Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 71
- O julgamento.


Notas iniciais do capítulo

Meninas sei da ansiedade que estavam por esse capítulo e que tudo q vcs n querem agora é ler essas notas, mas eu preciso por favor. Hoje é o julgamento e vou adiantando que não tenho nenhum conhecimento juridico, apenas pesquisei artigos e penas, só isso. Caso alguma de vcs tenham esse tipo de conhecimento, eu peço desculpas pelos meus erros, mas saibam que dei o melhor de mim pra conseguir fazer algo decente. Peço tbm que lembrem-se que trata-se de uma ficção e convido que entrem nesse universo comigo.
Muito obrigada desde já e boa leitura.



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LEIAM A NOTA INICIAL. 

 

— Mas John, isso é terrível. – Isobel exclamou em perplexidade. Tentava equilibrar o celular junto às sacolas. Não teria ido a pé se soubesse que estariam tão pesadas. – Como isso aconteceu?

John bufou do outro lado da linha.

— Aparentemente ele bateu nela, ela fugiu e alguém, representando-a, fez a denuncia anonimamente. Agora o tal Marcel entrou em liminar para que o depoimento do Giuseppe seja anulado. – Isobel conseguia sentir o estresse de John mesmo com a distância. – O Juiz provavelmente vai aceitar, não tem nada que eu possa fazer.

John reconhecia o erro em subestimar o advogado dos adversários. Um novato com fome de sucesso, nada melhor para ele do que derrotar um dos maiores do país. O pior é que suas alternativas estavam escapando de seu raciocínio. Tyler era sua última esperança.

— Quando você vem pra cidade? – A voz de Isobel o chamou de volta para a conversa.

Demorou alguns segundos para se reorganizar.

— Acho que quarta mesmo. – Respondeu em descaso. – Tenho muito trabalho agora. Tenho que ir. Qualquer novidade eu te ligo.

— O julgamento é daqui a duas semanas, John. Espero realmente que não tenha mais novidades até lá. – Disse, desligando em seguida.

Tudo estava caminhando na direção contrária do planejado. Giuseppe era uma peça importante em sua defesa. Muito importante na verdade. Conhecia John, a confiança dele não era mais a mesma que no começo e não era mais a mesma que possuía em outros casos, quando ainda acompanhava. Mas não tinha nada a fazer além de manter suas preces, quem sabe a palavra de uma mãe convenceria o juiz.

Atravessou a rua ainda torta com o peso em suas mãos. Só que não poderia mais adiar aquilo. Já tinha tempo que prometera doações de cobertores para o asilo da cidade e só agora finalmente encontrou sua paciência para fazer, até lógico a ligação de John. De qualquer maneira, estaria mergulhada por estresses nas próximas semanas, não tinha alternativa a não ser fazer agora.

Parou, ao virar a esquina. A calçada do local, poderia dizer que estava praticamente interditada. Fechada por detergentes, baldes, espumas e vassoura, na qual uma mulher esfregava com empenho em busca de eliminar até mesmo qualquer resquício de suor e pegadas de quem ali um dia já esteve.

O muro era azul claro, já pendendo ao descascado e o portão era branco. Parecia uma casa comum, se não fosse pela placa de aviso do local logo na frente. Atravessou a rua, parando ao meio fio, pronta para perguntar para a moça se havia uma segunda entrada. Ela, tão concentrada, nem ao menos percebeu sua presença.

Mas sua voz não saiu. Apesar de a mulher estar de costas, conhecia aquela silhueta. Conhecia mesmo que houvessem mil parecidas. Não, não podia ser. Pensou. Seus pés queriam fugir para não ter que confirmar o que estava pensando.

Só que outra vez não foi possível. Era mais do que curiosidade, era o famoso caso de ver para crer.

— Elena? – Ela chamou em um pigarrear.

O vai e vem da vassoura estancou de imediato. Entretanto, continuou de costas. Não quis mover-se, pois assim como ela foi capaz de reconhecê-la de costas, Elena também distinguia sua voz mesmo saindo engasgada como agora.

Não sentia vergonha, não sentia humilhação ou nenhum sinônimo parecido. Simplesmente não queria um encontro tão cedo por não sentir que possuía estomago o bastante.

Tão fria quanto enojada, virou-se lentamente. Esperava encontrar vitória nos olhos de sua mãe, só que tudo o que tinha era surpresa. Silêncio. Os olhares fixos e analíticos uma da outra falavam por elas. Para ambas aquela não era quem costumava conhecer. Principalmente para Isobel. Aquela de uniforme de trabalho, cabelos presos em coque desarrumado, limpando uma calçada... Aquela era a menina refinada e mimada que nunca nem ao menos aprendeu a cozinhar?

Quem era aquela pessoa que nunca lhe foi apresentada?

Nada saía de sua boca, simplesmente por ainda estar fixa na ideia de que poderia ser uma miragem. Elena nunca estaria em tal posição, essa não era sua filha.

Percebendo a incapacidade de Isobel, a outra resolveu tomar a iniciativa.

— Vai ficar só olhando mesmo? – Questionou irônica. – Se for só pra ficar com essa cara sem dizer nada vou pedir que vá embora. Está me atrapalhando. – Completou, grosseiramente.

Isobel abriu e fechou a boca várias vezes, ainda atônita em procura do que dizer.

— Desculpa é que... – Parou, coçando a cabeça em sinal de nervosismo. – O que tá fazendo aqui?

Elena riu sem humor.

— Não que seja de sua conta, mas eu trabalho aqui. Venho aos domingos pra limpar. Por quê? Vai tirar isso de mim também? – Não tinha expressão em sua face.

— Não. – Sua cabeça balançou em negação. – Não quero tirar nada de você, pelo contrário. A única coisa que eu quis pra sua vida é o bem.

— Pois conseguiu. Eu to muito bem. – Manteve o sarcasmo intacto.

Desconfortável, Isobel demorou em voltar a falar.

— Há quanto tempo está trabalhando aqui?

— Não vamos ter conversa de comadre. A única coisa que estou fazendo é pagando as contas que eu agora tenho. Não faço mais que obrigação. – Disse ela, impaciente. – O que você veio fazer aqui? – Mirou as sacolas da outra.

— Vim doar cobertores. Mas não esperava te encontrar, soube que está morando com a ex- mulher dele. É verdade, Elena? – Inquiriu desgostosa.

Elena pensou em responder que isso não a interessava, mas talvez fosse bom ter a oportunidade de expor o que pensava para a mãe.

— Teria algum problema com isso? – Suas sobrancelhas elevaram-se, desafiadora.

— Elena será que você não enxerga o absurdo que a sua vida tá se tornando por conta de uma fantasia? Você tá jogando tudo ao vento por algo que é fardado ao desastre desde o início. Acorda, enquanto dá. Faz isso, pelo amor de Deus.

— Eu vou poupar seu tempo aqui. Nada do que você disser vai mudar as minhas escolhas.

— Você não entende, eu...

— Não. – A cortou, com a voz alterada. – Não pense que só porque leu meu diário que é uma autoridade pra falar do meu relacionamento. – Deu ênfase ao ‘’meu’’.— Não somos inconsequentes e o que ocorreu entre nós não foi ao acaso ou algo do dia pra noite. Damon e eu construímos o que temos e eu não vou pedir que você entenda. E sabe por quê? – O desdém intensificava cada vez mais. – Porque você não sabe o que é isso. Você não sabe o que é sentir o que eu sinto. Casou com o namorado que sua família queria que casasse, ele nunca te amou, você nunca o amou. A suas ações e as do John não me surpreendem, por que se você soubesse o que é amor de verdade. Amor de pele, amor de alma... Você não falaria que o que eu sinto é paixão adolescente e que um dia eu vá me arrepender. Você me apoiaria. Mas seria demais da minha parte pedir que você entenda algo que nunca teve e que nunca recebeu. – Envergonhada, Isobel desviou seu rosto em diferentes direções. Queria argumentar toda a leitura de sua filha sobre si, mas não só lhe faltava palavras como lhe faltava dignidade. Como negar a verdade tão exposta? Tão fria, tão nua, tão crua. Elena respirou fundo, acalmando o desejo de vomitar tudo o que pensava de uma vez. Quando se sentiu bem novamente, voltou a falar. – Quando eu fui embora, comecei a perceber muitas coisas. Muitos privilégios que eu tinha e aprendi a ver a vida de outro jeito. Ele me deu isso. Me deu essa nova maneira de pensar e eu, mesmo com toda superficialidade, também dei isso pra ele de alguma forma. Tenho aprendido tanto ultimamente com tudo que me tem acontecido e por incrível que pareça eu estou feliz. Em nenhum momento desde então eu me peguei com saudades do que eu tinha em Nova Iorque. Isso porque agora eu tenho coisas que não dá pra tirar, diferente de um carro importado ou um vestido de marca. E se ele ser condenado, eu também vou ser, pelo meu depoimento. Mas um dia a gente vai sair e no fim, vamos ganhar de qualquer maneira. Juntos ou não, pelo menos a gente conseguiu encontrar um sentimento que... – Novamente, Elena tomou ar. Seus olhos encontravam-se marejados.  – Um sentimento que as pessoas procuram a vida inteira e que muitos infelizmente não têm a oportunidade de encontrar, pessoas como você por exemplo. E lá no fim da minha vida e na dele também, tenho certeza, que a gente vai poder lembrar um do outro e do que vivemos como uma memória repleta de saudade. – Sem embaraço, Elena deixou a primeira lágrima rolar. - Mas e você? Com seu ex-casamento, permitido por lei e dentro dos padrões da sociedade, pode lembrar ele com saudade? A traição? O divórcio? A falta de tudo do começo ao fim. Pode se lembrar disso com saudade? – Perguntou, voltando ao modo irônico. – Acho que não preciso nem responder.

