Toc toc toc. Há alguém na porta. Levanto-me de minha poltrona. O chão límpido por um momento cega meus olhos. Olho para frente e caminho em direção à entrada do apartamento. No meio do caminho imagino que seja alguém no prédio para pedir alguma coisa, afinal o porteiro não havia me comunicado pelo interfone que receberia visitas. Do outro lado da porta ouço sussurros e risadinhas baixas. Quando abro quatro crianças fantasiadas gritam "doces ou travessuras". Dei um sorriso tímido. Achei que ninguém viria, afinal estamos no Brasil. Pedi para que elas esperassem um instante. Logo depois voltei com balas e chocolates, enchendo a sacolinha de cada uma. Elas agradeceram  e entraram novamente no elevador, deixando-me parada na porta com um sorriso bobo no rosto. Crianças. Não sabiam nem um terço do que se denominava "problema".

- América? Quem era?

Informo rapidamente minha mãe do ocorrido e ela sorri. Passo pela sala. Meu irmão lança sobre mim um olhar maldoso e joga uma bolinha de papel em mim. Desvio. Lanço-lhe um olhar triunfante. Boris, o gato acompanha-me e entramos juntos no quarto. 

Como hoje é terça-feira posso entrar na internet somente com intuito escolar. Mas como não tinha tarefa, então não vi problema algum   em entrar rapidinho sem que minha mãe notasse. Primeiramente entrei no Facebook. Poucas notificações como sempre, a maioria de uma página que eu tinha. Logo depois entrei no youtube e coloquei baixinho uma música para tocar. Abri meu e-mail. Comecei a rir com o e-mail da minha melhor amiga, a Dani, que sempre correspondia comigo mesmo nós nos falando todos os dias. Ela estava contando sobre a festa de aniversário da avó. Quando terminei de ler voltei para minha caixa de entrada. Não era possível. Aquele... aquele nome estava ali. Ele. O garoto dos meus sonhos e dos meus pesadelos. O garoto de dois anos atrás. O garoto que deixou a garota. O garoto que ainda me fazia tremer. Um e-mail dele. Depois de dois longos anos, ele me mandou um e-mail.

Li tudo com o coração apertado. Ele queria falar comigo. Desliguei o computador e deitei em minha cama. Boris chegou perto de mim. Eu estava chorando. Ele apareceu quando eu estava bem, quando tinha me recuperado. O que ele queria? Abri meu diário e escrevi com a letra grande e tremida: ELE NÃO VAI MASSACRAR MEU CORAÇÃO NOVAMENTE. 

Fechei o diário com força. Eu queria gritar para ele, queria gritar com ele. Eu não teria mais paz dali em diante. No meu lago de lágrimas eu me afogava num passado não tão distante assim, onde para mim, ainda existiam contos de fadas.