Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 78
- With you (Último capítulo).


Notas iniciais do capítulo

Último capitulo antes do epilogo, prepara. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/386259/chapter/78


3 MESES DEPOIS...

— Finalmente a senhorita conseguiu uma folga. - Ironizou Hayley, enquanto Elena sentava-se a mesa.
— Não é exatamente uma folga, é um tempo para um almoço. - Corrigiu fingindo seriedade. - O desfile é semana que vem e eu estou uma pilha de trabalho.
O garçom aproximou-se para anotar seus pedidos e saiu em seguida.
Sua sorte era ter feito todos os desenhos e conceitos do show quando estava na Jamaica, caso contrário, esse desfile só poderia acontecer em mais três meses.
— Tem que encontrar um tempo maior pra relaxar. Ou melhor, uma pessoa pra relaxar. - Insinuou maliciosamente.
Elena elevou a sobrancelha.
— Está falando do Kai, não é? - Nem era preciso adivinhar.
— E de quem mais seria? Quando vai aceitá-lo, heim? Já é um milagre o cara ter entendido que você precisava de um tempo pra pensar se ficaria com ele ou não. E pior, está constantemente do seu lado esperando. Não sei que prova maior de amor você precisa. - Disse em um tom de advertência.
— Já falei pra ele que assim que os preparativos do desfile ficasse pronto eu daria a minha resposta. Até lá eu ele não teremos mais nada, foi só um beijo e pronto. - Relembrou, já cansada daquele assunto. Estava imundada de trabalho para preocupar-se com mais um problema. - Não vou ficar de luto pra sempre se é o que está pensando. Mas tenho direito a ter esse tempo e sofrer, não acha?
— Não, não acho. - Respondeu sem hesitar. - Mas chega de discutirmos isso, não é? - Optou por mudar de assunto e Elena agradeceu mentalmente. - Vicky ligou e disse que chega da Europa um dia antes da coletiva de imprensa. A viagem com o namorado novo parece que rendeu muito. - Ambas riram em uníssono.
O assunto continuou decepcionando Hayley por não ter conseguido chegar onde planejou. Estava ajudando Kai a tentar conquistá-la e as perspectivas não pareciam muito claras ainda. Apesar de melhores a cada dia. Apesar de difícil, Elena se conformava em seu tempo.
Só esperava que até a coletiva de imprensa, o progresso fosse milagroso. Pois Kai planejava pedi-la em namoro aquele dia.
—-x--
O toque do celular, somado as barulheiras do local público e caixa de sons anunciando vôos não pareciam a melhor receita para conseguir pegar no sono. Surpreendentemente a poltrona do local não o atrapalhava para relaxar.
Atendeu os suplícios do aparelho, um tanto sonolento.
— Quem é? - Esqueceu de checar o identificador.
— Sou eu. - Ela riu por sua voz um tanto abafada. Poderia imaginar a expressão de cansaço dele.
— Oi Rayna. - Reconheceu mais pela risada do que a voz. - Como estão as coisas? Já tudo pronto?
Foi contra ela ir primeiro para arrumar todas as coisas, mas como a entrevista dela era uma semana antes da sua e ele ainda tinha coisas que resolver em MIAMI, aceitou. Rayna também havia sido convocada para uma entrevista de teste na mesma universidade que Douglas lhe recomendou.
Ela já havia começado a trabalhar há dois dias.
Como Houston era uma cidade com um caro custo de vida, resolveram que dividiriam um apartamento juntos, na qual nesse momento ela estava arrumando-o para sua chegada.
Damon sabia onde isso iria chegar. Não estava pronto ainda, mas tinha que forçar a si mesmo a estar. Nos três anos em que esteve claro em mente que esperaria Elena, ou que iria até ela, manteve-se fiel em todos os sentidos de sua promessa. Afastou-se de Rayna por um tempo depois de sua tentativa em beijá-lo. Até que não suportando o clima pesado, tiveram uma séria conversa e lhe contou sobre a mulher que estava em sua vida.
Quando decidiu aceitar a proposta do Texas, ela em seguida veio lhe contar que também fora chamada e tiveram uma conversa completa após alguns anos. Desde então, as coisas pareciam estar encaixando-se. Não havia acontecido nada além de apenas dois beijos, não muito intensos. Mas sabia que não demoraria muito tempo que viessem outros e coisas além.
O estranho era não estar feliz com algo assim. Seguir em frente. Por que parecia tão errado?
Evitou esses pensamentos nos últimos meses, mas agora prestes a embarcar era impossível não tê-los. Quando Douglas lhe perguntou se aceitaria, pediu uns dias pra pensar. E logo que teve seu tempo sozinho, procurou por Elena na internet, algo que forçou a si mesmo a não fazer por muito tempo e foi bem sucedido por várias vezes. Diziam as informações que ela era agora voluntária da UNICEF e que estava fazendo trabalhos de caridade pelo mundo.
Ler aquele artigo, ao mesmo tempo que o fez ficar mais orgulhoso, também o fez sentir que talvez Elena realmente havia encontrado seu lugar, se tornado uma outra pessoa. Muito melhor do que ele, quem sabe até mais madura. Sentia-se ainda em transição. Não seria capaz de fazê-la feliz. Ela provavelmente iria embora quando percebesse e ele, iria sofrer.
Ao menos queria ter a coragem de encará-la, ir até lá e cumprir sua promessa de ao menos encontrá-la, mesmo que fosse para dizer: Eu não posso fazer isso. Mas não seria iludir alguém ainda mais?
De qualquer forma não havia tempo, seu voo foi anunciado pela última vez e repetiu os procedimentos para conseguir entrar naquele avião. Não julgava-se feliz, repetiu para si mesmo o lema '' Não se pode ter tudo'' incontáveis vezes até a aeronave decolar.