Não, realmente não precisava. Pensou Isobel, perdendo qualquer noção do que poderia ser dito em tamanha situação. Não havia respostas simplesmente.

Entre tantos xingamentos ao longo da vida nunca pensou que se humilharia tanto pela verdade em si. Não sentiu vontade de chorar, mas sabia que mais tarde quando ela estivesse sozinha em seu sono, as lágrimas viriam.

— Tem alguma porta que eu possa entrar? – Murmurou, sentia que não seria capaz de dizer mais nada.

Elena rolou os olhos. Medrosa, pensou.

— Na lateral, é só virar a direita no fim da rua.

Em silêncio, Isobel se foi.

—-x—

5 DIAS PARA O JULGAMENTO.

Sem aguentar mais a demora, Elena colocou mais força em sua batida. Estava impaciente, poderia dizer até mesmo que estava irritando-se.

— Senhor Saltzman, por favor. Abra. – Gritou, mais alto. Não queria causar escândalos, até porque algo assim não seria bom para ninguém naquele momento.

Ciente de que ela continuaria insistindo, Alaric abriu. Mas manteve o espaço da porta apenas o suficiente para sua cabeça, não queria que ela entrasse.

— Quer que os vizinhos te ouçam? – Disse, tentando manter a paciência controlada.

Resolveu ignorar.

— Preciso vê-lo. – Resolveu ir direto ao ponto.

— Elena eu não recomendo, ao menos não essa semana.

— Essa semana? – Repetiu aquelas palavras em desprezo. – O julgamento tá aí, eu irei vê-lo essa semana de qualquer jeito.

— Então. Que ótimo. Perfeito para esperar mais alguns dias. – Disse obvio.

Contraria, ela bateu o pé.

— Eu não quero. Preciso vê-lo, quero ajuda-lo. – Ainda poderia ser mimada, mesmo nas atuais circunstâncias.

— Elena eu vou ser bem sincero com você, ok. Ele não está bem, está estressado e se tentar alguma coisa agora irão brigar e vai ser pior. É sério.

Bancar o diplomata não irá ajudar Ric. Ela tentou-se em dizer.

— Eu entendo sua opinião. – Controlou-se para manter a calma, mas estava difícil. – Só que eu já o ajudei uma vez com isso e consegui. Posso fazer de novo e...

— ELENA A SITUAÇÃO É DIFERENTE. – Gritou, assustando-a. Silêncio, daqueles constrangedores. Onde ela lhe queria responder, mas sentia que deveria respeito. Ele por outro lado, parecia arrependido. – Desculpe. – Sussurrou, embaraçado. Recompondo-se, limpou a garganta num pigarrear.  – Elena, o que eu estou querendo dizer é que com a pressão desses dias, ele tem ficado agitado. Isso é normal, ele está em abstinência, sempre que fica nervoso ou ansioso assim é comum que a vontade de beber venha com força. Por isso ele não te procurou esses dias, ele não quer que você o veja dessa maneira e também tem medo de agir mal com você em um desses ataques. Eu sei que suas intenções são boas, que quer ajudar e que acha pode, mas é importante que a decisão dele seja acatada. Nesse momento ele se sente sem controle do próprio corpo e dos desejos, então é bom que ao menos algo que ele pediu seja atendido. Você entende? – Triste, ela assentiu. Alaric havia conseguido agora o que poucos conseguiam. Deixa-la sem resposta. Aliviado pela colaboração, ele respirou fundo. – Ótimo. Então por favor, volte pra sua casa. Na noite antes do julgamento, você vem e fica um pouco aqui com ele, ok? – Ele não esperou ela responder, já emendou outra frase. – E não se preocupe, tenho experiência com isso e sei lidar com o Damon quando ele está assim. Eu, Rose e até o Mason, já passamos por isso incontáveis vezes.

Se a ocasião fosse distinta poderia até mesmo dizer que ele estaria a desafiando. Mostrando que não tinha vivência o bastante para lidar com aquela situação. Mesmo com esse pensamento era obvio que para Alaric era apenas um argumento qualquer para convencê-la. Não falou com maldade.

— Pode avisar pra ele, pelo menos, que eu estive aqui?

Alaric assentiu.

— Não se preocupe, ele sabe. – Ele tentou tranquiliza-la. – Boa noite, Elena. – Disse antes de fechar a porta.

Frustrada, ela se foi com os pensamentos em bolhas. Entendia as razões pelas quais ele não queria que o visse naqueles dias. Não queria arrastá-la para seu lado escuro e que sempre evitava falar. Ou mostrar.

Parou para refletir sua própria ansiedade conforme a data se aproximava, notava um desejo súbito de querer fazer compras, desesperadamente. Claro, as consequências de suas compras, caso fizesse, seriam bem diferentes das consequências que ele teria se sucumbisse ao vício. Quer dizer, consequências que ELES teriam, porque não se afastaria por nenhuma probabilidade.

O tempo não cooperava. Tudo parecia andar no ritmo dos primeiros passos de um bebê. Por mais dúvidas que tivessem e por mais medo que sentissem, desejava que o tempo passasse mais rápido. O juiz deu três sessões, no máximo, para que o caso se encerrasse e o veredito anunciado. Embora, Marcel estivesse confiante que duas sessões seriam o bastante. Uma, caso a sorte colaborasse.

Parecia estar. A anulação do depoimento de Giuseppe havia sido um ponto de extrema importância. Agora ele é quem estava em denuncia para violência doméstica. Grace havia dito que não daria continuidade ao processo, apenas esperaria o julgamento de Damon passar para que a participação do esposo continuasse invalida. Elena ainda sim julgava aquela decisão como absurda, esperava que ela fosse até o fim. Mas Grace não tinha as forças precisas para isso, apenas queria sua paz. Gostaria de ter presenciado o reencontro dela com Stefan, segundo a última ligação ele parecia tão feliz em recebê-la.

Temia que Giuseppe tentasse algo contra Damon. Até o momento ele não havia aparecido ou dado razões para tal. Sua denuncia havia sido anônima e ele não tinha como saber, apesar de que provavelmente deveria desconfiar caso ainda mantivesse contato com John.

Voltou para a casa com a saudade no peito apertando fortemente. Mas precisava manter-se firme, mais que nunca. Amanhã, em seu horário de almoço, iria se encontrar com Bonnie e Rebekah para uma grande revisão antes do julgamento. Não desejava ou fazia questão de obter aquela amizade de volta, mas reconhecia o quanto necessitava da participação das duas em seu favor. Ia ter que engolir seu orgulho novamente. Mas aquilo já não era mais tão complicado, Damon e todo seu amor já haviam o consumido quase que por completo.

—--x---

DIA DO JULGAMENTO.

Como uma distração para seus nervos, Elena tentou se atentar ao céu. Estava mais cinza do que de costume, não havia resquícios de sol e ao mesmo tempo o frio estava em clima agradável. Não ventava, nenhum sopro sequer. Mais úmido que abafado, essa seria a definição correta.

Não tinha ideia sobre qual estação estavam mais, apesar de olhar para o relógio no pulso de um em um minuto, era incapaz de lê-lo. Batia os pés, esfregava os dedos, mordia as unhas, coçava a cabeça, andava de uma extremidade à outra da calçada e nenhum método parecia possuir eficácia. Tentava-se lembrar da ultima vez em que havia ficado assim tão nervosa e impaciente, mas não encontrava tal ponto de comparação. A resposta era jamais.

Seus olhos passearam pela rua novamente. Cada vez que olhava parecia que mais pessoas se aglomeravam à volta. Naquele momento a ideia de um júri popular não pareceu tão ruim, pois assim as audiências teriam de ser feitas em Richmond, onde não haveria todos aqueles fofoqueiros de cidade pequena cochichando sobre coisas que nem ao menos queria imaginar. No andar de cima da delegacia da cidade possuía um espaço improvisado que usariam para o tribunal, já que Mystic Falls não possuía um fórum. Agradecia pelo fato do local ser pequeno; o que significaria que nenhum daqueles curiosos poderia entrar.

