A Filha Do Sol - Parte II escrita por Taty B, Let B Aguiar


Capítulo 5
Capítulo IV


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores maravilhosos! Cá estou eu, dando o ar da graça e postando o capítulo IV. Quem aí está preparado para assistir O Mar de Monstros na sexta-feira? Eu vi boas críticas sobre o filme, mas tenho consciência de que algumas coisas vão fugir bastante ao livro. Apenas espero que não seja uma tragédia cinematográfica como o Ladrão de Raios!
Bom, peço para que vocês se acostumem com capítulos grandes. Eu não consigo escrever mais nenhum capítulo com menos de 3000 palavras rs virou uma síndrome!
Esse capítulo é mais tranquilinho e é um POV bem descontraído do Leo. Espero que vocês gostem!
Até lá embaixo!



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CAPÍTULO IV

LEO

Sou cara de pau mesmo e admito que fui dormir mais feliz do que na noite anterior. Ryler e Pattie definitivamente tinham terminado e não havia mais volta. Pattie parecia estar decidida a continuar a vida.
E eu esperava que houvesse uma possibilidade de ser incluído nela.
Afinal de contas... Eu era bom para Pattie. Ou talvez ela só proferiu essas palavras por impulso. Ou então, como sempre, eu estava avaliando as coisas de forma negativa e ela realmente me achava legal e inteligente. Era bom que tal constatação fosse verdade, porque se dependesse do quesito beleza, eu não teria nenhuma chance com uma garota do seu nível.
Mais uma vez eu tive a sensação de que o dia amanheceu no momento em que fechei os olhos. O despertador do nosso chalé se resumia a uma sirene insuportável que ninguém sabia desativar e era basicamente indestrutível. Segundo os campistas mais velhos, estava lá há uns cem anos, no mínimo. E se acordar com um despertador normal não é algo muito agradável, imagine acordar com uma sirene... O cara que fez devia ser um belo de um desocupado.
Eu pulei da cama, tomei um banho rápido e me arrumei para ir tomar café. No caminho para o refeitório, eu encontrei Piper.
– Você parece feliz. – ela falou, me encarando com seus olhos de caleidoscópio. Às vezes eu ficava meio atrapalhado por ficar os observando de perto – Não é certo ficar feliz com a desgraça alheia, mas nesse caso é permitido.
– Vai me dizer que a señora não ficou feliz quando percebeu que o Jason não dava mais a mínima para a Reyna? – eu repliquei, e Piper soltou uma risada.
– Lógico que eu fiquei, Valdez. Mas você deve estar rindo com muito mais gosto. Afinal de contas, a Pattie namorava o Langdon.
– Sem dúvidas, Rainha da Beleza, sem dúvidas!
O assunto morreu quando a própria Pattie apareceu, radiante, como se nada no mundo pudesse abalá-la. Ela não tinha noção de como isso só a deixava mais bonita.
– Estavam falando de mim, é? – Pattie sorriu para nós. Seus dentes eram tão brancos que me faziam ter vontade de correr para o banheiro e escovar os meus até que eles ficassem da mesma cor. Ela vestia sua camiseta customizada do acampamento, mais curta e com as mangas dobradas, e um shorts jeans rasgado. Eu não podia esquecer de mencionar as botas, é claro. Ainda não havia visto Pattie calçando outro calçado que não fosse botas. Pelo jeito ela tinha umas cem diferentes. Qualquer sinal de maquiagem passava longe do seu rosto, e cara, ela não precisava nem um pouco disso.
– Sim. Nós não gostamos de você, ainda não percebeu? Cai fora! – Piper brincou e Pattie deu um soquinho no seu ombro. Era difícil entender como uma garota conseguia ser tão linda e tão bruta ao mesmo tempo.
– Agora é que eu não caio fora mesmo! – ela exclamou e seu olhar repousou em mim – E aí, Tocha Humana? Vamos começar a construir a biga do Will hoje?
– Que assistente mais proativa! – me surpreendi com a vontade dela em passar seu tempo comigo – Se você já quer começar, então vamos começar.
Piper sabia do meu plano incrivelmente idiota de passar mais tempo com a Pattie, então, optou pelo silêncio.
– Eu trabalho duro, Valdez. – Pattie não precisava forçar muito para fazer pose de durona. Vamos dizer que ela era um pouquinho alta, levando em conta a altura normal de uma garota e das outras campistas. A sorte é que nós éramos praticamente do mesmo tamanho. Sem aquelas botas, ela deveria ser uns três centímetros menor que eu.
Crescer cinco centímetros em dois anos foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Sério.
– Ok, vamos ver se você sabe construir tão bem quanto luta. – arqueei uma sobrancelha para ela, que me mostrou a língua. Prosseguimos nosso caminho até o refeitório e eu quase derrubei Piper com um chutinho que dei no seu calcanhar. As pessoas não parecem levar em conta a previsibilidade das minhas brincadeiras. Chegando lá, cada um foi para sua mesa.
Assim que sentamos, Quíron pigarreou para chamar nossa atenção.
