Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 36
- Ainda complicado.


Notas iniciais do capítulo

Uma semana passou. Sou eu aqui de novo. Fiquei muito feliz com os comentários do capitulo passado e por quão vocês se surpreenderam com a Rose. O que significa que meu objetivo foi traçado. Como disse o (a) vilão (ã) da fic vai ser introduzido mais pra frente e espero surpreendê-los também. Mandem sugestões, vou agradecer.



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O esforço que fazia para manter o foco poderia facilmente ser comparado à força que um homem descarrega ao tentar mover uma rocha. O bater do eco daqueles pensamentos em sua mente estavam fora de controle.

Não estava confuso sobre o que sentia. Sabia que não a amava, mas a repetição das palavras de Rose ao dizer que seus sentimentos eram fortes e que eles iriam crescer mais e que um dia a amaria.

Não bastasse o quanto fugisse ou lutasse contra.

Toda aquela conclusão feita pela mulher na qual ele amava atualmente era assustadora. Não tinha como dar a certeza necessária de se aquilo era verdade ou não, afinal só o tempo poderia dizer. Nunca gostou da companhia de ninguém como gostava da dela. Poucas vezes conversou com alguém da maneira que conversava com ela. Poderia jurar que era somente um sentimento derivado de amizade, mas o desejo que descobriu sentir por Elena nos últimos dias foram uma das coisas mais surpreendentes de sua vida.

Claro que a achava linda. Desde quando a via na televisão ou nas revistas, mas a descoberta de que possuía algo além de atração foi uma perplexidade para ele. Queria a proteger e mostrar para Elena que ela não estaria sozinha, então se envolveu afinal era isso que ela queria, mas prometeu para si mesmo que a beijaria somente de vez em quando e faria tudo que tivesse ao seu alcance, nesse tempo de relacionamento, para mostrar para ela de que aquilo não passava de uma fantasia. Assim, Elena não se magoaria com ele; Continuaria a protegendo da mesma maneira, sem precisar se relacionar romanticamente.

Esse era o objetivo.

Mas o descobrimento do desejo entrou em seu caminho. Achou que seria forte o suficiente para resistir a uma menina o beijando em seu colo, mas acabou vendo que o instinto de homem sempre falava mais alto. Então, começou a se esquivar e não deixar que ela o tocasse direito. Só que a partir do momento que Elena o olhava daquela maneira triste por estar sendo renegada; Ele voltava atrás e fazia algo para agradá-la. Quando o anseio pelo toque mais profundo subia ao sangue, Damon parava outra vez e voltavam à mesma estaca.

Mas às vezes o cansaço de ter que repetir todo aquele ato juntava-se ao fato de querer o toque. Então deixava. E quando deixava, queria mais. Quando tiveram aquela conversa no sofá após assistirem o filme, ele percebeu que Elena não desistiria fácil. Ele percebeu que os sentimentos dela não eram só fantasia. Não se sentia a vontade com o namoro, não ia mentir. Ainda era muito estranho para ele. Era estranho por estar sendo considerado em um relacionamento com outra que não fosse Rose e era estranho por ser sua aluna. Era complicado por diversos motivos.

Percebeu que ela claramente não iria recuar, e se ele tentasse continuar em recuar, faria com que Elena se magoasse tanto que não poderia mais a protegê-la do medo que estava sentido por ter aqueles sonhos. Que era tudo culpa dele. Foi ai que para que ela não se sentisse mal, tentou o seu máximo não recusar seus toques; Só que com aquilo a porcaria da vontade e de todo aquela luxuria veio à tona como acompanhante.

Seu corpo começava a chamar pelo dela. Não o deixava afastar mesmo que quisesse e usasse todas as suas forças. Agarrou-a na garagem, no banheiro daquele bar, estava perdendo o controle. A solidão também ajudava muito naquilo, fazia um tempo que não tinha alguém de verdade.

Nada trabalhava ao seu favor e aquela enxurrada de palavras que Rose soltou em seus ouvidos não era o bote salva vidas para seu afogamento naquele enorme mar de duvidas que ele naufragava.

— Então... – Começou a falar, ainda atrapalhado e lento. Continuava em transe pelos pensamentos confuso que sua cabeça produzia. Olhou a sala de aula rapidamente; Estavam em aula há quase cinco minutos e ele não havia dito nada. Levantou e apanhou a pilha de papeis e seguiu para o centro do ambiente. Elena escrevia alguma coisa aleatória em uma agenda rosa. – Hoje é a prova e todos vocês sabem como é esse dia. Sem colas, sem conversa, sem olhar para o lado e se eu vir alguém fazendo essas coisas, sai da sala e é zero. Como ninguém aqui tem cinco anos e sabe que eu cumpro minhas promessas é melhor calar a boca e fazer o que eu mandei, entenderam? – Não esperou por respostas e começou a entregar as folhas de mesa em mesa. Ao longe, via olhos sendo rolados e bufos de tédio saindo dos lábios de alguns estudantes. Chegou próximo à carteira de Elena e estranhamente, ela ainda não havia guardado a agenda. – Senhorita Gilbert guarde a agenda, por favor. – Pediu educadamente enquanto entregava uma folha para ela. Elena rapidamente fez o mandado e ele continuou a distribuir as provas. Normalmente não seria assim. Não falaria educadamente. Por mais que não quisesse e não fosse a tratar de maneira diferente, não queria ser paranoico o suficiente para achar que se não gritasse com ela, as pessoas desconfiariam que estivessem juntos. Terminou a entrega e voltou ao seu lugar.

Outra vez aquela onda de duvidas o cobriu. Dava o melhor de si para não prestar atenção e continuar atento aos alunos. De relance olhou disfarçadamente para Elena. Ela estava atenta à prova; Disse ontem que iria tirar dez para cumprir aquela promessa que fizeram no grill, no dia que dançaram. Algumas vezes Elena conseguia ser estranhamente doce. Coisa que todos sabiam que ela não era de maneira alguma. Estava com medo pelo que Rose disse. Se ela estivesse mesmo certa, não teria como fugir. E Damon tinha total consciência do como aquele relacionamento não daria certo. Conseguia prever tudo que fosse acontecer. Ontem sonhou com a cadeia... Fora tão horrível.

Céus, como era assustador pensar naquilo.

— Tempo esgotado. Vou recolher... – Avisou levantando novamente do lugar. O tempo passou tão rápido que ele mal sentiu. Era como se tivesse realmente sentido a terra balançar na velocidade necessária para o fim daquela aula. Apanhou todas as provas e as guardou para dentro da pasta preta.

— Quando a gente vai saber quanto tirou? – Perguntou uma voz grossa e masculina enquanto Damon se sentava. Não soube identificar quem era.

— Quando eu quiser logicamente. Agora saiam. O sinal já bateu e eu não quero ficar aqui com vocês. Podem ir.

Aos poucos a sala foi se esvaziando quase que por completo. Era a ultima aula, e ele teria que ficar ali por enquanto por ser dia de reforço extra para alguns alunos, que era simplesmente o dia que ele mais odiava. Olhou a lista de chamadas por um momento, somente Caroline Forbes havia faltado, por conta da viagem que Elena mencionou que ela tinha feito para visitar o Klaus. Ela provavelmente voltaria ainda hoje e ele teria que passar uma prova extra para ela amanhã.

Droga. Pensou estressadamente por ponderar em mais trabalho.

Apoiou o cotovelo na mesa e descansou a cabeça entre suas mãos, fechando os olhos bufando de cansaço.

— Senhor Salvatore. – Uma voz feminina e forte o chamou. Totalmente inconfundível pelo sotaque britânico. Levantou a cabeça demoradamente e encarou Rebekah Mikaelson e surpreendentemente Elena atrás. Não fazia ideia do que elas desejavam, mas ele torcia para ser breve. Elena não o encarava muito bem, apenas mantinha a cabeça baixa e apertava forte o batom em sua palma esquerda.

— Pois não. – Respondeu carregado pelo tédio e a raiva por estar sendo incomodado.

Depois Rebekah, continuou a falar.

— Ah, não sei se o senhor sabe, mas hoje é dia de jogo. A gente tá organizando os lugares e queremos saber se o senhor vai ou se tem alguma preferência de onde sentar...

— Tinha me esquecido disso. Sim, eu vou ter que ir... Mas porque vocês tão fazendo isso? É arquibancada, cada um senta onde quiser, não é?

— Sim, é arquibancada, mas o senhor é professor então tem um lugar diferencial. – Explicou Elena cautelosamente, enquanto o olhava pela primeira vez. Não era estranho. Desde que começaram nenhum momento foi estranho; Surpreendia-se cada vez mais com a maneira que os dois estavam conseguindo fazer aquilo.

— Me põe longe... Mais fundo possível e de preferência perto do professor Saltzman. Sei que ele também vai querer ficar distante.

De imediato a loira anotou a preferência em um caderno. Não havia reparado que Bonnie Bennett se mantinha impaciente na porta as esperando. Rebekah terminou de anotar e logo as duas se prontificaram para sair.

— Anotado. – Disse ela ainda concentrada na folha. – Obrigada Senhor Salvatore. Vamos Elena, estamos atrasadas.

— Sim, vamos.

Direcionaram-se lentamente até a porta, onde Bonnie ainda esperava. Estavam atrasadas para buscar a Forbes na rodoviária. Elena mandou uma mensagem hoje de manhã que iriam, e era por isso que Rebekah também não poderia ficar para as aulas extras.

— Gilbert... – Soou alto, as impedindo de sair. Surpresa pelo que ele poderia querer as três meninas o encararam momentaneamente. – Parabéns. Dei uma olhada rápida na hora de recolher e acho que você acertou tudo. Pelo visto a próxima vai ser fácil. – Completou disfarçadamente fazendo Elena sorrir presunçosa. Encheu-se de satisfação por ter cumprido sua promessa e por ter dado orgulho a ele também. Agradeceu a Damon e saiu tentando controlar a felicidade exagerada em sua expressão.

Ao finalmente se ver sozinho, resolveu corrigir o resto das atividades antes que aqueles pensamentos o tomassem outra vez. Tinha tanto medo de Rose estar certa. Damon conhecia a si mesmo, sabia quem era e o que queria de sua vida; Não era o tipo de pessoa que não sabia se definir. Possuía pura certeza de que não estava apaixonado por Elena, mas por outro lado, também possuía fidúcia o bastante para afirmar que gostava dela e que sentia algo diferente e até forte. Elena foi à única mulher que ele se relacionou que não o fez sentir saudades ou ficar lembrando-se de Rose o tempo inteiro.

