A Filha Do Sol - Parte II escrita por Taty B, Let B Aguiar


Capítulo 12
Capítulo XI


Notas iniciais do capítulo

Olá seus lindos (as)! Tenho só um aviso perante este capítulo: preparem os coraçõezinhos para Lettie.
Bom divertimento!



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CAPÍTULO XI

        PATTIE

Eu desci a colina numa velocidade incabível. Ouvia Leo praguejando atrás de mim, tentando me alcançar em vão. Todos os músculos de meu corpo fervilhavam de vontade de explodir o chalé de Hécate por inteiro. Estranhamente, eu detinha poder para cometer tal atrocidade, e me lembrei desse fato quando as pontas dos dedos de Leo começaram a pegar fogo. Eu sacudi as mãos e apaguei o fogo rapidamente. Que meus instintos homicidas permanecessem só em minha imaginação.
Parei de andar ao colocar os pés na varanda do chalé de Hécate, uma construção de pedras escuras, que apresentavam runas roxo-brilhantes inscritas nestas. Campistas que circulavam na área comum olharam para mim como se eu estivesse com sérios transtornos mentais, mas na verdade, estavam encarando um Leo tendo uma atitude no mínimo estranha. Bati com força na porta do chalé, não me importando com os olhares estranhos que recebia e menos ainda com os boatos que de que as pedras do chalé poderiam cair a qualquer instante e transformar campistas em árvores.
O querido ocupante de meu corpo me alcançou, ofegante. Conseguira a proeza de deixar meu pobre cabelo mais bagunçado do que antes da sua corrida. Leo iria abrir a boca para dizer algo, mas foi interrompido pelo barulho da pesada porta negra do chalé se abrindo e revelando uma Lou Ellen sorridente.
- Até que demoraram bastante para aparecer. – ela falou, destilando um cinismo e uma falsidade que me deram ânsia. Fiz menção de ir para cima dela, mas seus olhos assumiram um tom arroxeado, como os de Circe, e então me repeliu usando sua magia. Cambaleei três passos para trás e Leo segurou meus ombros.
- A sua força bruta não tem a menor chance contra a magia, Patricia. – Lou Ellen cuspiu essas palavras. Não sabia concluir se foi sua intenção, mas tinha acabado de admitir que sabia que eu estava no corpo de Leo. A sensação de estar prestes a entrar em combustão continuava a assolar-me, e me questionei se era assim que Leo se sentia toda vez que se irritava ou via uma garota bonita.
- Cale a sua boca. – eu retruquei. – Você acabou de deixar claro que sabe que eu e Leo tivemos nossas almas trocadas. Como saberia disso se a notícia não se espalhou? Seja mulher e confesse o que você fez, Ellen.
- Só uma verdadeira filha da magia poderia fazer um intercâmbio entre duas almas. – ela admitiu. – E o mais ridículo de tudo é que não foi nem um pouco difícil. Vocês são dois babacas. Ah, e não pense que está soando ameaçadora no corpo do Valdez...
- Ei ei ei! – Leo exclamou, se intrometendo na conversa. – Chega de patifaria, Lou. Se você e seus irmãos fizeram isso, é bom tratar de desfazer antes que Quíron lhes dê uma punição. Não estamos brincando, queremos voltar aos nossos corpos.
- Eu também não estou brincando! – a garota estava tirando um sarro da nossa cara. – Foi muito engraçado conjurar o feitiço depois de ver a Patricia voltar chorando da floresta na noite de ontem...
A cor que minhas bochechas assumiram deve ter sido vermelho escarlate. Meditei para não tentar voar em cima daquela vadia de novo, até porque estava ocupando o corpo de Leo e bater em uma garota não melhoria sua reputação. Não que eu estivesse me importando com ele, levando em conta a briga do dia anterior...
- Escuta aqui. – apontei o dedo para o nariz empinado de Lou. – É bom que consiga o antídoto para esse feitiço bem rápido. Eu não quero ter que envolver meu pai nisso.
Ela deu uma gargalhada idêntica à de sua irmã imortal. Talvez Hécate já escolhera a sucessora de Circe.
- Ninguém que não seja um feiticeiro ou a própria mãe da magia pode reverter o feitiço. Cada um tem o que merece, Patricia. Ninguém joga nossa mais gloriosa irmã no tártaro e sai impune. Agora, se me dão licença... Eu e meus irmãos temos assuntos mais interessantes para tratar. Aproveitem a estadia em seus mais novos corpos...
Lou fechou a pesada porta de mogno na nossa cara. Eu tornei a bater com força na porta e as pedras do chalé chegaram a estremecer. Leo teve que segurar meus pulsos para que eu parasse de socar a madeira.
- Pattie, para com isso. – ele me virou de frente para seu rosto e me balançou. – Tá esquecendo de que esse aí é meu corpo? Você precisa se controlar, não pode explodir com tanta facilidade, eu não quero ser responsável por uma tragédia no acampamento. Entendeu?
