Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 73
- O passado presente.


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo não foi corrigido ainda, então perdoe os erros. Estou começando uma nova história e me ocupei em pesquisas, só hj fui perceber que fazia 3 meses. N tinha ideia, perdi completamente a noção do tempo mesmo. Enfim, boa leitura.
N corrigi ainda, lembrem-se.



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Os meses longes ajudavam em aliviar a sensação de nostalgia. Olhava seu quarto, prestes a se tornar seu antigo quarto, sem ser tomada pela emoção de uma futura saudade. Não fazia mais questionamentos para Deus em tentativa de encontrar uma razão para aqueles planos, apenas estancava as lágrimas, fundo, assim como sua indignação. Ou mantinha-se fria ou seria dilacerada.

Ainda mais dilacerada.

Ante ontem foi a última vez que o viu. Logo após consegui-la convencer de tudo aquilo. Chorou nos braços do amado por horas e ele derramava suas aguas também, por mais que disfarçasse. Sua última lembrança de Damon nesses próximos anos seria do mesmo embaçado por lágrimas de seus olhos fracos. Até adormecer e despertar com uma carta em sua cômoda.

‘’ Você irá me odiar pela manhã. E eu também me odiarei. Aproveite o dia para organizar-se e arrumar o que tem que arrumar. Eu também não entendo os planos do destino, mas assim como você espero que no futuro isso tudo tenha uma resposta e que valha a pena.

Assim que seu corpo adormeceu estava com a ideia de te ajudar e de ficarmos juntos até seu último segundo aqui, mas é inexplicável a dor que estou sentindo só de escrever isso e de ter que sair pela porta que está logo atrás de mim. Por isso julgo que seja preferível que não nos vejamos mais até a data combinada, caso contrário não irei aguentar e descumprirei o que prometi à sua mãe.

E tenho que ser um homem de palavra. Tenho que ser merecedor de você.

Como não sou o melhor comunicador, vou usar os números. Lembra-se lá atrás, há uns bons e bons meses quando você ganhou aquele campeonato com a pergunta matemática?

‘’ Eu tenho o dobro da idade que tu tinhas quando eu tinha a idade que tu tens. Quando tu tiveres a minha idade, ambos teremos noventa anos. Que idade eu tinhas quando tu nasceste? ‘’

A razão de eu ter pensado justamente nesse dia é que agora, recapitulando, desconfio que meu encantamento por ti se floresceu ali. Sua força e determinação em querer sempre superar seus desafios, por mais que negasse, era justamente o tipo de pessoa que eu queria ao meu lado e que eu queria me tornar.

Mas nesse momento, o motivo aqui é diferente. Eu realmente não sei resolver esse problema. Foi difícil concluir, mas são fatos. A questão das diferenças de idade, ao menos por agora é impossível anular de nossas margens de vida. Você está de um lado do rio e eu do outro.

Meu medo é que mesmo com esses três anos, ou com cinco, ou com dez, mesmo com todo, e qualquer, passar de tempo, a distância continue a mesma. Porque o rio que corre entre nós sempre terá a mesma largura. Não importa quanto tempo esperemos.

Estou repleto de dúvidas agora, o que me faz dar mais razão à Isobel. Não a odeie por estar certa e não a odeie por querer seu bem.

E você não se preocupe, nós nos despedimos. Antes de levantar-me beijei cada centímetro de sua pele. Incansavelmente.

Você foi a maior surpresa que a vida me trouxe, a mais deliciosa, a mais maravilhosa. Odiava essa cidade, odiava a rotina que levava, mas consegui compreender que sempre estive no lugar certo e na hora certa, esperando por alguém que nem ao menos sabia que estava destinado. Nunca poderia adivinhar tamanho presente para um azarado como eu.

Seu nome, Elena, quer dizer fogo e realmente não há melhor significado para você, que ascendeu minha vida de todas as cores possíveis. E mesmo que não possa possuir dessa dádiva, tudo ficará comigo como a mais eterna das recordações.