—-x---
Revirou as araras, comparando com as fotografias que a mulher a sua frente pendurava. Elevava a peça ao alto, presa em um cabide, sentia sua maciez no tecido.
Refletia. Para não mostrar arrogância, virava-se para os dois exclusivos amigos, também da área e para a assistente, explicando o conceito da peça e colhendo opiniões. Por agora eram só elogios. Julgou se era um bom sinal ou não, afinal queria sinceridade e não bajuladores. Mas como distinguir os que estavam ao seu lado? A autoconfiança teria de bastar até as próximas horas.
Estavam no estúdio há mais de seis horas dando a última checagem e a última prova de roupa antes do grande dia. Ainda sim, a confiança parecia faltar.
— Sei que está nervosa. - Lana, sua assistente lhe trouxe um copo de água com açúcar.
Tomou todo o conteúdo para si sem nem perguntar o que era. Odiava água com açúcar e não entendia a razão para tal mistura, mas não havia tempo para reclamar de nada. Precisava poupar-se de mais nervosismo.
— Ao menos até agora, tá tudo dando certo. - Apesar do estresse. Pensou ela.
O ambiente em volta não ajudava muito. Modelos correndo de lá para cá, maquiadores, cabeleireiros, equipe de fotografia. A ideia de fazer uma sessão de fotos com as roupas antes do desfile pareceu boa quando lhe disseram, mas agora era o bastante para arrepender-se.
Sem falar nas costureiras dando os últimos toques em suas manequins, tudo apressadamente. O estúdio era alugado e tinham hora para desmontar tudo.
— Eu já organizei tudo e vai da tempo. - Garantiu a mulher de cabelos ruivos e olhos verdes, um tanto mais alta que Elena. Parecia mais uma de suas modelos do que sua assistente. - Quer repassar a agenda? Para se distrair. - Soltou sua última tentativa do dia para manter os nervos da chefe minimamente na linha.
— Solta. - Disse, enquanto olhava ao redor em procura da máquina de café.
Caminhou até o outro lado da sua sala, e Lana a seguiu repetindo em voz alta os compromissos até a próxima semana.
— Hoje: última prova e sessão de fotos, o que estamos fazendo agora. Depois disso você tem um jantar com os organizadores do desfile e sua patrocinadora. - Quando esse dia vai acabar? Elena perguntava-se. Ingeriu o café como se fosse água. - Depois disso estará livre. Amanhã também, é seu dia de folga pela primeira vez em meses. - Disse sorrindo e a chefe suspirou em alivio. - Então depois de amanhã, logo após seu almoço tem uma coletiva de imprensa para falar sobre a coleção e de noite, você embarca para Paris... Onde. - Fez uma pausa, assistindo o riso de Elena pela primeira vez no dia. - Onde no dia seguinte a sua chegada, é o grande dia. Finalmente.
— Finalmente digo eu. - Repetiu sem acreditar. - Engraçado que falta tão pouco tempo e ao mesmo tempo uma eternidade.
Lana afagou seus ombros em apoio
— Sabe que não tem o que se preocupar.
Sua voz saiu sincera, ainda sim Elena não pareceu convencida.
— Não sei. - Soou desconfiada. - Vai saber o que pode acontecer até lá.
—--x---
— Mas como assim adiar? - Perguntou em choque para a secretária um tanto desentendida a sua frente.
— Ele teve um problema familiar. - Gaguejou um pouco. - Mas disse que amanhã na primeira hora atenderá o senhor com muito prazer.
Ótimo. Pensou Damon em sarcasmo. A entrevista de sua vida e o homem que o atenderia nem ao menos estava para atendê-lo. Meses esperando para aquele dia, para aquela contratação e terá de esperar mais um dia.
— Tem certeza que amanhã ele estará aqui? - Fez um esforço para não parecer grosseiro demais, afinal era um problema familiar.
— Ele garantiu. Antes mesmo do almoço se quiser aparecer, estará aqui para vê-lo. - Explicou, regressando a postura formal de secretária. - O senhor tem hora marcada, não tem o que se preocupar.
Antes que Damon pudesse questioná-la sobre algo mais, uma voz atrás de si, adentrou ao escritório, o interrompendo.
— Oi docinho. Falei pra você que vinha. - Disse o homem que chegava, para a secretária. Antes que ambos pudessem falar algo mais, olharam-se em suas próprias direções. O sobressalto de ambos foi imediato. - Damon. - Ele sorriu surpreso.
—Marcel!- Assim que o seu próprio choque também passou, Damon fez o mesmo e o cumprimentou com um abraço. - Eu não acredito. O que faz aqui? - Separaram-se, ainda naquela mistura de inesperado com felicidade.
— Vim convidar a Tiana para almoçar comigo. - Referiu-se a secretária, que também os olhava com certo impacto por se conhecerem.
— E você? Em Houston? Aqui no campos da Universidade ainda. E a Elena como está?
A expressão do outro murchou-se sem saber o que falar. Mais uma lembrança de seu fracasso. Tentou disfarçar o incomodo de sua reação e fugir daquele assunto, não podia pensar nisso naquele momento.
— É uma longa história. - Desconversou. - Bom, pelo visto você tem um almoço e eu não quero atrapalhar. - Optou por essa saída ao lembrar-se da razão de Marcel está em sua frente.
— Ah, não se preocupe. - Tiana interviu, virando em direção de Marcel em seguida. - O chefe faltou hoje, tenho que ficar e almoçar aqui mesmo. - Disse, com uma ideia surgindo em seguida. - Mas por que não vão os dois? São amigos, né estão se reencontrando? Assim o senhor Salvatore conhece o campus melhor, a entrevista já ficou pra amanhã mesmo. O que acham?
Pela expressão de Marcel, pareceu obvio para Damon que o mesmo havia gostado da ideia. Não tinha como negar agora, se fingisse um compromisso seria muito obvia sua mentira. Afinal, quem marca algo importante no mesmo horário de uma entrevista de emprego?
