Cartas Para Antônio Ferreira escrita por Mari


Capítulo 45
Capítulo 45


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde pessoas aqui vamos com mais um capitulo ;)



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Por Laura

O percurso até a fazenda ocorreu sem imprevistos ou aborrecimentos, ao contrário do que esperávamos as crianças não dormiram durante a viagem nem por um segundo. A Melissa estava tentando acalmar a euforia que o passeio lhe trazia, ela sempre demostrava alegria quando incluída nos nossos planos, como se ainda os achasse novidade, mesmo com mais de um ano morando com a gente... Esse temor dela me inquietava, queria fazê-la entender que ela é parte da família e não uma peça provisória pronta para ser deixada a segundo plano a qualquer momento.

O Antônio só se aquietava quando estava mamando, nestes momentos ele ficava tão relaxado que eu me surpreendia quando o via abrir os olhos curiosos assim que o deitava depois de colocá-lo para arrotar. Percebia os olhares atentos do Edgar pelo retrovisor ele também estava surpreso com a energia dos pequenos, e não conseguia disfarçar o bom humor desde que saímos de casa, ele respondia com prazer as perguntas curiosas da Melissa e em nenhum momento da viagem demonstrou cansaço ou irritação.

Chegamos a fazenda um pouco depois do horário do almoço e fomos recebidos por três funcionários, dois deles, os mais velhos não conseguiam disfarçar a alegria em ver o patrão, pareciam orgulhosos do homem a frente deles e gratos por finalmente estar conhecendo a sua família.
– Juvenal, Maria essa pequena aqui é a Melissa minha boneca e essa mulher linda segurando o meu mais novo tesouro é a Laura, minha esposa... Laura o Juvenal e a Maria me viram crescer, parte daqueles cabelos brancos foram por culpa minha e do Fernando.
– Imagina, o doutor nem dava tanto trabalho assim.
– Não mesmo, sempre foi um menino de ouro, não podemos dizer o mesmo do irmão, esse sim quase levou a minha Maria ao enfarto.
– Estamos encantados em conhecê-la dona Laura, na ultima vez que o doutor apareceu aqui estava todo caidinho pela briga de vocês, ficava com o coração na mão ao ver o pobre andando por esses campos todo borococho... E desculpa dizer mas fiquei com muita raiva da senhora por ter feito o meu menino sofrer tanto.
– Maria!

Seu Juvenal repreende a mulher e essa da de ombros, o que foi dito já foi e não pode ser retirado, eu troco um olhar com o Edgar me lembrando que também tive meus momentos de andanças solitárias pelos campos da fazenda do meu pai antes de seguir para o interior, entendia perfeitamente o que a dona Maria queria dizer.
– Desculpa dona Laura não quis dizer isso...
– Não tem problema dona Maria, pelo que pude ver a senhora tem muito carinho pelo meu marido eu não tenho o que me chatear com isso.

Sigo o olhar curioso da Melissa e percebo que ela encara uma mocinha parada na entrada da casa, ela nos olhava com curiosidade mas parecia tímida demais para arriscar se aproximar. A dona Maria acompanha o meu olhar e logo faz um gesto para a menina se aproximar.
– O doutor Edgar com certeza não vai se lembrar, mas essa aqui é a Bernarda a minha afilhada.
– Mas não ia me lembrar mesmo, a ultima vez que vim aqui ela era um pinguinho de gente, vivia correndo de um lado para o outro atrás do paçoca .
– E ainda fica doutor, nem parece já ter 15 anos... só que agora corre sozinha já que o paçoca está velho demais para acompanhar.
– Maria para de me chamar assim por favor...
– Pai quem é paçoca?
– E como se chama um dos cachorros aqui da fazenda Melissa... Estranho ele ainda não ter vindo nos receber geralmente é o primeiro a aparecer para recepcionar os visitantes.
– Faz algum tempo que ele não faz mais isso dout... Edgar, o pobre está praticamente surdo.
– Entendi, então vamos fazer assim minha pequena, mais tarde depois de descansarmos o papai te leva para conhecê-lo...
– Ebaaaa
– Falando em descansar vamos entrando que esse sol está castigando e vocês devem estar exausto pela viagem... Edgar você me disse que era para eu chamar alguém para ajudar a sua senhora com as crianças e eu pensei na Bernarda, ela é meio moleca mas se tratando de criança ela se transforma.
– Obrigada Maria, eu fiquei imaginando quem você chamaria para ajudar a Laura, não conheço mais todos os funcionários daqui da fazenda.
– Eu pensei na Celeste mas ela está tendo problemas com o bebê.
– A mulher que te ajudava na cozinha? Não sabia que tinha filhos.
– Pois não tinha, esse foi o primeiro e já é a segunda vez que adoece, tenho pra mim que não vinga.
Engulo em seco ao pensar na sorte da pobre mulher e aperto o Antônio um pouco mais próximo ao meu peito.
– Está tudo bem meu amor?
– Sim eu só fiquei mexida pela história... Dona Maria, poderia por favor me indicar onde ficam os quartos, queria me refrescar antes de comermos.
– Desculpa dona Laura eu aqui empolgada na prosa e acabei esquecendo que a senhora ainda carrega o pequeno nos braços... Bernarda mostre a dona Laura onde ficam os quartos.
– Não precisa Maria eu levo a Laura até o nosso quarto.
– Posso acompanhar a Melissa até o quarto dela madrinha?
– Pode sim Bernarda, vai lá.

