Era apenas um dia comum. Ensolarado, ameno e tranquilo. Nada poderia arruinar um dia tão perfeito. Mas, como sempre, o amanhecer levava o líder dos youkais, Nura Rikuo, a se preparar para mais um dia na escola.

- Ei, Yuki-onna, você vai atrasar o Waka desse jeito! – reclamava Kubinashi, abrindo a porta para a cozinha – É só um almoço!

- Waah! Não consegui acordar cedo hoje!! – preparava de forma rápida e descuidada a comida – Tudo por causa daquele sonho... – sussurrou sentindo suas bochechas avermelharem levemente

Por um momento, a youkai acaba caindo no chão de joelhos, desmaiando logo em seguida. Os membros da família principal ali presentes, ajudaram-na a se levantar, Kubinashi fez o mesmo, levando-a até Kejourou em uma sala. Logo em seguida, foi até Rikuo, que apenas se espantou.

- Rikuo-sama, a Yuki-onna não parece bem. Talvez ela falte hoje na escola!

- O que aconteceu?! – demonstrou preocupação

- Ela acabou de desmaiar, mas não se preocupe! Zen-sama deve ter alguns remédios para ela. Ao, proteja o Waka sozinho hoje. – e “Kurata” assente

- Certo... Tentarei voltar o mais breve possível! Conto com você, Kubinashi! Vamos, Ao! – e ambos correm para não se atrasarem

Kubinashi volta correndo e vai ao local onde a garota de gelo estava. Os pequenos youkais à sua volta, em grupo, tentavam reanimá-la jogando água, chamando seu nome... E ela apenas suspirava fortemente.

- Kejourou, como ela está? – aproximou-se e sentou-se no chão

- Não entendo... Está completamente normal, parece estar apenas dormindo. Talvez ela só precise de um descanso.

- Entendo... Já chamaram Zen-sama?

- Natto-Kozou e os outros estão procurando por ele.

- Certo... Eu vou me retirar. Cuide dela, Kejourou. – a youkai assente e este fecha a porta

Kubinashi andava pela casa um tanto pensativo. “Tudo por causa daquele sonho...” ouvira essas palavras que Yuki-onna sussurrara antes de desmaiar. Continuava a ecoar em sua mente por algum motivo.

Yuki-onna andava estranha ultimamente com o loiro, evitava-o e queria estar a todo o momento junto de Rikuo. Como se quisesse protegê-lo mais do que qualquer um.

Todos sabiam de sua pequena “queda” pelo Terceiro Comandante, que até mesmo ela confirmava. Esses dias, entretanto, estavam sendo extremamente dolorosos para Tsurara, afinal, a humana, Ienaga Kana, havia tomado seu “lugar”. Não fazia muito tempo que ambos pareciam mais envergonhados entre si, evitando toques de mão e olhares fixos.

Estava evidente. Mas Yuki-onna não quis – e não quer – acreditar. Era o que todos pensavam.

- ... O que eu posso fazer para animá-la...? – perguntou o louro a si mesmo, apoiando-se à enorme árvore próxima ao lago – E por que estou tão aflito com isso? O Ao e o Kuro já devem estar pensando em um meio de ajudá-la a esquecer do Rikuo-sama!

- Hum...? Kubinashi? – Kappa emergiu do lago

- Gh..! K-Kappa, você ouviu algo? – disfarçou o nervosismo

- Sobre a Yuki-Onna? Talvez ela esteja apenas cansada.

- “Cansada”? Mas ontem ela foi dormir antes de todo mundo, apesar de ser uma youkai.

- Huum... Ela ficou andando de um lado para o outro, nervosa. Sozinha, aliás. – boiou pelo lago

- Que estranho... – pôs a mão no queixo, pensativo – “Não é comum dela...”

- Preocupado?

- Hunf. Precisamos cuidar de Rikuo-sama e ela é a guarda-costas oficial. – cruzou os braços

- Acho que o Ao é o suficiente para proteger o Sandaime, principalmente com aquele bando.

- Já entendi, já entendi! – suspirou, sentindo-se derrotado pelo aquático – A Tsurara é um membro importante da família. Por isso, precisamos cuidar de sua saúde. Entendeu agora?!