Eu assenti, indignada e estupefata com a audácia de Lou Ellen. Não fazia sentido levar tão a sério a derrota de uma irmã omissa e cruel.
- Leo, nós estamos derrotados! – eu me afastei do chalé, passando as mãos pelos cabelos. – Esses desgraçados do chalé de Hécate... Nenhum deles vai nos ajudar! Todos tomaram as dores de Circe!
- Vamos achar uma solução. – ele tentou suavizar o problema. – Quíron tem que saber de algo ou alguém que possa nos ajudar. Vamos voltar para a casa grande.
Concordei com sua decisão e voltamos a passos largos para a enorme casa que se destacava na colina. Entramos pela porta já aberta e retornamos ao escritório de Quíron, onde ele e Annabeth discutiam. Eles pararam abruptamente e nos lançaram olhares censuradores quando aparecemos à porta.
- Foi o chalé de Hécate. Eles conjuraram um feitiço que trocou nossas almas. – eu falei e os olhos de Annabeth se arregalaram.
- Como assim? Isso é contra as regras do acampamento! Admito que suspeitei deles, mas não pensei que fosse sério...
- Sua informação só confirmou o que eu já suspeitava, Pattie. – Quíron dirigiu a palavra a mim, finalmente acreditando que eu estava no corpo de Leo. – Palavras não expressam minha decepção com o chalé de Hécate. Creio que vamos precisar adicionar um toque romano às leis de uso da magia...
- Eu concordo, Quíron. – Leo completou. – Mas temos um problema mais urgente. Pattie e eu não podemos passar a vida toda com as almas trocadas.
- Você tem razão. – Annabeth concordou. – É preciso achar uma solução. Talvez se vocês partissem em busca da ajuda de um feiticeiro...
- Eles não vão precisar fazer nada.
Uma garota de pele clara, traços bonitos, olhos castanhos fortemente delineados de preto e cabelos pretos lisíssimos estava parada à porta. Usava a camiseta do acampamento e uma saia preta comprida, além de um colar de meia lua preso ao pescoço junto com as contas. Jamais havia visto essa menina antes.
- Jenna Wade. – Quíron observou a morena com curiosidade e pronunciou seu nome como se não a visse há tempos.
- Não concordo com as atitudes irracionais de meus irmãos. Eu vou ajudá-los.
Jenna soava tão firme que cogitei que podia estar usando o charme, igual à Circe. Mas diferente dos seus irmãos, ela não carregava uma aura pesada ao seu redor; pelo contrário. Sustentava uma expressão serena e misteriosa, mas que não me trazia maus agouros ou causava arrepios.
- Podemos confiar em você? – Leo deixou escapar. – Ahn, é o Leo que está falando, não a Pattie... Digo isso porque todos os seus irmãos parecem ter algo contra a Pattie, então é difícil acreditar que alguém queira nos ajudar.
A garota deixou seu olhar recair sobre meu pobre e surrupiado corpo. Pensei que raios roxos sairiam de seus olhos e colocariam a sala abaixo, mas ela apenas disse:
- Não julgue um indivíduo com base no meio em que ele está inserido, Leo. Estereótipos existem devido a esse tipo de pré-julgamento.
- Hã... Desculpe, não quis ser rude. – as maçãs do rosto de Leo assumiram um tom rosado e ele encarou o chão.
- Tudo bem. Quíron... – Jenna mudou o foco de sua atenção mais uma vez. – Se me der seu voto de confiança, me comprometo em produzir o antídoto para o feitiço lançado sobre os dois. Juro pelo Rio Estige que não participei da elaboração do feitiço e que irei usar de todos os recursos que temos para solucionar o problema, mesmo que meus irmãos tentem me impedir.
O centauro continuava a observar a garota como se, de repente, ela fosse um diamante lapidado. Um sorriso orgulhoso surgiu em seus lábios, deixando claro que sua fé em certos semideuses havia sido restaurada.
- Dê o seu melhor, Jenna. Eu sei que você é capaz.
- Você é uma grande feiticeira, Jenna. – Annabeth esboçava um sorriso idêntico ao de Quíron. – Mas tenha cuidado...
- Não se preocupem. Não colocarei ninguém em risco. – a garota afirmou. – Leo, Pattie, se puderem me seguir...
- Nos dê só um minutinho, querida. – Quíron pediu de maneira educada.
- É claro. Estarei aqui fora. – Jenna saiu para o corredor e fechou a porta do escritório. Quíron abaixou seu tom de voz.
- O poder, principalmente quando se trata de um poder infindável e altamente disponível como a magia, costuma distorcer a realidade de seus detentores. Tomem como exemplo a própria Circe. Os filhos da magia tem uma forte tendência a se direcionarem para o lado negro, pois se maravilham com suas habilidades únicas. Mas não os julguem tão severamente. Para toda regra há uma ou mais exceções, e posso lhes confirmar que Jenna é um desses casos. Confiem nela.
Eu e Leo assentimos e Quíron e Annabeth nos encorajaram a ir atrás de Jenna. Ao pisarmos no corredor, vimos a filha de Hécate brincando com as luminárias, fazendo-as apagarem e acenderem ao seu comando.