– Meus jovens campistas! Tenho um comunicado a fazer. – Quíron começou, e a atenção de todos se voltou para ele – É com muita honra que anuncio nosso quadragésimo terceiro torneio de esgrima! – um burburinho começou a se formar. Eu e meus irmãos trocamos o mesmo olhar: o de quem não estava entendendo nada. – Há cinquenta anos que não organizamos esse torneio, mas neste verão, eu e o sr. D resolvemos retomar a tradição, visto que o acampamento está formando excelentes esgrimistas nas últimas décadas. O torneio começará no sábado da semana que vem e as inscrições poderão ser feitas até a hora do jantar, na casa Grande. Isso significa que vocês precisam decidir rápido se irão participar ou não. Como o próprio nome diz, esse é um torneio de esgrima. Nenhum outro tipo de arma será tolerado. Então, esgrimistas, não percam tempo! Vocês têm até as seis da tarde para fazer suas inscrições. Tenham um bom dia!
O refeitório inteiro irrompeu em comentários e o chalé de Ares, sem dúvidas, era o que parecia mais animado. Observei Pattie discutir com seus irmãos, gesticulando, provavelmente tentando convencê-los de que ela orgulharia seu chalé se por acaso participasse e vencesse o torneio. Pelo o que eu tinha visto até ali, eu não me surpreenderia se ela fosse a grande vencedora. Aquela filha de Apolo lutava como um animal.
– Que pena que somos os que forjam as espadas, não os que lutam com elas. – Sarah comentou. Todos os filhos de Hefesto eram carrancudos e pareciam ter levado um gancho de esquerda da vida; mas Sarah conseguia ser pior que os demais. Em mais de dois anos de acampamento, eu nunca a vi sorrindo ou se divertindo. Acho que nem o próprio Hefesto realizava a proeza de ser tão mal humorado.
Na verdade... ignore o comentário acima. Se eu consigo me transformar no ser mais mal-humorado do mundo quando as máquinas fogem ao meu controle, Hefesto deve agir da mesma forma, só que elevado à centésima potência.
– Ninguém do chalé vai participar porque ninguém é bom com a espada, não porque fomos feitos apenas para produzir espadas. – Nyssa rebateu. Desde que começou a namorar com Will, ela tinha se tornado menos dura e mais fácil de lidar, como um carro que tem as lonas de freio trocadas. Até passou a usar batom e aquele negócio cor de pele que as garotas passam no rosto.
– Aposto que o prêmio vai ser em dracmas. Nessas horas eu queria ser esgrimista... – Shane se lamentou. Preciso mesmo comentar que o cara parecia um gorila e dava dois Leo e meio?
Eu não sabia como eu não me contaminava com o desanimo dos meus companheiros de chalé. Esse era um mistério maior do que a origem da vida.
Não demorei para tomar café. Às vezes ficar na presença de pessoas tão para baixo não faz bem para sanidade, especialmente quando você tenta se manter firme e esboçar um sorriso sempre que possível.
A primeira atividade depois da inspeção dos chalés seria um treino de rastreamento. Eu particularmente gostava dessa atividade, porque o objeto a ser rastreado sempre era uma bomba, que um dos times deveria encontrar antes que a mesma explodisse. Não que eu estivesse em falta de adrenalina. Já havia participado de situações perigosas o suficiente por aquele verão. E eu cheguei a pensar que esse seria o primeiro verão em que nada incomodaria a pacata vida de Leo Valdez...
O treino, naquele dia, ia ser realizado dentro do navio parcialmente atolado na areia do estreito de Long Island. Eu me dirigi antes de todos os outros do meu chalé para lá. O chalé de Apolo já se encontrava a postos, vestidos com suas armaduras tão polidas que chegavam a irritar os olhos. Até então, eu não sabia que a atividade seria junto com o chalé 7, mas isso não significa que não gostei da constatação.
Johnny preparou uma flecha e a atirou em mim. Eu sequer me movi quando o projétil passou zunindo ao lado do meu ouvido. Aquele babaca achava que eu ainda temia essa brincadeira, como se ele não fizesse a mesma coisa há mais ou menos uns dois anos.
– Você é tão sem graça. – ele bufou e Pattie riu. Ela estava parada ao lado dele, amarrando os cabelos em um rabo de cavalo. Eu achava que fosse impossível alguém ter até a risada bonita. Aí eu conheci Pattie e conclui que eu era um péssimo achador.
Essa palavra existe? Enfim...
– Eu consigo ser mais ameaçador com uma chave inglesa na mão do que você com seu arco e flecha e essas calças skinny. –zombei, mas não falei nada além da verdade. Johnny se vestia igual a un marica, como diria meu falecido avô. As calças dele eram tão apertadas que eu não entendia como não sentia dor nas bolas. É sério. E a camiseta com as mangas arregaçadas não ajudava nem um pouco. O mistério, na verdade, era o que todas as garotas do acampamento viam nisso.
Não estou sendo invejoso, apenas realista.
– Você queria usar essas calças, cara.
– Não, eu tenho amor às minhas bolas.
– Não sou obrigada a ouvir isso! – Pattie exclamou, um tanto constrangida.
– Ué, tampe os seus ouvidos, então. – Johnny deu de ombros e Pattie revirou os olhos.
– Por que você força tanto seu sotaque inglês? – ela questionou, arqueando uma sobrancelha.
