Abro os olhos lentamente, uma luz intensa entra no quarto pelas frestas da persiana. Viro a cabeça e percebo que não estou no meu quarto, na minha cama, na minha casa, estou em quarto de hospital. Olho para o pequeno sofá de estampa floral a minha esquerda e vejo minha mãe recostada, adormecida, ainda usando o vestido preto que estava na noite anterior. Olho para a direita e me surpreendo, Harry está de terno adormecido na cadeira. Sento-me na cama e repasso os acontecimentos da noite anterior uma, duas, cem vezes. Quando mais pensava em perder quem mais amava meus olhos se enchiam de lágrima, logo começo a soluçar. Harry acorda rapidamente como se estivesse apenas esperando um sinal e se aproxima de mim:

-Taylor! Como você está? – ele pergunta preocupado.

-Harry, o jogo acabou. A Amber venceu. Eu perdi você. –eu disse entre lágrimas

Os olhos do Harry se enchem de lágrima, ele voa em cima de mim e me abraça forte. Sua respiração está  atrapalhada por causa dos soluços e posso sentir suas lágrimas caindo em meu ombro. Minha mãe acorda e vai lentamente para porta, quando eu ia falar algo ela faz sinal com as mãos indicando que depois conversávamos e sai do quarto. Harry continua chorando como um bebe, e eu também.

-Eu não quero a Amber! – Harry disse

-Harry, vocês vão ter um filho!

-Eu nem sei se é meu filho!!-Harry disse aumentando o tom de voz

-Harry….

-Eu não vou aguentar te perder.

-Você está tornando tudo mais difícil.

-Taylor, como eu vou te ver todos os dias na escola, saber que você está na casa do outro lado da rua e não poder te tocar, te beijar? Se essa criança for minha eu vou assumir ela, mas ninguém pode me obrigar a amar a Amber!

Eu não tinha o que falar. Harry limpava as lágrimas enquanto voltava a sentar-se na cadeira. Estiquei minha mão e como resposta Harry segurou-a delicadamente.

-Eu te amo. – ele disse

-Eu também te amo.

                                                          ***

No final da manhã sou liberada do hospital. Era estranho, parecia que o sol não estava brilhando da mesma forma. Meu coração estava cheio de mágoas, dúvidas e tristeza então durante o trajeto algumas lágrimas escapavam do meu rosto. Chegando em casa minha mãe me acomodou na cama e perguntou:

-Como foi com o Harry?

-Não foi ruim, mas nós dois sabemos que não vai dar para seguir em frente.

-Eu sinto muito por isso Tay. Agora eu realmente tenho que ir para  o trabalho qualquer cosia ligue.

Ela beijou minha testa e saiu do quarto.

A solidão me faz pensar. Não sei se conseguiria ficar muito tempo em Holmes Chapel. Acho que preciso de férias. Acho que preciso voltar para Liverpool. Não permanentemente claro, mas por uma semana ou duas para esfriar a cabeça. A campainha toca e literalmente me arrasto para atender.

-Oi- disse Cody.

-Não, você não. –eu respondi fechando a porta rapidamente.

Cody bateu de novo na porta e começou a falar do lado de fora:

-Taylor, eu realmente preciso falar com você.

Sem “garota de Liverpool”, sem piadinhas, sem o clássico tom de garanhão na voz. Cody estava diferente e eu estava disposta a ouvi-lo. Abri a porta com cuidado e deixei-o entrar.

-Eu quero que você saiba que uma coisa. De todo meu coração eu estou arrependido do que fiz com você.

-O que? – pergunto surpresa

-Você ouviu. Eu fui um idiota com você, eu queria que você me desculpasse.

Um leve sorriso brotou no canto da minha boca. Eu conseguia ver nos olhos do Cody que suas palavras eram sinceras.

-Eu te desculpo.

Cody sorri e me abraça forte. Meus braços ficam desajeitados pelo meio do caminho sem saber em que posição deixá-los. Cody me solta e continua a falar:

-Tem mais uma coisa que queria falar para você. - ele parou para me olhar e continuou – Saiba que eu estou do seu lado. Você ganhou um amigo.

-Muito obrigada Cody, de verdade.

-Não precisa agradecer. Mas então, você vai ficar em casa o dia todo?

-Esse é o plano.

-Taylor! Você não pode se entregar dessa forma, você vai acabar ficando doente! Eu vou te levar para passear hoje!

-Cody, eu não sei…..

-Vamos Taylor! Você tem que se divertir um pouco!

O sorriso amigável e sincero do Cody me convenceu. Subi as escadas peguei um casaco e nós fomos para o mini zoológico de Holmes Chapel. Sim, mini zoológico. Holmes Chapel era muito pequena para receber um zoológico de tamanho normal, então tem um menor. Saímos do carro e começamos a passear. Algo naquele lugar, até mesmo a companhia do Cody me faziam me sentir melhor. O Ar parecia mais leve, eu parecia mais leve, minha cabeça ia esvaziando aos poucos só conseguia pensar naquele momento. Cody me falava sobre o zoológico e sobre os animais, ele realmente entendia do que estava falando.

-Como você sabe tanto sobre esse lugar? –pergunto curiosa

-Eu vinha muito aqui quando era pequeno, sempre foi meu lugar preferido.

-Cody, posso te perguntar uma coisa?

-Claro.

-Por que você sempre foi tão durão e garanhão se dentro de você havia esse menino tão doce?

As bochechas de Cody dão uma leve corada e ele fica sem jeito. Á espera de uma resposta me sento em um banco.

-Essa pergunta não tem resposta – Ele respondeu rindo forçadamente.

-Tem sim. Você sempre quis ser “o cara”, mas se esqueceu de que é o Cody. Saiba que eu prefiro mil vezes o verdadeiro você.

Ele sentou-se ao meu lado e começou a falar:

-A Amber fez comigo exatamente o que eu fazia com toda garota, ela me usou e depois jogou fora, foi aí que eu percebi como eu estava errado.

-A males que vem para o bem.

-Pois é – Cody disse rindo – Mas então, quando você volta para a escola?

-Não sei.

-Como assim? As aulas estão a toda, você vai perder muito conteúdo Tay….

-Cody, eu acho que vou passar uns tempos em Liverpool.

-Liverpool? – pergunta Harry.

Viro-me e vejo Harry parado ao lado do banco de braços cruzados. Ele já não usava o terno, agora ele estava com uma camiseta preta, casaco preto, jeans e all star branco, seu inseparável all star branco.