Deu riso forçado e assentiu.
— Por mim tudo bem. - Soltou o que sabia que seria sua última mentira do dia.
Apesar de não querer, precisava desabafar.
—--x---
— Entrevista de emprego é? - Adentraram a lanchonete ao ar livre do campus.
Sem prestar muita atenção, Damon continuava olhando ao redor do lugar. Se julgava o da Flórida como um dos maiores e mais bem estruturados que poderia existir, aquele lhe parecia o dobro.
Sem muito tempo para mais observações, sentaram-se a mesa com a pergunta solta de Marcel ainda sem resposta.
— Sim. - Confirmou rapidamente, antes que o garçom viesse a mesa para anotar o que iriam pedir. Pediram uma salada leve, comida de garotas qualquer um diria. Mas o que significava que ambos estavam apressados e precisavam acabar o prato o mais rápido possível. - Estava trabalhando na Flórida. Até que me recomendaram pra cá, hoje era a minha entrevista mas o chefe acabou não aparecendo. Não tem nem cinco dias direito que estou aqui, o apartamento que to morando é bem perto na verdade. - Soltou uma leve risada pela ironia da ocasião. Coisas que só aconteciam consigo. - E você o que faz aqui? Saiu da Califórnia?
Marcel negou rapidamente com a cabeça.
— Continuo na Califórnia, estou como professor substituto em uma das áreas de direito. Vou ficar aqui só por um mês, vou embora semana que vem na verdade. - Era uma pena, Damon pensou. Um amigo não faria mal ali, caso fosse contratado. - Acabei vindo parar aqui por recomendação também, assim como você. - Houve uma curta pausa para a chegada dos pratos, mastigaram as primeiras garfadas em silêncio, até Marcel voltar a falar. - E a Elena, como está? - Sorriu esperando o mesmo dele, mas assim que não viu o esperado seu riso diminuiu aos poucos. - Não me diga. - Adivinhou desanimado. Damon mantinha a mesma expressão.
— Nem sempre amor é suficiente, tinha muito amor e ainda tem mas... Não sustenta, são coisas complicadas demais no caminho. - Nem ele mesmo tinha ideia do que estava falando, só precisava dar uma desculpa qualquer.
E ainda tinha Rayna, que nesse momento deveria estar em uma dessas salas trabalhando e ansiando para que um dia tomasse uma atitude. Mas isso não havia razão para falar. Achou que desmontaria para Marcel em razão de ter a companhia de alguém conhecido para desabafar, mas não. A necessidade estava mais contida do que imaginou que estaria.
Talvez não estivesse tão desesperado como achou que estava.
— Sinto muito, de verdade. Eu realmente não esperaria isso, ao menos não tão cedo. - Marcel parecia mais descrente do que o normal para Damon. Afinal, relacionamentos terminavam o tempo todo. Para que o motivo de tanto pasmo?
— E por que? - Inquiriu confuso.
— Não é obvio? - Falou como se fosse a resposta mais simples do mundo. - Vocês pareciam tão certos de tudo, dispostos a enfrentar o mundo e quase enfrentaram. Eu lembro de pensar que não importava o quanto de problemas vocês passassem juntos quando tudo aquilo acabasse, nada poderia ser pior do que aquele. Já estavam blindados pro que é que fosse acontecer depois. - Damon perdeu-se em pensamentos. Também havia pensado daquela maneira. Superestimou demasiadamente a sua força. - Vou te contar uma coisa. - Marcel continuou a fala interrompendo o trabalho de sua mente. - Caso eu não tivesse precisando tanto do dinheiro na época teria ajudado vocês de graça, pela história mesmo. Vocês não estavam vivendo um capricho e eu via isso. Dava pena aceitar aquele dinheiro, ainda mais vendo o sacrifício que a coitada da Elena tava fazendo pra me pagar.
— Como? - Esforçou-se para não gritar. Duvidando de seus próprios ouvidos ou da memória do homem a sua frente. Havia mesmo escutado aquilo? - Elena não te pagava, era a Rose quem fazia isso. Com um dinheiro que eu e ela tínhamos investido juntos.
Achou que estaria o corrigindo, mas ele não parecia em contentamento com sua resposta.
— Não. A Elena me pagava. - Colocou certeza em sua fala. - A gente colocou nos documentos que o dinheiro vinha da Rose porque ela tinha medo que o pai tentasse a sabotar ou algo assim. Mas ela pagava tudo. - Lembrava-se perfeitamente. - E ainda tinha que usar as roupas da Rose, não queria gastar um centavo com ela. É uma menina forte, eu admito.
Não é possível. Elevou as mãos até o rosto, apertando contra si até deixar a marca de seus dedos pela face. Quis gritar, mas não podia. Na verdade, fez. Podia sim. Tinha esse direito e estava cansado de sempre se controlar, ao menos uma vez merecia ter um momento como aquele. Com a raiva acumulada de si mesmo, saltou o punho em direção a mesa em um soco que elevou os talheres. Os olhares do local se voltaram para si em susto.
— Perdão. - Disse alto para que todos ouvissem, ainda frustrado.
Com certo medo de perguntar o que houve, Marcel calou-se esperando o mesmo se acalmar. Que agora parecia entrar em um estado paralelo. Fitando um ponto qualquer da mesa e deixando o corpo vagar. Como um bote salva vidas, seu telefone tocou.