- Eu me apresentaria para vocês se Quíron já não tivesse feito isso. – Jenna deu um sorriso tímido. – E podem poupar suas apresentações também, porque não há um campista que não conheça vocês. Venham, precisamos de um lugar privado para conversar.
Não achei Jenna uma pessoa intimidadora, mas Leo deve ter achado, pois ele trocou um olhar hesitante comigo. Ela saiu da casa grande e começou a descer a colina em silêncio. Não tínhamos escolha a não ser segui-la.
- Achei essa menina bem estranha. E se ela estiver prestes a colocar em ação a segunda parte do plano dos seus irmãos? – Leo se aproximou de mim e sussurrou no meu ouvido.
- Não inventa. Ela não juraria pelo Rio Estige e não colocaria sua vida em jogo se fosse para trapacear.
- Sei lá. – Leo não afastou sua desconfiança. Eu rolei os olhos com tal atitude, pois Jenna se mostrou verdadeiramente disposta a nos ajudar.
Ela só parou de andar quando alcançou as portas do arsenal de armas. Fazia menos de dois meses que eu visitara o lugar e tive a oportunidade de escolher minha primeira espada, mas a lembrança parecia tão distante...
Jenna empurrou as pesadas portas de ferro maciço e adentramos o arsenal. Leo tomou o cuidado de fechar as portas atrás de nós. O local passou a ser iluminado pelos raios de sol que entravam pelas janelas.
- Bem... Eu preciso da colaboração de vocês para fazer a poção que pode reverter o feitiço. – a garota falou cautelosamente.
- Pode reverter? – Leo arqueou uma sobrancelha.
- Olhem... Eu ainda sou uma aprendiz de feiticeira. E-eu... Não posso afirmar com 100% de certeza que a poção irá desfazer o feitiço. Mas darei meu máximo. Eu jurei pelo Rio Estige que iria ajuda-los. Não suporto ver nenhum tipo de injustiça.
- Obrigada por estar nos ajudando, de um jeito ou de outro. – eu fiz questão de dizer. Jenna estava se mostrando tão prestativa e legal conosco que cabia a mim agradecê-la. Ela sorriu, corando um pouco.
- Hã... Eu vou ter que tirar uma mecha de cabelo de vocês.
Leo arregalou os olhos. Eu não entendia porque estava tão receoso. Tudo bem que Jenna fazia o tipo da cigana esquisita, mas não via nada de ruim nela.
- Eu faço isso. – virei-me para uma pilha de adagas de bronze depositada na mesa mais próxima e empunhei uma. Andei em direção ao meu próprio corpo e puxei uma mecha da parte de trás do rabo de cavalo. O querido filho de Hefesto que controlava minhas funções deu de ombros.
- Não é meu cabelo mesmo.
Cortei a mecha sem rodeios. Entreguei-a para Jenna e então levantei a adaga na altura da cabeça.
- Não é seu cabelo? Puxa...
Puxei uma mecha do cabelo milagrosamente penteado de Leo e a cortei. Ele grunhiu e fez uma cara feia, porém, não teve coragem para falar algo. Entreguei a segunda mecha para Jenna e ela engoliu seco.
- Tem mais algumas coisas que é necessário dizer. – Jenna começou. – Essa poção demora seis horas para ficar pronta. Tenho todos os ingredientes, mas o processo é demorado e eu não poderei fazê-la no meu chalé. Leo, eu gostaria de pedir o Bunker emprestado durante essas seis horas.
- Você pode usar. – ele concordou. – Mas eu não tenho um caldeirão!
- Sem problemas... Eu levarei um até lá. A poção ficará pronta por volta das 19h, logo após o jantar. E...hum... Pode ser que demore até um dia para que as almas sejam destrocadas. O efeito depende do laço que vocês tem um com o outro. Quanto mais próximos, mais rápido.
- Você acabou de falar que o prazo máximo para as almas voltarem aos nossos respectivos corpos é de 24 horas. Se passar disso... – Leo disse, inseguro.
- Significa que a poção não teve efeito. – Jenna completou, retesando o maxilar. – Só que não há necessidade de se preocupar. Vai dar tudo certo.
Troquei um olhar significativo com Leo, que expressava silenciosamente a seguinte frase: não temos escolha. Ajudamos Jenna a levar o caldeirão e uma penca de ingredientes estranhíssimos até o Bunker, atraindo olhares curiosos dos campistas e dos nossos próprios irmãos. Talvez começassem a acreditar na nossa história. Deixamos Jenna sozinha, já que ela mesma recomendou que voltássemos às atividades normais e não ficássemos esperando por ela.
- Que ironia dela dizer ‘voltem as suas atividades normais’! – Leo exclamou frustrado, enquanto voltávamos para o acampamento.
- Não vi nenhuma ironia no que Jenna falou. Eu vou voltar as minhas atividades normais, você não?
Leo parou de chofre e passou a me encarar como se eu fosse um monte de cocô de pégaso. Nota mental: nunca mais fazer essa careta, pois eu ficava ridícula.
