Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 67
- Seria o fim?


Notas iniciais do capítulo

demorei eu sei, mas isso é porque estou escrevendo dois capítulos ao mesmo tempo. Posto o próximo amanhã mesmo. Prometo, já está quase pronto.



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O frio da estrada vazia, conseguia ser um empecilho para suas pedaladas, e ao mesmo tempo, um incentivo para que fosse mais rápida, tudo para chegar o quanto antes. Rose, por mais que quisesse levá-la, tinha seu trabalho. Além do que, Elena não queria o sentimento de que estava abusando da boa vontade da mesma. O jeito seria atravessar toda aquela estrada vazia de bicicleta para chegar a cidade vizinha e ir para o novo trabalho, aquele seria seu primeiro dia. Tinha que chegar as nove na loja, o que pedia que saísse com um pouco mais de uma hora de antecedência de ''casa''. Ciente dos perigos daquelas estradas vazias, suas vestes eram um moletom masculino e um boné, também para homens, tudo para que parecesse o máximo possível um menino. Não iria correr o risco de poder ser estuprada por algum caminhoneiro de estrada por aí. Isso não. 

        Não se dava ao luxo de observar a paisagem ou de aproveitar o ar puro, sentia-se como uma maratonista em plena prova onde o objetivo era nada além do foco. Não queria pensar em como seria ter que voltar esse mesmo caminho de noite, isso a assustava. Rose até emprestaria seu carro, mas Elena já havia sido informada que seu pai havia dado um jeito de consegui retirar sua carteira de motorista. Perguntava-se como, mas não havia tempo para isso. Agradeceu mentalmente ao chegar na cidade, permitiu-se dar uma pausa em um banco qualquer para esticar as pernas e olhar o endereço para reconfirmar em sua memória, pediu há um estranho por informação e regressou as pedaladas. A loja era bem no centro da cidade e uma cidade pequena, só possuí centro e nada mais.  

—--x---

Era realmente um brechó. Um pouco cheio demais para um brechó, lembrou-se, em seguida, do que Rose disse. Era a loja de preços mais baixos da região, o que justificava a massiva quantidade. Era compreensível que aquela mulher necessitasse de uma assistente. O lugar era grande, um tanto empoeirado, escuro e talvez até bagunçado, mas isso não era suficiente para espantar as pessoas dali. O preço das etiquetas deveriam ser realmente muito bons. A figura atrás do balcão não pareceu alterada com a sua presença, talvez não houvesse notado. Estava ocupada demais em algumas contas, pelo que Elena pôde observar. Duvidou por um segundo, se iria até ela. Mas lembrou-se de que não queria parecer atrasada, então foi.

Jo era bonita. Olhos azuis e pequenos, cabelo bem preto, pelo clara Aparências físicas muito parecidas com a sua mãe e April, mas ainda sim bem diferente delas. Vestia-se com um estilo um pouco hippie, saião, rasteira e uma camiseta cinza larga na qual ela amarrou na cintura, expondo um piercing no umbigo.

— Oi. - Elena a chamou, cuidadosamente. Esperou até a moça lhe fitar, para continuar a fala. - Você deve ser o Jo, certo? Eu sou a Elena a amiga da Rose.

Jo lhe deu um pequeno sorriso, surpreendendo-se um pouco pelo moletom tão largo da menina. Um tanto diferente da fashionista que via na televisão e que Rose a descreveu.

— Como vai Elena. É um prazer. - Apertaram-se as mãos. - Chegou cedo, fico feliz.

— Sim, cheguei pronta pra começar. - Falou convicta, nas primeiras semanas ganharia por hora e não queria perder tempo.

— Bom, no estoque eu tenho uma pilha pra etiquetar, são roupas novas que eu já lavei. Acabaram de chegar.

— Você tem um etiquetador? - Elena olhou em volta.

— Está tudo lá, fica naquela porta ao fundo. Pode ir se quiser. - Jo apontou para suas costas e Elena seguiu o indicador da mesma. - Quando terminar me avise. Sabe usar o etiquetador, não é?

— Claro. - Preferiu omitir o detalhe de ter pesquisado na internet na noite anterior.