— Alô. - Atendeu um tanto afobado. Era um dia de sorte. '' Estamos precisando de você na sala''. - Já estou indo. - Respondeu sem hesitar, já retirando a carteira de seu bolso e deixando sua parte sobre a mesa. Calmamente, levantou-se ainda observando o rapaz em estado de quase hipnose. - Olha Damon eu tenho que ir. - Avisou, velando por cada palavra que dizia. Poderia ser delicada demais. - Eu não sei o que aconteceu entre vocês e nem sabia que você não fazia ideia disso ou que era algo tão importante, só acho que talvez possa ter um motivo pra gente ter se encontrado e você ter descoberto. - Olhou em volta, onde os poucos presentes ali se mantinham atentos aos dois. - Bom, eu tenho que ir agora. Foi um prazer. - E saiu de sua vista tão rápido quanto entrou.
Repensou o que ouviu em letra por letra. Não podia acreditar que era capaz de ser amado assim, logo ele. Mas também era capaz de corresponder tão intensamente quanto, caso contrário não teria estado com ela e a iludido como a iludiu. Mas a diferença era justamente a qual Marcel ressaltou: Elena era forte, ele não.
Mas quando estavam juntos, em perigo, sentiu-se tão cheio e contagiado pela força dela. Onde foi parar nesses últimos anos? Ela levou consigo ou ela era essa força? Era seu complemento. Sentia-se ainda em transição por isso, pois não havia o resto sem ela. Por isso não sentia-se pronto, mas agora estava claro. Só estaria completamente quando estivesse onde deveria estar e com quem queria estar.
Imaginou se com ela seria assim. O que será que estava faltando para ela completar esse caminho, mas que só ele tinha que suprir? De qualquer forma, ele tinha esse pedaço. Assim como ela tinha o outro e o que precisava.
Não poderia viver sem isso.
Imitou Marcel, levantando-se enquanto abria a carteira e retirando sua parte. Nenhum dos dois havia acabado a refeição. Correu por todo aquele campos até achar a saída, como um criminoso fugindo da prisão. Os olhares para aquela excentricidade sua não o importavam, nada mais importava além do que o foco que manteve.
Correu, correu, correu mais. Até encontrar o carro.
Frenético enquanto dirigia, sorriu em meio a adrenalina. Estava vivo outra vez. Estava vivendo. Ligou para o aeroporto, ainda com a mão ao volante. Leis de trânsito não existiam agora. Em duas horas teria um que adentrar em um avião, na qual o tempo só o permitiu passar no singelo apartamento que havia acabado de alugar para viver com Rayna e recolher algumas de suas roupas. Apenas as mais importantes, o resto teria de ser deixado. Nada agora era mais importante do que concertar seus erros. 
Ao fechar da mala, apanhou o telefone enviando uma curta mensagem para a companheira de quarto.
'' Estou voltando para Nova Iorque. Não pertenço aqui, não posso fazer isso, é mentir pra mim mesmo, e espero que me entenda. Se for me ligar, atenderei e explicarei o que você quiser. Mas apenas AMANHÃ.
Espero que um dia me perdoe.
Seja feliz, Damon''.
—--x---

Já deveria ter imaginado que planos as vezes para nada servia, além de fazer o destino rir de você. Ao meio do voo, um problema técnico ocorreu e tiveram de pousar na Georgia, adiando a viagem para o dia seguinte.
Bufou irritado pelo aeroporto pensando se valeria a pena soltar sua indignação contra os funcionários da companhia. Concluiu que não, já que vários passageiros faziam o mesmo e recebiam em troca a mesma resposta.
'' Amanhã as dez horas da manhã terá um novo disponível''
O jeito fora passar a noite em alguma pousada próxima.
Perto a hora de dormir lembrou-se de Rayna. Discou seu número por três vezes, sendo ignorado em todas. Na última, uma mensagem veio em seguida:
'' Me esquece, não quero explicações''.
Deu um suspiro sôfrego ao ler. Não queria que as coisas fossem daquela maneira.
Resumo de toda a anedota do avião adiado: Chegou em Nova Iorque, um dia após o planejado, perto com o relógio batendo ao meio dia.
— O trânsito tá difícil hoje. - Comentou o taxista sobre o engarrafamento. Já estavam parados a mais tempo do que o usual.
Como em toda situações fora de seu controle, Damon começou a sentir a ansiedade batendo ao seu corpo. A sensação do peito contraindo-se junto as mãos suando não o enganava. Era o nervosismo.
— Senhor será que não tem nenhum atalho não? - Esforçou-se para não parecer estressado.
O taxista de imediato riu
— Atalho? Em Nova Iorque? - Gargalhou mais alto. - O senhor realmente deve ter vindo de muito longe.
—--x----
Uma hora. Pensou em fúria. Uma hora no maldito táxi, na qual o motorista fez a questão de colocar em uma estação de rádio péssima e cantarolar de maneira desafinada.
Tocou a companhia, cansado como se tivesse voltado de uma maratona.
Assim que a porta abriu, os olhos do outro lado o encarou com certo susto.
— Damon? - Tessa por pouco não perdeu a fala. Após segundos atônita, sorriu. - Que surpresa. - O trouxe para um abraço correspondido.
— Oi Tessa, tudo bom? - Era inesperado encontrá-la ali, já que há dois anos não morava mais com eles.
Ainda um tanto eufórica pelo certo baque, deu espaço para ele entrar.
— Sua mãe está na cozinha. Vou chamá-la. - Disse saindo de sua vista.
Deixou sua mala em um canto perto da porta.
O apartamento não havia mudado quase nada, reparou ao olhar em volta. Exceto talvez pelo sofá ou a televisão. Mas ainda sim parecia com um apelo mais aconchegante do que da última vez, que era um apartamento onde universitários bagunceiros dividiam.
Sabia quem dava essa energia. Ela. Grace. A energia de uma mãe sempre muda a atmosfera.
Em complemento a seus pensamentos, o corpo da mulher atravessou o cômodo. Tessa a trazia pela mão, como se ela estivesse fraca demais para andar sozinha. No primeiro momento preocupou-se, até ver que ela tinha lágrimas nos olhos e chorava pela emoção de vê-lo.