- Sabe o que vão pensar de mim quando me virem correndo por aí, com essas calças ridículas, arco e flecha nas costas e treinando esgrima com Percy Jackson? – ele fez uma pausa dramática. - Leo Valdez finalmente enlouqueceu e pode ser internado num manicômio!
Soltei um riso debochado.
- E o que as pessoas irão pensar ao ver Patricia Veloso enfiada dentro das forjas, trabalhando num escudo de guerra e se lambuzando de óleo de motor? Estamos quites, Leo.
Ele mordeu os lábios, tentando formular uma réplica. Aproximou-se de mim e pegou meu braço, o que podia ter me amolecido por dentro se ele não estivesse em meu corpo.
- Só tente não me desmoralizar tanto, ok? – foi o que disse.
- Vou pensar no seu caso. Você não anda merecendo muita solidariedade de minha parte. – tornei a lhe dar as costas e seguir caminho, me desvencilhando.
- Você ainda não esqueceu o que aconteceu ontem, né? – Leo teve a cara de pau de perguntar. Agora entendia porque ele não me dava ouvidos quando eu lhe confortava e dizia que ele não era ruim com formas orgânicas de vida. Ele possuía a habilidade não ter nenhum tipo de sensibilidade às vezes.
- É mais fácil perguntar do que me fazer esquecer, certo? – eu grunhi e pude sentir Leo ficar desconfortável atrás de mim. Tive esperanças de que iria consertar o fora que deu, mas ele optou pelo silêncio. Por que esperei que fosse falar algo mesmo?
Chegamos a área comum dos chalés e pedi para que ele me entregasse Kallistei. Lhe dei o seu cinto de ferramentas, pouco me lixando com o que meus irmãos diriam ou os campistas pensariam dessa cena. Me separei de Leo, observando-o andar desajeitado com meu corpo até as forjas. Deuses, era estranho demais se ver na perspectiva de outra pessoa.
Faltava apenas uma hora antes do almoço, então decidi praticar um pouco de arco e flecha antes disso. Na verdade, eu fui piedosa com Leo e fugi da equitação com pégasos, mas não consegui fugir de Piper, que estava furiosa por ter ficado a par dos acontecimentos por intermédio de Annabeth.
- Vocês são dois imbecis! – ela se revoltou, ao me acompanhar até a arena de arco e flecha. – Podiam ter pedido a minha ajuda, eu teria conseguido convencer seus irmãos de que vocês realmente trocaram de corpos!
- Pipes, me desculpe. Ficamos tão perdidos no meio de tudo que não pensamos nessa possibilidade. Droga... Eu não aguento mais isso! – o meu nível de frustração chegou ao seu máximo. Piper teve que conter uma gargalhada.
- É tão... bizarro saber que você está no corpo do Leo. Até a voz dele está mais fina! E é óbvio que você deu um trato nele, não é?
- Só fiz o que ele deveria fazer todos os dias! – tive o ímpeto de passar as mãos pelos cabelos, como fazia com os meus, mas me lembrei de que a realidade era outra e por ora eu não tinha os usais cabelos compridos... Piper riu mais ainda com tal idiotice.
- Cara, é por isso que eu adoro você e o Leo. Vocês me fazem dar muita risada. Foram feitos um para o outro.
- O que??? – eu falei alto, surpresa com as palavras de Piper.
- Você não ouviu errado, não. Só não quer admitir para si mesma... – Piper deu uma piscadela para mim. Eu odiava quando fazia esse tipo de coisa. – Agora, eu preciso ir tirar uma com a cara do garoto dos reparos. Não posso perder a oportunidade. Tchau, Leo... Ops... Pattie! Melhor, vou chamar vocês de Lettie!
- Sai daqui, Piper. Você é ridícula!
Ela me mandou um beijinho e saiu saltitante. Argh. Agora só me restava encarar meus irmãos e aguentar o falatório deles.
Como eu esperava, mesmo acertando o alvo a 50 m de distância cinco vezes seguidas estando no corpo de Leo Valdez, tive que suar a camisa para convencer meus irmãos da verdade. Quando caiu na real, Johnny não parava de rir e até se engasgou. Will e Matt ficaram indignados quando lhes contei que era tudo culpa do chalé de Hécate.
- Nós devíamos colocar aquele chalé abaixo! Quem eles pensam que são? Eles acham que estão em Hogwarts? – Matt exclamava exaltado, errando os alvos, o que não era comum.
- Vocês são loucos de sequer cogitar entrar na briga contra o chalé de Hécate. – Leroy ponderou. Já havia lhe perguntado inúmeras vezes se era realmente filho de Apolo, e não de Atena. – Eles nos transformariam em ratos e depois nos usariam em seus rituais, no mínimo.
- Não falem assim. – Johnny sufocava um riso. – Eu já fiquei com a Lou. Ela é muito gostosa.
Seu comentário esdrúxulo resultou numa chuva de flechas em cima dele.