– Porque as garotas amam isso, mana. Eu já disse para o Leo que se ele imitasse meu sotaque, todas as garotas iriam querer o corpo dele nu. – Johnny possuía um ego tão grande que às vezes se tornava irritante. Eu podia afirmar isso, porque com certeza era um dos que passava mais tempo com ele. Assim como eu, Johnny também é órfão. Sua mãe, Melissa Harper, uma ascendente cantora inglesa, morreu na sua frente em consequência de uma overdose de heroína e álcool. Ele tinha seis anos de idade quando a tragédia aconteceu. Seu pai se disfarçou de agente social e o trouxe para os Estados Unidos. Ele passou por diversos lares adotivos até encontrar o acampamento.
Acho que além de uma competição de esgrima, Quíron deveria anunciar uma competição de ‘histórias de vidas trágicas que envolvem a perda de um ente querido’. Johnny e eu estaríamos no páreo. Talvez ele ficasse com a medalha de prata.
Certo. Tenho certeza de que minha mente é a oficina do diabo.
Apenas nós dois e mais três crianças permanecem no acampamento após a temporada de férias. Ou seja, o cara acabou virando um grande amigo, e até voltaríamos a estudar juntos quando o verão acabasse. Quíron me contou essa novidade logo depois de eu ter voltado vivo da missão. Veja bem, eu não tinha a mínima vontade de estudar. Eu tive que refazer o primeiro ano do colegial numa escola das redondezas, em Greenport (uma cidade litorânea que fede a peixe e fica a quinze quilômetros do acampamento). E só tive essa oportunidade porque Quíron manipulou a névoa para encobrir meu desaparecimento de um ano diante do juizado e entrou com um (falso) processo de adoção. Ele fez o mesmo com Johnny, então, vivemos um ano de tortura juntos em Greenport High School, a única da cidade, que nem sequer tinha garotas gostosas, indo e voltando de ônibus da escola para o acampamento. É claro que causamos alguns problemas para agitar a vida acadêmica dos pacatos adolescentes de Greenport, mas não extrapolamos, pois nenhum de nós queria ser mandado para um internato nos moldes da Escola da Vida Selvagem.
Cara, minha vida no último ano foi bem desinteressante. É melhor eu mudar de assunto. Ninguém merece tamanho blábláblá.
Pattie fez uma careta com a resposta do irmão. Será que ela imaginou meu corpo nu e achou isso repugnante?
– Não siga os conselhos dele, Leo. Definitivamente. – ela me alertou e eu dei uma risada sarcástica.
– Oh, não me diga! Talvez eu realmente deva falar assim minha querida Patricia!– fiz o pior sotaque inglês que consegui e arranquei outra gargalhada dela. Johnny cruzou os braços.
– Eu não falo desse jeito!
– Há! Sim, você fala desse jeito, John Harper! – Pattie também entrou na brincadeira e sua imitação conseguiu soar pior do que a minha.
- Eu consigo todas as garotas com as minhas bolas esmagadas! Olhem para mim, eu sou tão quente quanto meu pai! – eu continuei, jogando os cabelos para o lado e colocando as mãos nos bolsos. Pattie riu mais ainda.
– Eu não sei o que é mais ridículo: Johnny sendo ele mesmo ou um latino imitando um inglês branquelo. – ela disse e Johnny começou a bater nela com o arco. Pattie acabou se enrolando na linha do mesmo e isso foi tão estúpido que eu não consegui nem rir. Filhos de Apolo e seus cérebros diminutos...
– Johnny, seu imbecil! – Pattie ralhou, mas não conseguia refrear seu riso. Ainda bem que Quíron apareceu antes que Johnny também se embolasse na linha do arco.
– Campistas. – ele chamou nossa atenção – Formem grupos de seis para o treino de rastreamento.
O resto do meu chalé se fez presente junto com Quíron. Pattie puxou Johnny e eu para o grupo dela. Nós precisávamos de alguém de raciocínio rápido (além de mim), então fiz sinal para que Harley se aproximasse. Todos meus irmãos eram inteligentes; mas alguns como Sarah, por exemplo, eram bem lentos (e pesados). Johnny gritou para Carlos e Austin se juntarem a nós.
– Chalé de Apolo, podem deixar seus arcos comigo. Nada de flechas disparadas a curto alcance, certo? Peguem suas adagas. Patricia, cuidado com sua espada, ela é muito longa e pode ferir alguém gravemente. Neste navio, há uma bomba que irá explodir daqui sete minutos. Ela foi perfeitamente escondida por um de nossos sátiros. A equipe que encontrar a bomba primeiro ficará livre de fazer o almoço até o fim das férias. E bem... Agora vocês tem seis minutos e meio para achá-la e desarmá-la. Vão!
Os três grupos saíram em disparada. Pattie ordenou:
– Carlos e Austin vão com Harley para a proa! Eu e Johnny vamos com Leo para a popa! Tentem achar essa bomba a todo custo, eu odeio descascar cebolas!
– Você sabe o que é popa e proa! – eu exclamei, sorrindo, enquanto entrávamos no barco, que tinha três conveses para explorarmos.