Havia de confessar que gostava daquela sensação. Elena fazia com que não lembrasse certas coisas, mas também dava ênfase ao fato do quão errado àquela relação era. Afundou novamente a concentração nas provas e depois se preparou para a chegada dos alunos que fariam o reforço. Tinha que ocupar-se com outras coisas antes que enlouquecesse.

—---x----

Jazia meia hora que esperavam por Caroline na rodoviária. Por sorte ela sabia a coreografia muito bem. Não seria problema para ela ter ido viajar e o jogo de estreia ser hoje. Tudo que Elena queria era que ela chegasse logo para tomarem um bom suco no grill e poder ir para casa para vê-lo. Era estranho admitir aquilo para si mesma, mas havia tornado-se dependente da presença dele consigo. O queria o tempo inteiro. Junto, aos beijos, aos toques, aos abraços. Depois daquela noite em que bebeu e ele provou o gosto em seus lábios, chorou mais do que poderia imaginar chorar em sua vida. Deitou na cama e desabou em lágrimas, foi para a banheira tentar relaxar e chorou mais ainda.

Ele estava estranho depois daquilo também. Não se esquivava de seus toques, mas a evitava. Foi em seu quarto bem de madrugada para vê-lo e pedir desculpas, mas ele não estava lá. O que era muito estranho. Já era para ele ter chego e nada; O medo a cobriu ao pensar que ele poderia ter bebido e se largado em alguma rua. Só que não podia sair de casa e nem dizer para alguém que estava preocupada, pois levantaria suspeitas. Sua vontade era sair e procurar por ele, mesmo que tivesse de enfrentar todo o frio cortante vindo do oceano carregado da Virginia. Não havia importância desde que o encontrasse. Ligou, deu caixa postal, então deixou mil recados e mais outras mil mensagens. Ele chegou eram por volta de três e meia da manhã e disse que estava cansado para conversar. Não tinha cheiro de álcool em seu halito, então para não cansa-lo resolveu subir e deixa-lo dormir.

Era de se contar nos dedos às vezes que se sentiu insegura em toda sua vida. Nunca foi insegura de si mesma em nenhuma circunstância, mas com ele tudo mudava. Porque tinha certeza de que Damon não sentia o mesmo. O medo de perdê-lo era tão grande, havia vezes que sentia a aflição a tomar de uma maneira tão forte que lhe causa pequenos momentos de ansiedade exagerada. Tomava calmantes para poder dormir. De noite, o desespero era pior e não conseguia pegar no sono de maneira alguma. Não sem os remédios.

Olhou-se no espelhinho de mão mais uma vez e ajeitou alguns fios da parte superior. Rebekah mexia impaciente em um jogo no celular, enquanto Bonnie lia um livro qualquer. Abriu o batom e retocou o pouco que estava saindo. Deus, como demora.

Já estava há horas esperando e nada.

— Porque a gente tá aqui? – Questionou Elena já bufando de impaciência. – Porque a mãe dela não veio buscar? Porque a gente? – Olhou mais uma vez ao relógio. Uma hora e meia de atraso.

— Como você é sensível, Elena. Fico impressionada com a sua solidariedade. – Comentou Bonnie virando mais uma pagina daquele livro. Rebekah riu sem o mínimo de esforço e continuou a concentrar-se no jogo. – Logo ela chega. Alias é até bom você sair e se distrair. Pensa que eu não percebi? Eu percebi...

Por um momento Elena sentiu a aflição a invadir, mas não demorou muito para ir embora outra vez. As paranoias que Damon e ela sentiam com o medo de serem descobertos estavam começando a afetar todo e qualquer tipo de conversa que tinham com outras pessoas. Se alguém dizia algo que ficava solto no ar já era motivo para desespero interno. Resolveu se acalmar e perguntar do que Bonnie falava.

— Como assim percebeu? Percebeu o quê?

— Percebi que o seu termino com o Tyler tem te deixado diferente... Parece que agora você tá sempre alheia e com a cabeça em outro lugar.

— Eu concordo. – Manifestou-se Rebekah invadindo a conversa. – Desde aquele dia no shopping onde você não conseguia se concentrar nas compras eu reparei que você tava estranha. – Até a própria Elena se via obrigada a concordar com Rebekah. Quando Elena Gilbert que é quem é, não consegue focar em compras era porque algo errado estava acontecendo. Teria que redobrar seu disfarce, senão elas descobririam. Principalmente Bonnie que era esperta o bastante para desconfiar até da própria sombra. – O que tá acontecendo Elena? – Reforçou a loira fazendo o pânico a adentrar outra vez. – Eu sei que não é por causa do Tyler porque ele disse pro Matt que foi você quem terminou. E disse que na hora você parecia bem certa que queria acabar com tudo. – Endossou seus argumentos, dando a Elena a sensação de estar em um grande labirinto – O que aconteceu? – Sussurrou ao fim.

Era melhor não negar mais. Admitir que algo estava errado pareceu a melhor opção, senão elas cavariam e cavariam até acharem uma origem para o porquê. Damon havia dividido com alguém o que estava acontecendo. Mesmo Alaric não concordando, ainda sim foi um desabafo. Ela não tinha ninguém para falar. Mesmo que a vontade de botar para fora e dividir com alguém o que estava acontecendo fosse grande, teria de se segurar. Faria isso. Faria porque simplesmente a vontade de ficar com Damon eram maiores que todas.

Respirou fundo e carregou no peito um ar de culpa para poder soltar mais uma mentira.

— Eu sei que eu tenho andando um pouco estranha, confesso... Não é nada demais juro. É que o meu pai me ligou esses dias... E nunca é muito legal quando ele liga. Vocês sabem como é e a gente já conversou sobre isso outras vezes; Vocês me desculpem? Por favor. Eu prometo que eu vou voltar ao normal, só me desculpe. Só isso.

Um sorriso interno se esticou em Elena ao observar os semblantes das duas garotas. O remorso que carregou pela face de Bonnie e Rebekah. Foi o suficiente para convencer Elena de que elas haviam acreditado. Lembrou-se de algumas vezes que falou com elas sobre o quão cafajeste e imbecil seu pai é e o como a relação dos dois mudou desde que descobriu da traição dele à sua mãe. As três quase choraram naquele dia. Sabia que se inventasse algo relacionado, elas cairiam na hora. Mesmo assim, teria que tomar mais cuidado ao disfarçar sua inquietude por estar longe de Damon e qualquer tipo de problema futuro que pudesse ocorrer entre os dois.

— Eu sinto muito. – Murmurou Bonnie com sinceridade. Agarrou a mão direita de Elena com força demonstrando toda sua solidariedade. Rebekah fez o mesmo com a esquerda, largando o celular pela primeira vez. – A gente tá aqui, não se preocupa. – Confortou a baixinha.

— Vocês me perdoam?

Foi à vez da loira, responder afirmadamente:

— Claro que sim. – Disse Rebekah.

Continuaria com a falseta de arrependida para as duas, mas logo a intromissão lhes apareceu com o ônibus estacionando no meio fio. Olharam rapidamente o letreiro do automóvel e viram à escrita ‘’ Los Angeles’’ em vermelho.

Finalmente. Pensou Elena, levantando-se de seu banco, sendo imitada pelas duas garotas ao lado. Caminharam com ansiedade para mais próximo do veiculo e assistiu algumas pessoas descerem. Logo, a menina de fios loiro e sorriso contente desceu ao encontro.

— Voltei! – Anunciou Caroline as abraçando calorosamente em grupo. Elena pensou em reclamar por ela estar bagunçando seu cabelo, mas também estava com saudades da loirinha.

— Está linda. – Falou Bonnie ao soltarem do abraço. – No caminho a gente vai querer saber tudo, mas agora... É melhor ir porque nós estamos te esperando há horas.

— Isso é verdade. Não aguento mais esse lugar, tem cheiro de pobre.

— ELENA. – Gritou Rebekah a repreendendo. Olhou sugestivamente para trás e viu a razão dela ter chamado sua atenção daquela maneira. Uma mendiga sentava ao chão com um bebe vestido a trapos no colo.

Achou melhor ficar quieta depois de ter dito aquilo. Sentiu-se culpada com toda a certeza, até porque pôde perceber que a mulher pareceu escutar o que havia dito, embora houvesse ignorado. Jurava para si mesma que não havia reparado na presença dela ali antes. O que fez Rebekah a admoestar outra vez e dizer que deveria prestar mais atenção ao redor do que ficar somente olhando ao espelho.

Sabia que ela não havia dito por mal, somente porque ficou envergonhada pela mulher ter escutado. O que fez Elena se sentir da mesma forma também. O fato de não saber se estava triste por ter falado ou pela moça ter ouvido a fez questionar seriamente sua carga de culpa e compaixão.

Caroline seguiu para pegar a pequena malinha laranja e foi com Rebekah e Bonnie para encontrar o carro. Elena deu um pretexto de que iria comprar um sanduíche primeiro e que as encontraria lá. Assim, que as viu fora de seu campo de visão, caminhou lentamente até a japonesa que agarrava ao peito seu bebe chorando. Ela olhava para o nada, e não possuía nem um tipo de expressão definida no rosto.

— Oi. – Cumprimentou Elena tristemente. A mulher a olhou por alguns segundos e sorriu sem que mostrasse os dentes. Depois, voltou à atenção ao bebê o chacoalhando para não o acordar. Sem pressa, Elena apanhou a carteira e retirou duas notas de vinte e uma nota de dez. Não havia cesta. Ela não estava pedindo esmola. Hesitou em entregar com medo de que ela não aceitasse e sentisse ofendida. Aquela não era uma maneira de se retratar ou de sentir menos culpada, ainda sentia-se culpada pelo que disse, com a moça aceitando ou não, o dinheiro. Somente queria a ajudar. Quando o olhar da mulher finalmente se direcionou ao seu, foi quando teve a dignidade de estender a mão e lhe entregar as notas. Queria que ela a olhasse, olhos nos olhos e visse sua sinceridade.

— Obrigada. – Agradeceu, com o tom de voz mais submisso que Elena já havia ouvido em sua vida inteira. Era como se tivesse com medo da ajuda. Ao checar a quantidade de dinheiro dada, ela pareceu não acreditar. Parecia pouco para Elena, mas tinha ideia do quanto aquilo a ajudaria. Ela sorriu novamente. Dessa vez mostrando todos os dentes de sua boca. Mesmo com o leve amarelar, era um dos mais sinceros que Elena já havia recebido.

