As Aventuras de Rin Casaco Marrom escrita por Sem Nome


Capítulo 25
Aquele com O Grande Manual de Humanóides e Parentes


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer à Gabi chan02 pela recomendação :3
Gabi, fiquei muito feliz, mas não consegui mandar um MP para você agradecendo, tampouco consegui responder seu comentário (ambos ficam dando erro), mas vou continuar tentando, ok?



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Rin torceu o tecido do casaco até que boa parte da água do rio escorresse. O estendeu em um galho de árvore qualquer, ao lado do vestido. Usava uma camiseta preta e um par de calças folgadas que pegara emprestado de Meiko.

– Preciso comprar mais roupas... – levantou a calças pela centésima vez naquele dia.

– Você precisa mesmo é dormir – repreendeu Meiko –, e não ficar lavando esse casaco. Está mais pálida do que a nevasca de cem anos.

– Ele estava imundo – justificou – E eu já dormi bastante. Não sou uma recém-nascida.

A morena balançou a cabeça, braços cruzados. O sol, estava se pondo, mas ela não tinha certeza de quantos dias haviam se passado. Retornaram à floresta de tamanho normal assim que realizaram o pedido do não livro, mas ainda faltava muito para chegarem a cidade mais próxima.

– E que ideia é essa de tomar o caminho mais longo para o Ferro Velho? – a cidade da qual Meiko se referia era com certeza o local onde o novo pedido do não livro se encontrava.

– Já disse, preciso fazer uma parada na Biblioteca de Vidro – a menina checou se as roupas de Miku (que também havia lavado as suas) já estavam secas.

– Mas não me disse o porquê.

– É lá que vou encontrar Gumi, e é lá que vou encontrar respostas – agitou o não livro para dar ênfase.

– Se importaria de explicar como tem certeza de que vai encontrá-la? – Meiko apoiou a cabeça na palma da mão.

Rin passou a mão nos cabelos, um sorriso forçado antecipou a resposta que, de tão rídicula, parecia até mesmo uma mentira.

– O gato me contou...

– Ah, então essas informações vieram do gato! – exclamou – Por que não disse logo? Achava que haviam sido os passarinhos de novo. Aqueles cretinos já mentiram para mim diversas vezes! Mas gatos, os gatos só falam a verdade!

– Eu sei que parece loucura – a menina riu um pouco da piada – mas ela estará de volta em pouco tempo, para explicar tudo.

– Ela quem?

Eu, minha cara – SeeU surgiu por entre as árvores, segurando um pássaro morto com pouco menor que sua mão.

Meiko cerrou os olhos, tentando lembrar onde havia visto a moça antes.

– Sou eu – ajudou SeeU – A gata que você chutou.

Meiko não pareceu tão surpresa quanto Rin da primeira vez que viu a forma humana de SeeU, só pigareou um “foi você que se enroscou nas minhas pernas”.

– Vim para confirmar a história da mochileira aqui, e também para avisá-las de que nenhum de seus companheiros achou lugar melhor para acampar. Mas se fosse vocês, ficaria mais longe do rio. Crocodilos – abriu bem a boca, erguendo o pássaro a poucos centímetros de distância, mas se deteve – Ah, o primo está a caminho.

– Primo? – indagou Rin.

– O de rabo de cavalo. Que não está usando o rabo de cavalo no momento – explicou – Ele já providenciou o jantar.

– O que você ficou fazendo? – Rin sentou-se ao pé da árvore, ao lado de Meiko – Espionando todos nós?

– Talvez – ela pôs o petisco na boca.

Comprovando a palavra de SeeU, Len se aproximou, trazendo um animal morto no ombro. Sua cabeça pendeu para o lado enquanto cheirava o ar.

– Não tem cheiro de gato – colocou a presa no chão.

– Obrigada por me reconhecer, primo – era sempre uma felicidade quando alguém conseguia desvendar sua identidade.