Sem demoras, seguiu para a sala do lado aonde uma pilha de coisas que pareciam ter sido tiradas do lixo do esquadrão da moda, à esperava. Preparou-se nos últimos dias pelo que estava por vim e não sentia medo, como a mesma maratonista que desfilava por aquela estrada há poucas horas, focou-se no objetivo. E Damon era seu objetivo.

—--x---

Segura de seus passos, Elena caminhava um tanto acelerada em direção ao seu propósito. Havia engolido como um veneno de cobra todo seu orgulho para fazer aquela ligação e combinar um encontro. Jurou que nunca mais falaria com '' aquela gente'', o asco era tanto que se referia à eles assim, como '' aquela gente''. Mas não era mais o momento para rancor, perguntava-se se estava sendo egoísta em fazer o que estaria prestes a fazer. Os ignorou tanto e agora imploraria por um favor, estaria sendo igual a velha Elena de antes? Perguntou-se, sua mente logo respondeu que não. Afinal, foram eles os que erraram primeiro e erraram gravemente.

O conhecido carro estava parado na esquina combinada, Elena respirou profundamente antes de atravessar a rua. Não sabia como fazer isso, não sabia como aceitar desculpas de alguém. Era algo totalmente novo em sua vida. Se é que a pessoa quisesse pedir desculpas novamente, afinal pediu tanto e não deu ouvidos; Agora as coisas se invertiam, porque era Elena quem estaria implorando dessa vez.

Ao chegar do outro lado, não hesitou, todo aquele veneno que havia se referido já havia intoxicado seu corpo por inteiro. Não possuía mais orgulho. 

Adentrou ao carro.

Bonnie não se surpreendeu, já a tinha visto pelo retrovisor.

— Porque me chamou aqui? - Ela disse direta e um tanto grossa, não havia clima para ois e como vai.

Em sinal de nervosismo, Elena juntou as mãos para perto do corpo.

— Olha, eu entendo que... As coisas entre você, eu e o resto do pessoal acabou. - Resolveu que também seria sincera e direta com ela, caso não quisesse ajudar preferia saber logo para que agisse o quanto antes. - E eu não espero nada disso tudo, de verdade. Mas eu lembro que a sua intenção, no começo de toda essa confusão, era me ajudar e eu também lembro que você nunca quis o mal do Damon. Ao menos foi isso que me disse. Era verdade?

— Mas é claro que era. - Respondeu imediata. - Você era minha amiga e se eu fiz o que eu fiz foi pra que não acontecesse exatamente o que aconteceu.

Houve uma curta pausa. Era inútil tentar adivinhar a maneira como ela responderia à seu pedido.

— Como tá a escola depois de todo aquele show? - Ambas não se olharam, encaravam o horizonte de maneira desconfortável.

— No começo todo mundo ficou chocado, agora tão fazendo até piada. Não vai querer saber.

— E o Tyler? - Pela primeira vez se encararam. O olhar de Bonnie parecia decepcionado.

— O diretor descobriu que foi ele que filmou tudo, mas claro como é filho do prefeito não teve punição nem nada, ninguém na escola tá sabendo e a polícia também não. - Elena soltou um palavrão em sua cabeça, não se surpreendia. Tyler sairia impune. - Não estamos mais nos falando, não concordo com o que ele fez.

É o mínimo. Pensou ela, mas nada disse. Não estava em posição para ser grossa. 

— E os outros? Caroline, Rebekah, Matt... Eles concordam? - Tinha um certo sarcasmo em sua voz.

— Elena não somos monstros. Nunca expomos sua relação com ele pra nenhuma pessoa, além de nós mais ninguém sabia. E quando fizemos o que fizemos, foi sem que ninguém soubesse.

— Não quero falar disso. - Cortou o assunto, gentilmente.

— Só quero saber porque marcou esse encontro. É melhor antes que discutamos. - Bonnie sugeriu decidida.

— Não sei se sabe, mas... Amanhã tenho que depor na delegacia, sobre o que aconteceu entre mim e ele.

— Não sabia. - Ela ainda sim não entendia porque isso exigia sua presença.