— Eu que agradeço. – Disse retribuindo o riso. Embora o arrependimento pelo dito ainda a tomasse, saiu de lá feliz pelo que fez.

Sem dificuldades, encontrou o carro onde as três meninas a esperavam.

— Cadê o sanduíche? – Falou Caroline ao olha-la.

— Não tinha. Podemos ir agora?

Juntas, as três assentiram e uma a uma entrou no carro. Iriam voltar para escola e ter que organizar os últimos preparativos para o jogo de noite. Bonnie treinaria o resto das garotas hoje e Elena e Rebekah cuidariam da parte de liderar o comitê e dizer onde cada coisa haveria de ficar.

Esperaram por uma hora e meia. O reforço de Damon durava cerca de duas, ou seja, tinha meia hora para chegar lá e vê-lo, mesmo que rapidamente. Ao contrario, só o veria durante a noite.

Não queria esperar tudo aquilo.

Sem delongas, afundou o pé no acelerador e dirigiu o mais rápido que podia.

‘’ Elena vai com calma. ’’

‘’ Deus, Elena... Calma, por favor. ‘’

‘’ Elena para. ‘’

‘’ Devagar. ‘’

Ignorou qualquer tipo de protesto feito pelas três garotas ali. Nem se importar direito ela estava. Enquanto os gritos a mandavam diminuir, tudo que ela fazia era aumentar mais e mais. Escoltas polícias por Mystic Falls eram raras e se fosse multada não daria em nada que não pudesse pagar.

Trinta e sete minutos foi o tempo que demorou. Seu olho ia e voltava entre a estrada e o relógio automático do carro. Estacionou o automóvel em uma vaga qualquer do estacionamento da escola e saiu em desespero a olhar para ver se o carro dele ainda estava ali. Somente a três carros de diferença do seu, lá estava o dele.

— VOCÊ FICOU MALUCA? QUERIA MATAR A GENTE? ELENA O QUÊ DEU EM VOCÊ?

Reconheceu a voz de Bonnie aos berros, enquanto Rebekah tentava acalmar Caroline que tremia como um ratinho.

Sua cabeça estava tão concentrada na porta do prédio, esperando que ele saísse que mal havia reparado que Bonnie continuava a gritar.

— Eu quero muito acreditar que tá tudo bem contigo, mas você tá dificultando as coisas pra nós Elena. – Mesmo com o tom de voz alterado, nem sinal da atenção de Elena se voltar para Bonnie era mandado. – Elena você tá me ouvindo? – Perguntou. Sem respostas. – ELENA?

— O QUÊ? – Agora foi sua vez de gritar.

— Chega Bonnie. Já passou. – Tranquilizou Rebekah mais calma. Caroline também parecia mais serena e pacifica.

Após algum tempo de silêncio arrastado, todas se acalmaram devidamente. Bonnie parecia raivosa e realmente sem entender nada; Era como se agora visse Elena como uma completa maluca que mantém a cabeça para fora desse mundo.

— É melhor a gente entrar e começar a arrumar as coisas. – Sugeriu Caroline tendo a aprovação das duas.

— NÃO. – Contestou Elena. Ao reparar os olhares confusos das outros se voltarem para o seu, logicamente pelo desespero com qual falou, achou melhor parar, disfarçar e inventar uma boa desculpa para sua reação exagerada. – Quer dizer... É melhor continuarmos aqui... Se acalmar e depois, só depois a gente...

— Ah, não. – Disse Caroline a interrompendo. A voz da loira carregava nojo, como se tivesse acabado de vomitar. – Eu mal chego e já sou obrigada a dá de cara com o diabo.

Ao longe, Damon saía do prédio com uma pasta preta na mão e o celular nos ouvidos enquanto falava com alguém. Ele parecia bem humorado e o pequeno sorriso que ele deu enquanto ouvia o que a pessoa do outro lado da linha falava, confirmou seu pensamento.

— Ele tá vindo. – Comentou Rebekah falando da mesma maneira que Caroline. – Fingi que não viu.

Damon logo desligou o celular e continuou andando em direção ao carro. Quando sentiu que ele finalmente a viu, rapidamente ele aprontou a postura e começou a agir da mesma maneira como agiam na escola. Os dois haviam combinado de que seria assim e até agora tudo estava correndo perfeitamente bem. Não podia imaginar como seria se trocassem indiretas ou se lançassem olhares diferentes um pro outro. Damon era tão frio com todos os alunos que em menos de um dia de aula, a escola inteira já desconfiaria de algo entre os dois.

Não podia falar com ele sem levantar suspeitas para suas amigas e ele não falaria com ela com toda certeza. Não com as meninas acompanhadas.

— Caroline... – Chamou Elena sussurrando. De imediato, a loira a olhou. – Fala com ele... Hoje foi a prova, você não tava aqui. Pergunta se vai poder fazer outro dia.

— Mas eu não quero falar com ele.

— Tenta convencê-lo. Melhor do que ficar sem nota.

Aos poucos Caroline pareceu se render a ideia. Esperou com que Damon chegasse mais perto para perguntar. Olhou disfarçadamente para as meninas ao seu lado e elas pareciam não se importar muito. Rebekah queria logo arrumar as coisas e Bonnie ficou encostada no porta-malas do carro esperando aquela tortura acabar para poder entrar. Estava tão ansiosa quanto Rebekah, para acabar logo com aquilo e ir pra casa.

— Senhor Salvatore. – Falou Caroline indo a alguns passos a frente. Ele normalmente não pararia, mas como Elena estava ali receou que fosse algo de valor. – Me falaram da prova. Eu vou poder fazer? – Elena logo a seguiu e se pôs ao lado da amiga. Pôde ver o grande vai e volta que os olhos dele faziam entre encarar a loira com indiferença e olha-la com normalidade.

— Sim. Amanhã você faz só que vai ser diferente das de hoje e vai valer um ponto a menos.

A loira assentiu em concordância e agradeceu o deixando seguir para o carro. Um sorriso leve e quase inexistente como o de Mona Lisa se fez nos lábios dele enquanto abria a porta do veiculo. Olhou rapidamente para ela e em questão de segundos voltou a se concentrar em passar a chave na maçaneta. Quando para o seu azar ele foi embora, pôde ter e sentir a motivação necessária para continuar seu dia. Mesmo que tivesse o visto por míseros minutos, era o que precisava para manter seu humor em alta.

— Vamos! – Exclamou em felicidade para as três meninas. Virou-se e seguiu para o prédio sem esperar que a seguissem. Ainda atordoadas, as garotas foram na mesma direção. Com suas mentes confusas e pensamentos aleatórios e sem sentidos causados pelas atitudes ressentes de Elena.

O resto do dia saiu como o que tinham planejado. Caroline ficou pouquíssimo tempo. A mãe dela apareceu e deu um sermão por não ter ido para a casa descansar e que estava a esperando para quando chegasse. Ao final, Liz levou Caroline para a casa e a loirinha só voltou uma hora depois. Elena ficou com Rebekah em liderança do comitê, que incluía April e Anna. Ao fim, os preparativos ficaram terminados um pouco antes do horário e as duas seguiram para o ultimo ensaio antes de voltarem para suas casas, tomarem banho e se arrumarem para voltar à escola para o jogo e apresentação das lideres.

Não queria chegar em casa suada. De jeito nenhum Damon poderia vê-la daquela maneira. Quebrou uma de suas regras e acabou tomando banho no vestiário da escola junto com as outras meninas. O que não a agradava muito, mas fora necessário. Rebekah tinha bons cremes e acabou indo para casa com um cheiro agradável de amora.

Deu uma carona para Anna e ela e April voltaram para casa tranquilamente. Cada vez gostava mais dessa menina namorando Jeremy. Ela era simpática e não se vestia nada mal. Não tinha ideia de como seu irmão, nerd com um visual punk completamente emo e antissocial havia conseguido uma garota tão fofa como aquela. Deveria ser algum tipo de aposta ou ela estava sobre efeito hipnótico como naquele filme da Gwyneth Paltrow ‘’ O amor é cego’’. Talvez ela visse Jeremy como uma espécie de Tom Cruise ou Zac Efron.

— Chegamos! – Anunciou April em voz alta. Mania irritante que ela e sua mãe tinham.

— Vou beber água. – Afirmou Elena. Na verdade ‘’vou beber água’’ se tornava cada vez mais uma desculpa para ir à cozinha e poder da uma batida rápida na porta do quarto dele. Mesmo que fosse para que ele saísse ou pegasse um copo de água também. Algum tipo de desculpa para estarem no mesmo ambiente. Já estava pronta para adentrar ao cômodo e seguir para frente do quarto e bater na porta, mas para sua surpresa ele já estava ali. Sentado no balcão, corrigindo uma pilha de provas. – Nossa. – Sussurrou em choque pela quantidade de papeis. Não havia só provas de sua sala naquela pilha. Eram diversas. Tantas que Damon nem ao menos desviou os olhos das folhas para cumprimenta-la. Devia estar com pressa para terminar, e com toda razão. – Vai ficar a noite inteira aí.

— Eu sei. É a da sua sala, do segundo ano com mais a do reforço que eu passei hoje. É muita coisa pra minha cabeça.

— Quer ajuda?

A naturalidade com qual Elena perguntou o fez interromper a gargalhada que iria soltar por tamanha loucura que aquilo soou. Os dois na cozinha, sentados em frente a um balcão cheio de provas e ainda corrigindo parecia exatamente como a receita da qual ele queria fugir. A do tratamento especial. Na qual ele tanto condenava.

Iria dizer não, de imediato, mas ao olhar aquela fila de papeis totalmente desorganizado o motivou a pensar. Ainda teria aquele jogo idiota para ir, o que diminuiria ainda mais seu tempo para terminar aquilo tudo de uma vez.

— Claro. Quero sim. – Concordou cedendo em desespero. Ela não sentou ao seu lado; Puxou um banco e ficou na lateral do balcão. Ainda sim, poderia chegar alguém e era melhor somente dizer que estava a ajuda-lo. O que era verdade se fosse valer o momento por alguém que não estivesse a par da situação dos dois. – Corrige as do segundo ano. São essas aí na frente. – Apontou para a pequena fileira e lhe entregou um bilhete em uma pequena folha branca em tom amarelado. – Esse aqui é o gabarito. Se souber as contas, corrige os cálculos. Senão, eu dou um jeito.