Foi extremamente desconfortável me sentar à mesa de Hefesto e almoçar com os irmãos de Leo. Confesso que fiquei tentada em me sentar na mesa de Apolo, mas tinha consciência que 98% do acampamento não sabia que eu e Leo tivemos nossas almas trocadas. Leo com certeza os convencera ao aparecer na forja em meu corpo e começar a martelar e se sujar de fuligem dos pés a cabeça. Uma Pattie em seu estado normal não faria tal coisa fora do horário de aula nas forjas. Apesar disso, eles pareciam desconfortáveis demais para puxar um assunto comigo. O único que parecia capaz de conversar era Harley, que ficou interessado em saber como uma loucura dessas poderia ter acontecido.
Quíron liberou as minhas tardes e as de Percy para treinarmos individualmente. O filho de Poseidon já tinha terminado seu treino quando eu cheguei à arena de esgrima (como não treinávamos mais juntos, dividimos os horários de treinamento), usando uma armadura de reserva do chalé 7 (esqueci-me completamente de que larguei a minha no Bunker). Percy não conteve o riso ao ver o corpo de Leo nesses trajes.
- Vai me dizer que a Annabeth não te contou? – perguntei, colocando as mãos na cintura. Percy riu alto.
- Ela me contou, mas é tão louco que mal dá pra acreditar. – Percy respondeu, brincando com sua caneta esferográfica, conhecida como Contracorrente.
- Você acha que o Leo faria isso? – eu destampei Kallistei e ataquei Percy sem hesitar. Porém, ele era sempre extremamente ágil e possuía ótimos reflexos, e bloqueou meu ataque brincando. Não desisti e continuei a golpeá-lo, girando e me esquivando de uma maneira nem um pouco Leo. Percy não estava levando a luta muito a sério e não parava de rir, o que propiciou o golpe perfeito e me rendeu a proeza de conseguir desarmá-lo.
- Certo. – ele se rendeu, recolhendo Contracorrente do chão. – O Leo jamais me desarmaria. Ele mal sabe pegar numa espada.
Nos entreolhamos e caímos na gargalhada. A frase proferida por Percy foi tão ridícula que eu precisei rir. Só nos calamos quando Percy finalmente saiu da arena e me deixou treinar sozinha. Treinei por uma hora e meia, até não ter mais o que praticar e rumar para o chalé de Apolo. Eu precisava extravasar todo o turbilhão de emoções que me assolou durante o dia todo.
E nada melhor do que tocar um pouco de bateria, certo?
Sentar no banco da bateria e tocar até meus braços gritarem de dor era uma das coisas mais sublimes e gratificantes da vida se tratando de uma Patricia potencialmente estressada. Eu adorava tocar Metallica e Iron Maiden nessas ocasiões. Ah, e System of a Down também. Mas depois de tocar sem parar por mais de uma hora, os meus braços (os de Leo, na verdade) começaram a pedir arrego. Lembrei-me dele me dizendo que desenvolveu tendinite de tanto trabalhar no Argo II... Bom, era tarde demais para me lembrar disso.
Eu peguei o violão para finalizar a cifra de uma música que eu estava escrevendo quando alguém adentrou o chalé. Dei de cara com uma Patricia encardida de fuligem, óleo de motor e graxa, com os cabelos mais desgrenhados que um gambá, usando luvas de mecânico. Deuses... se Leo permanecesse mais um dia no meu corpo eu não sabia que rumo ele iria tomar.
- Pensei que você estaria treinando. – ele limpou a testa com as mãos imundas.
- Eu treinei o suficiente por hoje. – eu disse, fazendo uma careta. – Você escolheu especialmente o dia de hoje para se sujar?
- Não! – Leo justificou. – Juro por Hefesto! Um dos fornos a carvão da forja quebrou e eu tive que arrumá-lo. Ah, e também ajudei Harley a terminar seu...
- Tá bom. – revirei os olhos. – Vou fingir que você não fez por pirraça.
- Para com isso, Pattie. – Leo resmungou, se aproximando e se sentando no pufe ao meu lado enquanto eu dedilhava uma música no violão. – Eu estou tão feliz quanto você por estar no seu corpo. Nem bebi água hoje para não ir ao banheiro.
- Eu também estou morrendo de vontade de ir ao banheiro. – comentei cabisbaixa.
Leo se virou para mim e começou a rir.
- Tudo é piada pra você não é, Valdez? – ralhei, contendo um riso. Ele notou e riu mais alto ainda.
- A situação é tão deplorável e ridícula que só me resta rir. – ele abaixou a cabeça, ainda ostentando um sorriso pertinente, e fitou o seu relógio de pulso (provavelmente ele voltou ao seu quarto para pegá-lo). – Para nossa alegria falta quinze minutos para o jantar, e depois iremos para o Bunker encontrar a Jenna.
Dei um sorriso fraco e me levantei do pufe, guardando o violão no seu suporte. Leo e eu saímos do chalé, e ao andarmos lado a lado eu comecei a imaginar o que seria de nós dois se a poção não funcionasse. E o que mais me assustava era a possibilidade de ter que conviver com isso sem ter dado vasão aos meus sentimentos... Sem ter lhe contado que ele se tornou muito mais que um amigo.
Tentei afastar esses pensamentos, mas fui incapaz de puxar um assunto com Leo. O silencio que se estabeleceu me atormentou e eu apartei o passo para chegar ao refeitório.