– Foi você que me explicou isso, Valdez! – ela buscou Kallistei em seu bolso e destampou o isqueiro. A luz refletida pela espada chamava a atenção de qualquer um.
– Esqueça o orgulho que empreguei na frase anterior! Pensei que você tinha descoberto por si própria. – ela me lançou seu olhar pulverizante e Johnny trombou em mim.
– Então, alguma ideia de onde procurar?
Os irmãos de Pattie pareciam baratas tontas correndo pelo convés inferior do navio. Sarah gritava ordens para seu grupo, que não a obedecia. A melhor maneira de responder a esse tipo de pergunta era imaginando onde eu esconderia uma bomba dentro de um antigo navio de guerra corroído pelo tempo e cheio de areia. Um lugar óbvio tinha grandes chances de passar despercebido pelos meus irmãos, que tendiam a analisar os desafios da forma mais complexa.
Os canhões em ruínas eram um lugar óbvio e desprezível. Nossos ‘adversários’ estavam mais preocupados em realizar sua busca na parte interna do navio. Eu esperava que Harley tivesse pensado o mesmo que eu.
– Vamos para o convés superior! Tenho um palpite forte...
Subimos as escadas aos tropeços. O grupo de Nyssa veio em nosso encalço, e Johnny gritou:
– Se não sabem procurar direito não venham atrás da gente! – ninguém se sentiu ameaçado, e Pattie olhou furiosa para trás. Praticamente pude ouvir as engrenagens do seu cérebro trabalhando numa maneira de despistar o grupo.
Chegamos no convés superior e olhei as horas no meu relógio de pulso. Tínhamos apenas mais três minutos. Vi Harley agachado em um canto; um dos canhões estava tombado no convés, e Carlos e Austin tinham suas adagas em mãos, prontos para protegerem Harley se necessário.
Nossa sorte é que Pattie conseguia deixar a lerdeza de lado quando se via no meio de uma situação que envolvia altas concentrações de adrenalina. Ela não conduziu seus passos em direção a Harley; virou para o lado oposto, indo para a popa, e sussurrou para mim:
– Finja que você achou a bomba naquela balista!
– Uau, seu raciocínio está rápido hoje!
– Valdez, quando eu sair desse barco eu vou te pegar... – ela ameaçou. Quase respondi que ela podia me pegar à hora que quisesse, como quisesse e aonde quisesse.
Bom, se essas palavras tivessem escapado da minha boca, no mínimo, eu teria levado um tapa na cara. Ou uma voadora. As duas opções soavam bem dolorosas.
Eu me abaixei teatralmente perto de uma balista e tirei um martelo do cinto. Comecei a golpear a pilastra da mesma, atraindo a atenção de Nyssa, Leroy, Adam e Matt. Johnny e Pattie brandiram suas lâminas, projetando uma falsa cobertura sobre mim.
– Nem pensem nisso, seus espertalhões! – se Johnny não conseguia ser ameaçador com um arco e flecha, também não conseguia incitar medo com uma adaga que correspondia a um quarto da espada da sua irmã.
– Se querem desarmar a bomba, terão que passar por cima de nós! – os irmãos de Pattie não queriam se aproximar muito de Kallistei. A espada brilhava intensamente, refletindo os raios solares e fazendo com que os outros estreitassem os olhos para conseguir enxergar.
– Não queremos machucar vocês! – Nyssa falou.
– Ha, a verdade é que não são páreo para nós! – Johnny zombou e Adam o fuzilou com os olhos.
– Cala a boca, Johnny! – Matt rosnou. Ele estava desarmado.
– Ah é? – Adam disse – Vamos ver então!
Adam desembainhou sua adaga e atacou Johnny. Nyssa rolou os olhos e também tirou uma espada velha de seu cinto, atacando Pattie sem vontade nenhuma. Pude ver ela segurando um riso por ter que defender uns ataques tão medíocres.
Pelo menos a distração funcionou. No fundo do convés, Harley deu um grito de alegria ao desarmar a bomba por completo. A luta parou imediatamente e Nyssa bufou frustrada, ao que me levantei com um sorriso débil nos lábios.
– Eu deveria ter suspeitado. – Nyssa suspirou – Boa estratégia, Valdez.
– Na verdade, dê os créditos a Pattie. Ela que deu a ideia. – Pattie lançou um olhar reluzente para mim. Eu retribui com um sorriso sincero.
– YES! YES! COZINHAR NUNCA MAIS! – Johnny comemorava com Austin, Carlos e Harley, que se juntaram a nós. Carlos levantou Pattie no colo, coisa que eu jamais teria força para fazer.
– Me larga! – ela se debatia, rindo, convertendo Kallistei em isqueiro para não machucá-lo.
O porquê de a espada ter assumido a forma deste objeto ainda era uma incógnita. O que Psiquê dissera era verdade: a espada se transformava num objeto relacionado à alma gêmea de sua dona. Fiz algumas pesquisas sobre a lâmina e não encontrei a resposta que queria.
Na verdade, eu tinha dificuldade em admitir que uma fresta de esperança surgiu dentro de mim, como uma cortina parcialmente aberta. O isqueiro era uma fonte de fogo. Eu, bem... Não preciso ficar falando de quem sou filho ou das minhas habilidades. E se o real significado fosse...