Sem dificuldades, fez o que ele pediu. O segundo e o primeiro ano eram as salas mais populosas da escola. Damon não dava aula para o primeiro, então com certeza aquilo era uma sorte se considerar que mesmo assim a papelada conseguia ser grande o bastante.

— Eu gostava dessa matéria. – Deu os ombros, presunçosa enquanto checava um dos conteúdos na folha das provas. – Representação gráfica. Era legal. – Damon logo deu atenção, mas não retirou os olhos do papel a frente. A prova do reforço não havia sido de múltipla escolha então teria de se concentrar. – Eu lembro que ninguém sabia fazer os gráficos retos e como eu era boa em desenho pediam pra mim. Você deve desenhar bem também; Todo professor de matemática faz gráficos bem feitos e formas geométricas toda retinha.

— Engano seu. De tanto fazer na faculdade você acaba pegando o jeito, se acostumando ou criando uma tática. Pede pra eu desenhar uma coisa além e você muda de opinião na hora.

— Mas você gosta de arte. – Continuou Elena, dessa vez em um tom de voz bem mais observador. – Ainda tá com meu caderno, falando nisso.

— Sim, você tem razão. Eu adoro arte. Arte é liberdade e eu aprecio tudo que envolve a liberdade.

— É um pouco confuso pra mim... Como você enxerga a liberdade nos números?

— Não é obvio? – Perguntou Damon a encarando, desviando-se das provas pela primeira vez. Elena claramente negou e elevou uma das sobrancelhas. Aquela mania dela sempre o fazia rir. – Os números te desafiam a pensar. A encontrar soluções bem no fundo da cabeça, com total e puro raciocínio. É como se... Você precisasse soltar aquele problema de um cativeiro e quando você resolve... Você liberta. Tudo através da mente. Eu gosto da ideia do poder do pensamento. Ideologia é a arte, Elena. – Sem demoras, Damon voltou à atenção as folhas. Elena não sabia o que falar depois. Cada dia descobria mais coisas sobre ele na qual sempre imaginou estarem mergulhadas naquele mar de mistério que Damon era, mas poder ouvir tudo que ele acreditava que era tão diferente a tudo que Elena pensava sobre ele, era tão... Bom e ao mesmo tempo tão estranho. Damon sabia e acreditava em fatos na qual ela nunca ousou pensar.

— O que estão fazendo? – Jeremy adentrou a cozinha, totalmente estático a cena que estava vendo diante de seus olhos escuros.

Em puro reflexo, a reação dos dois foi paralisar. Principalmente, Damon; Elena já estava com uma resposta pronta para a caso alguém os visse ali, embora não conseguisse evitar o susto que causou. Esperou seu corpo inteiro acalmar-se até que estivesse pronta para dizer alguma coisa.

— Eu to ajudando o senhor Salvatore a corrigir as provas. São muitas e como hoje tem jogo, ele não quer se atrasar.

— Sim, ela tá me ajudando. – Confirmou Damon em pânico. O que deixou Jeremy ainda mais intrigado pelo desespero que o professor falou. Percebendo a gafe, Elena deu um leve e fraco chute na perna de Damon. Não doeu o suficiente para gemer de dor, mas foi o bastante para sua expressão se contorcer pelo toque violento.

— Será que eu posso ajudar vocês também? – Jeremy falava como um verdadeiro detetive investigativo de um filme policial. O que assustava ainda mais os dois.

— Claro. – Responderam em coro, tentando parecer tranquilo. Elena preferiu se calar por um tempo e Damon continuou falando, dessa vez menos agitado. – A Elena tava corrigindo as da sua sala, mas como você é um ano mais novo que ela, não pode corrigir as do terceiro. Então... Fica com as da sua sala e a Elena fica com as da dela.

Jeremy apanhou um banco ao canto da cozinha e se pôs ao lado da irmã. Elena lhe entregou as provas da sala do segundo ano e ela ficou com as de sua sala, o terceiro; Assim, como Damon havia dito.

Seu irmão era ainda mais inteligente que a própria. E April também. Se ela havia conseguido o dez com esforço, os dois sem dificuldades alcançaram a mesma maestria. Ela os chamava de robôs. Eram bons em tudo relacionado à escola, sempre muito elogiados e ditos como futuros médicos ou advogados brilhantes. Ela também não havia dificuldades em assimilar matérias nem nada do gênero. Somente não se dedicava tanto quanto eles. Não perdia seu tempo estudando. Afinal, Elena possuía uma vida social.

Foi bem nas primeiras provas do Mystic Falls High School, afinal ainda tinha aquele plano na cabeça de tentar mudar seu histórico escolar para conseguir morar em Nova Iorque de novo com uma bolsa para uma universidade importante. Assim, com a bolsa poderia morar em uma republica e não com seu pai.

Apesar de não ter seus dezoito anos, já tinha comprado duas casas para si, só que o problema é que John faria o possível para congelar seus bens e impedir que morasse sozinha na mesma cidade que ele. Ultimamente a missão de seu pai na terra era tentar fazer com que se falassem outra vez. O que iria para o buraco, pois não voltaria a ter respeito por ele tão cedo. O jeito seria a universidade, mas ultimamente tem mudado seus planos. Havia pensado tanto naquilo nos últimos dias. Enquanto Damon ainda vivesse em Mystic Falls, ela também viveria. Se ele não fosse embora ano que vem, mesmo com dezoito anos, ela não iria. Talvez adiasse a universidade até que ele conseguisse algum tipo de verba para ir embora desse fim de mundo.

Sim, soava precipitado, mas estava tão disposta a querer que aquilo desse certo. O queria tanto mais tanto que doía fundo. A presença de Jeremy dificultava que conversassem, na verdade impossibilitou por completo. Não falou mais nada com Damon. O que a irritou, pois queria aquele tempo para ficar com ele. O único lado positivo foi que terminaram muito mais rápido.

— Vocês ajudaram bastante. Obrigada. – Agradeceu Damon timidamente, antes recolher as folhas e voltar para seu quarto.

A vontade de Elena era de esperar Jeremy subir e entrar lá com Damon, mas logo sua mãe também chegaria e Jenna... Aquilo era cansativo. Queria que domingo chegasse logo para terem a casa só para os dois outra vez.

Subiu desapontada para o quarto, não demorou muito para aquela sensação esvair de seu corpo quando fez o contato de sua pele com a água quente na banheira coberta de uma espuma ainda rala.

Aquilo era bom. Passou todo o sabonete de morango por si e saiu indo para o chuveiro onde pôde lavar o cabelo. Arrumar-se para jogos não era bem a sua tarefa favorita, afinal dançaria e se usasse maquiagem em excesso seu rosto ficaria borrado pelo suor, mas Mystic Falls era tão frio que aquilo não era mais um problema. Poderia fazer uma boa maquiagem e ficar apresentável; O problema era usar aquela roupa curtinha com a baixa temperatura. De noite, com o sol alto não era um tão grave, pois era mais quente durante o dia e quando ocorreu à competição para as novas vagas no time, estavam na quadra onde havia aquecedor. Mas hoje o jogo acontecia no campo. Na parte externa. Os uniformes de inverno eram feios e nem um pouco sexy, por isso foi vetado na hora. O jeito seria encarar o frio.

A única diferença dessa vez era que a parte de cima do top era manga longa, mas ainda sim mostrava a barriga e era justo, então não adiantaria muita coisa.

Terminou de repassar o brilho labial e olhou o resultado. Bastante lápis. Delineador somente nas pontas, um pequeno par de cílios postiços e sombra coral esfumaçado com preto. O cabelo exigia que fosse preso em rabo de cavalo, mas não significava necessariamente que teria de fazer aquela coisa brega e desajeitada. Fez uma espécie de escova na parte superior do cabelo e do meio para as pontas cacheou com um baby liss. Após certificar-se de que nenhum fio estivesse arrepiado, prendeu os cabelos com um elástico e grampos. Apanhou a fita rosa Pink e passou por cima do elástico o deixando coberto.

Sem muita demora, vestiu o uniforme e olhou ao relógio. Ainda faltava meia hora, mas provavelmente todos já estariam prontos lá em baixo a esperando. Tinha que chegar quarenta e cinco minutos antes do combinado e já estava à meia hora do inicio do jogo. Ou seja, estava atrasada. O tempo da casa até a escola de carro eram quinze minutos.

— Finalmente. – Disse April ao vê-la descer da escada. – Você demora muito pra se arrumar, Elena.

— E você devia demorar um pouco mais. – Concluiu após ver as vestes ridículas que a irmã tinha mania de usar.

Antes que aquilo virasse uma briga, Isobel interrompeu:

— É melhor a gente ir antes que todo mundo se atrase.

Para sua tristeza, Damon não estava ali. Perguntou disfarçadamente para sua mãe e ela disse que ele havia ido um pouco mais cedo. Presumiu logo a razão. Seria muito desconfortável para ele ir no mesmo carro que sua família e se acaso fossem juntos, mas com o seu próprio veiculo, ela e Jenna repetiriam aquela cena ridícula do dia do piquenique.

Sem demoras, já estavam no estacionamento da escola. Elena saiu disparada a frente ao ver o horário. Ainda estava cedo e o ápice do frio ainda não havia chego, mas conforme corria, conseguia, sem dificuldades, sentir o vento a atravessando fortemente. Queria logo que chegasse junho para finalmente ser verão. Estavam quase na primavera e ainda sim, Mystic Falls continuava daquela maneira. Não era gelada, quer dizer, não estava nevando e nem formando granizos ou congelando, era simplesmente frio. Talvez só pra ela e para sua família que a sensação térmica fosse daquela maneira. Nova Iorque também conseguia ser fria quando era para ser, mas ainda sim é muito mais equilibrada.

Adentrou ao portão de ferro que cercava o campo. Ainda estava parcialmente cheio e sem muitas pessoas. A maioria estava no estacionamento por agora. Olhou em volta rapidamente para ver se conseguia encontrar o par de olhos azuis que tanto queria, mas só encontrou o grupo de meninas na borda da arquibancada.

— Está atrasada. – Bufou Rebekah soltando-lhe um olhar de fúria. Preferiu não contestar. Já bastava ouvir sua mãe reclamando de seus atrasos. Juntou-se ao grupo e aos poucos todas começaram a conversar enquanto esperavam o começo do jogo.