Três anos apenas de telefone faziam isso.
Damon riu aproximando-se dela.
— Desse jeito eu vou pensar que não está feliz em me ver. - Tentou soltar uma brincadeira enquanto ia abraçá-la. O corpo de Grace prendeu-se ao seu com toda pressa que teve de dar um passo para trás e se equilibrar. - Devia teria voltado antes. - Ironizou de novo.
— Eu não sei o que falar. - Ela disse com a voz presa. - Devia ter ligado, eu estou uma bagunça. Teria colocado uma roupa melhor - Passou a mão pelos cabelos tentando arrumá-los.
— Para com isso. É só o seu filho rebelde, não é nada demais. - Beijou-lhe na testa, a tranquilizando. Olhou em volta mais uma vez, em procura de outra pessoa. - E o Stefan?
Grace enxugou suas lágrimas e tossiu para que a voz saísse.
— Está no trabalho. - Tossiu de novo. - Sorte sua que hoje era minha folga senão, não teria ninguém aqui.
— Sendo assim teria que ir atrás da Elena direto.
A mãe franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Como assim? Você veio atrás dela? - Achou ter ouvido errado.
— É tão chocante assim que eu cumpra uma promessa? - Não entendeu a razão pela surpresa da mãe em saber que havia desistido. - Acho que agora eu só preciso tomar um banho, comer alguma coisa e procurá-la. Acho que ainda lembro onde fica o apartamento do John Gilbert. Ela continua morando lá?
Grace dirigiu o olhar preocupado para Tessa, que correspondeu com certa aflição. Pela reação um tanto incomoda e silenciosa das duas, Damon fechou os olhos e suspirou alto para prevenir de enfurecer. Qualquer coisa que aconteceu, não deveria ser bom.
— O que foi dessa vez? - Esforçou-se para não parecer bravo.
Tessa balançou as mãos em agonia.
— É que... - Gaguejou. - A Elena vai pra Paris daqui a pouco, vai começar uma turnê pela Europa para a coleção dela.
— O QUE? - Ele berrou em desespero. Droga, virou o corpo em torno, procurando algo para chutar. Ao não encontrar nada, apertou seus cabelos com a mãos. - Onde ela está agora? No aeroporto?
Grace olhou no relógio.
— A essa hora deve tá terminando a coletiva de imprensa lá no Hilton. - O encarou com pena. - Assim que acabar ela vai pegar o avião.
Não. Não. Não. Pensou. Não iria perdê-la de novo. Isso não era mais uma possibilidade. Teria que manter a calma se quisesse pensar em algo com cuidado.
— A coletiva ainda não acabou, talvez dê tempo de você chegar lá. - Tessa sugeriu esperançosa.
Mas não recebeu o mesmo entusiamos dele
— O transito lá fora tá um caos. Só pra chegar aqui demorei uma hora. - Disse ofegante, andava para lá e para cá pensando em algo. - Não dá pra ligarmos pra ela? Pra alguém da equipe dela?
— Não dá. - Grace negou. - Eu tentei ligar pra desejar boa sorte e ninguém atendeu. É uma coletiva, não é permitido celulares.
Damon bateu o pé no chão, forte. Tessa continuou focada em sua mente.
— Sabe dirigir moto?- Perguntou.
Damon franziu a testa, confuso.
— Sei. - Estranhou a pergunta.
— Pega sua carteira de motorista. - Pediu, enquanto a própria abria sua bolsa.
Damon, ainda um tanto perdido por onde ela queria chegar, tateou os bolsos achando o documento dentro da carteira, no bolso da jaqueta. Tessa lhe entregou uma chave e um par de documentos em seguida.
— São os documentos da minha moto. Uma vermelha e preta que tá no estacionamento. Com ela dá pra chegar mais rápido, caso alguma viatura vá atrás de você por estar correndo.
Em esperança, Damon sorriu aliviado.
— Mas... - Parou. Ao repensar em um detalhe. - É uma coletiva de imprensa, e se não me deixarem entrar. Vai precisar de credencial.
Tessa não se abalou e riu dele
— Esqueceu que eu sou jornalista. - Quando a conheceu ela ainda estava na faculdade. Voltou-se para a bolsa mais uma vez, apanhando sua credencial. - Elena me chamou para cobrir a coletiva, mas a minha revista não mostrou muito interesse em moda. - Explicou. Damona apanhou o crachá sem ao menos esperar que ela lhe oferecesse. - Mas eu mantive por precauç...
— Obrigado. - Disse em pressa.
Antes que ela pudesse terminar de falar, Damon deixou um beijo na testa de Isobel. Apanhou sua mala, prendendo-a nas costas em forma de mochila.
Bateu a porta, saindo correndo como se o mundo estivesse acabando. 

'' SENÃO FOR VOLTAR DEIXA A MOTO NO ESTACIONAMENTO DO HOTEL QUE EU BUSCO'' 

Só deu tempo de ouvir Tessa gritando da porta enquanto ele descias as escadas. Nem para elevador tinha paciência. Ou tempo. 
—--x---
ALGUMAS HORAS ANTES.

Elena sentiu as bochechas dormentes de tanto sorrir em pousar para aquelas diversas câmeras. Não era lunática em contá-las.
O salão do hotel fora grande para comportar todos. A sua frente, várias cadeiras na qual fotógrafos, câmeras e jornalistas dividiam espaço. Provavelmente mais de cinquenta representantes de revistas estavam, Denise, Vicky, Hayley e Kai também, mas só para assistir. Em uma espécie de palco, muito pequeno em altura, uma mesa enorme se encontrava. Onde ali estaria sentada ela, Lana, seu pai, sua mãe e uma top model Jamaicana que seria a principal modelo de sua coleção.
Surpreendentemente não estava nervosa. Ansiava apenas para que aquilo se encerra-se e pudesse colocar seus pés em Paris, por fim.