Seja feliz minha menina, seja feliz minha doce criança.

Eu amo você.

—-x—

Foi à última vez. Elena pensou assim que sua leitura foi executada. Foi à última lágrima. Por mais belas que aquelas linhas possam ter sido, Damon estava confuso e isso começava a confundir a própria Elena também.

Sentia-se em guerra com ele. Primeiro numa luta para que a desse uma chance, depois uma batalhe para que ele deixasse tocá-lo ou que a amasse, confrontou para que Damon não terminasse e lutou de novo até o fim para que ele acreditasse quando tudo foi por agua abaixo. Sem mencionar os duelos para libertá-lo de suas correntes e desviassem até mesmo do destino.

Agora ela também precisava de um descanso.  Só temia que suas energias voltassem antes do regresso marcado por Damon. Pois a solidão voltaria a lhe doer.

Ao menos sua mente mantinha-se ocupada. Ontem Isobel lhe comprou um celular novo, enquanto April e Jeremy lhe ajudavam com suas malas. Gostava de estar construindo essa ponte de comunicação com seus irmãos. Caminhavam em passos lentos e essa distância poderia intervir para lhe dificultarem. Ou talvez pudesse motivar saudades também.

Tinha a mesma dúvida sobre qual dos dois teria mais impacto em relação a Damon e ela.

— Tem certeza que vai levar só três malas, Elena? – Jeremy perguntava com uma expressão de estranheza.

Ele, junto a April colocavam algumas maquiagens de Elena em um pequeno nécessaire.

Quando se mudaram para Mystic Falls foi necessário que o caminhão de mudanças trouxesse as coisas da irmã.

— Vou levar o necessário e o imprescindível. – Disse, dobrando um vestido qualquer. – April, você faz um favor pra mim? – Voltou-se para a caçula, que a encarou de imediato.

— Pode falar. – Assentiu.

— Quero que todas as roupas que eu deixar você mande para a Jo, a dona da loja que eu trabalhava. Quero que ela as venda no brechó que tem.

Os irmãos não pouparam a indignação.

— Mas Elena, um dolce&gabbana sendo vendido em um brechó? – Questionou a menina.

 Até mesmo eles que não eram possuidores do entendimento para modas ou futilidades da irmã, viram erro naquela exigência.

— Parece loucura, mas eu acho que todo mundo devia ter a chance de ter roupas como essa. – Sorriu, com segurança. Também queria ajudar Jo, agora que iria embora. Ela havia sido uma ótima pessoa e a ajudou quando necessitava.

April e Jeremy continuavam sobressaltados.

— Isso é muito gentil da sua parte, Elena. – Exclamou o menino, sem querer ofendê-la com seu choque.

Elena revirou os olhos, entediada.

— É, mas não se enganem. Não é só pra ajudar que eu não vou deixar tanta coisa, também quero ter muito que comprar lá. – Proferiu naquele tom de menina mimada que não ouviam em bons meses.

 Os irmãos sorriram. Diferente ou não, Elena e sua essência verdadeira não seriam nunca capazes de irem totalmente embora.

A questão de suas joias era o que a importunava. Não iria embarcar na estrada com colares e anéis de ouro, por fim, foi decidido que Isobel enviaria por correio em breve.

Queria sim poder levar mais malas consigo, mas temendo a falta de espaço do carro optou escolher por seus quadros. O do cavalo que havia desenhado e que Damon tanto se encantou e o que ele lhe presenteou de aniversário. Suas prioridades eram essas, junto aos de seus cadernos de desenho.

Precisaria deles, precisaria de inspiração, precisaria de escapismo.

Isobel apesar de ser quem havia sugerido todo aquele sacrifício, foi contra ir embora tão rápido. Mas precisava, caso continuasse não seria capaz de ir nunca mais.

— Como assim quer ir amanhã? – A mãe conteve um grito.

Frustrada, terminou de servir seu café. Eram apenas oito da manhã, ambas ainda de pijama, e a filha já havia conseguido deixa-la daquela maneira.