Ao inicio do enchimento de pessoas nas arquibancadas, o campo passou a se formar pelos juízes, enquanto os técnicos e assistentes dirigiram aos seus lugares. Se antes não havia achado Damon, agora, com a quantidade de pessoas que estavam ali, seria quase improvável.

Ao anunciarem ao microfone a entrada das Mystic Girls e das lideres representantes do outro time, todas se dirigiram a um lado do campo, junto ao leopardo Falli, a mascote do time de Mystic Falls e o pirata, mascote do time adversário. Logo, a música, dirrty da Christina Aguilera ecoou pelo campo e as garotas iniciaram a dança enquanto as duas equipes entravam no gramado.

A coreografia que ela e Rebekah haviam montado no fim acabou se encaixando muito bem, apesar de que as adversárias não fossem ruins; Definitivamente não estavam para brincar e se divertir, mas a vantagem de estarem jogando em casa acabou ajudando a equipe na hora de interação com o publico.

— Me dê um C – Gritaram as meninas em ritmo.

C— Berrou a plateia.

— Me dê um H.

H.

— Me dê um E.

E.

— Outro E.

E.

— Me dê um T.

T.

— Agora um A.

A.

— De novo aqui é o H.

H.

— Pra terminar o S vão me dar.

S.

— CHEETAHS. CHEETAHS. CHEETAHS. – Comemoraram alegremente a formação da palavra que dava origem ao nome do time da escola. Por não estarem jogando em casa, a outra equipe nem se atreveu a chamar a torcida. Ao continuar com a sessão de gritos agudos e pulos felizes, o jogo finalmente começou.

Elena tentou ao máximo desviar aos olhares de Tyler no inicio da partida, mas até o juiz apitar o inicio, os olhos dele não se desgrudaram do seu. Estava com raiva, logo o momento o fez parar com a encarada e exigiu que se concentra-se no jogo. Matt era o quarterback, líder do time, astro em ascensão com um grande futuro. Havia olheiros na plateia vindos de longe para vê-lo. O que deixava Rebekah cheia de orgulho. Tyler era Linebacker, também um dos jogadores mais talentosos, mas já havia deixado claro que não tinha interesse em seguir carreira no futebol após a escola. Ele gostava de música. Era o que queria fazer.

Enquanto toda a atenção do publico era voltado para o campo, os olhos de Elena se dirigiam loucamente para cada canto daquela arquibancada. Sabia onde Damon se sentaria, afinal, organizou os lugares com a Rebekah, mas ele não estava ali, e não estava em lugar algum. Ao achar, Ric em um dos lugares, foi quando realmente se preocupou. Encontrou Jenna, para ver se ela estava ou não em cima dele, com essa perseguição que estava fazendo pra cima de Damon.

Mas também nada.

I’m a Barbie girl, in a Barbie world. Life in plastic, it’s fantastic. You can brush my hair, undress me everywhere. Imagination, life is your creation. – Apitava a musica quase muda ao fundo. Com o barulho e os gritos do publico ninguém mais ouvira. Exceto por Elena, que conhecia muito bem o toque de seu celular. Deu alguns passos para trás indo até as bolsas postas em cima dos pequenos bancos de madeira em baixo da arquibancada de ferro.

D.

Brilhava a letra na sua tela. Preferiu usar somente aquela consoante para identificar Damon. Em caso de alguém, por uma infelicidade, algum dia, ver uma chamada dele no seu celular, provavelmente perguntaria o porquê de um professor estar ligando para ela.

Afastou-se mais um pouco para baixo da arquibancada e abaixou o corpo para que não batesse a cabeça em algum ferro a cima. Torcia mentalmente para que ninguém derrubasse uma comida ou bebida e acabasse caindo em cima de sua cabeça. Se seu cabelo bagunçasse, poderia considerar como seu fim.

— Damon, cadê você? – Sussurrou ao atender o aparelho.

No estacionamento. O jogo já começou?

— Já, têm uns dez minutos. Vem logo.

Não posso. – Lamentou claramente desapontado. Ficou preocupada de inicio com a razão, afinal pra tudo que Damon fazia havia uma resposta. Iria perguntar, mas ele foi mais rápido e continuou a falar, explicando. – O Tyler tá jogando e o Mason tá aí. Eu ia até ficar, era só continuar longe dele, mas aí... Eu vi que um primo meu do primeiro ano também tá participando do time, parece que ele é reserva... Então, minha mãe veio também. Eu tive que sair, desculpa.

Não conseguia identificar se ele falava aquilo com tristeza ou algum tipo de emoção clara. A gritaria conseguia abafar a percepção, mas fora o bastante entender. Se a própria já odiava aquela situação, não gostava nem um pouco de imaginar como era para ele.

— Quer que eu vá aí? – Perguntou em um murmuro, enquanto mordia os lábios fortemente. Sua cabeça gritava alto para que ele dissesse que sim; O jogo já havia começado e não precisaria de apresentação de dança das meninas até o próximo tempo.

Sim. – Damon respondeu nervoso ao convite. Ainda por culpa dos berros, não percebeu o quão exasperado ele respondeu a sua proposta, mas ainda sim foi o bastante para o seu coração acelerar-se.

— Então eu vou. – Afirmou um tanto envergonhada.

Encerrou a chamada e desligou o aparelho em ritmo frenético. Todos estavam tão concentrados a partida, que não seria tão difícil ir. Saiu de baixo da arquibancada e foi recebida pela corrente de vento forte que vinha do noroeste. Estava ainda mais forte do que quando chegou. Seguiu em direção ao portão da direita, se fosse pelo principal as garotas do outro time de torcida poderiam a ver.

Andou com um pouco mais de lentidão a se ver fora do campo. Encolheu seus braços contra a sua barriga descoberta enquanto procurava pelo carro dele. Por ter saído pelo lado contrario, houve um pouco mais de demora até achar o veiculo.

Avistou o prius branco e correu até a janela, dando duas batidas fracas no vidro.

— Abre. – Pediu ela tremendo. Rapidamente, Damon obedeceu e destravou a porta, fazendo Elena adentrar apressada ao banco do passageiro.

— O que aconteceu contigo? Tá tremendo. – Preocupado perante o estado dela, retirou o blazer preto que usava e o pôs delicadamente por cima dos ombros de Elena, que ainda tremia. Por reflexo, ela se agarrou mais ao enorme casaco enquanto Damon aumentava o volume do aquecedor no carro. – Deita aqui. – Ofereceu seu colo para ela se apoiar. Sem contestar, ela fez de bom grado. Agora o perfume dele se inebriava em tudo. Tanto no casaco cobrindo suas costas e braços, como em suas narinas pela forma com que estava deitada na curvatura dos ombros do próprio.

— Isso é bom. – Gemeu em manha ao sentir as mãos dele massagearem por suas costas e cabelo.

— Você devia ter trago um casaco. Sabe como aqui é frio.

— Vou trazer da próxima vez, eu prometo. Só não me deixa dormir, tenho que voltar pro segundo tempo.

— Não se preocupa com isso. – Disse ele em seus cabelos. Ela já não tremia como antes, embora ainda soluçasse um pouco. Pensou muito em trazer um agasalho, mas a ideia de levar um de seus casacos chiquérrimos e caríssimos para um jogo escolar em uma cidade como aquela não possuía nenhum sentido. Preferiu passar frio e agora pôde ver o quão se arrependia. Talvez nem tanto. Se houvesse trago não estaria assim agora com Damon. Vestindo o blazer dele e recostada em seu peito.

Sentia a respiração dele tão pesada e preocupada. Era o bastante para deixá-la atenta também. Olhou disfarçadamente para cima na esperança de que ele também estivesse a encarando. Não estava; O olhar se mantinha vazio olhando para frente. Ao perceber que a Iris castanhas de Elena o fitava, redirecionou o rosto para baixo. Sem avisos, os lábios dela juntaram-se aos dele formando um beijo lento. Elena já não tremia mais.

Sem pensar duas vezes, entrelaçou sua língua na dele assim que sentiu a do mesmo já dentro de sua boca. Aprofundando o contato, levantou o tronco e o puxou para mais perto, enquanto as mãos dele repousavam timidamente por sua perna descoberta.

Uma líder de torcida praticamente nua em cima de você é o sonho de todo o homem racional. E como homem, ele não ficava atrás e era difícil de resistir, mas ainda sim estavam em um estacionamento de escola.

Elena já não usava mais o blazer. O jogou para o banco do passageiro e sentou-se em seu colo ficando com as costas contra o volante. Não era ferro, sua boca já estava totalmente afundada no pescoço dela enquanto sua mão apertava com força o quadril exposto pelo top.

— Elena... Não... Chega. – Disse em um gemido fraco. As mãos dela já estavam debaixo de sua blusa. – Volta pro jogo eu tenho que ir. – Segurou as mãos dela e pressionou com leveza para trás.

— O quê? Damon... Para, o que foi?

— Volta, por favor. Eu tenho que ir...

— Pra onde? – Indagou sem entender. – Damon, o que foi? Fala pra mim, me deixa ajudar você.

Não podia fazer aquilo. Não era ali que deveria estar.

Não era.

Ficou em silêncio olhando para baixo, Elena ainda o encarava com expressão de quem não compreendia nada. Era fácil para ele ver o quão ela queria o ajudar, mas não dava. Tentou fazer isso, chamou-a aqui para ter uma confirmação e agora que tinha não podia continuar com aquilo.

— É melhor você ir. Eu vou embora, eu...

— Vou com você. – O interrompeu, decidida. Esqueceu-se do jogo, esqueceu-se de tudo.

— Por favor, para. Para com isso.

— Mas Damon...

— Vai. Por favor. – Suplicou educadamente, segurando as mãos dela entrelaçadas na sua. Sentindo-se sem um pingo de dignidade, Elena saiu do colo dele e escondeu o rosto para baixo para que ele não visse o quão humilhada estava se sentindo. Apenas perguntou se poderia levar o blazer e ele concordou, sem expressar nenhuma emoção, tanto na voz quanto no olhar.

Deu partida no carro e arrancou para fora daquele lugar.

Cada passo que Elena dava de volta para aquele campo era como se uma parte de seu corpo fosse ao chão. Andava como uma perfeita sem rumo, como se não tivesse direção para seguir. Não entendia a razão de tudo ser daquele jeito. Não entendia mais nada, ou talvez estivesse em negação para entender. Havia uma parte disso que não fazia sentido, só que agora não conseguia pensarem nada.

