- Mamãe, não posso te deixar! Não, mamãe! – a garota tinha o pânico estampado em sua face.

- Vá logo! Corra! Não olhe para trás...  – a mãe olhou para a menina que chorava descontroladamente. Deu um forte abraço na garota. – Por favor, vá logo! Nos encontraremos depois. Faça o que eu estou mandando. Sou sua mãe, obedeça! – ela soou ríspida, mas foi necessário. Tudo estava destruído. Se a criança continuasse ali morreria.

A menina, apesar da tristeza de deixar a mãe ali, correu para a saída da casa. Quando estava para sair deu de cara com os olhos amedrontadores da besta.

- Tsubaki! – gritou a mãe desesperada.

..........................................................................................................A caverna estava num completo silêncio. O príncipe Sesshoumaru descansava majestosamente. Jakén ressonava como Noboru. Enquanto isso, Rin tinha um sono perturbado. Em seus sonhos imagens desconexas de sua infância castigavam sua hora do sono. As imagens projetadas machucavam-na. Elas mostravam sua mãe, seu pai e seu irmão sendo mortos. Mas, o pesadelo culminou em sua própria morte. Ela corria desesperadamente, pois os lobos estavam a poucos passos de pega-la. A sua frente ela via uma “miragem” de Sesshoumaru. O lindo lord que ela, inocentemente, havia tentado ajudar mais cedo. Ela não conseguia falar, mas a sua mente gritava por ele. Nem sabia seu nome, mas seus pensamentos gritavam por ele assim mesmo. Infelizmente, tropeçou. Fechou os olhos e esperou a morte. Foi aí que de sobressalto acordou. Um grito abafado foi emitido. Lágrimas escorriam em seu rosto. Uma dor rasgava seu coração.

Olhou a sua volta: todos dormiam. Todos, exceto pelo dai-youkai que a fitava com seus olhos dourados.

- Você está bem? – ele perguntou. – Você se contorceu durante todo o tempo em que esteve dormindo.

- Ah, sim estou. – mentiu. – Obrigada por se preocupar.

                O youkai com pele de marfim se aproximou da garota. Delicadamente, aproximou a mão do rosto da exterminadora e limpou as lágrimas dela. Ela ficou com as bochechas vermelhas. Ele olhou para ela tão carinhosamente que a garota não aguentou: abraçou o youkai com força e começou a chorar descontroladamente.

- Eu... Eu... Foi terrível! Terrível! – sua voz saia abafada e baixa. O seu rosto estava enterrado no kimono de Sesshoumaru. – Eu... Morri.

Sesshoumaru entendeu. Ela havia sonhado com a sua morte. Ela havia sonhado com o mesmo dia em que ele sacou a Tenseiga e salvou a menina. “Tenseiga, me fazendo salvar humanos por aí...” Lembrava-se de sua fala no momento. Desde aquele dia ela nunca mais que se desprender dele.

- Mas, o senhor estava lá. O senhor me salvou. Eu sou tão grata, tão grata. – a menina chorava como criança.

Ele nada falou. Ela se assustou:

- Youki! E está vindo do vilarejo. – pegou suas armas e correu. Sesshoumaru foi atrás dela.

                Ela chegou ao vilarejo e se assustou com a cena: tudo estava destruído. Não parecia o mesmo vilarejo que ela visitou umas horas antes.

- O que aconteceu... – ela não precisou completar a pergunta. Um youkai com pele escamada surgiu. Ele deu um sorriso irônico.

- Finalmente você apareceu. Rin, não é? Queria tanto te ver. Pena que você chegou tarde demais e não conseguiu salvar aquela sua amiguinha. Mas, eu consegui chamar sua atenção. Sua cabeça vai ser um prêmio perfeito para a minha coleção.

- Tsubaki-chan! – ela olhou para a garota morta ao lado do youkai. O desespero começou a tomar conta dela. Gritou com força e com loucura:

- Você me dá nojo! Nojo! Se queria a minha cabeça, por que não foi atrás de mim? Você é repugnante! – ela avançou com fúria.