Estavam na cozinha.

— Preciso. Se quiser eu cumpra o que pediu, não posso ficar nem mais um segundo aqui. - Havia terminado há minutos de ler a carta de Damon.

Não aguentaria. Todas suas células imploravam para ir atrás dele, tinha que ir-se o quanto antes.

— Mas eu preciso me organizar. Comprar sua passagem. Ver se tem voo pra amanhã. Não é assim Elena.

— Eu vou de carro. – Disse a interrompendo de prosseguir.

— De carro Elena? De carro são oito dias de viagem está louca?

— Nós viemos de carro de Nova Iorque até aqui, no dia da nossa mudança. Qual o problema agora? – Elevou a voz estressada. Não conseguia crer que estava brigando sobre algo que nem ao menos desejava ter de fazer.

Isobel não teve resposta imediata. No passado abdicou do avião para espairecer, estava tão tensa e hesitante com as incertezas naquele dia e dirigir lhe acalmava.

— Sabe muito bem que eu não vou poder ir com você, por isso preferia que fosse de avião, com segurança. Agora vai cair nessa estrada velha, por oito dias e sozinha?

Cansada de discutir sobre o que já havia decidido Elena a encarou com descaso.

— Bom, ou é assim ou eu fico. Tenho GPS no meu carro, farei as paradas necessárias em pousadas pra dormir. Igual quando viemos para cá. E caso não tenha percebido, eu quero ir sozinha, é exatamente essa a intenção. Tudo que tem acontecido tem sido um absurdo pra mim, então agradeça por eu ter aceitado colaborar. Se você for impor mais condições a essa altura, me avise agora pra que eu já possa desistir de uma vez.

A conversa teve seu fim com um fracassado ‘’ faça o que você quiser, eu desisto’’ da mãe.

Trocaram poucas palavras pelo restante do dia. Elena saiu para comprar galões de gasolina e aproveitou para plastificar a carta de Damon, sentia-se uma estupida em fazer coisas como aquela. Quando regressou, encontrou Isobel em seu quarto, estava depositando em sua bagagem algumas roupas que deixou sobre a cama.

— Te comprei um celular. – Disse a mãe, apontando para o criado mudo.

— Obrigada. – Agradeceu sem muita voz, ainda não sabia como agir perto dela.

Sem mais falas, juntou-se a ela em auxilio.

Decidiu-se ir embora às dez da manhã, assim sua primeira parada no hotel mais próximo aconteceria por volta das oito da noite, isso contabilizando uma pequena parada que faria para comer.

—-x—

Elena tentou, tentou ao máximo, mas a maioria de suas memórias e sorrisos que aquela casa lhe trouxe se referiam a ele. Tinha toda uma cronologia decorada em si. Quando descobriu que ele viria morar ali. Era irônico pensar que a ideia de viver com quem hoje ama já lhe pareceu asquerosa. Pequenos momentos de provocação até a criação de todo aquele plano com Bonnie.

O dia que ela e as meninas foram ao quarto de Damon para inspecionar. Sorriu em lembrança, desespero que se tornou engraçado no futuro. Encontrá-lo com Lexi, enquanto ela e Tyler adentravam com a mesma intenção. O jantar, o domingo na qual fingiu ter medo de raios, a amizade, Jenna chegando e seu ciúme aflorando, admitir o que sentia, uma briga na qual Isobel flagrou, o primeiro beijo, o começo, a dificuldade de Damon em se entregar. A entrega. O fim, os fins. À volta, as voltas. A descoberta.

Meu Deus. Pensava em desespero. Se mais cedo não conseguiu obter o saudosismo pelo seu quarto, naquele momento foi derrubada pela aceitação.

Mas uma memória também lhe chamava a atenção. Sua mãe. Suas brigas eram esquecidas pelo pedido de desculpas e pela confissão do passado. Demônios enterrados e demônios nascendo.

Mataria mais um hoje ou daria a luz a um novo?

