Crescer escrita por Fantine


Capítulo 1
Crescer


Notas iniciais do capítulo

«Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino.»
Fernando Sabino



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Anastásia parou de tomar atenção às suas aprendizagens e olhou pela milionésima vez, naquela manhã, para a janela, examinando em seguida as várias paredes da sala.

– Pareces cansada. Tens dormido bem? – Perguntou o seu tutor perante a aparente e notória falta de interesse da sua aluna.

– Não, Monsieur. – Acabou admitindo.

– E porquê?

A menina, que já não era assim tão menina, baixou os olhos.

– É esse rapaz outra vez? – O tutor perguntou.

Ela anuiu. Sabia que ninguém acreditava nela, mas nem por isso era menos verdade. Havia um rapaz que todas as noites ia ter com ela. Quando ela estava na sua cama tentando adormecer, ele aparecia. Ele sempre tinha aparecido. Desde muito pequena que ela se lembrava que às vezes ele ia até ao seu quarto à noite e se sentava ao pé de sua cama a tocar flauta.

De todas as ilhas aprazíveis, a Terra do Nunca é a mais aconchegante e a mais compacta. Ela não é grande, nem esparramada. Também não tem cansativas distâncias entre uma aventura e outra. Nos dois minutos antes dela adormecer, a ilha torna - se quase real. Naturalmente as Terras do Nunca variam muito. A da pequena Nastya tinha um vale coberto de malmequeres e papoilas com uma lagoa e vários pássaros sobrevoando – o. Ela morava numa casinha de madeira e raramente tinha visitas, embora, por vezes fosse visitada por uma menina ruiva e franzina. Mas ela nunca falava. Às vezes apenas ficava olhando para as brincadeiras de Anastásia. No início quando a menina perguntava se queria brincar, ela simplesmente desaparecia, de modo a que, ao fim de três ou quatro tentativas ela desistiu.

É para essas praias mágicas que as crianças estão sempre levando seus barcos. Os adultos também lá estiveram; ainda conseguem ouvir o barulho das ondas quebrando, se bem que nunca mais desembarcarão lá.

De todos os irmãos, Anastásia era a única que ainda lá ia. Até o seu irmão mais novo há muito que deixara aquela ilha.

Peter começava a assustá - la. Quando ela tentava dormir, ele aparecia e insistia em abrir – lhes as cortinas e puxar – lhe as cobertas de cima.

No começo ela ria da falta de dentes do menino, pois sempre se lembrara dele com todos os dentes de leites, as pequeninas pérolas da sua boca. Ela lembrava – se quando perdera os dela e a mãe lhe dissera orgulhosamente que estava a crescer, mas quando o anunciou a Peter ele assustara-se e começara a fazer pirraça com a menina.

– Porque de todas as crianças do mundo, me escolheste a mim? Os meus pais pensam que estou mentindo! Eu não te quero ver! Nunca mais! Nunquinha!

– Tu és igual a mim! Também tens medo de crescer!

– Não é verdade!

– É sim! Tens medo que te apaguem a luz quando fores para a cama…e que…que a tua irmã não te deixe dormir mais na cama dela quando há trovões! Tens medo de ter de fazer todas aquelas contas que as tuas irmãs fazem e de não conseguir! Isso é crescer… e tu tens medo!

– Pois tenho! Sei disso! Tenho medo de mudar quando crescer. Mas não podemos escolher, somos obrigados a fazê-lo!

– Mas eu não posso crescer! Quem cuidará dos meninos quando eu for grande?

– Bem, as fadinhas.

– E quem cuidará das fadinhas?

– Se ajudar, eu prometo deixar sempre alguns docinhos de lado para elas.

Depois daquela noite e durante o resto da sua vida ela nunca mais voltou a ver Peter, a menina ruivinha ou a Terra do Nunca.

Mas alguns anos mais tarde, quando morreu, Peter Pan acompanhou-a durante um pedaço do caminho, para que não tivesse medo.

E todas as noites daí em diante, as amigas de Anastásia, colocaram mel e bolachas à janela, para relembrar a amiga e honrar a promessa que fizera.


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Notas finais do capítulo

Hei! Eu sei que tenho uma mente perturbada, mas enfim, fazer o quê? Acho que o facto de a princesa Anastásia não ter tido um oportunidade para crescer me fez pensar que ela poderia travar um diálogo com o menino que nunca cresce.
Se gostarem comentem. E se não gostarem também. Eu ficaria feliz.
BEIJOS ♥



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