Idiotas medíocres. Elena pensou enquanto os observava. Fazia tempo que não tinha esse tipo de pensamento sobre as pessoas, muito tempo em fato. Mas hoje a velha Elena aparecia à tona. Estavam todos ali, na praça, em frente à delegacia, pareciam reunidos para um grande evento que aguardaram por anos. Até mesmo as vestes mais elegantes denunciava para aquele povoado aquilo era como uma festa.

As moças alisaram os cabelos, retiraram o pó dos vestidos, fizeram as unhas e tentaram passar um lápis de olho sem borrar tanto. Já os homens, vestiram suas melhores camisetas polos, fizeram a barba e acabaram com o pote de gel em suas prateleiras. Riam e bebiam na parte de fora do Grill, para passar o tempo. A cada carro que estacionava um novo murmurar surgia entre eles. Queria ir até lá e despejar verdades engasgadas. A escola inteira veio em massa, mais lotado do que um dia de aula, mais lotado até mesmo que o baile de outono. Esses aproveitavam a praça enquanto se distraiam com coisas no celular e tiravam selfies. Do tipo de pessoas que poderiam ver alguém morrendo em sua frente, mas antes de ligarem para a ambulância, ligariam a câmera para filmar e ganhar público.

Só de pensar que já foi assim sua espinha arrepiava. Não conseguia mais se ver naquela posição.

Um automóvel conhecido estacionou no meio fio da delegacia. Elena, Rose, Alaric e Meredith estavam ali em frente há um pouco mais de dez minutos. Marcel já estava lá dentro com Damon.  Rebekah e Bonnie foram as primeiras a chegarem, pois segundo as duas queriam estar lá antes de toda a cidade. Ambas preferiram aguardar dentro da delegacia. 

Elena bufou alto ao reconhecer seus pais descendo do carro. Foi para o outro lado da esquina para evitar comprimentos. Mesmo com o remorso enterrado em si, não pôde deixar de fita-los. John apareceu como um lorde, na postura de um verdadeiro rei adentrando ao seu palácio. Seu pai sempre fez questão de exalar confiança ao chegar a um tribunal, segundo ele intimidaria os oponentes. Por essa razão que não se intimidou, tinha ciência de que boa porcentagem era teatro.

Já sua mãe aparentava o completo oposto do ex-cônjuge. Nervosa, olhar baixo como quase envergonhado. Provavelmente pela presença de toda a cidade na rua os observando como um zoológico. Mas Elena sentia que havia mais. Todos ali presentes, estavam do lado dela, acusavam Damon de ser um abusador, então não havia razão para tamanho abatimento em sua expressão.

Julgou que eles iriam entrar para esperarem, mas não aconteceu. Sem alternativas e também sem vontades de dar a ambos o prazer de vê-la incomodada com suas presenças, reaproximou-se do grupo. Do lado de Rose.

— Marcel disse quem seria o juiz? – Alaric estava dizendo.

— Ele só falou que é um juiz de fora. Parece que de Miami, eu acho. – Rose respondeu, sem muita certeza.

Elena torcia para que fosse verdade. Um juiz de fora, sem a opinião antiquada na qual as pessoas ao redor do estado tinham.

Antes que pudesse pronunciar aquelas palavras para o grupo, sua voz foi interrompida ao perceber John e Isobel vindo em sua direção. Ele na frente, e ela como se o seguisse obrigada.

— Senhores? Bom dia. – Ele disse alegre e educado, forçando uma formalidade. – Quanta gente, não?

Ninguém parecia disposto a responder.

— Acho que não nos conhecemos senhores. Sou Meredith, esposa do senhor Saltzman. Como vão? – Meredith sacrificou-se em falar. Afinal, ela nem ao menos havia tido contato com nenhum deles. Ao contrário de Elena e até mesmo Alaric que possuíam embates com ao menos uma das partes. Educadamente, ela estendeu a mão para ambos, que apertaram.

— Muito bem senhora. Eu sou John, pai da Elena e advogado da Isobel, é um prazer. – John sorriu cortês. Elena conteve-se em respondê-lo que não se classificasse como seu pai.  – Mas porque estão aqui fora? Soube que podia aguardar do lado de dentro sem problemas.

— É que o ar condicionado estava muito forte e decidimos ficar aqui. Mas obrigada pela consideração.

Silêncio. Dos constrangedores tipos de silêncio. Apesar de tentar manter o olhar desviado dos dois, assim como o restante do grupo, Elena conseguia sentir que os deles estavam em si. Encarou de relance, mais para passar sua postura desafiadora do que curiosidade. Havia algo diferente em Isobel, a palavra certa para defini-la não parecia mais ser insegura e sim incomoda e incerta.

— Você está bem filha? – Seu pai questionou, podia-se dizer até mesmo preocupado como um típico responsável por sua vida.

Não comovida, Elena o encarou com expressão indiferente.

— Eu vou esperar lá dentro, John. – Isobel sussurrou, sem animo.

Antes de responder algo, ele mirou a filha outra vez. Mas dessa vez aquilo chamou atenção de Elena, seu olhar parecia um pedido de desculpas. Algo do estilo ‘’ Perdão, eu te amo, mas eu vou ter que fazer isso’’.

— Eu vou com você. – Disse, saindo em seguida com ela.

Elena agradeceria em voz alto a ida de ambos e dos fato de que ficaria sem vê-los por alguns minutos que fosse, mas para a contrariedade de seu pensamento, a aproximação de um oficial lhe mostrou outros planos.

— Está na hora. – Ele avisou, em voz alta, em certa distância. – Podem entrar, por favor, e me sigam.

—--x—

O nervosismo se esvaiu de seu corpo assim que o viu. Sentado em uma cadeira de réu, bem a frente do salão, com um advogado ao lado. Seria uma cena deplorável caso prestasse atenção na situação, mas não conseguia. Não agora, quase uma semana sem vê-lo. Foi inevitável sorrir com a imagem que via. Apesar dele estar de lado para si, conseguia enxergar as pequenas orelhas nas bolsas daqueles olhos azuis profundos. Marcel havia comunicado que Damon foi buscado muito cedo por policiais e que passara as ultimas horas ali, esperando.

Devia estar com fome. Com sono.

Com a movimentação das pessoas adentrando a porta foi impossível que ele não olhasse. Não procurou mais nada, assim que a viu os outros não pareciam importar mais. Não tinha sido certo deixa-la afastada esses dias, mas era preciso. Seu estresse e grossura atingiram níveis na qual nem o próprio Damon conhecia lembrar-de de ter alcançado antes. Para estancar a vontade de beber, entregou-se ao cigarro. Os maços acalmariam seu corpo até o grande dia, que era hoje.

Acompanhava-a com os olhos enquanto Elena procurava um lugar para sentar-se. Não parecia concentrada naquela ação, pois assim como ele, ela também o olhava insensatamente. Damon mandou-lhe um sorriso de todos os mais carinhosos que tinha reservado dentro do seu corpo, devia à ela um gesto de carinho por seu afastamento.

‘’Eu te amo’’. Sussurrou o rapaz, mudo. Mas foi o suficiente para Elena entender e engrandecer ainda mais a parede dentária como uma vitrine em sua face. Queria responder de volta, queria ir até ele e depositar um beijo de boa sorte sem se importar com nenhuma presença, mas antes que sequer cogitasse a ideia uma voz soou.

— O meritíssimo senhor Oscar Lee, do departamento de Miami. – Todos de imediato ficaram de pé para a entrada do juiz.

Homem sério de descendência oriental. Aparentava rigidez e seriedade. Algo que definitivamente não combinava com Miami. Sem saber o que pensar, Elena desistiu de tentar adivinhar o futuro que daria aquela sessão.

O rapaz sentou-se em sua bancada e revirou uns papéis.

— Bom, o caso de hoje trata-se do réu Damon Lucca Salvatore. - Nem ao menos deu bom dia. - Senhor Salvatore, o senhor está sendo acusada de abuso sexual contra a estudante e menor de idade, no caso sua ex-aluna, Elena Karen Gilbert. O que condiz em violação do Artigo 227 da constituição federal, Artigo 5 do estatuto da criança e do adolescente  e Artigo 216-A do ministério da educação, com pena de três à cinco anos, não financiável e sem direito a condicional. – Um arrepio insano passou pela espinha do agora réu, junto a uma vontade súbita de desmaiar. Não, forte Damon. Forte. – Quem está representando o senhor Salvatore?

Marcel levantou-se.

— Eu, Vossa Excelência. Muito bom dia. – Cumprimentou, transparecendo uma impecável classe. – Sou Marcel Gerard de Los Angeles.

— E a senhorita Elena Gilbert? – O juiz de imediato reconheceu o outro advogado.

— John Gilbert de Nova Iorque. Muito bom dia, Vossa Excelência.