– O que me faz lembrar, SeeU – Rin começou, incerta se deveria ou não continuar. Havia grandes chances de ser atacada por um gato ofendido – Peço para não manter esta forma na frente dos outros. Não quero que ninguém mais saiba sobre Gumi, e quanto menos Kaito e Miku souberem sobre o não livro, melhor.

– Como preferir – a gata riu quando percebeu a loura suspirando, alíviada por sair ilesa. E então avistou mais um pássarinho no topo de uma árvore – Com licença, sim?

– Derrube uns galhos para a fogueira se quiser ser útil! – gritou Meiko.

Rin pôs as roupas, tanto as dela quanto as de Miku, no braço e caminhou até um lugar mais afastado do rio, seguindo o conselho de SeeU. Len e Meiko fizeram o mesmo, e a morena estava com os braços ocupados por diversos galhos. “Ela obedeceu” balbuciou.

– Não tenho mais sal para colocar na comida – riu Rin, iniciando a fogueira com o último fósforo de uma caixa velha – Nem limão.

– Isso é meio mórbido, não acha? – disse Meiko, ajudando Len a tirar a pele do animal, que era pouco macia e impossível de sair em uma peça só.

– Seria, se não fosse eu contando a piada – a loura deu de ombros.

Ouviram-se passos de alguém se aproximando. Eram rápidos e duros, e não era preciso ser um gênio para saber a quem pertenciam. Neru se sentou no chão sem muita cerimônia, e pôs-se a tirar as pedrinhas de dentro das botas.

– Olá para você também, Cachinhos Dourados – saudou a morena – Como nos achou sem a ajuda de algum de nós para guiá-la?

– Segui suas vozes – respondeu sem levantar os olhos – E, Rin, aquilo foi mórbido, não importa quem conta a piada.

Rin se desculpou, mesmo sem saber bem o porquê. Usou o pé para limpar uma pequena área do chão e lá sentou. Viu que Neru pouco se importava com o que estava lendo, e que era o momento ideal para dar uma outra olhada no novo pedido. SeeU resurgiu, com as patinhas e boca sujas, mas a menina não impediu que o bichano se deitasse em seu colo.

.

“Muito bem, muito bem.

Você me impressionou.

Muito mais do que eu esperava.

Você suportou.

.

Cidade velha.

Lar da razão, lar da verdade.

Berço da sua raça.

Capital da humanidade.

.

Sinos de bronze.

Sinos de metal.

Meu próximo pedido é um dos sinos.

Do relógio que marca o começo.

E que marca o final."

.

– Um dos sinos – ela coçou uma das orelhas pretas de SeeU – Um dos sinos do Grande Relógio – engoliu em seco – O Grande Relógio do Ferro Velho.

SeeU piscou. Se foi zombando de Rin ou lhe desejando boa sorte, ela nunca descobriu.

. . .

– Sobre o que você queria falar? – Kaito, já convencido de que não encontraria lugar para armar acampamento, colhia frutas que sabia não serem venenosas.

– Pode ser apenas minha imaginação. Espero que seja minha imaginação – começou Miku – Mas, você... Você ainda quer seguir com o plano, não quer?

Kaito gelou. Desceu da árvore com movimentos quase mecânicos. Fitou o chão e coçou a barba.

– Claro que sim – pigarreou.

– Diga isso olhando nos meus olhos – desafiou a mais nova. Sabia quando estava mentindo.

Ele levantou o olhar e afundou as mãos nos bolsos.

– Claro que sim – voz fina. Maldição.

– Ah, pelos deuses, Kaito! – ela pôs as mãos na cabeça – Dois feudos! Dois feudos! Sabe o que é isso?!

– Tenha calma, eu nunca disse que estava desistindo de tudo! – ele se apoiou na árvore e deslizou até estar sentado – Só me dê mais um tempo!

– Mas nós não temos mais tempo – ela sentou ao seu lado – Imagine. A essa altura, mais gente viu o cartaz. Se não os entregarmos, outra pessoa vai.