Deu graças ao voltar para perto do grupo de garotas, antes do primeiro tempo encerrar. O campo agora estava mais tranquilo. O jogo ainda estava no zero a zero.

— Elena, meu deus. – Bonnie vinha em sua direção. Apanhou sua mão e a puxou para mais perto do resto das meninas. – O que aconteceu com você? Onde você tava?

— No banheiro. Tive que dá a volta e ir até o da escola; O daqui tava muito cheio e muito sujo, papel higiênico pra todo lado, ate no espelho.

Já havia pensado em uma desculpa no caminho. Devido às amigas que tinha, sabia que elas a encheriam de perguntas, fossem perguntas preocupadas ou desconfiadas.

— De quem é esse blazer? – Continuou Bonnie com a investigação. Para sua sorte, ela não parecia desconfiava, mas também não estava preocupada. Parecia mais... Confusa.

— Um menino. Ele tava na arquibancada, me paquerou, depois pediu meu telefone e pra ser simpático... Ofereceu o blazer.

Sabia que ela acreditaria. Todos os dias, Bonnie e o resto das meninas, viam filas de garotos atrás de Elena.

Com malicia, Bonnie falou:

— Deu o telefone pra ele?

— Dei... Só não garanto que dei o número certo. – Disse Elena dando os ombros fazendo Bonnie rir. Juntaram-se ao restante do grupo e ficou ali de volta observar os minutos finais do primeiro tempo. Após a partida, deu alguns autógrafos para as lideres de torcidas da outra equipe; Também tirou fotos com os garotos time adversário e alguns membros da plateia que pediram. Embora estivesse naquele lugar, naquele momento, a mente de Elena se mantinha longe a pensar. Sentia que aos poucos, ia sendo dilacerada pela dor. Não queria nada demais, apenas ser amada.

Era egoísmo seu querer isso dele?

—---x----

Levado pelo desespero, não foi difícil para Damon lembrar-se do endereço. Parou o carro em frente à fachada amarela do prédio largo de um andar. Jogou a cabeça no volante querendo mais do que tudo, arrancar o próprio cérebro. Era um pouco menos de oito e meia da noite, não era tão tarde. Desceu do carro após uma longa sessão de pensamentos como: ‘’ Você é um idiota’’ ou qualquer coisa que fosse o bastante para colocar sua autoestima ainda mais ao chão frio.

Tocou a campainha e esperou por menos de um minuto, até uma menina de no máximo treze anos, atender a porta.

— Pois não? – Perguntou a garotinha de cabelos loiros e olhos castanhos. Alguns segundos depois, o que Damon julgou que fosse a mãe apareceu atrás da criança.

— Olá. – Disse ele encarando a adulta. Explicou calmamente a situação e logo ela o deixou entrar. Não recordava muito bem de onde ficava o quarto; A mulher o guiou ao andar de cima e sem muitas dificuldades Damon conseguiu achar o aposento que procurava.

Bateu a porta duas vezes até que finalmente o atendesse. Pensou em ir embora e não voltar nunca mais. Cavar um buraco até o centro da terra e se esconder no infinito, mas aquela situação exigia total urgência.

— Damon? O que tá fazendo aqui? – Questionou Rose surpresa. A mulher enrolou-se mais no robe branco e deu passagem para que ele entrasse no quarto. Trancou a porta. Damon parecia tão atordoado que a preocupava. Não era novidade para ela o ver tão nervoso e com medo, mas ele sendo tão instável a deixava ainda mais em alerta.

— Eu fiz o que você pediu e agora, eu... Eu...

— Damon, calma pelo amor de deus. Senta aqui. – O direcionou para a poltrona e foi até o frigobar apanhar uma água para ele. – Pega. Toma e se acalma. – Em um pouco mais de um gole, avistou o liquido inteiro da garrafa pequena, descer pela garganta do rapaz. Ele estava mesmo muito aflito. – Agora com calma me diz o que aconteceu. – Pediu, retirando a garrafa da mão dele e colocou em cima da mesa.

— Teve jogo de futebol hoje na escola. Eu fui, mas voltei pro estacionamento porque eu vi quem não queria ver. Sabe do que eu to falando, não é? – Explicou sugestivamente e Rose logo entendeu do que se tratava.

— Continua... – Incentivava, ela.

— Lá eu fiquei pensando nas coisas que você me disse e você tinha razão quando disse que eu tenho... Que eu tenho... – Dessa vez Rose não entendeu, ou se fez de desentendida por querer tanto o ouvir admitir, mas era tão difícil falar. Fechou os olhos e tomou ar, querendo adquirir algum tipo de coragem. – Você sabe... Sentimentos fortes pela Elena. E é verdade, eu sei que ela é especial, eu soube disso desde cedo, mas... Eu não achava que era tão forte.

— Você a ama? – Perguntou o fazendo ficar em silencio por alguns segundos.

— Não, mas hoje eu vi que eu me subestimei. E pior, eu acabei subestimando o que eu sentia por ela.

— E o que você sente por ela? – Foi no que pensou durante todo o caminho da escola para a pensão. Era na resposta que sua mente insistia em caçar primitivamente até que conseguisse encontrar. Com Rose, fora tão fácil. Sempre sentiu algo diferente por ela, desde muito cedo. Se fosse para amar Elena já teria descoberto e haveria de ser rápido. Talvez não fosse mesmo destinado a ser amor. Talvez Elena se tornasse aquela que o mostraria que dá para seguir em frente. – O que sente por ela, Damon? – Repetiu a pergunta calmamente devido a sua demora em falar. Mesmo com a dificuldade em sua pronuncia, ainda tentou dizer algo.

— Ela é a pessoa mais fascinante que eu já conheci. Ela me dá esperança que a vida pode ser bonita e de que existe um mundo fora daqui e de que eu posso fazer parte. Eu sempre me senti preso nesse lugar e acho que eu me acostumei a ficar assim. Ela me liberta... Eu nunca me senti livre e com a Elena, eu finalmente sinto.

Em negação, Rose entendeu o que ele queria dizer. Damon queria o casamento, queria filhos e formar uma família para ter um motivo para não beber mais e para ter uma razão para qual se controlar. Assim como ele, odiava essa cidade, mas também igual a ele se acostumou. Era a vida que tinham e que sempre tiveram. O amor dela o prendia ainda mais aquele lugar; E o amor de Elena era capaz de livra-lo para a vida na qual Damon tanto queria.

Uma vida longe.

Nem precisava dizer isso a ele. Damon já sabia.

— Eu pensei muito naquilo que você me falou. – Damon voltou a falar. Já estavam ambos há minutos sem dizer nada. Damon sussurrava cada palavra com tanta cautela. – Eu quase afundei minha cabeça de tanto pensar e eu precisei de uma confirmação... Liguei pra ela lá do jogo e ela foi pro estacionamento e a gente ficou lá. – Agora a dor comandava sua voz. – E quando eu a beijei, ela tava fraca e tremia... Eu queria tanto transmitir amor pra ela, mas eu não tinha e eu queria tanto... Eu imaginei como seria e por um momento eu pensei: É isso que eu quero. Eu quero me entregar. – Mas o medo não deixou. Pensou ele em arrependimento. Rose ouvia tudo atenta, mas ao mesmo tempo mantinha um olhar tão distante e vazio. Sem um pingo de emoção. – Rose? – Chamou, preocupado. – Tá tudo bem?

Lutando contra as lagrimas, ela respondeu:

— Você me ama... Mas agora você me ama um pouco menos do que antes e isso é porque seu coração, aos poucos, tá sendo ocupado por ela. – Não iria aguentar, sem avisos já estava com o rosto molhado pelas lagrimas que rolavam. – Só que a parte ruim é que eu te amo igual. Do mesmo jeito. Eu sei que ela vai te fazer feliz. Eu sei, e se isso der certo ela tem capacidade de fazer realizar todos os seus sonhos, mas... Eu não sou de ferro. Você não quer casar, casamento não vai te fazer ter mais motivação pra parar de beber e eu também não quero me casar. Você sabe que eu não quero. – Aos poucos compreendia mais o que ela dizia, embora não possuísse a mínima ideia de onde Rose queria chegar falando tudo aquilo. – Não é a opção que vai poder te fazer mais feliz, só que... É o caminho mais fácil. Entende?

— Não muito. Respira, seca as lágrimas e se acalma. Eu to aqui e to te ouvindo.

O cuidado com qual Damon falava a fez sossegar, aos poucos. Falava antes de pé, andando de um lado para o outro, enquanto ele sentava na beirada na cama a olhando tentando compreender alguma coisa que dizia. Resolveu sentar-se do lado dele, em uma tentativa de parecer mais segura de sua decisão e serena de seu estado emocional. Hesitante, apanhou a mão direita dele e apertou entrelaçando a sua. Novamente, sentia o nervosismo a dominar pela milésima vez.

— O que eu to querendo dizer é que... Se quiser tentar de novo, sem casamento. Eu volto. Eu volto pra você. – Falou atrapalhada, deixando Damon completamente estático e sem reação.

Mas entendia a razão. Rose também receava que esse relacionamento com Elena desse errado e ele fosse preso ou demitido de seu trabalho. Sabia da enorme fagulha do medo que o acendia e tinha noção de como aquilo poderia o arruiná-lo. Ela queria o poupa-lo daquilo. Queria muito acabar com aquilo e pegar o caminho mais fácil que acabava de ser oferecido agora, bem na sua frente.

Pedia tanto por mudanças em sua vida e simplesmente ignoraria o começo de algo novo.

Como uma noite de veraneio, o tempo passou rápido e ele nem percebeu. Mesmo estando no outono; Ficaram em silencio puro por exatas duas horas e sete minutos. Após aquela proposta, tudo que ele conseguia fazer era pensar. Uma lista de pros e contras se executava em sua mente, fazendo com que sentisse uma menina de catorze anos.

— Você vai falar alguma coisa? – Perguntou ela em prantos, já estressada pelo silencio. Nesse meio tempo, Damon se trancou no banheiro voltou e ficou estirado no tapete olhando para o teto, enquanto ela continuava imóvel na beirada cama. – Damon, eu só to te oferecendo mais uma opção. Eu nunca te manipularia a nada; Encara como uma escolha, só isso.

Mais silencio. Esperou até que estivesse mentalmente preparado para sequer mexer um milímetro de seu corpo. Levantou o tronco, de maneira que ficasse sentado no tapete. Os olhos já vermelhos olhavam para a porta a direita. Era como um pássaro, bisbilhotando a pequena passagem para fora da gaiola enquanto desejava sentir o gosto da liberdade.