— Vossa Excelência – Marcel interviu. – Vale lembrar que o senhor John Gilbert não está aqui em representação da senhorita Elena Gilbert e sim da senhorita Isobel Flemming, mãe de Elena. E se o senhor me permitir eu poderei explicar.

O juiz franziu o cenho, pensativo.

— Seria mais plausível se o senhor Gilbert explicasse já que está em representatividade da parte requerente. Por favor, senhor Gilbert. – Oscar estendeu a mão para que o advogado prosseguisse.

— O que ocorre Vossa Excelência é que a senhorita Gilbert alega que não houve crime, já que permitiu a decorrência do relacionamento, além de alegar que tomou a iniciativa e que sua mãe estaria ciente de tudo entre ela e o senhor Salvatore. Estou representando a senhorita Flemming, pois ao contrário da filha, ela alega que em nenhum momento estava consciente ou permitindo o caso. O que me leva a afirmar uma possível manipulação ou ameaça que o réu estaria fazendo sob a senhorita Gilbert, o que é impedido por lei de acordo com o Artigo de corrupção de menores, o que aumentaria a pena do réu em mais um ano, caso seja provad...

— Protesto Vossa Excelência, o senhor Gilbert está fazendo acusações indevidas que não estão em discussão.

— De acordo. – O juiz assentiu positivamente. – Senhor Gilbert, limite-se ao caso em questão, por favor.

Aliviada, Elena agradeceu mentalmente. Seria capaz de contrariar John naquele mesmo momento caso ele prosseguisse com aquelas palavras sujas. Seus dedos já formigavam pela força que colocava ao contraí-los um ao outro, mantendo-os em forma de oração. Estava confiante em Marcel, embora fosse impossível manter o coração calmo em seu peito. Apesar de Damon estar de costas para si, era plausível que ele deveria estar sentindo-se da mesma forma.

— Antes de ouvimos quaisquer testemunhas, iremos para a conclusão do senhor Carl Johnson, de Los Angeles, que veio para presidir o inquérito. Senhor Johnson, dirija-se a cadeira de testemunhas, por favor. – Damon estava simpatizando com o tal juiz. Falava firme, forte e imponente, mas também sem ser rude ou ditador.

Carl levantou-se de seu assento e foi ao lugar ordenado. Após o fazer o juramento, preparou-se para falar.

— Vossa Excelência, nós ouvimos as testemunhas em um período de cinco dias. No primeiro foi à senhorita Elena Gilbert em favor do réu, o senhor John Gilbert e a senhorita Isobel Flemming que foram em contra. No segundo dedicamos somente ao réu, no terceiro foram à vez de Rebekah Mikaelson, Bonnie Bennett, Alaric Saltzman e Meredith Fall, todos a favor no quarto foi à vez de Rose Marie, também a favor, do senhor Giuseppe Salvatore contra e no último e quinto dia conversamos com o diretor do colégio, os dois policiais presentes no dia do flagrante do suposto crime e fomos à escola interrogar alguns alunos e professores também. – Aquela ultima parte alarmou Elena. Damon não era o professor mais querido de todos, talvez a ideia de algum discente afirmar algo por vingança não era tão incomum. – Eu gostaria primeiramente de explicar como ocorreu a descoberta da relação do senhor Salvatore com a senhorita Gilbert. Permite-me. – O juiz assentiu e Carl narrou detalhadamente os acontecimentos do baile. Impaciente, Elena batia os pés contra o chão, tremendo-os, por cada detalhe de uma história que já conhecia. Ao contrário de Damon que se contentava por estarem adiando o veredito. 

Após o fim da história, Oscar permitiu-se pronunciar algo.

— E onde está Tyler Lockwood, já que consta que ele estaria encarregado de filmar a festa. De certa forma ele estaria envolvido no caso, certo? – Ele revirou seus documentos, em procura do nome de Lockwood.

— Ao que parece o senhor Lockwood, possuí álibi, dois amigos chamados Dick Harrisson e Daniel Moore. Ambos estavam com Tyler no momento e segundo eles o amigo reclamava que sua câmera havia sumido. É necessário dizer que não interrogamos nenhum dos três, essa parte foi investigada pela escola em si, que nos deu essa resposta através de um documento. – Disse ele, enquanto entregava o papel para o juiz. Oscar o leu superficialmente.

— Eu aceito. Iremos seguir em frente. – Merda. Elena pensou. Tyler impune, como sempre.— Dê sua conclusão sobre o caso, por favor, senhor Johnson.

Carl limpou a garganta com uma rápida tossida.

— Vossa Excelência, eu analisei cada depoimento com muita precisão e cuidado, repetidamente, pois sabia que estávamos perante a um caso especial em relação aos outros de relações amorosas entre docentes com alunas menores de idade e também porque algumas coisas não faziam sentido. – De imediato, Damon e Elena se encararam em susto. – A primeira coisa me chamou atenção e faz desse caso tão diferente foi o fato de que segundo depoimentos, a senhorita Gilbert foi quem tomou a iniciativa para o inicio do relacionamento e encontrou resistência do senhor Salvatore em aceitar. Isso seria perfeitamente normal se fosse dito pelo réu como uma forma de defesa, mas na verdade foi confirmado pela senhorita Gilbert também. Os dois deporão em diferentes dias e enquanto isso ocorreu, o réu ainda estava em custódia e ambos não tiveram contato nesse meio tempo. Os depoimentos estão completamente iguais. Incluindo a afirmação de que a senhorita Flamming estaria em total concordância com o envolvimento. Só há uma brecha não ocupada nesse depoimento e para isso eu gostaria de chamar uma testemunha extra. Tenho permissão, Vossa Excelência? Eu mesmo a interrogarei e será breve. 

Todos os presentes mantiveram-se atônitos. Marcel e John pensaram em protestar, mas ambos não possuíam a noção do que aquela testemunha traria ao caso. Ajudaria qual parte? Beneficiaria quais dos dois?

— Permissão concedida. – Até mesmo o juiz parecia confuso com aquele pedido, embora tentasse não transparecer.

— Senhorita Forbes, por favor. – Seus olhos direcionaram-se a Liz, que estava sentada na primeira fileira.

— Mas que bosta. – Bonnie sussurrou raivosa, para Rebekah.

— Por quê? O que houve?

Não teria tempo de explicar, caso contrário o juiz pediria que se retirasse por atrapalhar.

— Ela sabe de alguma coisa. – Limitou-se em dizer.

— Essa é Elizabeth Forbes, Vossa Excelência. Ela é a xerife da cidade e inclusive estava presente em todas as prestações de depoimento ao meu lado. – Apresentou-a após Liz sentar-se no local onde Carl estava antes. – A razão pela qual ela está aqui é que além de xerife ela é mãe de uma das amigas de Elena e tem fatos que possam ser contundentes na investigação. – Vocês falaram alguma coisa? O que está acontecendo? Elena disse à Bonnie, muda. Em resposta Bonnie intuiu que seria melhor apenas responder um simples não. Assustar Elena era o pior a se fazer naquele momento. - Quando foi perguntado a senhorita Gilbert sobre quem de seus amigos sabiam sobre o relacionamento ela respondeu todas as testemunhas ao favor do réu, mas não mencionou Caroline Forbes que era tão amiga dela quanto Bonnie Bennett e Rebekah Mikaelson. Segundo depoimentos também dos alunos do colégio, o grupo era inseparável assim que Elena mudou-se para a cidade. – Por alguma razão, Damon não sentia o juiz muito interessado naquele relato, o que era um ponto ao seu favor. Marcel já começava a perceber que aquela não seria uma história a favor de seu cliente. – Eu perguntei a senhoritas Mikaelson e Bennett sobre o porquê Caroline, de todas, era a única sem saber. Isso, pois a senhora Forbes fora quem estranhou o fato e me deu tal informação. Em totalidade, elas afirmaram que foi um pedido de Elena por conta de Caroline ser filha da xerife e ser perigoso.

Oscar não compreendeu a razão a presença de Forbes.

— Me parece uma explicação plausível, senhor Johnson.

— Permita-me terminar, Vossa Excelência. - Não foi uma pergunta, continuou: - Segundo o depoimento das três, confirmado por colegas da escola, houve uma ruptura na amizade que continuou até os dias atuais. O motivo, também o mesmo nos depoimentos de todas, fora porque Gilbert as contou sobre seu relacionamento, que não teve aprovação das demais. Eu questionei o que elas disseram a Caroline Forbes sobre a razão de tal termino de amizade e Rebekah, sendo a primeira a depor não soube me responder. Limitou-se apenas em dizer que Bonnie havia cuidado dessa parte, o que me é estranho, pois teria de ser algo que todas pudessem respaldar caso Forbes perguntasse. Já Bonnie, ao contrário de Rebekah, conseguiu contrapor e afirmou que usou a desculpa de que ‘’ Elena estaria causando discórdia no grupo’’. E novamente a senhorita Forbes, a xerife, estando presentes nos depoimentos me contou fatos que poderia interessar ao tribunal. Por essa razão ela está sentada aqui, agora. – Com essas palavras, Oscar pareceu mais interessado no caso, o que foi o bastante para alarmar Damon. Estava prestando atenção no juiz, afinal a opinião dele seria a importante no final de tudo aquilo. Queria observar cada reação para poder esperançar sua mente. Até agora estava conseguindo. Até agora...— Senhorita Forbes, me diga o que se lembra. O comportamento de sua filha em algum momento indicou que ela estaria chateada com Gilbert? Afinal, discórdia seria uma boa razão para que Caroline não desejasse mais a amizade com Elena. Certo?