— Elena, as malas já estão no carro. Vem. – Gritou Jeremy do andar de baixo.

Descobriria em poucos minutos.

Respirou fundo inalando cada parte daquele lugar, não houve tempo de fazer o mesmo quando foi expulsa na noite do baile.

Parou já em um andar final da escada em direção à sala. Sorriu envergonhada com a imagem que invadiu seu campo de visão.

Rose, Alaric, Meredith, Jo, Bonnie, Caroline, Rebekah e Matt interromperam sua conversa para encará-la assim que o barulho dos sapatos se fizeram mais presentes.

Todos de imediato levantaram-se do sofá.

Uma pequena pausa foi feita, alguém tentava encorajar-se a falar.

— Viemos ver você. – Rose tomou a iniciativa. – Sua mãe ligou ontem e queríamos nos despedir. Fizemos mal?

Em resposta, Elena a abraçou emocionada sendo correspondida, igualmente, por Rose. Não era só a casa que lhe traziam memorias, era todo o conjunto daquele lugar. Mesmo com o terrível final que se deu com Bonnie e o restante do grupo, ou a falta de intimidade com Meredith e Alaric, ou o pouco tempo de convivência com Jo. Aquelas eram pessoas que em algum momento fez valer a pena conhecer.

— Vai passar rápido. Só espero que volte um dia. – Rose sussurrou ainda com os braços enlaçados no da garota.

— Caso precise ir à Nova Iorque, terá uma amiga lá. Sabe disso. – Respondeu sinceramente.

De todos os presentes naquela sala, ela justo a ex-namorada de Damon era quem sentiria mais falta. Era quem lhe deu mais apoio e quem possuía os sentimentos mais fortes. Havia tudo a disponibilidade para que ambas se odiassem, mas Rose era alguém de boa índole e compreensão.

Entendia porque Damon a amou tanto, seu coração doía em deixa-la.

Soltaram-se com os olhos um pouco lacrimejados. Meredith e Alaric se aproximaram logo em seguida que o corpo de Rose se afastou.

— Viemos desejar boa viagem. – Alaric pronunciou-se.

— Agradeço.

Meredith foi a primeira a lhe abraçar. Um abraço rápido, não tão intenso como o de Rose. O mesmo se repetiu com Alaric. Mas nem por isso Elena foi menos honesta, eles eram amigos de Damon e os ajudaram incontáveis vezes. E nos últimos tempos, isso a incluía no pacote.

— Eu sei que nem sempre eu fui o mais legal, mas você entende não? – O homem voltou a falar.

Entendia sobre o que ele se pronunciava. Sua falta de apoio. Mas Elena não sentia que havia motivos para desculpar-se, Alaric com apoio ou sem, nunca os prejudicou.

De qualquer forma, optou por não contrariá-lo. Ao fundo, na parede avistava seu relógio. Tinha de apressar o quanto antes.

— Só vou guardar boas coisas quando entrar naquele carro senhor Saltzman. Obrigada. – Falou pausadamente, o abraçando outra vez. Nessa, com mais força.

A cada despedida memórias eram e sentimentos mútuos eram passados de um para o outro. Suas fichas não só caiam, mas despencavam sem paraquedas.  

— Boa sorte, Elena. – Meredith desejou, antes de ir-se para o lado de Rose, junto ao esposo. 

Jo também optou por ser igualmente direta. 

— Sei que a gente se conhece há pouco tempo, mas  não foi preciso muito pra ver o quanto você é especial. Muita sorte. - A estendeu o braço, a acolhendo ternamente. 

Elena a manteve firme no abraço. 

— Nem em um milhão de anos vou encontrar uma chefe como você. Compreensiva, divertida e ainda por cima usa um delineador como ninguém. - Gargalharam em uníssono, separando-se em seguida de forma terna. 

O último grupo era a parte mais delicada. Pois eram ondes os sentimentos mais estavam confundidos entre os efeitos colaterais de uma decepção e também a gratidão pelo que foi bom.