— As chances da gente, tanto ganhar quanto perder são grandes. Mas as coisas podem ser mais fáceis se... Mais gente soubesse, se esse relacionamento fosse de verdade, com pessoas sabendo. Porque o fato de ser escondido, clandestino é a arma que vão usar pra incriminá-lo.

— Mas as pessoas não sabiam, Elena. - Proferiu obvia, elas já se encaravam.

— Eu sei disso, Bonnie. Mas não precisa que todos soubesse, só o suficiente pra que fique comprovado que a relação que tínhamos não era as escondidas.

— Mas era as escondidas. - Bonnie argumentou.

— Eu sei. - Elena esforçou-se pra não gritar. - Mas preciso que o juiz acredite que não.

As sobrancelhas de Bonnie franziram, já entendia a razão pela qual Elena lhe chamou.

— Bonnie, preciso dizer naquele depoimento que pelo menos umas cinco pessoas sabiam. Já falei com o senhor Saltzman e a esposa dele a Meredith, eles vão dizer que sim sabiam e até costumávamos nos encontrar os quatro no apartamento dele pra uns encontro duplo, coisas assim de casais. A Rose, também vai ajudar. Pra você ter noção eu vou até dizer que minha mãe sabia. 

— Mas Elena, sua mãe não sabia. - Bonnie se chocou.

— Eu sei disso, mas o fato de um responsável meu não saber e não aprovar faz isso ser criminoso, então vou ter que dizer. - Sua voz soava desesperada.

— E como é que vai provar que sua mãe sabia? Ou ela resolveu te ajudar?

— Claro que não, faz dias que não falo com ela. - Com essa resposta, a face de Bonnie se contorceu em dúvida. Não entendia mais nada. - Vou contar que ela sabia, mas meu pai não. E que foi tudo ideia dele sabotar a gente e vou dizer que ela só fez isso porque ele provavelmente a ameaçou. 

O queixo da outra foi aos pés.

— Elena, você vai mentir. Eles vão descobrir.

— Vai ser a minha palavra contra a deles. E também, se a polícia resolver investigar vão descobrir que no passado meu pai costumava ameaçar minha mãe com dinheiro o tempo todo. Dizia que ela não era nada sem ele, que se separassem ela ia sair perdendo sem nenhum tustão. Não seria difícil, tantos empregados já presenciaram essas brigas deles.

— Mas e se descobrirem? Você vai mesmo ser presa por depoimento falso?

Elena parou a fala, engasgando-se. Tinha sim muito medo das consequências que viriam, mas a decisão já estava tomada.

— Sim. - Disse com uma certeza que assustou a outra. - Mas vai valer a pena porque o Damon não será o único preso. Eu também serei e se ele vai pra cadeia eu vou junto, seria injusto só um pagar por um erro que é dos dois.

Em um misto de surpresa e admiração, Bonnie assimilou as palavras de Elena. Aquela era outra, muito diferente da primeira que conheceu. Se alguma vez duvidou que o que ela supostamente sentia por Damon era um desejo de adolescente em busca de aventuras, não duvidava mais. 

— Faremos o seguinte. - assentiu, decididamente. - Cite eu e a Rebekah nesse depoimento, vou falar com ela e tenho certeza que ela vai ajudar. - Elena sorriu, deixando-se levar por lágrimas. - Só não fala da Caroline porque a mãe dela é xerife, a família é bem tradicional e pode dá confusão. A da Rebekah não, eles são de fora, estrangeiros... São mais modernos.

Em combustão por felicidade, Elena enxugou seu rosto.

— Mas e você? Não vai ter problema com seus pais?

— Eu explico pra eles, não se preocupa. - Falou despreocupada. Claro que teria, mas preferiu ocultar essa parte. - Só quero que me fale o que eu vou ter que dizer, porque a sua história, a minha, da Rebekah precisam bater totalmente.

— Sim, eu já pensei em tudo.

—--x---

Sim, as grades. Definitivamente as grades. Pensou Damon olhando ao redor, tentava a dias adivinhar o que houvera mudado desde a última vez que esteve dentro daquelas quatro paredes. Havia sido há seis anos atrás e apenas as grades estavam diferentes, tudo continuava o mesmo. Aquele odor de álcool gel estragado, as paredes em cimento sem pintura e com o restos do que foi a foto de uma revista masculina na parede. E sempre vazia, era tão raro acontecer algo naquele lugar. De toda a cidade ele provavelmente era o que mais esteve ali, além de si somente apostadores de racha de outras cidades e a turminha de maconheiros que todo lugar, por mais pequeno que seja, tem.