Droga. Elena e Bonnie pensaram em conjunto. Deveriam ter incluído Caroline no plano. Ou ao menos tentado.

— Sim, senhor Johnson seria um bom motivo. – Liz não parecia nervosa, pelo contrário estava muito certa de suas palavras. – Mas não era isso que estava parecendo. Minha filha ligava constantemente para Elena, deixava mensagens, pedindo desculpas, pedindo perdão por algo muito grave. Algumas vezes, durante o jantar ela até mesmo mencionou que Elena estava em briga com elas, e eu perguntei, mas ela respondia vagamente. Não dei muita atenção, pois achava que era drama adolescente, por isso essa desculpa não se encaixou para mim.

Farto, Marcel interviu antes que mais coisas fossem supostas.

— Protesto Vossa Excelência. Isso não tem relação alguma com o caso.

— Vossa Excelência, isso mostra um provável ato de falso testemunho por parte das senhoritas. É completamente válido ao caso. – Argumentou John, intervendo.

— Há probabilidade de a senhora Forbes estar confundido as datas, tudo isso ocorreu há quase um ano atrás. Não é impossível. – Marcel prosseguiu.

— Protesto aceito. – A última palavra foi dada, causando alivio em uns e frustração em outros. – Isso não possui total condescendência com o caso. Peço por favor, que a senhorita Forbes volte ao seu lugar e que o senhor Johnson termine sua conclusão caso possua mais alguma. Possuí senhor Johnson?

Decepcionado, ele negou com a cabeça.

— Não Excelência. Todos os alunos e professores confirmaram a integridade do réu e não há mais lacunas nos depoimentos de nenhuma parte.

— Então volte ao seu lugar, por favor. – Foi simples e direto. – Acho que agora podemos ouvir a primeira testemunha Quem será?

Marcel levantou-se.

— Vossa Excelência a primeira testemunha seria Giuseppe Salvatore, mas eu entrei com um pedido de anulação para o seu depoimento, pois ele está em acusação de violência contra mulher.

— Sendo assim... – Oscar olhou ao redor esperando uma resposta.

Foi à vez de John levantar-se.

— Sendo assim, Vossa Excelência eu gostaria de chamar Elena Gilbert para testemunhar, por favor.

— De acordo. Mas antes eu queria saber algo, com a ida do senhor Giuseppe Salvatore, quem seria a testemunha contra o réu? – Oscar questionou a John.

— Eu tenho uma testemunha surpresa senhor. Não está registrada. – Ele engoliu em seco aquela resposta, não queria revelar a presença de Tyler naquele momento, apenas mais tarde.

Tais palavras poderiam causar questionamentos em Elena sobre quem seria e o que John estaria planejando, mas sua mente estava ocupada demais com o que estava por vim naquele momento de agora.

Sentou-se na cadeira já ocupada antes sendo esmagada com os olhares em si. A perspectiva era diferente daquele lugar. Como assistir a apresentação oral dos alunos no colégio e chegar a sua vez de falar, um insuportável frio na barriga incapaz de ser definido.

Mas a tranquilidade veio a reinar quando o encarou olho a olho. Dessa vez estavam de frente um para o outro e ninguém poderia julgar, aquela foi à tranquilidade que necessitou para preparar a si mesma. 

Confiante, Elena fez seu juramento de prometer dizer a verdade e nada mais que a verdade sem sentir culpa por estar mentindo. Danem-se as palavras, comparado ao que estava em jogo.

— Senhorita Gilbert pode dizer seu nome completo, por favor. – John fazia as primeiras perguntas de praxe. Tão frio e preciso que nem por um momento parecia que aquela em questão era uma criação sua.

— Elena Karen Gilbert.

— Pode dizer sua idade e seu local de nascimento.

— Tenho dezessete e nasci em Nova York. Mais precisamente em Manhattan.

Apesar da aparência claramente abatida em suas olheiras, Elena conseguia manter o charme aos olhos dele, gostava dessa versão limpa que os últimos meses lhe mostraram, só odiava o fato de ser o responsável pelo cansaço que ela aparentava.

Damon mantinha sua confiança na capacidade da garota. Elena poderia fazer isso de olhos fechados, com a certeza de que ela era forte, mais do que o suficiente, para conseguir aguentar qualquer peso ou qualquer tentativa de John para derrubá-la.

Só agora, enquanto olhava-a hipnotizado por cada detalhe de sua expressão que conseguia ver o quanto sentiu saudades nesses cinco dias separados. Sua vontade era correr até os braços dela e enterrar-se neles para sempre cada vez que ela ligava e tinha de rejeitar. Seu desejo era gritar e desistir do planejado em sua cabeça quando ela batia na porta daquele apartamento, implorando para que abrisse. Trancou-se em seu quarto e passou a chave por baixo do espaço entre a porta e o chão, tudo para que não desistisse, corresse, abraçasse-a e secasse cada uma daquelas lágrimas que não mereciam estar ali.

Mas seria mais injusto fazer alguém tão jovem passar por momentos como os que passavam seus amigos.

— Em seu depoimento senhorita Gilbert, a senhorita disse que foi a primeira a apresentar interesse em manter uma relação com o réu. Quero saber suas razões. Porque se interessou pelo senhor Salvatore?

Aquela pergunta atraiu até mesmo Elena. Nunca havia parado para pensar em suas razões. Só lembrava-se de concluir o que sentia e estar apaixonada assim que admitiu. Mas por quê?

Era possível explicar um sentimento como aquele?

Fitou os olhos azuis que aguardam por sua resposta. Ela sorriu internamente, pois ainda tinha ciência do lugar onde estava. Mas foi só colocar seus sua atenção nele, para conseguir entender e obter sua resposta.

— Ele foi à primeira pessoa que me fez questionar as coisas. Vendo a vida dele, eu comecei a enxergar e me importar com outra além da minha. Foi a primeira vez que isso aconteceu, pra mim. Ele trouxe questionamento, ele trouxe dúvidas e a gente foi invadindo a zona de conforto do outro – Ela riu em lembrança. Damon lhe retribui um sorriso doce, mergulhando nas emoções que as palavras dela traziam para seu corpo. – Agora se você quer saber como ele fez isso, foi não fazendo tipo. Foi sem tentar me agradar, como eu estava acostumada que os outros fizessem. Eu sentia que o fazia evoluir, mudar e ele provocava o mesmo em mim. Damon foi o único que conseguiu isso. E eu amo, o amo tanto pela verdade que ele me apresentou sem nem ao menos tentar. – Colocou toda sua convicção em cada palavra.

Todos naquele cômodo conseguiram sentir o que propôs em passar. Damon começava-se a perguntar aos céus o que havia feito para merecer tanto. John arrependia-se de ter feito aquela questão, devida à reação até mesmo surpreendida do juiz Oscar. Isobel, ao contrário, não se surpreendia, estava no meio de um fogo cruzado na qual ela mesma se colocou sem pensar nas consequências.

Melhor ir em frente, antes que ela convença o juiz agora mesmo. Concluiu John.

— Senhorita Gilbert, vou lhe mostrar dois objetos e quero que a senhorita me diga se os reconhece, por favor. – Ele afirmou, afastando-se do centro do salão e indo para uma das extremidades.

Um policial lhe entregou dois sacos de plásticos, com algo escurecido adentro. Um de maior tamanho que o outro. Não reconheceu de imediato, apenas quando ele o expôs mais perto de seu campo de visão que conseguiu identificar do que se tratava.

Elena bufou estressada.

— Reconhece esses objetos, senhorita Gilbert? – Perguntou outra vez, reparando a infelicidade e surpresa de Elena. Ela não esperava por aquilo.

— Sim. – Assentiu, tentando manter o foco.

— E o que são? E pode explicar a razão deles estarem nesse estado, também?

Prendeu a vontade de xingá-lo, em sua garganta, mas John dificultava seu lado racional de manter-se firme.

— São meu antigo diário e meu antigo celular. – Sua voz saiu engasgada. – Estão assim porque eu os joguei na lareira.

John sorriu, ao ter conseguido o que gostaria.

