POV Bruna

Gabriel tinha saído de casa atrás da suposta Miles já faziam alguns minutos. Toda hora eu só pensava que poderia ter acontecido alguma coisa com ele. E se aquela garota machucou ele aproveitando que ele estava sozinho? E se ela o matou? Sacudi a cabeça me livrando desses pensamentos. O Gabriel era desastrado, mas nem tanto...

Enquanto meus pensamentos iam para Gabriel, meu pai contava alguma coisa animadamente a todos que estavam ali, mas eu não ouvia. Só prestei atenção assim que ele falou meu nome.

-Poderíamos viajar, Brubs... Você e eu, para algum lugar fora do país... –ele sugeriu

Olhei para a cara dele. Ele ainda tinha alguns ferimentos do nosso fracassado acampamento em que as queridas filhinhas de Miguel e Lúcifer nos atacaram. Não sabia se era uma boa ideia, mas, do mesmo jeito, assenti com a cabeça. Ele abriu um sorriso enorme com a minha resposta e a puta... Ops, digo, minha madrasta revirou os olhos.

Nesse momento, Gabriel entrou pela porta com a suposta Miles em seu encalço. Ele tinha uma expressão confusa no rosto e ela estava com os olhos avermelhados... Tinha chorado. Gabriel me fitou e eu logo entendi que ele queria falar comigo. Pedi licença ao meu pai e corri para o meu quarto com Gabriel vindo atrás de mim.

Quando chegamos ao meu quarto ele fechou a porta e me encarou sério. Lá vinha bomba.

-Ela não sabe quem é Miles. –ele disse

Franzi o cenho.

-Como tem tanta certeza? –perguntei

-Não sei... Mas ela não parecia estar mentindo... Nem sabia que eu era um arcanjo! –ele sentou-se na minha cama

Sentei ao seu lado e tentei pensar. Se ela realmente não sabia quem era a Miles, então que era? Me levantei rapidamente e saí do quarto deixando Gabriel com uma cara de confuso –típica dele-. Do primeiro andar, olhei para sala e a Miles estava sentada no sofá, ainda cabisbaixa.

-Miles, pode vir aqui, por favor? –perguntei

Ela levantou os olhos e engoliu em seco, se levantando e subindo as escadas em direção ao quarto. Ela entrou e Gabriel me encarou querendo saber o que eu pretendia. Miles sentou na cama ao lado dele e eu não pude deixar de notar a semelhança... Assustador.

-Você disse que não sabe quem é Miles... Verdade? –perguntei

Ela assentiu. Ela me encarava com um pouco de medo, o que era estranho. Se ela fosse realmente um anjo, não teria que ter medo de mim. Tudo bem, eu havia prendido o diabo na jaula e lutado contra duas vadiazinhas filhas dos arcanjos –sem querer me gabar-, mas ainda era humana.

-Então, o que faz aqui Miles? –cruzei os braços

Ela se encolheu um pouco quando fiz isso.

Estranho...

-Eu não sei exatamente... –ela disse

-Então diga o que você sabe. –pedi

Enquanto fazia meu “interrogatório”, Gabriel olhava de mim para ela como se procurasse alguma coisa em nós duas. Miles abriu a boca para responder mas se interrompeu e bufou.

-É complicado... –ela falou

-Vamos logo, fale garota, você não tem nada a perder. Não vamos te machucar... Bom, eu não. –disse

Ela me olhou nos olhos e senti uma coisa estranha... Por algum motivo quis abraça-la e dizer que estava tudo bem. É, estou ficando maluca.

-Eu não sou daqui... Bom, não desse tempo. Eu fui trazida pra cá para salvar... Meus pais. Parece que alguém matou eles nessa época e se eu não salvá-los em uma semana, eu vou desaparecer... Pra sempre. –ela explicou

Demorei alguns segundos para entender o que ela disse, encarando ela com minha melhor cara de idiota retardada.

-Você é de outro tempo...? –Gabriel perguntou

-Sim. –ela respondeu

-E quem são seus pais? –dessa vez, eu me pronunciei

-Olha, isso é bem mais complicado de explicar... –ela disse

-Fala logo! –mandei

-Vocês dois! –ela gritou rapidamente depois da minha ordem

Foi então que eu arregalei meus olhos e tive que me segurar para não desmaiar.

\\POV Bruna

***

POV Miles

Merda! Eu tinha que falar? Que droga! Minha mãe parecia uma estátua olhando para mim e meu pai também. Sou a medusa, palmas para mim. Quando minha mãe conseguiu falar alguma coisa, saiu um grito.

-EU SOU SUA MÃE?

Sempre escandalosa, nunca mudou... Assenti com a cabeça e vi meu pai com o cenho franzido. Ele olhava para algum canto do canto, como se estivesse pensando... Acho que se olhasse bem eu conseguiria ver a fumaçinha saindo da cabeça dele de tanto queimar os neurônios...

-Eu tive uma filha com ela? –ele perguntou, apontando para minha mãe

O que eu queria responder era: “Não, que isso cara! Eu me pareço com ela por pura coincidência!”... Mas me contive.

-Sim. –foi o que respondi

-Você só pode estar brincando... Como você pode ser minha filha? Não, isso é armação! –minha mãe agora andava de um lado para o outro no quarto –Se eu sou sua mãe, então eu te contei várias coisas sobre mim... Fale alguma coisa sobre mim!

-Você odeia sua madrasta. –falei

-Isso aí todo mundo sabe.

-E uma vez, ela prendeu sua mãe por que seu pai desapareceu. –completei

-Como...?

-E também você odeia ser acordada cedo, já até espancou ele por ter te acordado as seis da manhã... –falei e apontei para o meu pai –E também você tem uma certa mania de falar do nada. E não sabe nadar...

-Peraí, você não sabe nadar? –Gabriel perguntou para minha mãe

-São só detalhes. Mas... Como você sabe de tudo isso?

-Por que eu sou sua filha, –me levantei ficando de frente para ela – sua pequena Miles.

Ela me encarou por um tempo, me olhando nos olhos. Meu pai olhava para nós duas curioso.

-Uau, eu tenho uma filha... –minha mãe disse por fim

Eu sorri. Ela sorriu também.

-Ei espera... Quantos anos você tem? –meu pai perguntou

-Quinze. –respondi

-Tem namorado?

-Não.

-Ainda bem. –ele disse e respirou fundo

Nem aqui ele deixava de ser assim, pelo amor de Deus! Rolei os olhos e voltei a me sentar na cama.

-Nós nunca te contamos quem somos? –meu pai perguntou

Eu neguei com a cabeça.

-Por que? A mamãe tem asas também e eu não estou vendo? –perguntei

-O que? Não! –meu pai disse

-Não me chama de mamãe, estou começando a me sentir velha... –minha mãe falou e colocou a mão na testa

É, foi dela que eu herdei meu drama... Do nada, o sono bateu e eu bocejei. Eles me olharam.

-Acho melhor acharmos algum lugar para você dormir... –meu pai falou