Aquela era a quarta vez. A primeira aos 14 por brigar com um idiota no bar que insultou o jeito afeminado de seu irmão, e as outras duas por dirigir bêbado. Se surpreendia por ter sido pego embriagado no volante apenas duas vezes. Era bom nisso.  

E agora... Pelo menos dessa vez não se surpreendeu, assim que os policiais bateram à porta com um mandato às mãos soube o que iria acontecer. Não lutou contra nem reclamou ou disse uma palavra.

Simplesmente esticou os braços sem saber se sentia-se arrependido ou não. Quer dizer, o normal era que sentisse, mas algo em si impedia que isso acontecesse. Provavelmente porque valeu a pena. Chorou apenas uma vez durante aquilo tudo, quando concluiu que Elena há essa hora nem na cidade estaria mais, John provavelmente havia levado e nunca mais à veria novamente. Surpreendeu-se entretanto ao saber que ela ainda estava, segundo sua mãe em uma das visitas. Elena tinha saído da casa dos pais, pelo que lhe contou. Mas era tudo que o conhecimento de Grace alcançava, quando perguntava para Alaric ele desconversava dizendo que tinha que ir. Estava escondendo algo e isso lhe incomodava.

O diferente dessa vez para as outras que esteve ali era justamente isso. Antes não se incomodava com a cadeia ou com o isolamento dela, mas dessa vez parecia mais torturante do que nunca. Isso porque agora havia algo lá fora que queria, que o preocupava, antes não. Afinal, Rose sempre o vinha ver.

Essa era outra coisa que também se perguntava. Porque ela não veio? Quer dizer, não queria que ela viesse. Não gostaria por nada no mundo que Elena o encontrasse nessa situação, mas o surpreendia o fato dela nem ao menos ter tentado. Marcus, um dos policiais era muito amigo seu. Perguntava à ele se por um acaso '' alguém '' havia tentado visitá-lo sem sucesso. A resposta era sempre o mesmo não.

Mas hoje era diferente, sabia que ela viria. Marcus contou que hoje aconteceriam os depoimentos, deveria ter despertado nervoso e em angústia já que naquele dia começariam a jogar com seu destino, tudo começaria a ser decidido, mas um resplandecente sol brilhava em seu peito pela possível presença dela tão perto de si.

Só havia uma coisa a se fazer, a mesma que todos fazem ali, esperar.

—--x---

— Você depõe agora, uma hora e seus pais às três. Ou seja, não vão se encontrar. - Marcel lhe assegurou enquanto adentravam no prédio.

— Ótimo. Não quero vê-los de maneira alguma.

Lá dentro conseguia ser mais frio do que o ambiente sulista de fora. O ar-condicionado era forte, o que explica a razão pelo café ser tão quente não importando quantas vezes você assopre. Enquanto esperavam, Marcel sussurrava algumas coisas para quebrar o gelo. Amanhã receberiam a resposta do habeas corpus de Damon, então ambos estavam nervosos por isso, Damon possuía ficha criminal e seu histórico por clínicas de reabilitação não ajudavam a manter as esperanças em alta. Já o depoimento não lhe remexeu os nervos, estava tranquila com suas palavras e lhe acalmava o fato de que provavelmente seus pais não teriam ninguém para citar como testemunha, ao contrário dela que citaria nomes e datas. Soube que John tentou de todas as maneiras impedir que fosse depor, mas era impossível sendo que a voz da '' vítima '' precisava ser ouvida também. Por isso ele queria tanto me levar para Nova York tão de pressa.

Ao menos a primeira batalha havia ganho. Ainda faltava saber se o caso iria a juri popular diretamente ou só ficaria em preliminar, como sempre John tentava a primeira opção e Marcel a segunda. Aquele era outro motivo para a insônia que andava tendo. 

— Senhorita Gilbert. - Um policial apareceu na porta e eles se levantaram. - Podem entrar e o senhor também doutor. - Referiu à Marcel.