— Isso mesmo, Vossa Excelência. Como diz nos depoimentos, meu e da senhorita Flamming, Elena antes de sair de casa, ela jogou ao fogo, possíveis provas de seu relacionamento. Por algo ela deveria temer. – Sugeriu John, soando como uma acusação, afinal aquilo era um crime de certa forma. – O que temia senhorita Gilbert?

Ela sentiu sua visão escurecer.

— Me foi dito que eu teria que sair da minha própria casa sem nada, nem ao menos minhas roupas. E foi o que eu fiz, mas eu não iria deixar minha intimidade na mão de ninguém. Meu diário e meu celular não se tratavam do Damon ou do que temos, se tratavam de mim acima de tudo. – Disse indignada, tentando ao máximo não gritar. 

— Ou porque talvez ali contivesse provas se sua mãe estaria ou não ciente do que acontecia entre você e o réu. Se o diário ou o celular confirmassem suas palavras, qual motivo ela teria para queimá-los tão desesperadamente, Vossa Excelência? Tudo está muito claro aqui.

— Eu já expliquei meus motivos, Vossa Excelência. – Gritou, em raiva, sendo impossível de se controlar.

— Por favor, senhorita Gilbert, acalme-se ou terei que pedir que se retire. – Oscar avisou friamente.

— Sem mais perguntas Excelência. – John proferiu satisfeito. Elena poderia sentir a felicidade em cada espaço do pai. Aquela estratégia foi sua única saída. Isobel apenas havia feito cópias da folha que precisariam para provar a Giuseppe sobre os encontros de Grace e Damon. Planejavam fazerem outras mais tarde, pois não contavam com o que Elena faria com eles.

As fotos de Giuseppe, que ele tirou para provar para Isobel, também seriam usadas como uma estratégia: Porque se incomodarem em ir para um local tão escondido, se sua mãe estava, segundo a senhorita, aprovava seu namoro? Era isso que planejava perguntar até elas serem canceladas por conta da denúncia feita contra Giuseppe.

Teria que jogar com as armas que tinha e tinha poucas.

Elena sentia-se tonta, com a vista embaçada. Sentia-se como se houvesse falhado. Havia falhado.

— Vossa Excelência posso me retirar por alguns minutos? Não estou me sentindo muito bem. – Ela levantou ofegante.

— Recesso de dez minutos. – Disse o juiz, um tanto entediado.

Exagerei. Pensou John, preocupado.

— Você está bem, minha filha? – Perguntou, com uma Isobel igualmente aflita ao seu lado.

— O que está sentindo? – Foi à vez de a mãe falar.

Elena riu sem humor perante tamanho descaro. Não disse nada, apenas saiu.

— Acho que eu vou falar com ela... – Damon sussurrou, para Marcel já pronto para se ir-se. 

O advogado o segurou pelo punho.

— Não seja louco.

— Ela não está fingindo. Tenho que vê-la. – Disse em um misto de aflição, por Elena e decisão, por suas palavras.

— Damon, se você sair atrás dela isso pode te prejudicar e até mesmo a própria Elena não vai querer. Se quiser pensar nela, pense direito.

Contra isso não havia argumentos. Calou-se e regressou ao seu lugar, repreendendo o impulso que quase tomou. Era vantajoso ter Marcel ao seu lado, para trazer consciência. Seus sentimentos estavam em uma alta carga de intensidade naquele momento para conseguir fazer isso por si só. 

Seu corpo apertava-se em contrações por culpa, raiva, aflição, tudo por ela. Damon questionava-se se era justo. Não permitiu que Elena o visitasse nos últimos dias por não querer coloca-la em uma situação tão grotesca. Mas olha o que havia feito-a passar, há poucos minutos atrás. Apesar de tudo, não era tolo o bastante para enganar a si mesmo, chegou a um ponto onde não tinha mais como fugir do que sentia. Tão forte. Tão inesperado. Tão inconsequente.

Isobel, ao contrário dele não sabia mais definir o que seu coração e mente lhe mandavam, fossem em sinais ou em vozes claras. Desde o encontro com Elena essas mensagens subliminares lhe eram mandadas e tentava ignorar. Mas agora tudo ficava mais claro; A maneira como sua filha, agora uma mulher tão diferente da que tentou ajuizar por tantos anos, parecia com mais progressos do que um dia achou possível. Elena agora tinha mais maturidade até mesmo do que a si própria.

Devia isso a Damon?

Foi ele capaz de conseguir em menos de um ano o que nem John ou ela tinham durante toda uma vida?

O peso de uma verdade tão dura traz negações antes de carrega-lo. Uma onda de arrependimentos vinha sem espaço para explicações de seus próprios atos. Não havia explicações, essa era a verdade. Lá estava sua filha, tão segura e convincente, descrevendo sentimentos na qual, como a própria Elena lhe disse, não conhecia.

John parecia distraído, com uma ligação. Provavelmente aproveitou o recesso para ligar para a esposa.

Isobel foi rápida, antes que desistisse.

— Senhor Gerard. – O chamou, em baixo som, assim que se aproximou de Marcel.

Ele e Damon surpreenderam-se por ela estar ali.

— Posso falar um minuto com o senhor a sós?

Aquilo os deixou ainda mais confusos.

— Claro. – Marcel respondeu incerto.

Andaram cinco passos de distância de Damon. Silêncio. Isobel sentiu sua voz sumir pela inquietação. Não estava totalmente certa.

— Então...  – Ele sugeriu que tomasse a iniciativa. Seria mais educado em qualquer outro momento, mas ela havia o pego de supetão com sua chamada em particular.

Faço ou não? Pensou Isobel, prestes a cair em um abismo. Ao menos era como estava por dentro.

— Me chame pra depor, quando o recesso acabar. – Disse, tão rápido como um carro da nascar. - Não vai se arrepender. Eu juro. - Não ficou para observar a reação de Marcel ou esperar uma resposta.

Apenas sentou em seu lugar, provavelmente com o mesmo sintoma de respiração falha e tontura que sua filha havia sentido anteriormente.

Sem conseguir concluir se estaria com remorso ou não pelo que fez, pôs se a rezar.

—--x---

Elena não se incomodou em secar o rosto. Ficaria com ele ensopado pela água tudo para relembrar sua pele da sensação daquelas gotas. Nunca pensou que a torneira de um banheiro de delegacia poderia lhe trazer tanto revigoramento. Mas do que adiantava? Estragou tudo

Estragou tudo mil vezes. Seu pai por alguma razão era quem era. Agora entendia aquele olhar de desculpas que John lhe deu na entrada. Queria enfraquecer seu depoimento de alguma forma. E isso ainda hoje, naquela mesma sessão.

Segurou mais suas lágrimas. Estava totalmente jogada à falta de esperanças.

Saiu do banheiro, pronta para retornar ao salão ou matadouro, como apelidou secretamente. A imaginação auto sabotava sua tentativa de positividade, criando diversas possibilidades de como ele seria condenado.

Não havia nada a se fazer além da lamentação.

Com o cansaço mental carregado, achou em primeira instância que se tratava de uma miragem de seu cérebro, a figura que avistou enquanto regressava. Parado em uma parede qualquer estava Tyler, impaciente e incapaz de se entreter com a televisão, minúscula, pendurada na parede.

Elena muito menos procurou saber o que ele assistia com tamanho tédio. Logo juntou as peças, John tinha uma testemunha surpresa.

Claro. Não era necessário ser um gênio para adivinhar.

Certificou-se de que não havia ninguém ao redor e foi até ele. Os policiais inteiros estavam no salão, no fundo morrendo de curiosidade para saberem no que aquilo daria no fim das contas. Provavelmente fizeram até aposta. Seria incomum em grande fórum aquele vazio, mas em Mystic Falls não significava que a cidade estivesse em perigo por não haver ninguém na recepção da delegacia.

— O que está fazendo aqui? – Perguntou grosseiramente.

Assustado, Tyler encarou os lados em instinto. Metade sua querendo que não fosse com ele e a outra procurando uma saída.

Engasgou.

— Hã, eu...

— Não. Nem me diga. É tão previsível que chega até ser ridículo da minha parte querer uma resposta. – Foi então que ela atentou-se as mãos dele, na qual de imediato tentou esconder. Um papel plástico com algo dentro, igual ao seu diário, seu celular e todas as provas de um inquérito jurídico. Ele tinha algo, por isso estava ali.

 - Escuta Elena, eu não estou fazendo nada além de ajudar em um caso, o que é completamente permito e recomendado por lei. E isso dizendo a verdade. O que não se pode dizer o mesmo de você. Mentindo em pleno tribunal. – Ele também estava alterado.

Elena riu, em sarcasmo.

