vai morrer.

***

Felipe

Devastado! Era simples a palavra para mim agora. Não consigo sentir cheiros, nem ouvir nada mais do que o vento batendo no meu ouvido.

Acho que me enganei quanto aos dias que o veneno faz efeito, talvez seja antes do que pensei.

Meu corpo nunca ficou tão pesado na vida e nem sei como ainda estou conseguindo me arrastar pela mata a procura da Bianca. Nem sei como ainda consigo manter meus olhos abertos!

Tudo está girando e se eu não me apoiar nas arvores vou direto para o chão. Que grande vergonha para o dominador da terra! A pior morte que poderia ter!

Suspirei pela decima vez e tentei me focar nos sons da mata e não ouvi nada mais além dos pássaros e outros ruídos. Senti a dor me incomodar, mas não era uma dor qualquer, era a dor. Estava me possuindo e acho que não vou conseguir ficar de pé por muito tempo.

Pelo menos eu tentei, tentei seguir e encontra-la, eu tentei.

Meu corpo estremeceu e não pude conter a tosse fazendo doer ainda mais, tive que prestar mais atenção para ver que estava cuspindo sangue, o sangue preto ou sei lá o que. Pressionei a mão na boca para evitar aquilo e senti algo dentro dela. Tive que cuspir de novo e colocar a mão para puxar.

Não era sangue era... Uma... Raiz, eu acho. Pensei que não ia parar de sair quando minha respiração falhou me fazendo tossir mais.

Quase sorri quando ouvi a voz do Rick e tentei andar mais depressa. Parei assim que vi ele se levantar, a Bia com uma estaca na mão apontando para o Jonny que também estava caído e com ela por cima.

Juntei minhas forças e minha voz saiu um ruído:

- Bia... – respirei pegando folego. – Por favor... Não!

Ela me olhou surpresa e se levantou.

- Felipe... – sussurrou e senti até alivio de ouvir sua voz de novo.

- Ele não é o problema. – falei segurando em uma arvore ou ia cair.

Ela soltou à estaca no chão e veio na minha direção. Parou de frente para mim e sorriu.

- Bia... – minha voz falhou e a dor me atingiu fazendo meu corpo tombar.

 Tudo girou e lá estava minha visão ficando preta de novo e minha mente perdendo os sentidos.

Se a morte era assim eu tinha que admitir que dói e muito. E sabe o que dói mais? Saber que você não pode voltar atrás de evitar a sua queda.

- Felipe? – ouvi ao longe a voz dela me chamar preocupada.

Consegui ver o reflexo da claridade no alto das arvores e suspirei fechando os olhos para quem sabe, não abri-los mais.

***

Bianca

Se estou de volta? Acho que não. Está tudo muito confuso e se me perguntarem porque sai do hospital... Eu não sei.

Devo estar louca ou alguma coisa do tipo, mas o que me atormenta agora é essa dor no peito, uma sensação ruim de que algo vai acontecer. Não sei bem explicar, mas não é algo agradável.

As coisas não tem sido muito agradáveis ultimamente e ainda não entendo o porquê do Rick ter que defender o Jonny, ele era o inimigo e pelo jeito perdi muita coisa, pois eles são até amigos, ou quase isso!

E o Felipe? Só agora fui me dar conta dele! Agora que o vi. Estava... Diferente, não sei bem! Mas parece sentir dor e talvez essa aperto no peito que estou sentindo seja por isso, seja por ele.

Larguei tudo o que estava fazendo e fui até ele. Não sei onde consegui forças para segura-lo, porque tinha algo me matando por dentro.

Ele estava morrendo e isso era evidente. E o pior é que eu não sei o que fazer.

Só tive curiosidade de ver onde o sangue escorria quando percebi que vinha do seu braço. Levantei a sua camisa devagar e lá estava o causador de tudo. Uma mordida enorme, a sua pele em volta estava roxa, e o liquido preto que escorria, acho que é o seu sangue.

Isso que mais que suficiente para dizer que não lhe resta muito tempo. E o que vai ser de mim?

Eu não estava ouvindo mais nada ao meu redor, só o som baixo e lento do coração dele, como se o meu fosse fazer o mesmo daqui alguns minutos, só me dei conta quando o Rick se aproximou me olhando.

- Ele está morrendo não é? – perguntei, mas sabia a resposta.

- Claro que não! – eu sabia que ele estava mentindo, o conhecia bem e podia ver a mentira nos seus olhos avermelhados.

- Se não está agora... Ele vai. – falei suspirando.

- Por que acha isso Bianca? – perguntou olhando o Felipe brevemente.

- Por isso! – levantei a camisa do Felipe e o Rick arregalou os olhos comprovando o meu pensamento.

...

