"Luka!" - gritava ela. Pelo soar de passos percebi que vinha correndo.

Tentei procurá-la, mas tudo estava negro como trevas. Tentei gritar mas estava sem voz. Socorro...

"Luka! Gomen ne! Luka!" - gritava incessantemente.

"Eu te desculpo!" queria gritar "Só não venha pra cá!"

"LUKA! Onde você está? Não estou te vendo. Luka? Luka?" - Queria chorar. Estava acontecendo igual àquele dia. "Ah, Luka, eu te achei!"

Tudo ficou claro e pude ver o cabelo de Miku voando enquanto ela corria em minha direção.

"Miku! Fique ai!" - Tentei berrar, mas tudo que saiu da minha boca foi: "Eu te odeio. Nunca vou desculpar você!"

Miku parou.

O baque.

Sangue.

Comecei a chorar.

Acordei novamente. Estava ofegante. Respirei fundo incontáveis vezes. A doutora Mikasa falou que toda vez que sonhasse com ela era para respirar fundo e continuar minha vida.

Estava tentando. Não estava funcionando.

Levantei nervosa, olhando para os lados. Um caminhão me mataria logo. Tinha certeza. Fui até a cozinha e peguei um pote com doces. Joguei quatro na boca e fui sentar no sofá.

Comecei a chorar de novo.

"Controle-se" berrava mamãe em meu ouvido.

Não conseguia parar de chorar.

Fazia sete anos que Miku Hatsune morreu. Por minha culpa.

– Desculpe. - solucei para o vazio. - Desculpe Miku.

Acabei pegando no sono enquanto chorava.

Acordei com alguém fazendo carinho no meu cabelo. No primeiro momento pensei que fosse meu pai. Depois me lembrei que ele viajara. Minha mãe morava nos Estados Unidos. Abri os olhos assustada.

Gritei.

– Ohayo, Luka! - gritou Miku. Ela abriu os braços. Estava crescida, não tanto quanto eu, mas realmente estava grande.

Sai do sofá e comecei a piscar várias vezes.

O que uma pessoa morta estava fazendo em minha casa?

– Luka? - Miku piscou os olhos de maneira angelical. - Tá tudo bem?

Encarei Miku.

– Você é uma assombração! - exclamei.

Miku fez bico.

– Nee, Luka, você não era mal-educada assim. - murmurou Miku. - Mas tudo bem porque nós estamos juntas!

– Não, não estamos não. - Não podia acreditar em mim mesma. Desde quando começara a falar com coisas que não existem? Aliás, desde quando passara a ver coisas que não existem?

Miku sorriu.

– Tem razão. Meiko-san, Rin-chan, Len, Gakupo e Kaito não estão aqui. - Miku levantou. - Luka, vamos vê-los?

Neguei.

– Não. Eu verei. Você não. Você não existe.

Miku me abraçou e caímos no chão.

– Existo sim! Vem, vou preparar seu bento! Com muito muito muito alho poró! Alho poró! - Miku levantou e começou a dançar pela casa.

Ela me fez cair no chão. Será que realmente voltara?

Balancei a cabeça. Iria continuar fingindo que ela existia. Sorri. Pelo menos, podia ver que ela cresceu, e que não fora brutalmente morta.