Silenciosamente, ambos adentraram ao escritório da Xerife Forbes, onde ela e um outros dois senhores aguardavam. Provavelmente o escrivão e um promotor que estava investigando o caso. Dessa vez teve medo, uma pequena ficha do que estava acontecendo veio até si. Mentiria em um depoimento legal, enquanto seus pais que eram os '' vilões '' da história, ao menos supostamente, sentariam naquela cadeira e não contariam uma mentira sequer. Benzeu-se mentalmente e apertou as mãos que estavam esticadas para si.

— Olá, Elena. - Liz sorriu ao cumprimentá-la. 

— Oi senhora Forbes. Tudo bem? - Retribuiu a simpatia, dirigiu-se para os outros homens com a mesma cortesia. Esperou Marcel terminar de se apresentar. 

— Por favor, sentem-se. - O promotor disse, apontando para as cadeiras. - Eu me chamo Carl. Carl Johnson. E vim de Los Angeles para presidir o inquérito. É um prazer conhecê-los. - Elena pesquisou o nome e a face daquele homem no fundo de sua memória para saber se lhe parecia familiar. Não. Nem nome, nem rosto. Tinha que ter a total certeza de que não era algum aliado de seu pai que ele colocou ali, mas passou tantos anos de sua infância no escritório de John que lembraria caso o conhecesse.

Carl parecia ter em volta de uns 43 anos. Cabelos levemente grisalhos, voz grossa e um nariz grande sendo provavelmente um descendente de libânes. Apesar do sobrenome americano, já o sotaque indicava que era da Florida.

— Está confortável Elena. Quer um café? 

— Já tomei, obrigada. - Respondeu um tanto tímida. Surpreendeu-se pelo seu tom, talvez estivesse mesmo ficando nervosa. 

— Bom aqui nesses papéis dizem que o senhor Salvatore está sendo acusado de assedio sexual contra a senhorita. Soube que entraram com pedido de habeas corpus, certo? - Dessa vez se dirigia ao advogado. 

— Sim, inclusive a resposta sai amanhã. - Marcel limitou-se a dizer.

Elena o viu acenar para alguém, era para o escrivão, que se dirigiu de imediato para o computador com os dedos a postos pronto para a largada.

— Pode começar se quiser, senhorita Gilbert. - Ele avisou.

Elena engasgou. Sim, aquela foi sua confirmação; Definitivamente agora estava nervosa.

— Por onde? Por onde quer que eu comece? - Sua voz saiu quase que muda.

Carl pareceu confuso por alguns segundos.

— Bom... Se for lhe ajudar. Eu peço que comece contando como o conheceu e como os abusos começaram, tudo bem assim?

A palavra abuso a deixou um tanto alterada por isso, mas preferiu não rebater naquele momento. Explicaria conforme a história se seguisse.

— Eu conheci ele na escola, era meu professor e só. Quer dizer, não nos conhecemos já que nem ao menos nos falávamos. Ele só nos dava aula. - Começou sincera, decorou esse tom que usou para depois. Precisaria dele na hora das mentiras. 

— Não tinham relação alguma? - Ele voltou a falar. Elena assentiu em resposta. - E como ele era como professor?

— Era exigente, muito sério, os alunos não gostavam dele... Porque não costumava dar moleza. 

— E você gostava dele? - Carl arqueou as sobrancelhas, provavelmente esperando um sim dela.

— Não. - Respondeu relembrando-se daqueles momentos. - Ninguém gosta de professores exigentes que pegam no pé. Se o que quer saber é como as coisas começaram a mudar foi porque ele foi morar na minha casa.

— Sabe como ele foi pra lá? - Carl questionou. Elena sentiu seu peito gelar, seria necessário mencionar Mason e aquela era uma testemunha que não queria ter perto. - Tudo bem senhorita Gilbert? - Ele percebeu sua expressão.

Tinha que inventar algo para que não desconfiasse.

— É que... É um assunto difícil. - Tentava pensar em algo. Era melhor dizer a verdade, depois pensaria em alguma desculpa.

— Difícil porque? - A xerife Forbes inquiriu pela primeira vez. Marcel parecia um tanto sobressaltado, afinal estava contando coisas que nem ao menos ele tinha conhecimento.