– Eu sei, eu sei. Eu sei que é uma chance única – ele massageou as têmporas – ...mas, você não se sente nem um pouco culpada? Não minta, não tem coração de pedra. Eles têm sido pessoas muito boas conosco. Melhores do que muita gente jamais foi.

Miku abraçou os joelhos e colocou a cabeça em cima deles. Suspirou, demorando alguns segundos para responder.

– Você só diz isso por causa da Meiko.

– Perdão?

– Não se faça de bobo. Convivo com você desde o dia que nasci. Conheço-o muito bem.

– Temo que você esteja confundindo as coisas – Kaito endireitou o chachecol – Eu a admiro, sim. É uma guerreira habilidosa que merece admiração. Mas nunca passou pela minha cabeça imaginá-la como uma amante.

– Len também é um guerreiro impressionante. Mas você não parece admirá-lo – riu. Havia encurralado o irmão – O mesmo vale para Neru, e talvez até para Rin. Apesar de achar que ela seja mais uma estrategista.

O azulado encarou Miku com raiva. Levantou-se e tomou nos braços todas as frutas que haviam colhido.

– Cale-se, e vamos andando – ordenou – Vamos continuar com o plano.

. . .

Uma brisa fresca soprava, a maior prova de que haviam percorrido um longo caminho, e que estavam perto da Biblioteca de Vidro. O fato de Gumi ter escolhido a biblioteca para ser o ponto de encontro não surpreendia Rin. Nem mesmo duvidava de que a sábia fosse a fundadora do lugar.

Todos pareciam contentes em abandonar as florestas abafadas, até mesmo Neru, que afirmou ter um compromisso no Ferro Velho, e que os acompanharia até lá. A menina não reclamou. Era uma exelente arqueira.

A Biblioteca de Vidro, apesar de estar no meio de um bosque, era muito próxima de um a montoado de casinhas que nem poderiam ser consideradas uma vila ou vilarejo. Por isso as pessoas poderiam frequentar a biblioteca sem precisar dormir no chão.

Não era mistério que as estalagens do amontoado de casinhas eram os estabelecimentos mais afortunados dos arredores.

– Bem, é aqui que eu me separo de vocês – anunciou quando avistou o destino dos outros.

– Você realmente deveria levar Len consigo – Meiko recomendou, sem que os outros ouvissem – Você não sabe nada sobre essa mulher.

– SeeU disse que ela queria falar comigo em particular – tomou a gata nas mãos.

– Mais motivos ainda para você levá-lo! – exclamou.

– Ela sabe o que o não livro é, Meiko – contrapôs – Não é o tipo de informação que se jogue fora.

– Você não tem o menor bom-senso, alguém já lhe disse isso?

Len concordou com a cabeça, dando força ao comentário da morena.

– Não esqueçam que os goléns de vidro estão lá – lembrou – Eles odeiam violência. Se Gumi tentar fazer alguma coisa para me machucar, tenho certeza de que eles serão capazes de pará-la.

Tanto Len quanto Meiko bufaram, pouco convencidos, mas sabendo que não havia nada que pudessem fazer para que a loura mudasse de ideia.

– Vejo vocês hoje a noite, prometo! – Rin se afastou antes que pudessem dizer mais alguma coisa. A morena virou-se e voltou a caminhar, resmungando algo sobre “sua tolice ainda vai matá-la”. Len acenou com a mão, e esperou que saísse de vista para seguir Meiko.

Rin tirou o vestido surrado de SeeU da sacola e o pôs no chão. Continuou andando em passos lentos, até que escutou a moça com orelhas de gato se aproximar.

– A que horas Gumi vai estar lá? – quis saber.

– Ah, sobre isso...

– Você não sabe a que horas, não é mesmo? – a loura ergueu uma sobrancelha.

– Eu nem mesmo sei que dia ela chegará – ela riu sem graça, mas Rin parou de andar no mesmo segundo.

– Como?

– Se você tiver a simpatia de esperá-la...

– Pro inferno com a simpatia, SeeU! – protestou – Não posso esperar por muito tempo!