Nem é preciso descrever o quanto estranho foi o jantar na mesa de Hefesto. Fiz de tudo para comer rápido e me levantar dali. Tive que esperar Leo terminar de tagarelar com meus irmãos para seguirmos nosso rumo até o Bunker.
- Olha, Pattie... – Leo começou, sem as luvas de mecânico e com as mãos dentro dos bolsos da calça numa tentativa de mantê-las quietas. – Nós vamos voltar para os nossos corpos, ok? Relaxa. Eu quase consigo encostar na sua tensão.
Eu suspirei e confesso que pela segunda vez naquele verão tive vontade de chorar.
- Eu só gostaria de entender o porquê...
- Eu tentei entender muitos porquês da minha vida. E quase enlouqueci ao fazer isso. Não que eu não seja louco... Mas você entendeu. – Leo confessou, chutando uma pedra no caminho. Ele iluminava nossos passos com uma lanterna.
Não soube o que responder. Leo fez qualquer palavra escapar de minha boca. Continuamos andando em direção ao Bunker em silêncio. E eu nunca me senti tão mesquinha na vida.
As portas do Bunker estavam abertas. Leo trocou um olhar apreensivo comigo ao se aproximar e se deparar com uma luz verde iluminando todo o local.
- Ay Madre Leo depositou a mão sobre o peito. Foi ridículo ver eu mesma falando espanhol. - La chica está haciendo un ritual wicca en mi Bunker.
- Vamos esperar. Não vou entrar aí agora nem que me paguem.
- Eu tô com medo. Eu tenho medo dessas coisas. Não gosto disso! – Leo exclamou e eu pensei que iria sair correndo de volta para o acampamento.
- Fala sério, Leo. – bufei, segurando ele pelo braço.
- E se eu beber esse troço e me transformar em um sapo? Quem diabos vai querer me beijar pra eu voltar a ser Leo? – ele falou, não tirando os olhos do Bunker.
- A Daisy. – falei mais para mim, mas Leo escutou.
- Pensei que você ia responder que me beijaria. – por essa eu não esperava. Virei-me para ele, aturdida, mas não tinha como levar o que disse a sério levando em conta que encarava o meu próprio rosto.
- Você sempre fala um monte de besteira quando fica nervoso? – questionei, arqueando uma sobrancelha.
- Defeito de fábrica. – ele deu de ombros. No mesmo instante, a luz verde vinda do Bunker cessou, e decidimos nos aproximar mais. Avistamos Jenna sentada no chão maciço do Bunker, com a cabeça baixa e usando uma capa com capuz roxa, além de incontáveis pulseiras e colares. Uma fumaça verde pairava à sua frente. Nos adentramos o lugar com cautela, e Leo fez questão de bater numa peça de metal para atrair a atenção da garota.
- Podíamos entrar? – eu soltei a pergunta. Jenna se voltou para nós, estampando um brilho arroxeado nos olhos.
- Sim. – ela respondeu serena. – Acabei de terminar a poção. Vocês precisam tomar agora.
Havia um caldeirão no chão atrás dela. Jenna se inclinou para este e encheu uma concha de um líquido verde musgo, espumoso e gosmento. Eu quase vomitei ao ver aquilo.
- Bem... quem vai tomar primeiro? – Jenna olhou de um para o outro, esperando uma manifestação de coragem.
- As damas primeiro. – não pude conter um sorriso maldoso ao falar isso.
- Nossa! Eu odeio você, Patricia. – Leo ralhou e Jenna se aproximou com a colher. Ele fechou os olhos e encostou os lábios no líquido, no que Jenna o fez engolir tudo de uma vez. Eu sinceramente pensei que colaria tudo para fora, mas ele apenas se contorceu e teve de se apoiar na mesa mais próxima, sofrendo de ânsias incontroláveis.
- Esse tipo de reação é comum. – a filha de Hécate deu um sorriso misterioso. – Vamos, Pattie.
Devo ter feito as mesmas expressões e caretas que Leo fez ao tomar a poção. A porcaria tinha um gosto terrível de adubo misturado com xixi, basicamente indigerível. Engoli o líquido com dificuldade e procurei por uma lata de lixo para cuspir e tirar pelo menos um pouco daquele gosto horrível da minha boca.
- Eu fiz todo o procedimento corretamente. – Jenna tornou a falar. – Eu sei que nada vai dar errado.
Troquei um olhar tenso com Leo e juro que, por um instante, esperamos por um milagre. Entretanto, nenhuma luz verde tomou conta de nossos corpos e ao olhar para baixo, eu continuava encarando o corpo de Leo.
- O efeito não vai ser imediato. – a morena explicou. – Creio que daqui uma ou duas horas, o intercâmbio das almas será desfeito. Confiem em mim.
- Nós confiamos, Jenna. – eu disse sorrindo simpática. – Você nem sequer deveria ter feito isso por nós. Imagino o que irá enfrentar em seu chalé. Obrigada, de verdade.
- Isso é o de menos. – Jenna assentiu. – Nunca tive uma relação boa com meus irmãos mesmo. Bom... Agora só lhes resta esperar. Eu vou voltar para o acampamento. Desculpe pela bagunça, Leo. E não, o seu Bunker não foi possuído por nenhum tipo de magia. – a garota apanhou o caldeirão e alguns vidros que jaziam no chão.