— É que pro Damon era difícil entende? Ele saiu de lá porque o dono quis o apartamento, tem uma grande história por trás disso. Mas não acho que seja eu quem deva contar, não sei tudo. - Mentiu. Mason era um tópico que não imaginou que estaria naquela conversa.

— É assunto que te deixa nervosa posso ver. - Carl disse em um tom desconfiado.

Elena preferiu manter a calma, seu temor por Mason transpareceu demais.

— Me deixou insegura no passado, com ciumes, com medo. Hoje não.

— Ok, pulamos essa parte. Conte sobre após que ele começou a morar na sua casa. Você reagiu bem?

Negou com a cabeça, antes de responder.

— Como disse não gostava dele. E acabou sendo por isso que nos aproximamos. - Carl pareceu surpreso e gesticulou com as mãos uma especie de '' vá em frente''. - Falei com uma amiga minha, Bonnie. Na verdade duas, a Bonnie e a Rebekah. Falei com elas sobre isso e disse que não o queria lá. Então a Bonnie me disse que tinha uma especie de segredo bem cabeludo da família dele que eu investigando poderia descobri, contar pra minha mãe e se fosse mesmo algo grave ele poderia ser expulso de lá.

Carl coçou o queixo, parecia entretido na história.

— E como você fez pra descobrir isso?

— Elas me aconselharam que eu me tornasse amiga dele, me aproximasse e descobrisse o que era. Não foi fácil conseguir que fossemos amigos, Damon era muito fechado com as pessoas, não faz amizade com qualquer pessoa. Demorou um pouco, mas consegui e acabou que o grande segredo era que o outro irmão dele é gay.

Confuso, Carl encolheu os ombros.

— E isso é um segredo grave?

— Pra essa cidade sim. Logo eu vi que era inútil, mas elas me aconselharam a continuar e tentar achar alguma coisa. - Suas mentiras começavam a se moldar. - E nesse meio tempo ficamos amigos de verdade, o ajudei em muitas coisas e acabei me apaixonando por ele. 

— E começaram a se relacionar. - Carl concluiu, obvio.

— Não. - Elena negou o pegando de surpresa. - Me apaixonei sozinha. Ele ainda gostava da ex- mulher a Rose, na qual ele tava de casamento marcado mas por uns problemas entre eles ela tinha dado um tempo e ido pra longe. Então nunca criei esperança de nada.

— Rose, pelo que eu vi nesses papéis é a mulher que está o contratando, certo senhor Marcel? - Carl questionou com os olhos em uma folha.

Aquela era a parte da história na qual Marcel tinha que mentir também. Já que Elena era quem o pagava.

— Sim. A Senhorita Marie, cuida dos meus honorários.

— Eles ainda tem uma relação? Você era uma especie de amante? - Carl perguntou.

— Não. Eles hoje são amigos e eu também sou muito amiga da Rose, inclusive estou morando com ela desde que eu sai da casa dos meus pais. Ela sempre deu muito apoio a nossa relação.

— Então ela sabia de vocês? - O promotor pareceu sobressaltado.

Elena assentiu.

— Mas isso foi muito depois, logo quando ela voltou. Não me lembro quando. Minha relação com o Damon começou quando eu já tava perdendo esperança de alguma coisa acontecer entre a gente, eu já tava há um bom tempo apaixonada e quando consegui me declarar ele me rejeitou. Disse que gostava da Rose, mas que também uma relação entre a gente era impossível pelos motivos óbvios.

Carl já conseguia chegar a conclusão de que talvez não estivesse em frente à um caso de abuso.

— Mas vejo que, querendo ou não, ele acabou sedendo. Quero saber sobre isso. Pode contar? - Falou enquanto servia-se de um café.

— Sim senhor. - Assentiu. - A gente se afastou primeiro depois disso, mas acho que ele teve pena de mim. Eu tava muito triste e andava tendo uns pesadelos estranhos por conta de um homem que tentou abusar de mim.

Carl engasgou com seu café.

— Espera. Como assim tentaram abusar de você?