- “Tsurara”, é? – e antes que o louro o ameaçasse, mergulhou

- Kappa... Você vai ver só quando eu—

- Kubinashi! – era Kejourou, chamando-o de dentro da mansão – Venha até aqui um instante!

Virou-se e Kappa apenas acenou de longe. Aproximou-se rapidamente de sua antiga amiga. Espiou um pouco e Yuki-Onna continuava em seu sono profundo.

- Caham. – chamou-lhe atenção – Parece que Zen-sama está um pouco ocupado no momento... Eu procurarei alguns medicamentos junto de Wakana-sama, poderia ficar cuidando da Tsurara enquanto isso?

- Eh? Eu fico, mas... Por que eu?! E você vai junto por qual razão...?

- Para falar a verdade, gostaria de sair um pouco daqui. – sorriu – Eu pediria aos outros youkais, mas talvez o único que seja capaz de acalmá-la depois que perceber que Rikuo-sama foi à escola sem ela, é você.

- Tem o Kuro, o Gozumaru, o Shoei-sama...

- Conto com você, Kubinashi! – bateu de leve em seu ombro e saiu andando

- K-Kino— Okay... – hesitou um pouco e por fim entrou

Por alguma razão, sentia-se nervoso. Fechou a porta rapidamente, com o máximo de cuidado para não a acordar. Aproximou-se cautelosamente até finalmente chegar perto do futon. Sentou-se lentamente e sentia seu coração acelerado.

Por que estava assim? Era apenas a Yuki-Onna, sua amiga, companheira.

- Ngh... – Kubinashi pôs a mão na testa da adoentada e sentiu sua mão esquentar

- “Mesmo ela sendo uma Yuki-onna...” – percebeu a bacia com água ao seu lado e fez o que deveria fazer

Mergulhou o pano na morna água, torceu-o e, por fim, colocou sobre sua testa.

- “Acalme-se, isso é algo normal. Qualquer um faria.” – pensou, notando sua mão tremer ao encostar-se à macia pele de Yuki-Onna

“Tudo por causa daquele sonho”, “Tudo por causa daquele sonho”. Por que aquilo batia tanto em sua mente? Que sonho? Qual sua relação com o estado de Yuki-onna?

Ouviu pequenos estalos de algo caindo no chão. Olhou para os lados: nada. Talvez o teto, seriam os pequenos “bisbilhoteiros” youkais: nada. Olhou para Tsurara e descobriu o motivo: pequenas lágrimas que se congelaram, caindo de seus olhos.

Kubinashi se espantou. Estará tendo aquele “sonho”...?

- Yuki-onna. Ei, Yuki-onna! – balançou levemente seu ombro. Por alguma razão, não aguentava ver aquela cena

- Ahh!! – a youkai levantou-se velozmente – Ku... Kubinashi?

Tsurara levou a mão ao peito e arfava. Entretanto, suas lágrimas não se cessaram.

- O-o que houve? Por que estou aqui?

- B-bem... Você estava terminando o obentô de Rikuo-sama, mas acabou desmaiando. Então... Este pediu para que ficasse em casa, descansando. Não se preocupe, o Ao comprometeu-se a proteger Rikuo-sama. E... Kejourou foi com Wakana-sama comprar alguns medicamentos, pois Zen-sama parece não estar presente.

- O-O-O Waka está apenas com o Ao?! E-E-E se aparecer algum youkai?! Po-por que não o acompanhou?! – certamente, Yuki-Onna voltara ao normal. Sempre se preocupando com o Waka

- Err... Eu fiquei cuidando de você? – demonstrou um pouco de incerteza, será que era realmente este o motivo?

Em um instante, o rosto de Yuki-Onna se avermelhou. Kubinashi não percebera a besteira que falara e estranhou sua reação. Um silêncio tomou conta do quarto.

- Etto... “Por que o clima está assim?! Será que falei alguma besteira?!” Ah, você estava tendo pesadelos?

- “Pesadelos”? – inclinou levemente a cabeça

- Sim... Hoje de manhã, você falou algo como “Tudo por causa daquele sonho” e depois desmaiou. – coçou a bochecha, um pouco envergonhado – E agora estava, err... Chorando...