                Mas, ela estava com problemas. A tristeza e o medo que sentia pela morte de sua recente amiga a deixava desconcertada. Não conseguia pensar num plano de ataque. Sua visão estava embaçada, seus pensamentos estavam turvos. Ela só sabia golpear. Nem se defender conseguia. Isso foi a gota d’água. O youkai bateu com sua mão grande e forte na exterminadora e ela caiu no chão desacordada.

- Fácil, fácil não foi? Não entendo o porquê da fama dela. Deveria saber que não passavam de mentiras. E você, Sesshoumaru? Um dai-youkai tão poderoso aguentando uma humana dessas. – falou o youkai. Claro que conhecia Sesshoumaru. Ele era famoso por sua força e frieza. E depois mais ainda por ter participado na derrota do Naraku. – Oh... Não vai me dizer que você e essa humana estão juntos? Cadê sua frieza, youkai? Parece que seu coração amoleceu mesmo. – ele era sarcástico.

- Não diga bobagens. – foram as palavras proferidas por Sesshoumaru. Ele sacou a Bakusaiga.

                O lord golpeava o youkai que parecia ter certo tipo de resistência. O youkai era teimoso. Queria a todo custo derrotar Sesshoumaru. O youkai de pele escamada era movido pela inveja. Inveja de sua força e de sua habilidade. A luta estava equilibrada, porém Sesshoumaru já estava ficando entediado. Decidiu acabar com ele logo. Antes que pudesse transferir o ataque final o youkai urrou. Era a exterminadora Rin que lhe havia dado um golpe certeiro por trás. Ela havia recobrado a consciência e vingaria a morte de Tsubaki. Dito e feito! O youkai caiu mortalmente ferido e só então o dai-youkai de cabelos brancos pode ver Rin. A testa dela sangrava devido ao impacto da pancada. A garota correu desesperada atrás da criança morta. Chorou absurdamente. “Que pesadelo...” Pensava. A sensação que sentia era de que uma espada com a lâmina mais fina estivesse perfurando seu coração. Sua respiração era pesada. Ela soluçava. Na menina morta caiam lágrimas e o sangue da testa de Rin. Sentia tanto a morte de um ser tão novo. Esse poderia ter sido seu destino. Tsubaki deveria ter a mesma idade que ela quando fora morta pelos lobos. “Por quê? Tão jovem?” Se questionava. Afagou uma última vez os cabelos da menina e então saiu em direção à caverna.

                Sua alma estava inquieta. A morte da criança Tsubaki foi culpa dela? O youkai falou: Mas, eu consegui chamar sua atenção. Chamar a atenção dela transformando Tsubaki em tão jovem vítima. Então era culpa dela! Afastou aqueles pensamentos. Iria se martirizar a vida inteira. Não podia. “Não, Rin! Você não pode se deixar abalar. Você tem que seguir viagem e acabar com esse cretino que está comandando esses ataques.” Era essa a sua motivação. Não podia falhar agora. Não podia ser fraca.

                Sesshoumaru estava preocupado. Ultimamente, esses sentimentos humanos como preocupação, medo, tristeza estavam atormentando o dai-youkai. Ele se sentia fraco. Como ele poderia estar se rendendo a esse tipo de coisa? Era imperdoável. Mesmo com essa repulsa em relação aos sentimentos continuava preocupado. Nunca vira Rin tão calada, tão triste, tão desanimada. Ela sofria. Sua testa sangrava, mas mais ainda sangrava sua alma. Sesshoumaru entendia que ela sofria com isso, mas não sabia como proceder.

                O silêncio era absoluto exceto pelo cricrilar dos grilos. A menina parou e rasgou um pedaço da manga de seu kimono. Enxugou o sangue que teimava em cair por seu rosto juvenil. Pela primeira vez desde a saída do vilarejo a menina se pronunciou:

- É, acho que eu vou precisar de um daqueles remédios que Noboru faz com ervas. Estou sempre me machucando. Sou tão desastrada... – o comentário deveria ser engraçado, mas faltava humor em sua fala.

                Seguiram os dois, o youkai e a exterminadora, calados em direção à caverna. Tão quietos como as estrelas.