— Um senhor de outra cidade. Uma vez estávamos no Mystic Grill e um turista meio bêbado tentou alguma coisa comigo na saída. Tava escuro, tinha pouca gente na rua e o Damon me salvou dele, mas se sentiu culpado. - Não iria contar que Damon a levou em um show de rock em uma boate proibida para menores. Esse seria um assunto a ser omitido.

— Ele te levou nesse bar?

Elena entendeu a intenção de Carl naquela pergunta, mas seu raciocínio era mais rápido. Já tinha a mentira certa na ponta da língua. 

— Nessa época estávamos brigados porque eu tinha me declarado e ele me rejeitado. Ele estava lá com os amigos dele e eu com as minhas, se sentiu culpado porque eu saí sozinha, mais cedo já que... Tinha uma garota flertando com ele. E nessa saída esse cara tentou me pegar.

— Então depois desse acontecimento começaram a sair?

Dessa vez, Carl '' acertou''. Conseguia perceber que suas mentiras estavam sendo convincentes. Talvez essa característica da velha Elena, era impossível de perder. 

— Como eu disse ele ficou com pena, mas eu não importei só queria estar com ele.

— Sua mãe sabia da amizade de vocês? - Liz questionou. Liz era um mistério para Elena, como pouco falava não conseguia saber se comprava ou não sua história.

— Da amizade não, porque... Querendo ou não as minhas intenções não eram boas no começo, por causa do plano e de tudo isso. Então... Não contei.

— Se não sabia da amizade, imagino que o namoro muito menos? - Carl questionou, embora soasse mais como uma afirmação.

— Na verdade, do namoro ela soube depois. Contei pra ela e a reação não foi a melhor no inicio, mas aceitou. Antes é claro ela deu uma bronca na gente. Escondemos por um período das pessoas até termos coragem de contar. Afinal, a gente precisava saber no que isso ia dar, se ia durar ou se não ia.

— Pelo que você disse até agora, sua mãe e essa Rose sabiam. Mais alguém sabia? - Carl já estava com a caneta na mão para anotar os nomes.

Estranho perante a presença de um escrivão. Esse sinal mostrava que era alguém desconfiado, o que para Elena era ruim.

— Minha mãe, Rose, Alaric e Meredith, que são amigos do Damon e também a Bonnie e Rebekah. Pros meus irmãos íamos contar futuramente porque eu tinha medo que eles tivessem uma reação ruim como a das minhas amigas. 

— Elas não aceitaram? - Liz novamente veio a tona.

— Não, paramos de nos falar e até hoje não temos mais contato. - Suspirou de modo triste, dando fim à seu teatro. - Bom... É isso. É tudo que aconteceu.

Com o fim de sua história, Carl assentiu e andou pela sala pensativo. Elena podia ver que algo para ele não se encaixava.

— Muito bem senhorita Gilbert, muito bem. - Ele disse pausadamente, após mais algumas voltas regressou ao lugar de antes. - Só há uma coisa nisso tudo que é estranho. E é o porque, a sua mãe sabendo de tudo isso fez o que fez com o seu pai. Afinal, foram eles quem expuseram a relação de vocês, foram eles que vieram prestar a queixa. Porque sua mãe fez isso sabendo que o Damon é, segundo a senhorita, um inocente? 

Novamente segura, Elena não se abalou. Não havia nada fora de seus planos até então, com exceção do caso Mason.

— Isso eu não tenho certeza, apesar de ter uma suposição. Só não sei se suposições valem pro senhor.

Carl a encarou por alguns segundos, sem esperar por aquela resposta. Conseguia ver que era uma garota esperta, audaciosa e de personalidade. Definitivamente não tinha perfil em nada de vítima.

— Eu aceito sim, senhorita. 

— Eu sei que vai parecer história fictícia, mas meu pai sempre foi muito abusador em relação a minha mãe. A ameaçava deixá-la sem dinheiro caso fizesse ou não fizesse algo. Dizia que um dia a deixaria morrer sem dinheiro algum pra comprar nem sequer água. Ela sempre teve muito medo dele, meu pai não sabia de tudo isso. Mas de alguma forma descobriu e... Acho que a ameaçou. - Deu os ombros, parecendo em dúvida de sua resposta. Afinal, deveria parecer uma suposição.