- A-a-ah... Etto... A-aquilo... É... – confundiu-se com as palavras

- ... Era sobre Rikuo-sama...? – atreveu-se. O olhar de Yuki-Onna mudara, mas soltou um leve... Sorriso?

- S-sim! E-eu preciso me acostumar, certo? Haha! Como adivinhou, Kubinashi? Bom, é óbvio, você me conhece há tanto tempo! – o louro colocou sua mão sobre seu ombro

Tsurara não pôde mais segurar e desabou em lágrimas. Kubinashi não sabia o que fazer além de confortá-la, aproximando-se mais e – um pouco hesitante – entornando o braço em seu pescoço, mostrando seu ombro amigo.

- “Por que estou me sentindo assim estando tão perto dela...?” – a youkai segurou forte em seu haori – “Será que eu...”

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E mais uma vez, Ienaga Kana estava na mansão. Isto é, junto de seus outros amigos. Tsurara permaneceu em seu quarto, fingindo continuar com tontura, mesmo após Zen e Kejourou terem cuidado de sua saúde.

Quis ficar só, ouvindo as altas risadas de seus colegas no andar de baixo. Alguns perguntavam de sua ausência, mas Rikuo apenas respondia que não pôde vir por causa de “problemas”. Este, logo que chegara, pedira à mãe que distraísse seus amigos para que pudesse ver sua preciosa amiga.

Entretanto, Yuki-Onna enrolou-se entre as cobertas, fazendo parecer que estivesse dormindo. Apesar disso, Rikuo aproximou-se e mediu sua febre, não estava tão alta. Minutos depois, retirou-se.

- Com licença. – Tsurara continuou na mesma posição – Sou eu; Kubinashi. – e fechou a porta atrás de si – A Kejourou pediu para que eu viesse ver seu estado.

- Eu já estou bem. Pode ir.

Kubinashi suspirou profundamente. Antes que falasse algo, ouviu as risadas dos “humanos”. Olhou para Yuki-onna e esta se encolhia cada vez mais no cobertor. Sorriu e se aproximou do futon.

- Por que não fica com seus colegas, “Oikawa”-san? Todos estão perguntando por você.

- Seria embaraçoso para o Waka caso eu aparecesse depois de ter dito que estava doente. – levantou-se e, quando seu olhar se encontrou com o de Kubinashi, virou rapidamente o rosto envergonhado

- Aqui. Kejourou disse que seria melhor usar esse remédio ao invés dos medicamentos de Zen-sama. Ele ficou um pouco bravo, mas se tratando de discussão, ninguém vence dela, né? Mesmo sendo Zen-sama... – riu um pouco, tentando animar o clima. Despejou um pouco do líquido em uma colher e o levou em direção à Yuki-onna – Hai!

- O-o que pensa que está fazendo?! – novamente, seu rosto ruborizou

- Você está doente. É o mínimo que posso fazer. – abriu um leve sorriso – Pronto?

- Entendido... – abriu a boca, engolindo o remédio amargo – Obrigada.

Um silêncio tomou conta do lugar. Kubinashi sentia-se mais confortável e menos nervoso com a presença da youkai ao seu lado, ao contrário desta.

- Quer continuar dormindo, certo? Acho melhor eu... – o louro tentou se levantar, mas Yuki-Onna segurou em seu braço

Kubinashi estranhou um pouco e voltou à sua posição. Yuki-Onna estava inquieta e seu coração batia depressa. Por que estava assim diante de seu antigo amigo, Kubinashi?

- Yuki-Onn—

- Eu...! – elevou a voz, interrompendo-o – Na verdade, eu menti...

- Sobre estar doente?

- N-não! O sonho... S-se estiver ocupado, pode ir! Eu só... Queria tirar esse peso na consciência. – virou o rosto

- Está tudo bem. Estou livre no momento. Se estiver disposta a falar, estarei aqui! – não era de seu feitio ser tão gentil, exceto com Kejourou, não só sabia o quanto Yuki-Onna estava sofrendo por causa da relação de Ienaga Kana e Rikuo, mas também porque havia descoberto algo bom em relação a ela

- ... O sonho... Era sobre você...

- Eh?