Ajudei o Rick a levar o Felipe até a casa da Kate enquanto o Jonny andava numa lentidão nos seguindo.

Eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser: vou perde-lo de vez!

O aperto no meu peito estava se transformando em algo pior... A perda. Acho que não vou suportar se isso acontecer.

Chegamos a casa da Kate. Não tinha mudado muito, tinha a mesma aparência que me lembro. Por dentro é que tinha mudado: tinha mais pessoas do que pensei encontrar.

Lá estava a Kate com os cabelos curtos, a Claire com dor ao olhar o Felipe, uma mulher loira, uma moça de cabelos compridos e castanhos e os seus olhos me chamou a atenção.

A Kate me apertou e deu um sorriso preocupado, a Claire fez o mesmo. E a movimentação começou enquanto eles conversavam rapidamente.

A mulher loira falou algumas coisas que não consegui prestar atenção, mas os outros seguiam as instruções dela colocando o Felipe no sofá da Kate, tirando a camisa dele e trazendo uma faca afiada.

- Nós temos uma hora! – ouvi a loira dizer a Claire. – Ou ele não vai conseguir.

Tropecei nos meus pés e com dificuldade cheguei perto dele, deixei meu corpo cair e ficar de joelhos para olha-lo. A dor no meu peito se foi, na verdade agora só tinha uma coisa... Um vazio imenso.

Ele estava pálido, bem pálido, sua pele estava gelada e olha que eu senti isso.

- O que... – tentei falar mais minha voz falhou.

- Por que ele não disse? – ouvi a Kate.

- Ainda tem tempo! Ele tem batimentos. – a moça de olhos verdes disse e se ouvi bem ela se chama Caroline.

- O que aconteceu? – consegui perguntar sentindo as lagrimas se formarem.

- Ele está morrendo. – o Rick respondeu a minha pergunta.

- Isso eu vi! – respondi grossa.

A Kate tirou minha mão do sofá e colocou a cabeça no peito do Felipe para ouvir os batimentos

- Talvez possamos fazer algo! – ela colocou a mão na testa dele.

- O que a gente faz? – ouvi a Caroline perguntar.

- A bruxa aqui é você e a loira! – o Rick falou indo pegar alguma coisa.

- O que aconteceu? – perguntei de novo.

- Mordida de lobisomem. – a Claire respondeu segurado o meu braço para me tirar dali.

- Não! – neguei com a cabeça a fazendo me soltar.

- Liz o que vamos fazer? – a Caroline perguntou a mulher que loira que se chama Liz.

Ela suspirou e vi a dor refletida nos seus olhos azuis.

- Não podemos fazer nada a respeito. – falou isso quase inaudível.

- Como nada? Você deve ter alguma erva, cajado, pozinho magico, que tire ele dessa. – o Rick falou a entregando a faca.

- Posso tentar tirar o veneno, mas acho é tarde demais. – a Liz falou.

- Não, não, não! –aproveitei que a Kate levantou e me aproximei dele. – Felipe, por favor não, não! – passei a mão no seu rosto frio. – Felipe?

- Bianca vem aqui! – senti alguém me forçar a levantar.

- Não, não, não, não, não! – as lagrimas tomaram conta da minha visão.

- Tira ela daqui agora! – acho que era Kate ordenando.

Alguém conseguiu me levantar e me arrastar até as escadas.

- Não! – fechei os olhos sentindo aquela mesma sensação de quando acordei no hospital.

Abri os olhos sentindo os mudar e a força dominar o meu ser.

- Não! – o meu grito ecoou pela sala e pude ver a Claire e o Rick tamparem os ouvidos.

- Bianca. – alguém me gritou sacudindo os meus ombros.

Tentei focar na voz e na pessoa na minha frente. Era Kate com um olhar assustado.

- Eu não posso, não consigo. – falei sentindo o vazio voltar e o poder indo embora.

Ela me puxou me abraçando e deixei as lagrimas escorrerem pelo meu rosto.

- Na verdade tem um jeito. – a Caroline falou isso baixo.

- Não podemos Caroline! – a Liz a repreendeu.

- É o único jeito de traze-lo de volta. – respondeu.

- Que jeito? – me soltei da Kate e encarei as duas.

- Você! – a Caroline falou me olhando.

- Como? – me aproximei dela.

- Através da conexão elementar que existe entre vocês. – a Liz falou indo até o Felipe. – Você pode salva-lo Bianca... Pode se unir a ele.

- Como assim? – perguntei indo até a Liz.

- A conexão eterna fazendo de vocês um só.

- Isso é loucura. – a Claire falou interrompendo.

- Eu faço! – falei e todos me olharam.

- Bianca... – o Rick segurou o meu braço.

- É minha vez de fazer algo por ele. – engoli as lagrimas. – O que tenho que fazer?