— Boa tarde a todos. - Lana começou a falar no microfone, após todos sentarem-se. - Muito obrigada por comparecerem. A coletiva irá durar por trinta e cinco minutos, contados. Cada repórter escolhido terá direito a uma pergunta apenas. - Explicava um tanto fria, para poder intimidar, Lana sabia como a imprensa poderia ser dura caso não colocassem limites. - É preciso avisar que primeiro só será permitido questões sobre a coleção e o profissional da senhorita Gilbert. Perguntas pessoais, só poderão ser feitas ao final da coletiva e após uma avaliação. Caso ela deseje ou não responder. Espero que tenham entendido. - Elena assentiu positivamente para a assistente como uma espécie de parabéns. A assistente havia saído melhor do que o planejado, desde que a contratou. - Primeira pergunta, alguém. - Várias mãos se levantaram. - Lana olhou em volta, achando melhor começar pelo representante da Vougue na primeira fileira. - O senhor de gravata roxa, ali na frente.
O barulho foi cessando-se para ouvi-lo.
— Senhorita Gilbert muito boa tarde. É um prazer, a senhorita está linda. - Começou um tanto charmoso. Elena revirou os olhos pela atitude. - Nós da Vougue queríamos saber mais sobre o conceito da sua coleção.
Ao menos havia feito uma boa pergunta, pensou Elena apanhando o microfone.
— Muito boa tarde a todos. - Desejou educadamente. - Obrigada por estarem aqui, primeiramente. - Em uma breve pausa, escolheu melhor suas palavras. - O conceito dessa coleção seriam vários. Trata-se sobre a realidade do dia-a-dia, sobre mulheres comuns, sobre a simplicidade. Na moda estamos acostumados a ver roupas que são feitas para mulheres altas, esbeltas, com o corpo perfeito. Esta coleção trata-se de vestir bem todas as mulheres. Baixas, altas, magras, cheias, curvilíneas. Teremos representantes assim como modelos, de todos os tipos. É pra mostrar que a beleza pode ser feita para todas.
— Próxima pergunta. - Lana voltou a falar e escolheu o próximo jornalista.
— E de onde surgiu a inspiração para isso? - Ele foi direto. Sem galantear como o primeiro.
— A inspiração tem duas fases na verdade. Eu lembro que há anos atrás quando eu criei meu blog eu queria abordar esse tema, mostrar como se vestir bem com muito e com pouco. - Puxou memórias antigas suas. Mystic Falls. Sorriu. - Enquanto eu estava fora, eu trabalhei por um tempo em uma loja de roupa. Lembro de ver mulheres chegando nesses lugares, vendo peças que eram lindas na manequim, nas revistas e que na realidade era muito diferente. Pois eram roupas feitas para aquele tipo de corpo. Muitas vezes levavam só por levar. - Sentia que estava falando muito, mas era preciso. Devia isso a seu passado e também a quem lhe ajudou nisso. - Ai a gente nessa hora pensa, né. Vendedores normalmente servem pra vender e não pra auxiliar por que não entendem de moda. A pessoa leva uma roupa e entra em um lugar sem total noção do que fica bom na pele dela, das cores que combinam com ela. Isso mexe com autoestima feminina. Por isso todas as lojas que vendemos essa coleção terão estudantes de moda como estagiários para auxiliar as compradoras, foi um acordo que fizemos. - Interrompeu essa parte de sua fala para procurar por Denise. A mesma estava em um canto, junto ao restante de seus amigos sorrindo orgulhosa. - A segunda parte dessa inspiração veio do meu trabalho voluntário na Jamaica. Onde eu conheci incríveis mulheres, com as mais diversas histórias sobre autoestima e sobre a convivência com o padrão de beleza. Muitas dos meus desenhos foram inspirados na Jamaica inclusive e em toda cultura, tanto da Africa como latina.
Encerrou, vendo certo impacto das pessoas com suas respostas. Provavelmente deveriam ter julgado que se tratava de mais uma socialite, sem conteúdo arriscando em um projeto novo para atrair mídia, dinheiro. Sem um conceito profundo por trás, além de seu privilégio por ser rica e famosa.
Lana escolheu o próximo que iria perguntá-la.
— Elena, tem alguma resposta para aqueles que a chamaram de privilegiada por lançar uma coleção, sem nunca ter estudado moda ou estagiado. Coisas comuns que tem que ter pra poder chegar onde você está.
— Perdão senhor, mas essa pergunta não será respondida - Lana quis intervir, pela maldade na pergunta do homem. Claramente querendo insinuar coisas e deixá-la desconfortável.
Por baixo da mesa, Elena apertou a mão da assistente.
— Está tudo bem, Lana. - Disse tranquilizando a todos. - Não vejo problema em responder o senhor Enzo. - Típico dele. Pena que Damon não estava mais ali para lhe dar uma surra como naquele dia. Milagre ter ido de paparazzi para jornalista. - Eu quero dizer que eu reconheço sim que sou uma privilegiada. - Todos a encararam com desentendimento. Seus pais pensaram em pará-la, mas Lana os impediu. - Sei que tenho muitos privilégios, mas talento não tem lugar. Pode vim de qualquer lado, por isso esperem a coleção sair, avaliem e ai sim respondam se eu mereço ou não os privilégios que tenho.
—--x----
ATUALMENTE.

Ao invés de adentrar a um hotel, pela sua aparência parecia que estava adentrando em um hosital. Qualquer um julgaria que estava passando mal. A respiração alta, os olhos casados, o nervosismo que poderia ser facilmente confundido com uma hipotermia.
Aproximou-se do balcão da recepção. Queria correr, mas talvez nem força tinha mais. No caminho para lá, por pouco não causou dois acidentes. Seu coração agora batia tão rápido que talvez deixasse surdo quem aproxima-se o peito para ouvi-lo.