Ela mal espera a madrinha concluir e já sai correndo puxando o Melissa pela mão. O Edgar se aproxima de mim pegando o Antônio dos meus braços e seguimos na direção que as meninas sumiram.
– O meu antigo quarto ficava nesta porta aqui, mas conhecendo a Maria, acho que ela mandou preparar o quarto principal pra gente.
Continuamos seguindo pelo corredor e quando chegamos a ultima porta o Edgar apóia o Antônio em um dos braços e a abre para eu entrar.
– Será que algum dia vou fazer a Maria gostar de mim?
– Porque você diz isso meu amor?
– Porque eu fiz o menino dela sofrer, ela deve me odiar.
– Sua boba, ela sabe que não fui um santo... Eu lhe contei o que motivou a nossa separação, sabe que eu tenho minha parcela de culpa pelo meu sofrimento.
– Você costuma conversar sobre tudo com a dona Maria?
– Tudo não, tem coisas que só consigo dizer a dona Margarida... Outras só com uma certa professora que roubou o meu coração.
– Obrigada meu amor... Acaba de ganhar um beijo.
– Ah é? Quer dizer que vou ganhar um beijo a cada vez que declarar o quanto eu te amo...
– Se a declaração foi convincente... É acho que sim.

Ele abre um sorriso com a minha resposta e inclina um pouco a cabeça para receber o meu beijo.
– Quer me dar ele pra poder se refrescar um pouco?
– Não pode ir lá que eu tomo conta dele.

– Tudo bem então, mas coloca ele na cama Edgar se não esse menino vai ficar num mimo só.

Ele balança a cabeça assentindo mas sei que é só um disfarce, agora que pegou o filho no colo não vai querer desgrudar, dou risada desse pai babão e me estico sobre os pés para lhe dar outro beijo e então sigo para o quarto de banhos. Demorei mais de vinte minutos para me refrescar e estava me sentindo renovada ao deixar o quarto de banhos, esperava encontrar o Edgar ainda embalando o Antônio e qual não é a minha surpresa quando o vejo deitado na nossa cama, me aproximo a passos lentos sem acreditar na cena e me derreto toda ao ver os meus dois amores dormindo juntos, os dois estavam de lado, um de frente para o outro enquanto uma das mãos do Edgar repousava sobre a coxa gorducha do nosso filho.

Deixo o quarto sem fazer barulho e refazendo os passos ao inverso de minutos antes chego a sala e me deixando guiar pelos únicos sons da casa chego até a cozinha.
– Se o sabor estiver tão bom quanto o cheiro, vou logo entender o motivo do Edgar não fazer objeção de passar vários dias aqui na fazenda.
– Oi dona Laura entra... Essa aqui é a Joaquina, ela está me ajudando enquanto a Celeste não pode, a senhora está com fome? Já está tudo pronto eu só não os mandei chamar porque achei que queriam descansar um pouco da viagem.
Comprimento a mulher que me foi apresentada e então entro na cozinha ainda com receio de atrapalhar mas sem conter a curiosidade.
– Estou com um pouco de fome sim mas vou esperar para comer junto do Edgar.
– Ele ainda não se refrescou?
– Nem tentou, quando deixei o quarto de banhos o peguei dormindo junto do Antonio, preferi deixá-lo descansando um pouco.
– Já que é assim também não precisa ficar sofrendo enquanto seu marido não acorda, belisca alguma coisa e quando ele levantar você se junta com ele e come de novo.
– Mas desse jeito eu vou embora com mais quilos do que cheguei.
– Se depender de mim vai mesmo, desculpa falar mas a senhora está muito madrinha nem parece que pariu a pouco...
– Imagina dona Maria eu era bem menor do que isso antes do Antônio.
– Pois mulher saudável é mulher com carne, enquanto estiver aqui na fazenda vou cuidar para que se alimente bem... Não sei o que vocês costumam comer na capital para secarem tanto.

A espontaneidade da Maria me encantou e preferi não contraria-la quanto ao meu peso, aceitei tudo o que ela me oferecia para comer, não na quantidade que ela julgava boa, mas no fim das contas duvidava que fosse aguentar mais alguma coisa quando fosse acompanhar o Edgar em sua refeição. E mesmo depois de satisfeita não deixei a cozinha, estava encantada com as histórias que a Maria me contava sobre a infância do Edgar, e podia sentir seu carinho por ele em cada uma delas. Estávamos tão distraídas com o falatório que nem demos pelas horas que corriam e quando vi o Edgar já estava procurando por mim na cozinha.
– Aqui está você, te procurei pela casa inteira, o que está fazendo aqui?
– Eu desci para comer alguma coisa e fiquei conversando com a dona Maria... e o Antônio?

– Ta dormindo feito pedra, mexi com ele pra ver se ele acordava, mas o bichinho tem sono pesado.