- Hã, de nada. – Leo balbuciou.
- Até mais! – ela rumou para a porta, fechando-a ao passar. Eu soltei um suspiro aliviado, esperançosa de que dali algumas horas, teria meu corpo de volta.
- Então... – Leo começou, andando pelo Bunker. – Vamos arrumar algo para passar o tempo.
Concordei com Leo, mas é óbvio que ele tinha muito mais o que fazer do que eu. A biga estava praticamente pronta; ele só precisava terminar a ponta da última asa de um dos pégasos autômatos. Eu gostava de observá-lo trabalhando. Era incrível como suas mãos eram ágeis e funcionavam como pequenos cérebros independentes, que trabalhavam numa velocidade diferente do resto de seu corpo.
Meus olhos repousaram sobre um secador rosa na mesa ao lado. O secador de Daisy. Desci da mesa em que me sentei e fui até outra, pegando o objeto e analisando-o.
- Nem pense em estragar esse secador. – Leo estava de costas, mas pressentiu meu movimento.
- Por que acha que eu faria isso? – indaguei, sem devolver o secador à mesa.
- Porque você ainda não superou a Daisy. – ele me fitou, desafiador.
- Não sei quem colocou na sua cabecinha que eu sinto ciúmes da loira aguada. – fui firme em minhas palavras, ignorando a ardência interna que cresceu dentro de mim.
- Suas próprias atitudes colocaram isso na minha cabeça. – Leo mantinha um sorriso impertinente nos lábios.
- Você está querendo jogar um joguinho, Valdez? Acha que pode me irritar mais do que eu posso te irritar? – deixei o secador na mesa e dei a volta na mesma.
- Sim. Eu sou o sr. Irritante. Você não é melhor que eu.
- Vamos ver... Buford! Tá a fim de dançar, garoto? – eu exclamei, andando rápido para pegar o controle do sistema de som antes de Leo. Seu queixo caiu ao ouvir o que eu disse.
- O que??? – ele se indignou. Tarde demais, pois Buford veio correndo de um dos cantos do Bunker e a introdução de Like a Virgin, da Madonna, preencheu o espaço.
- Vamos lá, Buford! Sacode esse tampo de bronze! – comecei a subir as escadas das passarelas, dançando do jeito mais feminino possível. Leo soltou um urro de frustração e atravessou o andar inferior do Bunker para correr atrás de mim. Buford vinha no meu encalço, se sacudindo e derrubando objetos de suas gavetas. Além de dançar, rebolar, ir até o chão e voltar, eu dublava a música a plenos pulmões, me afastando cada vez mais de Leo.
Seu rosto (ou meu rosto?) assumiu uma cor tão vermelha que parecia prestes a explodir de vergonha alheia. Ele não estava suportando ver a si mesmo rebolando como um stripper. Eu me escorava nos parapeitos das passarelas, passava uma das minhas pernas por eles, colocava o dedo na boca e jogava o cabelo, incapaz de conter as gargalhadas.
- PATTIE! PARA COM ESSA MERDA! –ele gritava do outro lado das passarelas, e eu tinha certeza de que morria de vontade de dar risada.
- LIKE A VIRGIN, TOUCHED FOR THE VERY FIRST TIME! – passei as mãos pelo seu corpo, sensualizando ao máximo. Sorte que por estar no corpo de Leo, era eu quem controlava seus poderes de fogo.
Me agarrei à uma das correntes que pendiam do teto e girei, berrando o refrão da música. Leo até jogou um pedaço de capô de carro em mim, mas eu me encontrava muito longe de seu alcance. Buford poderia desmontar-se inteirinho a qualquer instante, de tanto sacudir e pular. Levei a brincadeira ao limite aceitável por Leo quando usei um dos canos para simular um número de pole dance, segurando a ponta da camiseta de Leo com os dentes e deixando seu abdome de fora.
Ele me xingou de todos os palavrões existentes na língua espanhola e desapareceu por uma porta que surgiu ao clicar num botão da parede ao seu lado. Eu desci do cano e comecei a correr novamente, entretanto, não esperava que Leo aparecesse à minha frente. Nós trombamos com força e caímos em cima de um elevador mecânico forrado de sacos de uma coisa fofa, que parecia ser espuma de estofado.
Eu caí sobre Leo. Não conseguia parar de dar risada e ele se juntou a mim, nossas gargalhadas e os versos finais da música acordando todos os habitantes da floresta.
O riso cessou. Outra música já começara a tocar no sistema de som; eu reconheci os acordes do primeiro verso de Do I Wanna Know?, do Arctic Monkeys. De repente, de forma inesperada, eu não estava mais em cima de Leo. Eram seus olhos castanhos que eu fitava, não os meus conhecidamente azuis. As almas haviam voltado para seus respectivos corpos com a mesma leveza com que foram trocadas.