Eles vieram todos juntos, quase como quando Elena os conheceu. A expressão corporal era tímida, sem saber o que esperar. Era calma e até um tanto medrosa.

Elena também estava assim.

— Falou sério em querer só as boas memórias? – Rebekah perguntou, após uma pausa, tomando coragem pelo restante dos amigos.

Elena sorriu quase que num riso invisível. Assentiu em seguida.

— Já tento isso há algum tempo. – Cruzou os braços, após sua resposta.

— Desejamos boa sorte pra você. – Disse Matt, sincero. Novamente um falando por todos.

Foi à vez de Caroline em seguida.

— Temos orgulho de você, Elena. Do que fez, do que passou.

Elena estranhou o silêncio vindo justo de Bonnie. A mais expressiva e líder. Ela observou a garota de rabo de olho por alguns segundos, mas apesar de quieta Bonnie continuava presente.

— Quero agradecer pelo tribunal. Vocês me ajudaram, mesmo depois de tudo. Vou levar boas lembranças, juro. – Resolveu encerrar a conversa. Por mais que a vontade de alargar sua ida existisse, sabia que se fizesse isso não conseguiria ir.

Abraçou cada um deles por breves segundos, sem muita emoção.

Em seguida, todos seguiram para o lado de fora da casa, onde o carro de Elena já estava parqueado para fora da garagem em sua espera.

— Dirige com cuidado. Tem gasolina suficiente, né? – Isobel questionava no seu tom de mãe. – Comida? Dinheiro pros hotéis que você vai parar pra descansar? Não dirige com sono, não atende o celular quando tiver na estrada. – Elena pensou em interromper o falatório, mas ele era precioso demais para se fazer. Tinha certeza que ficaria sem vê-la por um tempo.

As instruções da mãe seguiam, enquanto seu pensamento ia para Damon. Não esperava que ele viesse, ele havia deixado isso em claro na carta. Mas o corpo implorava por um último beijo, um último toque. Mesmo que na última noite tivesse tido aquele presente, talvez não fosse o bastante para se satisfazer dele. Talvez nunca fosse.

Adentrou ao carro como quem estivesse indo para a condenação. As estradas seriam o corredor da morte e Nova Iorque a tal cadeira elétrica. Antes de ligar qualquer ignição, ligou o rádio. Precisa de um som amigo no caminho, precisava distrair sua mente para que ela não falasse.

Whitney Houston ‘’ I will Always love you ‘’ veio a tona. Ainda no lugar, sem que sequer girasse sua chave, relembrou o filme tema dessa canção. Uma das últimas cenas em geral, quando ela está no avião indo embora e ele a assiste no aeroporto. Ela pede para o piloto abrir a porta e corre até ele, onde um beijo é dividido em seguida.

Apesar de lindo, no fim, ela ainda sim vai embora. Mas teve o seu tchau, teve a sua última lembrança.

Sua família e ‘’amigos’’ encaravam-se constrangidos, perguntando a razão dela não ter dado partida ainda. Faria assim que sua conclusão sobre o filme encerrou-se, mas a virada de um corpo na esquina lhe interrompeu o ato.

Damon parou sua corrida, ofegante. Esperando ainda encontra-la por uma última vez.

De imediato, os olhos de Elena encheram-se por lágrimas que cegaram seu campo de visão. Apesar de vê-lo embaçado e do fato de que ele deveria estar a 50 metros de sua distância, reconhecia a silhueta sobre qualquer circunstância.

Não enxugou seus olhos. Não teve tempo. Saiu de seu carro carregando toda sua pressa em pernas. Como no filme, sabia que teria que seguir seu caminho ele também no fim do dia, mas aquele momento ainda sim deveria existir. Precisavam daquele último minuto.  Por isso Damon veio correndo e por isso agora Elena quem corria para ele.

Quando a aproximação completa aconteceu não houve tempo de um olhar ou de um abraço, os lábios se encontraram causando um impacto doloroso nos lábios de ambos. Ignoraram. A dor não importava.