— Boa tarde. - A mulher o recebeu com um olhar um tanto estranho para o homem suado, que parecia debilitado.
— Boa tarde. A coletiva de imprensa que está acontecendo aqui. É em que salão? - Não julgou a possibilidade de já ter encerrado, chegou até mais rápido do que imaginou.
A mulher o olhou de cima a abaixo parando em sua mala nas costas.
— Meu equipamento de reportagem. - Mentiu ao perceber a expressão dela.
— Tem credencial?
A retirou do bolso da jaqueta. Aquele agora era seu amuleto que carregava sua vida.
— Estou substituindo a jornalista convidada. Ela está doente. - A mulher checou em um computador a frente. Tessa. Realmente estava com o nome na lista.
— Muito bem. - Assentiu ainda encarando a tela. Voltou o olhar para ele em seguida. - Fica no fim do próximo saguão ao lado. Chegou um pouco tarde, faltam dez minutos para acabar.
Não pertencia a etiqueta daquele lugar correr e o que definitivamente não precisava era ser parado por algum segurança. Ainda sim, caminhou com certa pressa e estirou a credencial para um segurança parado na porta que a abriu em seguida para que ele adentrasse.
Encarou sentindo a insegurança vir. Não planejou nada. Não planejou o que falar, como falar e nem como agir. Mas mesmo se tivesse, perderia a fala ao encará-la. Parou. Preso no encantamento e na saudade. Meu deus, ela estava linda. Estava mais linda do que lembrava.
Não aproximou-se. Continuou onde estava, perto da porta e longe demais do palco. A viu por um telão que estava atrás das cadeiras onde ela repousava. A voz de John soava ao microfone, ele falava sobre a infância de Elena e sobre seu interesse por moda desde jovem. Mas Damon não ouvia nada além dela. O salão era um tanto grande demais para que notassem que a porta foi aberta e que mais alguém havia chegado. Quem estava tirando fotos continuava tirando, quem a filmava continuava filmando e quem anotava os dizeres das palavras dos entrevistados continuava a fazer o mesmo.
A presença de um novo integrante foi despercebida.
O que foi bom para ajudar a acalmar seus nervos. Não sentia mais as suas mãos. Passou um pano desses de bolso em seu rosto para enxugar do suor que sentia em sua testa. Pela câmera do celular constatou o cansaço de seus olhos, assustando-se. Como estava quase que escondido atrás de um bebedouro, usou para seu bem e sugou o máximo de água que achou possível para poder hidratar-se. Ainda afastado do restante dos repórteres e consequentemente de Elena, tinha uma mesa com pequenas bolachas de sal para servirem-se a vontade. Aproveitou-se para engolir três delas, antes de pensar no que fazer.
Provavelmente ela seria escoltada para fora assim que a última pergunta fosse feita. Duvidou que teria tempo chamá-la. Já que os seguranças ali presentes não permitiriam ninguém que não fosse conhecido da própria aproximasse. E bem, para eles era um desconhecido mesmo.
— Senhorita Gilbert, recentemente você deu uma entrevista para Cover Girl onde perguntaram sobre sua vida amorosa. Perguntaram se já tinha se apaixonado, você respondeu que uma vez apenas e que não tinha esperanças de encontrar mais ninguém. - Atentado a pergunta, Damon aproximou um pouco para ouvir melhor, andando quase que para trás, de maneira que seu rosto ficasse de costas para o palco. - Quero saber sobre isso, quanto tempo ainda pretende ficar solteira?
Apesar de desconfortável, Elena autorizou a questão.
— O que eu disse ainda é válido. Eu tinha alguém, não deu certo. Mas ainda há sentimentos e não seria justo começar algo sentindo-se assim por outro. - Arrependeu-se um tanto de ter sido tão sincera em sua última entrevista. Uma tentativa desesperada de que talvez Damon visse e lhe desse uma explicação, mesmo que não fosse desistir de continuar seu caminho sem ela. Mas agora se viesse a mentir estaria se contradizendo e não desejava mais ser questionada sobre o mesmo assunto. - O que importa agora pra mim é o foco da minha coleção.
Perto da primeira fileira de jornalistas, Hayley apertou a mão de Kai em solidariedade.
— Eu sinto muito. - Ela sussurrou.
Ele abaixou os olhos, tristemente.
— Eu já deveria saber.
Chegando a rodada das últimas cinco perguntas, Lana já cansada olhou em volta mais uma vez agradecendo que aquilo logo iria acabar e que Paris seria a grande recompensa. A maioria já havia conseguido o que desejava por isso poucas mãos se davam o trabalho de levantar. Uma um tanto ao fundo destacou-se ao sacudir-se. Estava atrás de um câmera, por isso não era possível ver seu rosto, apenas uma parte dos cabelos escuros.
Vendo a deixa perfeita para agir, Damon seguiu o primeiro impulso que passou por sua mente. Só precisava que ela o visse, nada além disso. Ignorou o medo das câmeras, por saber que deveria ter televisões de todo mundo ali. Não importava mais. Não tinha vergonha e nem mais incertezas.
— Você na penúltima fileira, no canto esquerdo. - A voz da mulher o referiu. Era agora.
Respirou fundo. Ainda escondido atrás da câmera.
— Eu queria saber, se por um acaso esse homem ainda tem chances na sua vida. - Perguntou, saindo de seu esconderijo em seguida.
De imediato, Elena elevou suas mãos até a boca ao ter a visão perfeita de seu passado, bem ali. Olhou para seus pais, que paralisados não tiveram reação inicial que não fosse a paralisia do corpo pelo choque. Kai apesar de nunca o ter visto pode adivinhar de quem se tratava pela maneira afoita como Vicky e Hayley olharam uma para a outra atônitas.