— E quem é você pra falar em mentira. Ou não se lembra do baile? Dançou comigo, foi gentil e me aprontou aquilo e ainda vai sair sem um arranhão. Se eu sou suja e mentirosa e você é tanto quanto eu. – Apesar de sua fúria, Elena controlava seu tom de voz. Não queria que nenhum policial aparecesse. – O que ele prometeu pra você, heim? – Elevou suas sobrancelhas e Tyler lhe encarou sem entender. – Prometeu que nós ficaríamos juntos, que ainda tínhamos chance? Foi isso? – Riu novamente. – Se foi saiba que ele mentiu. Não só porque você e eu não temos a mínima chance, mas também porque ele queria me levar pra Nova Iorque de volta depois do baile. Pra nunca mais voltar. Se ele te prometeu que ficaríamos juntos, pra quê ele queria me levar então? E com tanta pressa. – Atônito Tyler não tinha palavras.

— E quem me garante que eu posso confiar em você? – Falou inseguro até mesmo de suas palavras.

Elena revirou os olhos.

— Eu não quero confiança sua Tyler. Eu não quero nada de você. Vai viver sua vida e para de tentar se envolver em uma história que não te pertence, na qual você nem deveria estar. Se na sua cabeça acha que estamos em um triangulo amoroso, está louco. Faria mais sentido o Mason está aqui ao invés de você, ele é mais relevante nisso tudo. Afinal porque está aqui? – Disse com desgosto, tanto quanto o olhava. – Se é pra vinga-lo, acho que ele está bem grandinho pra fazer isso sozinho? Se é por atenção? Acho que você já tem o suficiente. Se é pra me recuperar? Acho que você nunca nem ao menos, sequer, me teve. 

Humilhado, Tyler engoliu tudo em seco.

— Você parece que não entende que eu te amo. – Gritou impaciente.

Mas ela não se abalou, apenas refletia pena em seu rosto.

— Tyler, você é uma testemunha surpresa nesse caso. Ou seja, não está registrado. Dá tempo de sair limpo dessa. – Afirmou com uma voz carregada de tédio, desprovida de qualquer sentimento acolhedor. – Se for embora agora não vai se prejudicar. Não iria se prejudicar de qualquer jeito, já que seu pai é o prefeito dessa cidade. – Elena respirou fundo, suas próximas palavras não seriam fáceis. Ao menos para ele. – Olha, se por alguma razão você sugere que eu te troquei pelo Damon e que seu ego está ferido eu quero que pare de pensar assim. – Tomou cuidado para não soar rude. – Damon não substitui você na minha vida ou nos meus sentimentos, simplesmente porque não tinha por quem ser substituído. Esse lugar era dele e nunca foi de mais ninguém. Nem ao menos seu. Entende agora?

Em seu limite, Tyler liberou a persistente e única lágrima que insistia sair, como se beliscasse sua própria visão. Por um segundo, ela sentiu-se mal. Sabia como era amar sem ter o sentimento correspondido. Vivenciou isso com Damon, apesar da realidade hoje ser outra.

— Então que diabos eu fui pra tua vida, heim Elena? – Ele a encarou, de cima abaixo, com ódio e nojo.

— Agora, nesse momento, pra ser honesta você tá sendo um completo imbecil. Pra dizer o mínimo. Não foram poucas as coisas que você me aprontou e sabe disso. – Só de lembrar-se que por conta dele havia separado de Damon a primeira vez já lhe era razão suficiente para nem ao menos estarem tendo essa conversa. – Mas essa opinião pode mudar. – Um interesse nasceu na expressão do outro. – Você pode se tornar o homem que, apesar de tudo, me ajudou de alguma forma e se tornar uma boa lembrança. Não acho que queira ser um monstro na memória da mulher que ama, não é?

Houve uma curta pausa. Tyler teve de engolir todo seu ego para dizer aquilo. Embora soubesse onde ela estava querendo chegar, perguntou.

— E como eu faço isso?

Elena sorriu por dentro.

— Vá embora, mas vá agora. Nunca mais se meta com John ou ninguém relacionado à minha vida novamente e me entregue isso que está na sua mão e que está escondendo desde que me viu. – Resolver ser direta. Já havia perdido muito tempo com ele e logo a audiência reiniciaria. Caso ele aceitasse a esperança poderia estar do seu lado ainda.

—--x---

Elena adentrou ao salão recebendo os olhares inteiros à sua volta. Olhares, em primeira instância, aliviados e em seguida, com certa surpresa. Era como se houvesse sido substituída por outra. Nos dez minutos que ficou fora, saiu abatida e fraca para regressar com um riso solto em seu rosto.

Mas também, possuía seus motivos. Tyler entregou os documentos que naquele mesmo minuto deveriam estar no esgoto da cidade após saírem com muito trabalho pela descarga daquele mesmo banheiro de delegacia que com certeza tinha história pra contar. Assim como o próprio Tyler, as provas que trouxe não estavam em registro. Era um golpe surpresa que John estava planejando. Tyler era o único que as tinha.

— Parece melhor. – Rose concluiu, assim que ela sentou-se em seu lado.

Elena deu os ombros em descaso.

— Às vezes tudo que se precisa é lavar o rosto.

O juiz reiniciou a sessão e não tardou muito até Marcel ir ao centro do lugar.

— Vossa Excelência eu gostaria de chamar Isobel Flemming a depor. – Ele não transparecia a mesma confiança de John. Também pudera, estava incerto pela razão do pedido de Isobel. Tentou encontrar significados por trás, mas desistiu. Não havia nada que poderia ser feito a não ser encarar.

Isobel, não estava com dúvidas. Sua decisão já estava mais do que pronta e para isso precisaria de confiança caso elegesse por aquilo. Não estava feliz, não estava triste. Só poderia tirar conclusões no futuro, apenas optou por parar de pensar em si. Afinal, se tratava da vida de Elena e não da sua.

Fez o juramento e respondeu as perguntas de praxe. 

— Senhorita Flemming. Quando conheceu o réu Damon Salvatore, qual foi à primeira impressão que teve dele?

Era uma pergunta fácil de ser respondida.

— Minha primeira impressão foi de que era educado, calmo, parecia ser organizado e responsável. Digamos que até um tanto extrovertido, me causou muito muito boa impressão. – Descrevia com sinceridade, Damon havia conquistado simpatia sua desde o primeiro dia. Por isso tamanha decepção ao descobrir o que infelizmente descobriu.

— Me parece o tipo de pessoa ideal que desejamos pra nossos filhos. Mas me diga, essa impressão sobre ele se concretizou com o tempo? – Aos poucos, Marcel ganhava mais confiança.

— Sim. – Ela assentiu. – Ele não era tão extrovertido como eu achei no inicio, era sério e calado. Mas de resto, era exatamente como imaginava.

— E como era a relação que ele tinha com seus filhos? Principalmente com Elena.

Isobeu pensou um pouco nas escolhas de suas palavras. Queria ganhar tempo, o medo aos poucos a atingia de novo.

— Eles não ficaram felizes quando souberam que ele moraria na nossa casa. E com isso digo todos eles. – Ela forçou a memória, aquilo parecia ter ocorrido mil vidas atrás. – Elena não gostava de Damon, digo isso em relação ao ambiente escolar. Ele não era um professor muito simpático. A relação dos dois não era das melhores, não se sentiam confortáveis. E um dia, os flagrei brigando, no quarto dela. 

— Os flagrou em alguma situação compromissória?

Isobel negou rapidamente.

— Não. – Sua voz saiu mais baixa do que de costume. – Apenas gritando um com o outro. Elena assumiu a culpa e disse que havia exigido tratamento especial dele, na escola, em relação às matérias e Damon se recusou. Estranhei o fato pra ele estar no quarto da minha fila, mas na hora me esqueci de questionar essa parte. – Deveria ter questionado. Pensou arrependida.

— Flagrou algum outro tipo de comportamento estranho entre os dois?

Isobel estava pronta para dizer não, mas para a própria surpresa recordou de outro momento.

— Estava na igreja um dia e o padre me perguntou sobre a Elena, ela nunca tinha ido à missa antes e eu não sabia de onde ele a conhecia e, claro estranhei aquela pergunta. Surpreendentemente, ele me revelou que Elena havia ido com Damon até lá pra cancelar o casamento com essa moça, a tal de Rose. Eu fiquei chocada e desconfiei que eles tivessem algo, ou que, pelo menos alguma coisa estava acontecendo. 

Damon e Elena não se abismavam com as palavras de Isobel. Ela não estava fazendo nada que não esperavam: Apenas dizendo a verdade. Mas nesse caso, a verdade para eles era o empecilho para serem felizes.

— E estava acontecendo? Você os questionou? – Marcel voltou a fazer sua parte. Não entendia mais onde estava indo com aquelas perguntas.

— Questionei Elena. Ela disse que foi um mal entendido. Que Damon havia lhe dado uma carona, já que alguma coisa tinha acontecido com seu carro. Mas antes disso. – Ou depois também, não recordava. – Ele havia parado na igreja e ela só entrou junto pra não ficar sozinha.

Elena era ótima com desculpas. Era o provável pensamento de todos no salão.

— Quando isso aconteceu, como estava a relação dos dois?