Apesar da força do beijo, não tinham pressa. Deliciavam a despedida e cada pedaço dela. Damon a agarrou pelos cabelos trazendo o pequeno corpo para mais próximo do seu. Ele sorriu entre o enlace e abraçou em seguida.

Elena assimilou o cheiro do pescoço do amado, vendo o mesmo desfazer-se em seguida. A primeira vez que assistiu o guarda-costas perguntou para si mesmo se a cena em particular havia sido uma imaginação, porque não entrava em sua cabeça o fato deles não terem ficado juntos após o beijo. Mas não ficaram porque o mundo adulto tem essas coisas, apesar da cena não ter sido imaginária. Mas ali na vida real, quando se viu no carro após aquele rápido sonho, viu que seu caso era diferente.

A música acabou e a trouxe para a realidade. Girou a chave do automóvel e amaldiçoou sua mente criativa e ilusória pela fantasia que concebeu.

—--x---

A fumaça flutuou de seus lábios entreabertos para o teto do ambiente fechado, como o de uma cela. Era prisioneiro novamente, ao menos por aquela tarde. O odor do cigarro em outra situação conseguia ser revigorante, mas a falta de ar para equilibrar deixava prestes a sufoca-lo. Mas isso era exatamente o que Damon desejava. Ser sufocado.

Sua estratégia fora no limite entre a eficácia e a ridicularizada. Pediu para Alaric quando saísse trancasse toda a casa. Sabia para onde ele iria. E assim que os amigos se foram, trancou-se em seu quarto e passou a chave pelo pequeno espaço entre o fim da porta e o inicio do chão. Por muito pouco a peça não ficou presa.

 Totalmente enclausurado, as chances de voar para sua verdadeira prisão eram diminuídas. Mas a impossibilidade não o impedia de imaginar. No mundo perfeito construído em seu interior, o presente era o oposto e o futuro uma estrada de tijolos amarelos.

Queria gritar por não ser o homem corajoso e valente a ponto de desobedecer o certo e fazer o errado em ficando com Elena.

Para cada aumento de sua dor, uma tragada a mais no cigarro. O atual substituto de seu forte vício alcoólico. Já possuía duas outras caixas no criado mudo em espera para o fim do dia.

—--x----

DIAS DEPOIS

— Então... – John olhou ao redor, desconfortável. Ele tentava encontrar algo para poder dizer. – Foi bem de viagem? A estrada não deu perigos?

— Eu estou aqui não estou? Pareço bem pra você? – Elena respondeu com ironia.

Seu pé havia adentrado ao apartamento em menos de dois minutos. Surpreendeu-se em encontrar o pai em casa, ele nunca estava durante aquele horário. Exatamente por isso que Elena calculou com exatidão em que parte do dia gostaria de chegar.

Assim que se viram, não houve comprimentos além de um ‘’ oi’’ sussurrado da parte masculina.

Eles se encararam em silêncio. A filha conseguia identificar como ele estava sentindo-se: envergonhado e humilhado. Mas o fato de não conseguir captar arrependimentos, era o bastante para Elena não se comover.

John aceitou de bom grado a volta da filha quando Isobel ligou para explicar (claro que ele só atendeu a ligação de sua mãe após a décima quinta ligação).

Elena por seu lado tinha seus sentimentos paralisados. Já não havia ódio, animação ou nada que pudesse descrever. Estar em Nova York agora era como estar paralisada e estar com John intensificava seu bloqueio de emoções.

— Falei com a diretora da sua antiga escola. Eles deixaram você terminar esse último semestre lá, pode começar amanhã mesmo se quiser.

Paralelo à conversa, os empregados levavam a bagagem dela para o andar de cima.

Voltar a seu antigo colégio. Era como estar em uma eterna máquina do tempo. Talvez esse fato pudesse lhe causar certo frio na barriga.