— Entendo. - Carl resolveu encerrar aquilo tudo, ainda tinham que avaliar bem o depoimento completo antes de Isobel e John chegarem para os seus. - Muito obrigado, senhorita Gilbert. Pode ir se quiser.

— Obrigada. - Levantou-se cumprimentando os dois outra vez.

— Foi um prazer. - Ele e Liz responderam de volta. 

Marcel também apertou mãos com as dele, sendo interrompido por um policial que adentrou a sala.

— Ah perdão. - Ele se desculpou. - Só queria avisar a xerife que estou indo pro meu almoço.

— Antes será que eu posso pedir uma coisa. - Elena interviu antes que a xerife respondesse ao homem sobre seu almoço. - Eu queria muito vê o Damon. Não sei se é ou não horário de visita, mas é que eu queria muito vê-lo. Posso? - A dor em sua voz ficou evidente.

Faltava vinte minutos para o horário de visita encerrar, provavelmente Elena poderia vê-lo por no máximo quinze minutos.

— Claro. - Liz respondeu, onde de imediato o sorriso mais brilhante que Elena poderia ter se despertou a ponto de toda sala se iluminar. Estava com tanta saudades. - Marcus, antes de ir você poderia levá-la até a selas e claro supervisionar a visita, vai ser algo rápido... De dez minutos. 

Apesar do instinto de obedecer as ordens, Marcus lembrou-se do pedido do amigo.

— É que o detento tá dormindo, eu acabei de vê-lo. - Disse ele, causando o esconderijo dos dentes de Elena outra vez.

Apesar de dominada por uma decepção, não achou justo acordá-lo. Deveria ser raro alguém conseguir dormir naquele lugar, não seria egoísta de lhe tirar o descanso quando era a razão pela qual ele estava passando por isso. 

— Tudo bem, eu venho outro dia então. - Afirmou, já se retirando. - Boa tarde. - Disse finalmente antes de sair, acompanhada por Marcel

—--x---

Um tanto aliviada, Elena respirou profundamente por tudo ter acabado, mas logo seu ar se poluiu por completo ao encarar a figura paralisada em seu lado. Marcel sobre nenhum momento abriu a boca enquanto falava, até porque a história na qual ele tinha conhecimento era bem diferente daquela na qual ele ouviu há poucos minutos.

— Marcel... - Ela gemeu, um tanto triste. - Olha eu sei que...

— Não, Elena. - Ele a interrompeu, decepcionado. - Depois nos falamos ok. Te ligo pra contar sobre o habeas corpus e também sobre o depoimento do Damon. 

Sem entender a última palavra, Elena o seguiu enquanto sua boca o chamava em desespero.

— MARCEL, MARCEL. - Chamava-o. Ele finalmente parou e Elena o alcançou. - Como assim depoimento do Damon?

Ele a encarou com ironia. 

— Isso mesmo senhorita mentirosa. Ele também tem que depor, não só você. E fará isso amanhã... Agora me diga, todas essas mentiras que você disse pra xerife e pro promotor lá dentro, ele sabe? Ele tem como te cobrir?

Ai não, não, não, não não, não. Pensava ela em desespero. Foi impossível mentir, somente a respiração acelerada de seu corpo já era o bastante para lhe denunciar. Estava perdida.

— Entendeu agora. - Marcel continuava falando, mas já era incapaz de ouvir. - Acabou Elena, você estragou tudo. Vão nos pegar. 

— NÃO. - Gritou, enfurecida. - Eu posso entrar lá e tentar falar com ele. Tentar contar tudo.

Marcel riu em escarnio.

— Elena visitas não são permitidas sem a presença de um policial do lado. Acabou, perdemos. - Disse simplesmente e voltou a andar. Sem mais uma palavra a abandonou em frente ao prédio, indo em direção provável à pousada que se hospedava. 

Vendo o túnel completamente interditado e sem luz, Elena não conteve uma lágrima em seu rosto. Tinha que ir até Whitmore para seu trabalho, Jo permitiu que chegasse mais tarde em razão do depoimento judicial. Mas nem ao menos conseguia se mover, era nada além de uma tonta chorando no meio fio de uma calçada.


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