Não, não podia me dar ao luxo de pensar assim. Pattie deixara bem claro que não entendia como Kallistei se transformou em um isqueiro. Ou seja, ela nem cogitava a possibilidade de eu ser sua alma gêmea.
A realidade me chamou de volta quando Quíron apareceu no convés, ostentando um sorriso orgulhoso.
– Parabéns por desarmarem a bomba à tempo, campistas. Espero que fiquem felizes por não terem que fazer o almoço. É uma boa recompensa! Agora, de volta às suas atividades remanescentes.
Pattie e eu seguimos caminhos diferentes, mas antes disso, combinamos de nos encontrar na entrada da floresta para irmos até o Bunker. Meu estômago se revirou desconfortavelmente. Seria a primeira vez que eu e Pattie ficaríamos sozinhos no Bunker. Eu tinha duas opções: ou fazia cada momento valer a pena, ou então estragava tudo.
Tentei me concentrar nas atividades seguintes. O dia passou devagar e o sol brilhava tão forte enquanto eu treinava canoagem no lago que pedi ao meu cinto que me desse um frasco de protetor solar. Em vez disso, ganhei um frasco de álcool em gel. E eu não me lembro de ter feito o pedido em espanhol ou grego antigo.
Bom, sumarizando o dia: fiquei esperando Pattie chegar perto de um grande carvalho cheio de gravações em seu tronco. A maioria era de casais que escreviam suas iniciais e as colocavam dentro de um coração. Eu sempre achei isso tão brega. Mas levando em conta minha atual situação, eu não podia julgar tanto assim quem estava apaixonado.
– Tá brisando? – uma voz doce falou atrás de mim. Me virei e Pattie sorria, as duas mãos enfiadas nos bolsos do seu shorts.
– Estava te esperando, Pequena Miss Sunshine. Ficar olhando para tronco de árvores não é um dos meus hobbies preferidos. Vamos. – ela rolou os olhos com meu trocadilho e começamos a caminhar pela floresta. Pensei que Pattie iria ficar sem silêncio e me colocar numa situação constrangedora, mas ela era hiperativa demais para isso.
– Meu aniversário é daqui vinte dias. Uau. Dezesseis anos... Daqui a pouco já estou me formando no colégio. Isso é, se eu sobreviver até lá.
– Bom... Se eu consegui sobreviver até completar dezessete anos depois de enfrentar gigantes, fantasmas e uma deusa enlouquecida... Você também consegue! – fui animador, e Pattie soltou um muxoxo resignado.
– Certo, há uma possibilidade de que eu sobreviva. O problema é que não tenho ninguém em L.A para me resgatar caso um drakon me ataque. Estarei sozinha. Acho que essa vida aqui no acampamento me deixou muito acomodada...
– Pattie, sua espada tem quase um metro de comprimento e você luta como uma amazona. Nenhum monstro pé de chinelo é capaz de te derrubar. Agora, analise minha situação... Pela primeira vez depois de dois anos e pouco, estarei fora do Acampamento, em Nova York, estudando num internato para mortais, e tudo o que eu tenho é um cinto de ferramentas mágico. Se alguém tem grandes chances de virar comidinha de monstro, esse alguém sou eu.
– Você pode andar com umas daquelas pistolas de bronze que você fez. – ela comentou – Elas não são indetectáveis à frequência dos detectores de metais? Sem contar que balas de bronze celestial não matam humanos... Acho que você deveria usá-las para se proteger.
Eu considerei a ideia. Reciclei uma bela quantidade de bronze do destruído Argo II e o usei para reforçar o arsenal do acampamento. Eu forjei umas armas bem legais, tenho de confessar. Não apenas espadas, lanças e adagas: mas lançadores de mísseis, fuzis, metralhadoras e revólveres, todos de bronze celestial e com projéteis do mesmo tipo. Inofensivos para humanos, porém, terrivelmente letais para monstros. E de longo alcance. Pesado demais para adolescentes? Talvez... mas a graça era exatamente essa.
– É verdade. Tá aí uma coisa que o gênio aqui não pensou.
Pattie me encarou, como se tentasse de alguma forma descobrir o que eu estava pensando, sustentando um sorriso soturno.
– Piper me disse que no Acampamento Júpiter há uma cidade para semideuses que já encerraram as atividades. Ela pensa em viver lá com o namorado. Eu não acho isso uma coisa legal. Claro, é sempre bom viver em segurança, mas qual é a emoção de um semideus viver recluso, numa espécie de bolha protetora? E além do mais, querendo ou não, somos parte mortal. Pertencemos a essa civilização também. Creio que eu não terei medo de viver entre os mortais.
– O que você acabou de dizer agora foi profundo. – eu falei, mas juro que não tive a intenção de ser irônico. Pattie me deu um peteleco no braço.
– Pare de me subestimar, Valdez.
– Eu não estou te subestimando, eu juro! – fiz sinal de rendição e sua expressão se tornou mais leve. Ufa. – Eu concordo com você, Pattie. Depois de ter passado por tanta coisa... Eu não consigo me imaginar passando por situações piores. Não tenho medo de viver a minha vida. As Parcas me mantiveram vivo por alguma razão... Espero que tenha sido para viver em paz e ser feliz...