Não queria nada daquilo que Nova York lhe deu outra vez. Mas também, ao mesmo tempo, não queria tanto de Mystic Falls, além de Damon. A verdade era que desejava mesmo seria uma nova vida.

— Onde vou dormir? – Perguntou. Queria ter um lugar para se esconder o quanto antes.

— No seu antigo quarto mesmo. As meninas vão voltar a dividir. – John referiu-se as filhas de Miranda. 

— Eu vou subir então. – Sem despedidas, fez o caminho que sempre foi tão conhecido e agora era tão estranho.

—--x----

O primeiro dia de aula é sempre marcado pelo medo do desconhecido. O que será encontrado desde o tipo de alunos, professores, local. Mas aquele primeiro dia era particular. Seu primeiro dia em um colégio na qual passou sua vida inteira. Na qual apesar de sempre pertencer, em tão pouco tempo, outra instituição fora quem realmente a marcou para valer.

O Robert E Lee High School continuava tão igual quanto no seu último primeiro dia de aula.  Era menor do que a estrutura de Mystic Falls. Afinal essa Nova Iorquina era particular e cara ao ponto de que pouquíssimos tinham o refino de pagarem.

O prédio era similar a um apartamento de três andares com um típico visual estilo Nova-iorquino nos anos 20. Era aristocrata e antiga, apesar de ter a aparência melhor do que muitas mansões recém-formadas. Era apenas um prédio somente e não chegava a ser alto o bastante para ser considerado um edifício. Os tijolos pareciam artificiais e logo no portal um aro de ferro era formado bem acima de seu corpo com uma placa de madeira importada pregada junto.

Nada além do que o nome do colégio escrito.

Apesar do seu atraso, adentrou sem dificuldades. Os funcionários já a conheciam e apesar de parecerem surpresos com sua presença, não ousaram perguntar.

Já na entrada os armários foram à primeira coisa que sua vista alcançou. Ainda na cor vinho, nunca desbotado. As paredes e o teto já eram creme, com um piso de granito cinza azulado que costumava fazer um eco gigante contra seus saltos. Hoje não era diferente.

Seguiu ao fim do pequeno corredor em direção à escada. Tudo vazio, assustador como um corredor da morte. Todos em provável aula. Seus dez minutos fora do horário explicavam esse fenômeno.

Direto para o primeiro andar.

A porta, também em vinho, era a segunda em direção a sua direita. A aula que acontecia por coincidência do maldito destino era matemática. Outra coincidência a alarmou pela amanhã quando despertou seus olhos.

Era aniversário de Damon. Hoje.

E estaria longe, recomeçando uma vida antiga.

Na pressa de expulsar a lástima e um provável choro, bateu a porta colocando um tanto de força no seu ato. Arrependeu-se em seguida. Nem ao menos houve tempo de chegar um espelho antes para saber se estava apresentável.

Tarde demais. A passagem foi liberada.

Os rostos antes entediados pelos números complicados e explicação enfadonha, transformaram-se nos de um pirata encontrando terra firme.

— Entre Elena. – A professora disse gentilmente.

Ela o fez hesitante, com a visão centrada em Vicky e Hayley. Elas sorriam, numa alegria misturada com confusão. Afinal, a amiga não havia lhes contado nada.

— Classe, como vocês sabem Elena havia ido embora do país e por isso nos deixado. Mas pelo visto ela voltou e fará esse último semestre conosco. Então sejam gentis ok?

Sem dizer mais nada, ela seguiu para a única carteira vazia do local. Felizmente longe das amigas.

Ainda bem. Agradeceu mentalmente, pois não queria ter que explicar isso durante uma aula. E conhecia-as duas o bastante para saber que iriam querer detalhes de imediato, mesmo com a própria professora em sala. 

Durante os primeiros minutos todos os olhares ainda estavam focados em si, perguntavam-se provavelmente o porquê voltou, o porquê se foi.  Observavam se havia engordado ou se seu cabelo estava oleoso. Qualquer defeito por mínimo que fosse.