— Hoje eu percebi que não é fácil pra mim, aceitar mudanças. Mas agora que eu já me conformei e que eu já dei um espaço pra sentir isso... Eu não posso recuar agora porque seria como abandonar uma coisa que eu já comecei. Eu e você... – Suspirou e parou alguns segundos ao ver que falava rápido demais. Tentou diminuir o ritmo e o nervosismo. Era péssimo em metáforas, mas falar diretamente seria difícil demais para ele. – A gente teve um começo, um meio e um milhão de fins... E dessa vez eu só tenho um prólogo. E por mais que ele me assuste, por mais que tenha demorado pra me acostumar com ele e mesmo que eu ainda não ame. Eu sou teimoso pra continuar a escrever; Eu tentei fugir, varias vezes só que no fim acabou me motivando a querer mais. Desculpa. – Um sorriso sincero se desenhou no rosto de Rose e aos poucos a face dele ganhava mais vermelhidão por conta do fraco choro que tanto segurava para não soltar.

— Vem cá. – O chamou para um abraso amigável e ele concedeu. Era diferente dessa vez. Quando ela ligou, cancelou o casamento, mas não queria que acabasse. Quando Rose voltou, sentiu todo aquele choque ao revê-la. Havia, de uma maneira assustadora, se acostumado com o fato dela ter fugido. Ela disse todas aquelas coisas sobre estar começando a se apaixonar novamente, só que era a primeira vez que pensava sobre aquilo em voz alta e o conselho de nada serviu, somente para assustá-lo. Além do detalhe que ainda amava muito Rose naquele momento. E agora, dessa vez, depois de consegui assumir para si o que sentia por Elena, chegava à conclusão de que sim, continuava a amar Rose; A diferença é que agora estava pronto para seguir em frente. De corpo e alma. – Seja feliz! – Sussurrou ela o encorajando entre o abraço.

Separaram-se alguns centímetros e sorriu para a mulher de olhos caramelos a sua frente.

Definitivamente, é diferente dessa vez.

A sensação de um ponto final finalmente o atingia.

— Você também. Seja feliz, Rose – Respondeu estendendo mais o seu sorriso. Guiou-se normalmente até a porta e saiu daquele quarto sentindo-se mais leve e livre do passado.

Não havia reparado na forte chuva que caía lá fora. Somente ao sair do pensionato foi quando sentiu os fortes e violentos pingos serem jorrados na terra. Já completamente molhado, atravessou a rua e abriu a porta de seu carro. Eram onze e trinta e dois. Iria devagar. Todos na casa dos Gilberts dormiam cedo e há essa hora já deviam estar se preparando para deitarem. Se demorasse por ao menos vinte minutos ou meia hora, chegaria a casa com eles já no ápice do sono.

Fez o que havia planejado sem muitas dificuldades. As chuvas em Mystic Falls conseguiam ser horríveis e das mais desastrosas, capazes de interditar uma cidade inteira, mas aquela ainda estava em seu inicio. Em cerca de duas horas, tudo se agravaria e o inferno iria começar pela alagação em algumas ruas.

Virou a esquina para ‘’sua casa ‘’ e olhou rapidamente para o relógio. Onze e cinquenta e sete. Pensou, repetindo as horas em sua cabeça. Estava a ponto de dar a volta na rua para entrar na garagem no outro lado a direita. Na varanda na casa, estava Elena sentada em uma rede que ficava presa ali.

— Mas o que? – Sussurrou ele confuso, apertando os olhos para ter certeza se era aquilo mesmo que estava vendo. Elena abraçava as pernas e olhava a chuva com uma faceta triste no rosto, não era possível ver direito pela distancia que estava. Ela não vestia mais o uniforme de torcida; Ela estava de calça jeans, botas escuras e uma blusa de frio na qual ele não conseguia ver a cor.

Curioso, saiu do carro sendo recebido pela forte chuva. Elena parecia que não havia percebido a presença do carro dele no meio fio. O gramado já formava uma pequena poça, teve que fortificar seus passos o fazendo ficar mais sonoros. O barulho do pé contra a aguaceira do gramado fez Elena despertar-se de seus pensamentos e o avistar já no meio do jardim vindo em sua direção.

Parou de andar ao perceber que ela já tinha o enxergado.

Agora ele conseguia ver o que os olhos dela expressavam. Raiva. Essa era a palavra correta; Era como se Elena já soubesse. Sem se importar com o babyliss feito em seu cabelo, caminhou em fúria até ele, em poucos segundos já estava dominada pela água que caía do céu.

— Não vai correr dessa vez? – Perguntou em ironia. Não estava disposta a disfarçar o quanto estava com ódio. Era cansativo o ver fugir toda vez. Teria que recuperar seu orgulho.

— Se você não quiser me ouvir eu vou entender.

— Você tem uma explicação?

— Sim, eu tenho. – Disse tentando manter a dignidade. Elena cruzou os braços em curiosidade e deu um sinal com a cabeça para que ele prosseguisse. Não degradou a postura de brava por nem um segundo sequer. – Rose tá na cidade. – Era tudo que precisou ouvir para que seu corpo desmoronasse. – Calma. – Pediu ele ao ver o estado de sua reação. – Me deixa explicar, por favor.

— Explicar o que? Eu já entendi absolutamente tudo, você...

— Não, você não entendeu. Elena me ouve. – Apertou os ombros dela, como se estivesse a segurando para não cair.

— O que? O que você quer que eu ouça? O quanto você a ama? E o quanto ela é o certo pra ti e que provavelmente você nunca vai a esquecer? Dispenso sua explicação...

Tentou sair, mas ele apertou seu ombro ainda mais a impedindo.

— Ouve. – Implorou. Elena culpava-se por ser tão burra de não ter previsto aquilo. Bonnie e Matt enviaram a carta, ela chegou, ele a viu e por isso chegou de madrugada no dia do piquenique. Estava com ela. E hoje, fugiu porque não queria ficar naquele carro com ela e sim com Rose. Segurou as lagrimas fechando os olhos e o esperou continuar a falar. Parecia desesperado para que ela escutasse. – Quando ela chegou eu fiquei... Maluco, eu não sabia o que fazer, mas eu me acalmei a gente conversou. Eu contei pra ela sobre a gente.

— VOCÊ O QUE?

— Calma. Escuta. – Era como se estivesse pedindo aquilo pela centésima vez. Balançou-a novamente impedindo que desse as costas e saísse correndo de raiva. – Elena eu gosto de você, ok. E ela disse a mesma coisa, só que disse que...

— O que? – Não estava entendendo nada.

Aquilo era mais difícil do que ele imaginava. Gaguejava como um louco para falar e tudo que dizia não saía nada parecido como tinha planejado.

— Ela disse que eu to a ponto de me apaixonar de novo. Por você.

Estava prestes a perguntar se era isso mesmo que estava ouvindo ou se ele havia dito alguma pegadinha. Não era conceptível para ela imaginar a mulher que ele tanto amava dizendo aquelas palavras. Silêncio. Não fazia ideia do que sua expressão aparentava agora, provavelmente uma careta confusa e completamente paralisada por não saber como reagir aquilo que Damon disse. Um raio explodiu no céu.

— Pensei que tivesse medo. – Afirmou ele quebrando o silencio. Referia-se ao dia em que ela fingiu o temor para que Damon não fosse saísse de perto. Para que pudesse continuar com seu plano de se tornar amiga dele e o tira-lo de sua casa. Mal havia escutado. Nem sua cabeça raciocinava direito, seria muito difícil que seus ouvidos prestasse atenção a comentários banais ou a qualquer coisa que julgasse não ser importante. – Quer que eu continue? – Sem forças para falar, Elena somente assentiu. – Eu nunca duvidei do fato que eu gostava de você, a gente era amigo, então era obvio que eu gostava. E quando ela me disse aquilo, isso ficou na minha cabeça e eu fiquei maluco. – Dessa vez um trovão atravancou que Damon continuasse. Queria ouvi-la falar agora.

— Porque fugiu, então? Lá no carro. Por quê?

Era como se suas explicações estivessem a fazendo ficar mais triste. Não entendia a razão, afinal eram palavras boas na qual ele despejava com sinceridade.

— Porque eu percebi que era verdade. Quando a gente tava lá, tudo que eu pensava era que era ali contigo que eu queria ficar. Entende, por favor.

— Eu entendo. Eu entendo que tudo isso que você fala é lindo. – Disse já exaltada com a situação. – Mas você não me ama. Você ama outra. Ela. – Queria tentar sair outra vez, mas seria em vão porque ele a impediria outra vez.

— Você tá certa. Eu amo a Rose, mas Elena me entende, por favor. – A angustia na qual ele tanto falava a fazia temer. Damon parecia cada vez mais aflito para que o ouvisse. Não soube identificar se eram lagrimas ardendo nos olhos dele ou era por conta da chuva. – Você gostou de mim do dia pra noite? – Questionou retoricamente. – Não... Demorou um tempo. E também demorou um tempo pra mim te ver como amiga e não só como aluna. Demorou pra eu gostar de você e talvez demore um pouco pra mim te amar, mas é assim que as coisas são. Ninguém ama ninguém do dia pra noite. Demora. Amor se constrói com o tempo, não é como nos filmes. – A maneira na qual ele falava era tão agitada que não conseguia identificar se ele estava tentando a convencer ou brigando com ela. Percebeu sem dificuldades o temor que Elena estava sentindo. O olhar dela denunciava tudo. Acalmou-se tentando não assusta-la mais do que já deveria estar. – A questão é que essas coisas não acontecem assim. Não são jogados numa historia, tudo tem uma razão além de destino... Elena, eu superestimei meus sentimentos pela Rose e eu subestimei os meus por você. É como se eu tivesse errado a minha vida inteira e as repostas, ou no caso o amor, estão vindo. Estão vindo com calmo, caso contrário eu não aguento. Mas estão vindo, eu sei que estão. – A água da chuva era o alicerce necessário para que suas mãos não desidratassem de tanto suar. Elena não parecia sugestiva, o que deixava ainda mais nervoso por não saber qual seria sua reação.