– Leo... – ela começou – Você precisa ser mais positivo e parar de se sentir tão inútil. É lógico que está vivo por algum motivo! Você ainda tem muito o que fazer e irá contribuir demais com suas ideias para o mundo. E o caminho da felicidade é você mesmo que traça, basta começar a ver as coisas de um modo diferente. Quem sabe agora que você vai estudar em Nova York, a sua vida não toma um rumo novo?
Eu dei um pequeno sorriso ao ouvir tais palavras. Eu não sabia como aquela garota tinha o poder de dizer exatamente tudo que eu sempre precisei ouvir.
– É o que eu espero. E o Johnny também. Você sabe que ele vai estudar comigo, não é? A escola em que estudamos no ano passado não nos aceitou de volta. Então Quíron arrumou esse internato que aceita órfãos. Fica no Queens. Annabeth estudou lá...
Continuamos a conversar sobre esse assunto até chegarmos na falésia que escondia o Bunker 9. Mas para minha surpresa, as enormes portas de ferro já estavam abertas.
– Quem será que está aí? – falei comigo mesmo, intrigado, e apertei o passo para alcançar o portal. Pattie me olhou com estranheza, mas me acompanhou.
Ao pisar dentro do Bunker, me deparei com um grandalhão encostado a um dos fornos na extremidade direita do local, tirando de dentro dele algo que parecia com um escudo, sem utilizar luvas ou outro aparelho de segurança. O cara tinha quase dois metros de altura, mas vestia um avental azul escrito ‘ I ♥ PÔNEIS’ e seu grande olho castanho brilhava como o de uma criança levada.
– Tyson! – eu exclamei. – Você quase me matou do coração, cara. Pensei que algum monstro tinha invadido o Bunker.
– Leo! – o ciclope largou o escudo em cima da mesa mais próxima e veio correndo até mim. Ele simplesmente me esmagou num abraço apertado que me levantou do chão – Você continua pequeno e engraçado! Desculpa por ter invadido o Bunker.
Quando Tyson me soltou, tive a sensação de que todos os ossos do meu corpo haviam sido quebrados. Não que eu soubesse como era sentir esse tipo de dor...
– Hã, e você continua grande e... fã de pôneis. – não reprimi um riso ao ver o avental dele mais de perto - Tá tudo certo. Pode continuar trabalhando aqui, grandalhão. Ah, essa daqui é a Pattie, filha de Apolo.
Ela estava parada atrás de mim e seus olhos observavam Tyson com uma mistura de medo e surpresa. Eu entendia o que deveria estar sentindo, já que sua última experiência com ciclopes não foi muito agradável.
– Eu sou Tyson! – Tyson sorriu como um bebê para Pattie e pude ver a postura dela relaxando – Você está namorando o Leo? Eu já disse que ele é engraçado e gosta de falar em espanhol?
Não sabia onde enfiar a cara. Eu desejei ter uma britadeira tamanho grande para abrir um buraco no chão e me enfiar dentro dele, sem previsões de sair tão cedo de lá. Pattie ficou corada e deu risada. Não podia concluir se foi da maneira infantil com que Tyson falava, ou se a ideia de nós dois sendo um casal soava engraçada.
– Nós somos melhores amigos, Tyson. E sim, eu já percebi que ele é engraçado e tem essa mania de falar em espanhol às vezes. – ela conseguiu se sair bem – Percy já havia me falado de você!
– Percy é meu irmão! – Tyson sempre afirmava isso transbordando de orgulho. – Ele me contou que você tem uma espada legal. Posso ver?
– Claro! – Pattie falou educadamente e foi sentar-se numa cadeira, com Tyson em seu encalço.
E lá se ia por água abaixo a nossa primeira tarde juntos.
Tyson soltou uma exclamação quando viu o isqueiro se transformar em Kallistei. Ele pegou a espada da mão de Pattie e quase encostou o nariz na lâmina de tanto examiná-la. E então eu vi um emaranhado de penas vermelhas descer voando como um raio das passarelas e pousar na mesa mais próxima de Tyson e Pattie.
– Kallistei, a espada forjada para Psiquê por Hefesto, datada de 500 a.c. – Ella despejou as informações, falando daquela maneira rápida e bizarra – Se transforma num objeto que remete à alma gêmea, sim. Kallistei é um isqueiro agora. Fogo. Ella sente cheiro de fogo quando está perto do filho de Hefesto. Sim, sim. Ella sente.
Ella finalizou mais um de seus momentos enciclopédia e começou a alisar as próprias penas vermelhas, olhando para Tyson de um jeito terno, mas esquisito ao seu modo. Eu preciso mesmo dizer o quanto isso era estranho...?
Eu mal acreditava na minha má sorte. Tudo estava dando errado. Tyson e Ella conseguiram me colocar em uma saia justa duas vezes seguidas. Pattie ficou atônita com as informações dadas pela harpia. Senti minhas bochechas esquentaram tanto que tive medo que começassem a pegar fogo.
Pattie piscou os olhos e por fim foi capaz de dizer algo.
– Ela... é uma harpia?
– Sim! – o único olho de Tyson brilhou ainda mais, se possível. – Ella é minha namorada. É muito bonita. E inteligente!