Seus olhares se cruzaram e qualquer dúvida que pudessem ter se ainda amavam um ao outro foi posta de lado. Mas só amor não era suficiente. Elena controlou sua reação e suas lágrimas, onde não duvidaria caso desmaiasse. Achou estar vendo um fantasma, mas era real.
Damon imaginou que veria felicidade no olhar dela, mas a mesma parecia alarmada demais até mesmo para estar contente ou raivosa ou desalento.
Suspirou alto, apanhando o microfone em pressa.
— Perdão senhores, acho que eu tive uma leve queda de pressão. Mas vou continuar não se preocupem. - Teria de explicar tamanha reação de impressionismo diante uma simples pergunta. Para aqueles jornalistas era apenas mais um colega de trabalho fazendo sua função, assim como para Lana. Voltando a pergunta, ela encarou Damon outra vez. Sério, decidido. Sem hesitação alguma, como poucas vezes viu quando se tratava do relacionamento de ambos. Ele realmente queria uma resposta. - Bom... - Sua voz saiu presa. - Eu acho que é uma possibilidade sim, caso ele queira. - Murmurou, ainda com a garganta apertada pelas águas que segurava.
— E se ele vier até você e...
— Senhor é só uma pergunta por pessoa.
— Tudo bem, Lana. - Elena a atravessou. - Continue. - Disse com os olhos brilhando.
— E se ele vier até você. - Se aproximou enquanto falava, ficando próximo a primeira fila. - E dissesse que não há mais dúvidas, nem medos. Que ele não planeja mais as coisas e agora quer viver, você o aceitaria de volta?
Cada membro da imprensa se entreolhou, sem compreensão do que poderia estar acontecendo. Os que sabiam de quem ele se tratava, simplesmente suspiraram em derrota. O sorriso na qual Elena abriu quando ele terminou a fala respondia por tudo. Fazia tempos que ela não ria daquela maneira. Aprovando ou não, era a felicidade da menina que amavam em jogo e nada poderiam fazer além de aceitar.
Elena virou-se para a assistente e disse algo em seu ouvido. Lana, apesar de estar tão no escuro como os jornalistas, não questionou.
— Vivian, da revista Star. - Chamou a mulher loira sentada na segunda fileira. - Poderia fazer sua pergunta de novo?
Um tanto perdida, a mulher respondeu:
— Quanto tempo ainda pretende ficar solteira? - 'Não to entendo mais nada' a mulher pensou, dividindo a mesma dúvida com os outros.
Em alívio, Elena finalmente soltou as duas lágrimas que prendiam em seu olhos.
— Nunca mais. - Respondeu encarando o homem que amava, que lhe sorriu de volta expondo suas lágrimas também.
Juntando as peças do quebra-cabeça, vozes altas dos reportes invadiram a sala e o silêncio foi junto.
'' É ele o cara'' Concluíram em conjunto.
— É ele, Elena? - A gritavam ao mesmo tempo.
Flashs de fotos viam na direção de ambos, todos saíram do lugar. Fotografando freneticamente os dois. Filmando e gravando a situação. Atordoados como em um tapete vermelho.
O zum zum zum ia aumentando junto com os flashs. Mas não importava para nenhum dos dois. Continuaram compartilhando de seus olhares e sorrisos quase como se estivessem sozinhos.
Sem poder aguentar mais pela sua ânsia, Damon correu até o palco, pondo-se diante dela em poucos passos. Elena levantou-se para recebê-lo.
Ficando frente a frente.
— Oi. - Ele disse, sério. Voltando ao Damon que conheceu.
Ela assumiu a mesma postura, voltando a mulher que havia se tornado.
— Oi. - Respondeu em tom igual, sendo puxada em seguida pela cintura para um beijo.
Ele agarrou com certa força para ter a certeza de que não fugiria e de que ninguém os separaria mais. Descarregaram a saudade nas línguas e prenderam-se em um próprio mundo seu, embora no mesmo segundo milhões de brilhos explodiam sobre eles como raios. Os flashs ficavam cada vez mais forte e mais perto, mas não importava.
O cabelo dela agora curto, dava mais espaço para que pudesse prender seus dedos neles. Ela teve que se contentar em agarrá-lo pela lateral do rosto, já que as costas estavam ocupadas por uma mala de viagem ou uma mochila. Não reparou direito, não pensou em nada além dele.
Despertando-os do sonho, um dedo furava a bolha em que estavam ao cutucar as costas de Elena repetitivamente. Caso fizesse uma vez, ela nem ao menos teria sentido.
Ele se separaram com certa vergonha. A imprensa, agitava-se pedindo por mais.
— Desculpa interromper. - Lana falou, um tanto desconfortável. - Mas temos um voo pra paris. Lembra?
Droga. Pensou Elena, tentando calcular uma solução.
— Você tem que pegar seu voo. - Damon adivinhou seus pensamentos. - Tem compromissos e sabe que tem que cumprir.
— Mas eu vou ficar um mês fora. - Choramingou, sem saber o que fazer.
Ele sorriu. Apanhou o rosto dela com delicadeza.
— Tem uma mala nas minhas costas, com um passaporte dentro. - Disse, trazendo a calma para ela de novo. - Eu não vou ficar mais um dia sequer sem você.
Eufórica, Elena o prendeu em seus lábios novamente. Não seria só um mês viajando pela Europa com o homem que amava, mas sim o resto da vida junto dele.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Essa cena da coletiva de imprensa foi inspirada em uma cena do filme '' Um lugar chamado notting hill'' um dos meus filmes de comédia romantica prediletos, com a jula roberts de protagonista.
Pra quem tiver a curiosidade está aqui https://www.youtube.com/watch?v=GowL3gRf8hY

Sei que não tenho respondido os comentários há muito tempo, mas tenho lido cada um e agradeço de verdade por tudo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Matemática Do Amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.