John estava esperando que algo fosse dito para que pudesse protestar, Isobel parecia debilitada e sua voz soava cada vez mais fraca e esforçada. A mesma se auto culpava por ter perdido a seguridade do início. 

— Foi quase de um dia pro outro que as coisas melhoraram. É difícil tentar achar um momento porque tudo parecia tão natural. Eles ficavam todo domingo juntos, sozinhos, era dia de igreja e nenhum dos dois ia. Foi um tanto inevitável. – Ela respirou fundo, enquanto suas mãos tremiam. Estava na hora. Apesar de ainda ter uma parcela pequena de dúvidas, não era o suficiente. Pensou em sua filha e ter o amor dela era mais importante do que qualquer medo que sentisse naquele momento. Sabia que não era certo. - Isso segundo os dois quando me contaram.

O QUE ELA DISSE? Elena por pouco não pulou de seu assento. Olhou para Damon no mesmo minuto, tão perplexo como todos naquela sala. 

— Ai Deus. – Rebekah, segurou o grito abafando sua voz com a mão nos lábios.

Em temor, Bonnie agarrou o braço da loira com toda sua força, enquanto seus olhos se arregalavam quase que por todo seu rosto.

John teve sua reação paralisada.

Era impossível, havia ouvido errado. Tentava se convencer.

O restante, incluindo o juiz e o próprio Marcel, tentavam todos recapitular o que foi dito.

Houve uma curta pausa, até Marcel ser o primeiro a voltar para a realidade. Tinha a oportunidade de ouro e não poderia desperdiçá-la.

Atrapalhado, o advogado do réu fechou e abriu a própria boca diversas vezes na procura de algo para dizer, enquanto a incompreensão se desvairava de si mesmo.

— Deixe me entender melhor. – Gaguejou brevemente. – Quando a senhorita diz que ‘’ segundo os dois, quando lhe contaram’’, o que quer dizer?

Aflita, Elena sentiu lágrimas virem em seus olhos. Não iria suportar se aquilo não passou de um mal entendido. Isobel por mais que quisesse voltar atrás, ao ver a súplica naquele rosto que amava tanto, não pôde.

Aprontou a postura, precisava passar certeza para todos.

— Quero dizer que... Foi isso que eles me contaram, que durante esse meio tempo juntos sem ninguém. Houve uma aproximação.

Elena não conteve, libertou suas lágrimas.

— Então a senhorita sabia da relação de ambos? – Marcel não evitou a felicidade em sua voz. Estava como John ao conseguir desestabilizar a filha.

— Sim, eu estava ciente o tempo todo e dei minha aprovação. Não foi fácil, mas dei.

Em fúria, John soltou um leve soco em sua mesa.

—Eu protesto Vossa Excelência. A senhorita Flemming está mudando a versão de seu depoimento. – Gritou. Seus olhos cintilavam a expressão de um tigre pronto para um conflito.

— Negado senhor Gilbert e não grite. – Advertiu Oscar, exigindo sua autoridade. Em seguida, ele voltou-se para Isobel.  – Apesar de tudo, o senhor Gilbert tem um ponto. A senhorita está dando uma versão muito diferente de seu depoimento oficial. Vou ter que pedir que se explique, por favor.

Enquanto isso, múrmuros de felicidade eram ouvidos entre os presentes. Damon sentia-se como se houvesse sido salvo de um cativeiro após anos de tortura e sofrimento.

— Quando Giuseppe Salvatore veio até mim, dizendo que tinha fotos dos dois e que eles estavam um caso, eu fingi pra ele que não sabia. Giuseppe me pareceu um homem muito nervoso, dava medo. Por isso menti, disse pra ele que tomaria uma providência. Fiquei com as fotos e guardei na minha bolsa. – Elena olhou-a incrédula. Não fazia ideia que sua mãe também poderia ser alguém manipuladora caso fosse preciso. Até mesmo quem sabia a verdade ali poderia se sentir tentado a acreditar. – Passou um tempo e o John veio pra cidade, queria fazer uma visita surpresa. – COMO É? John pensou, enquanto apertava a mão em forma de soco, caso levantasse e soltasse sua indignação, Oscar o expulsaria do local. – Ele sempre foi alguém muito controlador e mesmo separado ainda julga ter direito sobre mim. Abriu minha bolsa, achou as fotos e me exigiu que eu contasse o que aquilo significava. Ele não gostou e me ameaçou, caso eu não fizesse o que queria. Ameaçou tirar a guarda das crianças de mim, ameaçou que seria capaz de encontrar até mesmo uma lei pra me derrubar. Eu não tenho conhecimento sobre essas coisas jurídicas e aceitei. Tive medo.

Aliviados, tanto Damon como Elena puderam pela primeira vez abrandar seus corpos após dias tão movimentados. Nem ao menos uma massagem feita por anjos poderia se comparar ao ufa que proferiram em agradecimento.

Estavam no céu. Ao contrário de John que queimava pelo fogo de sua própria ira. Mirava Isobel com uma repugnância maior do que nunca havia sentido. Estava incapacitado, não havia nada que pudesse fazer. Somente uma coisa. 

— E porque mudou de ideia, senhorita Flemming? – Marcel lembrou-se de seu papel, antes que comemorasse vitória cedo demais.

Isobel tinha uma expressão de desdém na face.

— No fim o que é certo vence o medo.

Apesar de ser um profissional, Oscar não pôde conter o sentimento de perda de tempo que lhe atravessou. Horas de viagem pra nada. Pensou.

— Senhorita Flemming apesar de tudo a senhorita sabe, que terá que responder por falso testemunho, não? – Isobel assentiu. – E o senhor também advogado Gilbert, por suspeita de ameaça.

John engoliu uma pesada saliva, sentindo como se fosse seu próprio ódio.

— Vossa Excelência, eu quero lembra-lo que eu ainda tenho uma testemunha surpresa. E essa testemunha obtém provas que pode, e conseguem contrariar o que a senhorita Flemming está dizendo. – Disse em desespero. Aquela era sua última esperança. Isobel não sabia sobre que usaria o testemunho surpresa de Tyler, queria poupá-la de estresse ou se preocupar com a parte de alguém além da sua própria. 

Oscar pensou um pouco antes de responder.

— Se é assim, por favor, policial. – Chamou um guarda qualquer. – Pode trazer essa testemunha. Onde ela está senhor Gilbert?

— Na recepção.

O guarda se foi, trazendo a mesma incerteza de novo. Dessa vez não só para Damon e quem estava ao seu lado, mas também para Isobel. Apesar do risco, por um momento viu sua filha feliz consigo novamente. John ou qualquer um que estivesse ao seu lado não eram o bastante para se arrepender.

— Mas que merda. – Bonnie falou quase que no ouvido de Rebekah. – Tenho certeza que é o Tyler. Aquele idiota já tá me irritando.

Percebendo a tranquilidade na qual Elena estava, Rose estranhou.

— Quem acha que é, heim? – Ela poderia ver a tensão de Rose, como a dos outros em igual.

Elena sorriu em ironia.

— Não importa quem eu acho. Não tem ninguém.

Rose perguntaria o que suas palavras significavam, mas a volta do guarda no salão a calou. Todos os olhos foram diretos para as costas do homem em espera que alguém entrasse. Mas isso não aconteceu.

— Vossa Excelência, não havia ninguém na recepção. Fui até o toalete e também ninguém, procurei em mais algumas salas e nada.

John começava a questionar se estava em um pesadelo.

— Mas como que não há ninguém. Tem certeza que procurou direito? – Seu tom saiu elevado e agudo. Quis xingar aquele oficial de bosta, mas não podia.

— Senhor Gilbert já disse para controlar sua voz, não irei avisar outra vez. – O próprio juiz já começava a se alterar. - Se não há ninguém, esse problema pertence ao senhor. A testemunha não está registrada, se isso foi apenas uma tentativa de sabotar o veredito, quero dizer que falhou. – Não permitiu que ele respondesse mais.

John sentou-se, aceitando a derrota. Qualquer coisa que pudesse dizer não faria nada mais além de lhe prejudicar.

Oscar bufou em descaso e colocou seus óculos de grau.

— Acho eu que não é necessário dizer mais nada. Com a afirmação da senhorita Flemming, podemos, assim, concluir que não só amigos como também a responsável pela menor estavam cientes e consentiam com a situação. Com isso, o estado da Virginia e o tribunal da cidade de Mystic declaram o réu Damon Lucca Salvatore inocente das acusações de abuso sexual contra Elena Karen Gilbert do Artigo 227 da constituição federal, Artigo 5 do estatuto da criança e do adolescente e Artigo 216-A do ministério da educação. Pra mim, pessoalmente é uma pena que as partes recorressem às falsas acusações através de ameaças e lutas de poder, quando tudo simplesmente poderia ser resolvido entre famílias, já que não houve crime em si. Espero que após o episódio ridículo de hoje todos tenham mais consciência de suas ações. 


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Notas finais do capítulo

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