Sabia que nem todos estavam felizes em vê-la e surpreendentemente não se importava. Assistiu celulares, um por um, enviarem mensagens escondidas da docente. Provavelmente avisando ao resto dos ‘’ animais’’.

Antes mesmo do intervalo, todo o zoológico saberia da novidade.

—--X----

— Você só pode estar brincando. – Vicky proferiu com indignação.

Hayley ainda parecia estar assimilando as palavras de Elena.

— Isso tudo é tão confuso. – Fora tudo que ela conseguiu dizer.

— A única coisa que eu quero é que, daqui a três anos tudo isso valha a pena. – Disse com certo desanimo.

Estavam no intervalo de almoço, em um típico refeitório escolar. Não muito diferente do de Mystic Falls. Como a própria havia adivinhado todos já sabiam de sua volta.

Passou os primeiros cinco minutos respondendo desde perguntas superficiais as inconvenientes. Não respondeu a maioria, uma nova pessoa dentro de si queria ser educada e gentil com toda em sua volta. Como estava sendo nos últimos tempos. Mas ao mesmo tempo, precisava daquele precioso tempo para desabafar com suas amigas de verdade. Por isso, tratou ao máximo todos da maneira que a antiga Elena iria tratar e espantou as aves do grande peixe do dia.

— O que pretende fazer agora? – Hayley perguntou mais calma.

Elena deu os ombros.

— Nem tenho ideia direito. – O tom pesado de tédio continuou. – Vou cumprir, não tem escolha pra mim. Talvez até tente ter alguma mínima relação com meu pai. Não quero passar três anos nisso.

— Elena se eu pudesse dar um conselho pra você nesses três anos é que tente fazer tudo que venha na sua cabeça fazer. Viajar, conhecer gente... Falar uma nova língua, qualquer coisa. Aproveita as possibilidades, você nem sabe como vai estar seus sentimentos daqui a três dias, muito menos três anos. – Aconselhou Vicky, dessa vez tentando parecer esperançosa.

Hayley parecia concordar.

Elena sorriu timidamente. Admirando a tentativa da amiga em fazê-la sentir-se melhor.

— Não vou passar três anos sofrendo, meninas. – Garantiu certa de suas palavras. – Mas ainda sim preciso sofrer por um tempo. Faz parte da recuperação também, não vai durar muito. Eu prometo.

Carinhosamente, apanhou as mãos de cada uma delas. Demonstrando a saudade que estava em seu toque, em seguida as abraçou tão forte como fez na sua despedida de Nova Iorque.

— Adoro vocês. – Sussurrou, agradecida.

—-x---

Elena não mentiu quando disse que não gostaria de passar os próximos três anos em discórdia com John, mas naquelas primeiras noites seu orgulho ainda não era tão fraco. Fazia suas refeições no quarto e passou o ultimo dia todo fora de casa. Revisitando antigos amigos.

Amanhã iria até Stefan provavelmente. Iria ver como Grace estava e talvez passar o dia com eles se não fosse incomodo.

Isso caso o mundo de fora lhe permitisse. Enquanto desempacotava suas coisas, achou o pen drive que não se lembrava de trazer. Mas ao olhar o que significava a pequena peça, viu sua importância. O vídeo que Rose lhe havia gravado sobre o fim de seu blog. Tanto tempo após aquele dia e sua coragem de postar não aconteceu.

O adeus fora mais complicado do que julgava. Despedir-se do que foi sua motivação de vida por tanto tempo não era nenhum pouco agradável. As letras www lhe deram tudo, lhe deram a independência tão jovem, não era uma menina rica que vivia de mesada. Vivia de seu dinheiro. Deram-lhe a proximidade de seu sonho de infância.

O lógico agora seria voltar sua concentração para o blog, já que estava em Nova Iorque e tecnicamente longe de problemas, voltando a sua vida de antes. Mas como já havia dito, não queria regressar. Queria uma nova.

Assim que finalmente postou o vídeo, preparou-se psicologicamente para o dia seguinte e as emoções que traria.


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