– Tyson faz Ella enrubescer. Enrubescer, verbo. Tornar-se vermelho, rubro; a senhora enrubesceu...
– Certo! – eu interrompi. Desde que conheci Ella, sua aparência melhorara muito. Ela agora deveria ter o peso de uma harpia bem nutrida e seus cabelos ruivos estavam sempre penteados e brilhantes. – Tyson, eu trouxe Pattie aqui porque temos uma biga para construir. Lembra-se daquela biga do chalé de Apolo e Ares? Hã...Bem, nós a destruímos há algumas semanas atrás. E prometemos fazer uma novinha em folha. Pattie vai projetar os desenhos da lataria, e eu vou começar a trabalhar nos pégasos autômatos. Quer ajudar... hum ...por hoje, já que está aqui?
– Pôneis autômatos com asas? – Tyson ficou visivelmente animado – É claro que sim!
– Então mãos à obra! – Pattie tirou sua espada delicadamente da mão gigantesca de Tyson e guardou-a em seu bolso. Parecia ansiosa para distrair Tyson e Ella. Talvez, assim como eu, não queria ouvi-los falando coisas que nos constrangeriam mais ainda.
O horário livre passou rápido e eu e Pattie não tivemos muito tempo para conversar. Eu dei a ela tudo o que precisava para desenhar, desde um compasso a esquadros e lápis de cor.
– Você sabe usar um compasso? – dessa vez foi proposital. Eu adorava provoca-la. Ela fazia uma cara muito bonitinha quando ficava nervosa.
– Sei. E vou usá-lo para arrancar seu olho fora! – ela rebateu, apontando o compasso em minha direção. Eu dei uma risada sarcástica.
– Você é um doce! – devolvi e ela me fuzilou com os olhos.
Eu e Tyson conseguimos modelar o ‘esqueleto’ dos pégasos autômatos. A sorte é que eu havia arquivado o projeto e ainda não jogara fora os moldes que usei para construir os pégasos. Ser desorganizado às vezes é vantajoso.
Os desenhos de Pattie ficaram incríveis; sem dúvidas, bem melhores do que os que desenhei para a antiga biga. Ela me dissera que adorava artes e um dos seus hobbies era desenhar, mas eu não pensei que fosse uma desenhista tão boa. E também me perguntava como ela conseguiu se concentrar com Ella falando sem parar em seu ouvido.
Nós voltamos alguns minutos antes do jantar para Pattie poder se inscrever no torneio de esgrima. Tyson e Ella nos acompanharam até a saída da floresta, então, definitivamente eu não fiquei a sós com Pattie em nenhum momento.
Subimos a colina e ela não parava de falar sobre o quanto precisava treinar para se sair bem nesse torneio. Parecia determinada a chegar longe, mas eu duvidava que conseguisse vencer Percy, caso ele se inscrevesse.
Óbvio que eu não disse uma coisa dessas à Pattie. Eu não precisava de mais um pretexto para afundar de vez minha reputação.
Adentramos a casa grande e ela se inscreveu para o torneio junto a Rachel. Só precisou preencher uma ficha com seu nome e outros dados. Notei que a caligrafia dela era delicada. Pessoas com TDAH não costumam ter uma caligrafia legal (tome como exemplo o que vos fala).
– Que caligrafia bonita! – Rachel exclamou ao ver a ficha de inscrição de Pattie – Aposto que você tem uma veia artística muito forte...
– Sim! – Pattie respondeu, animada – Eu gosto muito de desenhar. Não sou tão boa quanto você, claro, mas é um hobbie que eu curto muito.
Para acabar ainda mais com nosso tempo ‘à sós’, Pattie e Rachel embarcaram numa conversa de dez minutos sobre arte contemporânea e gravuras . Tudo o que eu entendi foi: blábláblá, Roy Lichtenstein, blábláblá pincel e nanquim. Até outro campista aparecer a fim de realizar sua inscrição no torneio e quebrar o papo das duas.
– Tyson e Ella são engraçados. – Pattie comentou enquanto descíamos a colina de volta para os chalés. – Hã, eu me assustei um pouco quando vi que ele é um ciclope... Mas depois o susto passou. Ele é um amorzinho.
– Eu percebi! Tyson é firmeza... Mas até eu me assusto com a Ella às vezes. Ela tem uma péssima mania de revelar profecias quando bate o olho em quem não conhece.
– Nossa... Chega de profecias por esse verão! – Pattie levantou as mãos para o céu como se pedisse para seu pai esquecer um pouco de sua existência.
– Vai se acostumando, Pequena Miss Sunshine. E ah, seus desenhos ficaram incríveis. Não tive tempo de falar isso lá no Bunker... E, hum... Sobre o que Ella e Tyson falaram mais cedo... – eu comecei, mas como sempre, gaguejei e fiz papel de idiota na frente dela. Para acabar com o que eu chamava de autoestima de uma vez por todas, Pattie começou a rir.
–É tão engraçado quando você fica envergonhado! Parece que vai vomitar a cabeça do Festus.
– Era pra rir? – indaguei, tentando reverter o quadro asfixiante de insegurança que se instalou dentro de mim.