— Eu sei que gosta de mim. – Também se controlava para não chorar. – Mas... Eu amo você. Eu não queria dizer por que não queria te assustar, mas eu acho que já tá bem na cara. Não sei se eu posso esperar que você me ame quando a mulher que você ama tá tão perto. Eu não forte o bastante pra isso, me desculpa. – Implorou abaixando o rosto para não o encarar. Queria que aquela tortura acabasse logo.

— Eu não fui atrás dela pra voltar. – Sussurrou em tom de fraqueza. – Eu fiquei com medo e queria falar com alguém e ela me avisou, então... Era como se ela soubesse. – Agarrou o ombro dela outra vez com a mão esquerda e elevou a outra para apoiar no pescoço da garota. Lentamente se aproximou e parou esperando que ela viesse mais para perto. Não veio. – Essa deve ser simplesmente a declaração mais vergonhosa do mundo, mas eu vou continuar. A Rose disse, hoje, que aceitaria voltar. – O que? Pensou ela quase entrando em desespero outra vez. Damon agarrou seu rosto com as duas e a obrigou a olha-lo antes que ficasse ainda mais nervosa e agitada. – Eu escolhi ficar contigo. Eu escolhi você e eu não me arrependo.

Já aos prantos, ela perguntou quase aos gritos:

— Por quê? Porque eu se não me ama? – Agradecia aos trovões e a chuva. Se não fossem por eles, já teriam acordado toda vizinhança.

— Porque eu sei que eu posso te amar e eu não quero mais desperdiçar oportunidade pra ser feliz. Eu já fiz isso muitas vezes e eu não quero fazer de novo.

— Mas e eu? Não acha que é egoísmo seu me pedir pra amar você e não ser retribuída? Pensa em mim, por favor. Pensa? Eu sabia que você não me amava e se fosse pra gente ficar junto e eu te esperar eu ficaria, mas esse não o ponto.

— E qual é o ponto? – Rebateu estressado enquanto voltava a se afastar. – Me diz qual, porque agora eu é que não to mais entendendo. – Ela não respondeu. Encarou o céu e fechou os olhos os apertando com raiva. – Eu fugia dos seus toques porque eu desejava muito e sabia que eu não podia querer. E eu não ficava a vontade com você pelo motivo de que quando a gente tava junto, eu fico muito confortável, o que é estranho então eu tinha que tentar parar. – Percebeu que Elena voltava sua atenção a ele outra vez. Ela cruzou os braços novamente e formou um bico impaciente nos lábios. Damon sentia que nunca havia falado com tanta precisão e certeza em toda sua vida como agora. – E eu tinha medo de ser feliz quando estava contigo porque eu sabia que você poderia me fazer mais feliz do que qualquer outra, mas o medo de ser descoberto e a minha mania de me sabotar não deixou e eu to me esforçando pra consegui superar isso. Se não quiser me ajudar, e se não quiser me esperar, ok. Mas se me dê uma chance e eu te prometo passar o resto da minha vida tentando pagar pela demora, eu juro.

Devagar, a postura de Damon ia se acelerando mais. Era como se a cada segundo ele ficasse o dobro do nervosismo que estava antes. Elena, por outro lado, preferiu continuar intacta e sem vontade de dar o braço a torcer. Estavam os dois a risco de pegar uma pneumonia e ela estava ali encharcando uma roupa caríssima por ele. Sem que percebesse já estava chorando outra vez.

Que droga.— Praguejou ao vento quando percebeu que chorava. – Ta vendo Damon? Você fala essas coisas e faz com que seja impossível pra mim te odiar. Eu quero te odiar porque era muito mais fácil, só que eu não consigo mais. – Um sorriso presunçoso se abriu no rosto dele ao ver a maneira atrapalhada na qual Elena se expressava. – E agora, eu não posso te beijar porque tem essa porcaria de sociedade e o risco de algum infeliz ver a gente aqui fora. Para de rir da minha cara. – Bateu o pé enquanto gritava. Os pingos da água suja misturada a grama respingou em sua roupa a fazendo ficar ainda mais estressada do que antes. Ainda completamente raivosa, ela completou: – É melhor eu entrar. Quero muito beijar você e aqui fora não é saudável. Passar bem. – Virou-se carregando toda sua postura desastrada consigo. Não conseguiu conter a alegria ao entrar na casa. Tentando não fazer barulho, retirou o par de botas encharcado e subiu as escadas indo para o seu quarto.

Sua vontade era pular na cama. Igual quando fez após o primeiro beijo com ele. Já havia molhado coisas demais e era melhor poupar seu edredom asiático da lista. Tomou o banho mais rápido de sua vida e dobrou as vestes molhadas dentro do cesto de roupas para lavar que se mantinha em um canto qualquer de seu banheiro.

Sua vontade era de agarra-lo a partir do momento em que Damon disse que a escolheu, mas precisava se manter firme e não se entregar outra vez de bandeja. Mas quando ele disse aquelas coisas foi impossível; Sentia a sinceridade com ele a quilômetros.

Rose era a preocupação. Teria que lembrar-se de matar Bonnie e o Matt depois.

Foi até o closet em busca de algo para dormir. Abriu a gaveta onde normalmente ficavam as roupas de dormir e sorriu ao achar o baby-doll roxo que usou no dia que descobriu que Damon moraria aqui. Era muito sexy e provocativo de certa transparência com o fio dental e costas parcialmente descobertas. Sim, ela sabia o quão ele ficou agitado quando o viu usando. Só que dessa vez era diferente. Estavam juntos.

Vestiu a peça e na intenção procurou um par de saltos altos pretos que tinha. O que não faltava em seu closet era sapato nesse estilo; Não os calçou. O barulho que poderiam fazer no corredor e na escada poderiam ser o suficiente para acordar alguém.

Desceu para o andar de baixo e foi até a cozinha, onde parou para colocar os sapatos em seus pés. Já haviam passado um pouco menos de vinte minutos desde que ela entrou e o ouviu ingressar logo depois. Damon era homem, e era muito pratico, não devia estar tudo isso no banho. Provavelmente ficou menos de quinze minutos e vestiu o primeiro pijama que viu no armário.

— Damon. – Sussurrou quase mudamente enquanto batia a porta.

Ouviu um barulho de colchão se mexendo. Ele provavelmente estava levantando. Esperou alguns segundos até que a maçaneta se mexesse e a porta se abrisse. Como imaginava, o olhar dele passou de cima abaixo pelo seu corpo ao vê-la vestida daquele jeito. Não estava de maquiagem e seu cabelo estava completamente molhado jogado sob os ombros. Algo que pareceu agrada-lo ainda mais.

— Nossa. – Disse ele surpreso. Tinha que admitir que amava a maneira na qual Damon a olhava. Diferente dos outros, não era somente pura malicia. Havia muito desejo, mas a quantia de admiração que ele possuía ao encara-la naqueles momentos dava uma sensação de inocência na qual a própria nunca achou que poderia existir em momentos como aquele. – Esse é o baby-doll que você usou quando... –Ronronou que sim e apoiou-se no batente na porta.

— Já que a gente adora reviver momentos... Eu fiz isso. Gostou?

— Ainda pergunta. – Respondeu extasiado.

— A gente tá devendo um beijo. Seria ótimo te beijar na chuva, mas... Aqui é meio que mais possível.

Já havia sido uma sorte o fato de ninguém ter aparecido enquanto discutiam no meio do temporal. Se arriscassem a se beijar no momento em que selaram as pazes, o pior poderia acontecer. E se havia algo na quais ambos não iriam mudar era a precaução.

— Me permite? – Perguntou sarcástico. Sem precisar de resposta, ela sorriu e se aproximou alguns centímetros a frente.

Para sua surpresa, Damon não beijou de imediato. O indicador dele se voltou para os lábios dela e se arrastaram pela parte inferior onde sentiu delicadamente a textura de cada um. Sem nenhum batom desenhado e sim, ao natural, tão incomum e raro naquele rosto. Em seguida, as mãos dele foram parar em seu pescoço, onde acariciou fazendo uma leve massagem que durou apenas alguns segundos.

— Ah. – Gemeu baixo ao aproveitar os toques. Retirou um pouco dos cabelos molhados dela da área e Elena esticou o pescoço para trás o dando a liberdade de selar um beijo em seu ombro esquerdo. Apoiou sua cabeça ali, enquanto assistia sua mão direcionar-se para as costas descobertas pela roupa fina que vestia. Céus, a pele dela conseguia ser mais macia que a seda daquele baby-doll.

Alcançou a zona da espinha e apertou fazendo movimentos circulares com a palma. Queria toca-la nesses lugares primeiro. Não era momento de acelerar tudo e levar seus dedos para lugares mais íntimos. Ainda calmo, roçou o nariz em volta do queixo dela e depositou um beijo bem perto da orelha esquerda. Os olhos dela estavam fechados e o corpo totalmente em aproveito aquela sensação. Passou uma das mãos pela extensão de uma das maçãs do rosto dela e levemente o trouxe para mais perto onde pôde, finalmente, selar seus lábios.

Ainda sem pressa, ambos entreabriram as bocas e devagar o beijo se deu inicio.

Ao ver o ritmo ganhar força, tiveram que parar pelo horário e o fato de terem de ir dormir. Não queriam, mas como Damon disse ambos teriam muito tempo para aproveitar essa nova fase. Sem medos e sem interrupções ou nada no estilo.

Os dois estavam totalmente entregues agora.

Despediram-se e ao chegar ao pé da escola retirou os saltos para que não fizessem barulho ao subir. Deu graças ao voltar a salvo para o andar de cima e o colocou os sapatos perto da porta.

Estava genuinamente feliz.

Damon no meio da discussão lá fora, mencionou que a tal Rose estava hospedada em uma pensão. Se bem conhecia Mystic Falls, esse lugar deveria ter somente uma pensão. Amanhã daria um jeito de descobrir onde essa pensão ficava e finalmente encontrar-se com essa mulher.

Amanhã. Pensou ela já sentindo a escuridão do sono a atingir.


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Notas finais do capítulo

Juro que tento fazer capitulo pequeno, mas é impossível pra mim.

Pra essa cena delena na chuva me inspirei no discurso de when harry met sally. Um filme muito lindo, podem ver vão gostar muito

O que acharam dos momento delena? Do ponto final de Rose e Damon? E da ideia dela ir procurar a Rose? Algo que eu gostei muito foi o ato da Elena com a moradora de rua; Essa nova personalidade dela vai aparecer aos poucos. Quero trazer esse lado novo dela, mas não posso ir com muita sede ao pote. Espero que entendam e que tenham paciência.

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