Fui engalfinhada pelo calor crescente de seu corpo, tornando impossível que minha respiração soasse compassada e ritmada. Sentia seu peso sobre o meu, causando-me uma desesperadora necessidade de tocá-lo. Eu depositei minhas mãos em suas costas e deixei-me ser hipnotizada pelos seus lábios, tão perto dos meus. Sua respiração ruidosa misturou-se com a minha, e então ele colocou uma mão no meu rosto. Seu toque rústico e quente me deixou sem opções a não ser me render.
Fechei os olhos, resignada e pronta para me entregar a um momento que eu ansiava viver inconscientemente há tempos. Leo trouxe seu rosto mais para perto. Nossos lábios se roçaram; seu corpo se juntou tanto ao meu que eu sentia cada mínima parte dele...
Até que fomos lançados para baixo com um solavanco, numa velocidade arrebatadora. Leo rolou para o lado com o impacto e bateu a cabeça com força nas grades do elevador. Aturdida, eu me coloquei sentada e me aproximei dele.
- Você tá bem? – perguntei, observando-o esfregar uma mão na cabeça, completamente frustrado.
- Eu devia ter lembrado de consertar esse elevador. Droga. Por isso eu prefiro os hidráulicos.
Nos colocamos de pé, mas o clima havia se dissolvido como álcool misturado à água. A interrupção foi suficiente para deixar Leo constrangido e calado. A música continuava a tocar nas caixas de som gigantescas do Bunker. Eu peguei o controle e desliguei o som. Ele me encarou, destruindo o penteado que eu fizera em seu cabelo mais cedo com as próprias mãos inquietas.
- Jenna conseguiu. Nossas almas foram destrocadas. – foi o que consegui dizer. A tensão entre nós dois cresceu espontaneamente.
- Ainda bem que eu não virei um sapo. – Leo comentou e saiu do elevador quebrado, indo até uma mesa e pegando algumas engrenagens.
- Leo. – eu chamei, na esperança de que ele teria coragem de dar continuidade ao que estávamos prestes a fazer. Seus olhos se encontraram com os meus. – Acho que vou voltar para o meu chalé. Preciso dar um jeito em mim.
- Hum... Ok. E-eu vou... continuar aqui...mais um pouco.
Fique comigo, era o que eu gostaria de ter ouvido. Mas ele estava incrivelmente sem jeito.
- Ok. – concordei, contra a minha vontade. – Boa noite.
- Boa noite.
Peguei uma lanterna em cima de uma mesa, dei meia-volta e abri a grande porta do Bunker para passar. Já havia voltado sozinha para o acampamento muitas vezes. Não foi isso que deixou magoada, e sim a forma com que ele se acovardou de repente.
Eu ainda podia sentir seu toque no meu rosto e a temperatura confortável do seu corpo. Minha razão, minha consciência e meu bom senso, todos eles haviam sido jogados no lixo há minutos atrás. A lanterna iluminava meu caminho, entretanto, eu me dirigia automaticamente para o chalé 7. Um turbilhão de sentimentos me assolava e eu não sabia como lidar com eles.
Ao chegar no chalé, fui direto para o banho. Meus irmãos comemoraram o sucesso da poção. Para mim, tal fato tornou-se desprezível se comparado ao que acontecera minutos antes de eu entrar debaixo da água quente. Não conseguia organizar meus pensamentos. Meu corpo não desejava estar ali.
Depois de colocar meu pijama e me deitar, me peguei refletindo sobre os versos da música que tocava no sistema de som enquanto ele estava sobre mim. Nunca versos fizeram tanto sentido assim. Eu demorei tempo demais para nos ver como um só. Tempo demais para admitir que o sentimento era recíproco e que sempre esteve adormecido dentro de mim. Eu podia estar diante do cara perfeito. E a única coisa que eu precisava era que ele deixasse de ser um covarde.
Não faço ideia de que horas fui dormir. Apenas sei que nos meus sonhos, aquele quase beijo se tornou realidade

(Do I wanna know?)
If this feeling flows both ways

(Eu quero saber?)
Se esse sentimento é recíproco

(Sad to see you go)
Sort of hoping that you'd stay

(Triste ver você partir)
Meio que esperava que você ficasse

(Baby we both know)
That the nights were mainly made for saying things that you can't say tomorrow day

(Amor, nós dois sabemos)
Que as noites foram especialmente feitas para dizer coisas que não se pode dizer no dia seguinte


Crawling back to you
Me arrastando de volta para você
Ever thought of calling when you had a few?
Já pensou em me chamar quando você teve alguns?
Cause I always do
Porque eu sempre penso
Baby, I'm too busy being yours to fall for somebody new
Amor, eu estou muito ocupando sendo seu para me apaixonar por outro alguém
Now I've thought it through
Agora, eu pensei melhor
Crawling back to you
Estou me arrastando de volta para você.


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Notas finais do capítulo

EU GOSTARIA MUITO DE VER COMENTÁRIOS LINDOS SOBRE ESSE CAPÍTULO!!! Eu AMEI escrevê-lo! E amei o resultado dele! Ansiosos para mais? MUHAHAHAH
Beijinhos!
Taty xX