– Não, Valdez, era pra chorar! – ela continuou me olhando de um jeito engraçado. – Eu não me incomodei nem um pouco com o que Tyson e Ella disseram. E você também não devia se incomodar. Bom, vou tomar um banho rápido e ir jantar... Você devia fazer o mesmo, garoto das máquinas.
Ela me deu uma piscadinha e rumou para o chalé dourado de Apolo, construído exclusivamente para roubar toda atenção dos outros chalés. Observei-a entrar no chalé, até ser surpreendido pela seguinte frase:
– Cara, você está tão a fim da minha irmã.
– O que?! – me virei e dei de cara com Johnny, que estava sujo de lama e com galhos de plantas presos no cabelo loiro. Deuses, ele mergulhou no chiqueiro?
– Valdez, acho que até um cego veria que você quer ficar com a Pattie. – sabe aqueles momentos em que você deseja estar sendo filmado só para poder ver sua própria cara e rir depois? Então...
– O que você falou não faz sentido. Cegos não veem, sendo assim seria impossível um cego ver que...
– Blah! – Johnny fingiu que vomitava. – Ataque de nerdice! Socorro! Vou me contaminar!
– Eu é que vou me contaminar com esse seu fedor de chiqueiro. O que aconteceu?
– Eu tentei beijar uma dríade e ela me jogou na lama. – deu de ombros, como se ser jogado por ninfas na lama fosse algo perfeitamente normal. – Mas não fuja do assunto! Você tá doidinho pela minha irmã, cara. Porra, que friendzone!
– Friendzone... Como se eu nunca tivesse passado por isso antes... – grunhi, mantendo distância de Johnny e toda sua lama ao começarmos a andar pela área comum dos chalés.
– Mano, escuta aqui! – Johnny me pegou pelos ombros e fez o favor de sujar minha camiseta do acampamento. – Você não vai passar mais um ano sem arrumar uma garota. Não vai perder mais uma oportunidade só porque você é um bundão! Se liga, Leo. Pra Pattie ficar na sua você só tem que ser confiante!
– Muito obrigado por sujar a última camiseta limpa que eu tinha! – eu empurrei ele pra longe de mim. – E na boa, você não sabe o que está dizendo, Johnny. Sua irmã me vê como um amigo, nada mais. Eu nem sequer faço o tipo dela. Ela deve me achar uma piada. É fácil para você falar...
– Ela te acha uma piada? Ótimo! Garotas gamam em caras que são capazes de fazê-las rir, e você faz a Pattie rir o tempo todo. Já tem meio caminho andado. Agora só precisa deixar o coraçãozinho dela cicatrizar por mais alguns dias e BAM! Você beija ela.
– Lógico. E levo um soco na cara, além de arruinar nossa amizade.
– Tá vendo! É esse seu problema! Ficou se diminuindo tanto o ano inteiro que não pegou nenhuma garota da escola. Cara... – o idiota não se tocava que estava praticamente gritando. Já falei que eu morro de vontade de fazer churrasquinho de Johnny? – Olhe e aprenda o que é confiar no próprio taco...
Miranda Gardiner passava por nós no instante em que Johnny assoviou. Ele atraiu a atenção da garota, que o analisou enojada.
– Ei, Miranda. Você está linda hoje. Gostei da flor no seu cabelo.
Johnny piscou ao terminar a frase. Miranda deu um sorrisinho lisonjeado e envergonhado ao mesmo tempo. O simples fato de Johnny ter mencionado um detalhe de sua aparência fizera com que a garota se derretesse e não desse a mínima para toda a lama na roupa e no rosto dele.
– Vá se lavar, Johnny. Depois conversamos. – ela se afastou passando as mãos pelos cabelos, olhando para trás antes de entrar no seu chalé. Bufei, incrédulo. Nunca conseguiria atrair a atenção de uma garota estando propriamente vestido e arrumado, quem dirá coberto de lama.
– Tá vendo? Aprenda com o mestre. Siga os meus conselhos e você vai conseguir ter a Pattie. Mas se quiser continuar sendo um bundão... Aí não há nada que eu possa fazer pra te ajudar, meu amigo. – Johnny deu tapinhas de incentivo em minhas costas. Na cabeça dele, tudo era fácil e simples demais.
Ou seria eu que exagerava ao complicar as coisas?
– Que conselhos maravilhosos, Johnny. Acho que você deveria começar a vendê-los... – rolei os olhos e ele jogou lama no meu rosto. – Ah, vá se foder! Vai logo tomar banho, nem eu consigo ficar tão sujo assim!
Johnny se afastou mostrando os dois dedos do meio. Eu retribuí a gentileza e rumei para o chalé 9, imerso em questionamentos. Por mais simplórios que tenham sido os conselhos de Johnny, eles me fizeram refletir um pouco. Um desconforto me fez concluir que, talvez, o problema estivesse em mim, não nas garotas.


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Notas finais do capítulo

E então? Se vocês puderem deixar um comentário, eu e a Le ficaremos muito felizes! Eu já escrevi até o capítulo 12 da fic e ela ainda não está nem na metade rs muita coisa vem por aí!
Nos vemos no próximo capítulo!
Beijinhos,
Taty xx