– Me lembra a alguém que eu conheço.
– Não sei a quem senhora minha esposa...mas pelo visto a conversa estava boa, do que falavam?
– De você.
– De mim? Ah Maria não me diga que está amolando a minha esposa com as minhas peraltices de criança...
– Não fale assim com ela Edgar eu estava me divertindo com as histórias.
– Eu imagino senhora minha esposa... Mas já chega, são situações muito constrangedoras para eu querer partilha-las com a vossa senhoria.
– Quanto drama meu amor, não vi nada de constrangedor nas suas histórias.
– Sei... Como se correr pelado pela fazenda não fosse constrangedor.
– Correr pelado? Edgar você correu pelado pela fazenda?

Minha expressão surpresa e a minha pergunta o pega desprevenido e ele olha de mim para a Maria que desatou a rir, parecia arrependido de suas palavras.
– Essa ela não te contou?
– Não.
– Minha filha eu tinha me esquecido dessa, mas deixa eu te contar que essa é boa.
– Nada disso eu a proíbo.
– Não Edgar deixa ela falar...
– Chega de histórias por hoje mocinha, vem vamos para longe dessa cozinha.

Eu tento contra argumentar com ele mas não tem jeito, ele me arrasta cozinha a fora não sem antes lançar um olhar de reprovação para a Maria. Quando chegamos a sala ele se senta no sofá e me puxa para sentar ao seu lado, coloca as minhas pernas em cima das dele e deita a cabeça no meu peito ainda com a cara amarrada.
– Se você vai continuar dormindo porque não me deixa lá na cozinha para conversar com a dona Maria?
– Eu acordei com saudades de você, achei que tinha ido conhecer a fazenda sem mim.
– Você falou que iria me apresentar a cada canto dessa fazenda pessoalmente, eu não iria sozinha...
– E a Melissa?
– Está por aí com a Bernarda, as duas desceram para comer e logo saíram de novo, parecem estar se dando bem apesar da diferença de idade.
– Que bom a Melissa tem tão poucas amigas.
– Edgar você está me enrolando?
– Eu? Claro que não.
– Está sim, e nem se de ao trabalho mais dia menos dia eu vou voltar o assunto com a dona Maria e vou saber o que te fez correr pelado pela fazenda.

Ele não consegue segurar e ri junto comigo, por fim me deita no sofá e se acomoda ao meu lado sem largar da minha cintura.
– Você é muito curiosa sabia?
– A culpa é sua, ninguém mandou citar o episódio.
– Está bem, eu e o Fernando estávamos brincando próximo ao lago, estava bem quente, mas estávamos de castigo por isso tínhamos que manter a distância do lago... O Fernando insinuou que eu não tinha coragem para desobedecer a mamãe e entrar na água, eu acabei caindo na provocação, quando percebi as verdadeiras intenções do Fernando já era tarde ele pegou as minhas roupas e saiu correndo, e bem você já deve imaginar o resto.
– Por favor me diga que pelo menos estava de ceroulas...
– Isso senhora Vieira ri bastante...
– Desculpa meu amor, mas você não pode negar que o Fernando foi bem ardiloso nessa.
– Sim ele foi, e apesar de nessa época já ter malícia o suficiente para desconfiar das intenções do meu irmão eu sempre preferi lhe dar crédito... Como se quisesse provar que era diferente do meu pai, que por mais que ele não tivesse o apoio do nosso pai, o meu ele sempre teria... Mas você ainda está rindo?
– Desculpa mas não consigo parar de pensar em você todo magricela correndo pela fazendo só de ceroula, isso se é que estava de ceroulas.
Eu levo a mão a barriga ao mesmo tempo que tento controlar o novo acesso de riso, mas é inevitável, o Edgar parece se divertir com o meu estado e fica me observando enquanto me recomponho se limitando apenas em afastar alguns fios de cabelo do meu rosto.
– É bom vê-la rindo de novo, mesmo sendo eu o motivo da chacota.
– Desculpa meu amor foi mais forte do que eu.
– Não tem problema, se for pra ver esse sorriso de novo eu repito a experiência agorinha.
– Você não teria coragem.
– Você dúvida? Acho que não conhece o seu marido tão bem então.
Ele diz já erguendo o tronco para levantar com o ar de determinação que me surpreende e automaticamente o seguro pela lapela do paletó.
– Onde você pensa que vai?
– Vou te provar que não sou homem de brincadeiras que sou perfeitamente capaz de fazer uma loucura para ver um sorriso brotar no rosto da minha adorada esposa.
– Não senhor, dispenso demonstrações me contento com a sua palavra.
– É? A minha palavra é suficiente?
– Mais do que suficiente senhor meu marido, mas se quer tanto me dar algo pra me fazer feliz eu tenho um pedido de algo que me faria imensamente feliz.
– Imensamente feliz? O que?
– Um beijo... acho que é mais prático do que correr por aí desprovido das roupas.
– Realmente é um pedido prático.
– Um tanto simples...
Completo também fazendo graça enquanto ele aproximava o seu rosto do meu e sem disfarçar o contentamento com a troca sela os nossos num beijo.


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