- Eu estou realmente mal sobre Rikuo-sama estar com aquela garota humana, mas não posso contrariar sua decisão, muito menos em relação a esse tipo de assunto. Eu sei que ele não mudará seu comportamento comigo, mas... Só posso admitir: eu perdi.

- Yuki-Onna...

- E... Mesmo assim, continuei como sempre. Demonstrando meu carinho por ele, o amor que sinto por ele... Mas sempre com o ar de que fui substituída. E depois, sendo reconfortada por você. – abriu um leve sorriso – Claro, o Ao e o Kuro me ajudam também, mas... Suas palavras parecem fazer mais efeito! E no meu sonho... Eu o tinha perdido. Isto é, você não se importava mais comigo e me ignorava todas as vezes que eu tentava conversar. Estranho, não? Não deveria ficar me preocupando, é apenas um sonho! – pequenas lágrimas escorreram de seus olhos – A-ah, desculpe! E-eu não deveria estar chorando...!

Kubinashi retirou de seu bolso um lenço e entregou-lhe à Yuki-Onna, sorrindo calmamente. A garota o pegou e limpou suas lágrimas repetindo “desculpe-me” milhares de vezes com um sorriso bobo estampado no rosto.

- E então... Acabei me sentindo um pouco solitária. Deve ter notado que eu tenho andado um pouco diferente com você, né? Bem, o efeito está sendo o contrário do sonho: “Kubinashi está sendo cada vez mais gentil com Tsurara.” – sorriu – Obrigada.

- Não se preocupe quanto a isso, Yuki-Onna. Você sempre será uma garotinha que precisa de cuidados. – a youkai abriu um bico, fazendo o louro rir um pouco – Ah, se não se importa, preciso medir sua febre.

- Ehh? Por quê?

- Ordens de Kejourou. E você sabe que não podemos contestar.

- Hai... – suspirou – Mas eu realmente estou bem, Kubin—

Kubinashi encostou sua testa na de Yuki-Onna. Esta arregalou os olhos imediatamente. Não que não estivesse apreciando, mas era muito vergonhoso para ambos e alguém poderia ver. Antes que pudesse reclamar do ato, seus lábios foram tomados, iniciando um beijo.

Permaneceram ali, quietos, como se nada mais existisse. Com o oxigênio faltando, tiveram que se separar. Ruborizados, com aceleradas batidas cardíacas, nervosos...

- Que bom. Sem febre! – levantou-se – Eu vou descendo. Deseja mais alguma coisa?

- N-não... – escondeu-se entre as cobertas, de costas ao garoto – O-obrigada!

- Boa noite, Tsurara. – e saiu do cômodo

- Por que ele...? – tocou levemente em seus lábios e mexeu-se de um lado para o outro no futon, não acreditando no que acabara de fazer. Por fim, abriu um leve sorriso  

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No dia seguinte, Yuki-Onna já estava mais alegre e havia voltado ao normal, assustando alguns youkais da família. Acordara bem cedo e os obentôs pareciam mais bonitos e bem preparados do que o de costume.

- Tsurara, vamos! – Rikuo gritou já fora da mansão

- Já estou indo, Waka! – pegou as pequenas sacolas e rumou ao portão

Encontrou Kubinashi no caminho e ambas se encaram por um momento. Tsurara ficou acanhada e seu rosto – novamente – ruborizou-se.

- Os pesadelos acabaram? – pronunciou

- H-Hum... S-sobre ontem, eu...

- Vai se atrasar se demorar. – passou pela garota – Aquilo fica entre nós.

- Kubin...! O-obrigada!! – reverenciou e saiu correndo

Passou reto por vários youkais e chegou perto de Rikuo e Aotabou, arfando pela corrida. O primeiro tentou acalmá-la, afirmando que não estavam atrasados.

- Que bom que melhorou, Tsurara!! Os medicamentos fizeram efeito! – o pequeno sorriu

- Medica... A-ah! Sim, sim! Desculpe por fazê-lo se preocupar comigo! – sorriu

- Está tão feliz assim por ter melhorado? – Aotabou transformou-se em humano

- Sim!! O tratamento que tive foi... Maravilhoso. – pensou um pouco consigo mesma – Vamos, vamos!! Estou ansiosa!! – e empurrou ambos

- Ts-tsurara!! C-calma!!