– Uma semana, vamos voltar aqui todos os dias por uma semana, é só o que peço.

A menina cruzou os braços, nem um pouco satisfeita.

– Pense desse modo – continuou a de orelhas de gato – Ela pode chegar amanhã. Ou já estar lá, esperando por você!

Rin bufou, aceitando a proposta a contragosto. Voltou a caminhar em direção à Biblioteca de Vidro.

– Espero que essas informações valham a pena – resmungou.

O caminho até o destino não era complicado. A cada cem metros havia uma placa indicando que você estava na trilha certa, e havia poucas curvas, poucas subidas e poucas descidas.

Rin teve quase que certeza de que a Cidade dos Peixes do Sul havia baseado sua localização na velha biblioteca, que fora construída no centro de um lago. Mas no caso, o lago fora coberto por uma tampa de vidro, fazendo parecer que os visitantes estavam pisando em um aquário gigante.

– Imagino se isso não faz mal ao lago – ela coçou a cabeça.

– Se fizesse, não haveria tantos peixes aqui em baixo – SeeU tomou a dianteira.

Quanto mais se aproximavam, maior e mais imponente parecia a Biblioteca de Vidro. Era como se fosse delicada e ao mesmo tempo indestrutível. Já era possível ver dezenas de golens trabalhando na limpeza e organização de livros. Já era possível ver escadas e prateleiras transparentes. Mas nada tirava a atenção da estrutura da construção.

Ela tinha o formato de um quadro vazado no centro, que era coberto por um telhado em formato de pirâmide, que protegia o interior de chuvas e sujeira. Esse centro, que também poderia ser chamado de Coração de Vidro, abrigava todos os livros considerados valiosos ou perigosos, como os envenenados, que faziam seus dedos e língua ficarem roxos e seus pulmões entrarem em colapso.

E as bordas desse quadrado eram sustentadas por grossos pilares, cada um representando um valor diferente. Os maiores, que eram separados pela porta de entrada principal, representavam amor e sabedoria.

– O único lugar no mundo onde vidro vale mais que ouro – riu-se a menina.

– Você sabe qual é a analogia escondida aí?

– Claro. Que a sabedoria não deve ser confinada ou escondida em depósitos escuros. E sim exposta para qualquer um que deseje obtê-la.

– Exatamente – a gata bateu palmas.

Dois golens abriram as grandes portas para que a dupla adentrasse na biblioteca. A primeira coisa que viram foi um grande livro onde as pessoas anotavam seus nomes, para que a saída e a entrada fossem controladas.

– Gumi não passou por aqui hoje – comentou Rin, escrevendo seu nome com a pena de pavão branca que lhe foi oferecida.

– Tenha calma, encontre algo para ler e espere um pouco – disse SeeU, também anotando o seu.

Rin viu umas carpas nadando por baixo do chão de vidro, depois olhou para cima. Deveriam haver pelo o menos seis andares cheios de livros. Não se lembrava qual fora a última vez que realmente parou para ler alguma coisa que não fosse o não livro.

– Espero encontrar alguma coisa sobre piratas – e então uma memória lhe veio à mente – Espere um momento...

– Aonde vai? – SeeU seguiu a menina que subiu correndo as escadas até o segundo andar, onde um golem organizador se encontrava.

Rin sacou um pedaço de papel amassado e mal-tratado do bolso. Encarou o golem, que tinha formas retilíneas e uma abertura redonda no lugar da boca, e que a encarava com olhinhos transparentes.

– Pode me dizer onde encontrar o livro “O Grande Manual dos Humanóides e Parentes”? – o golem permaneceu no mesmo lugar – Ãh, por favor? – nenhuma mudança.

E foi então que percebeu que era possível ver o interior do organizador, e que dentro dele havia centenas, senão milhares de pedaços de papel com os mais diversos títulos escritos neles. Sorriu ao perceber a lógica e ficou na ponta dos pés para depositar o título dentro da boca do golem.

Ele, com seus pés gordinhos, moveu-se preguiçosamente no ínicio, mas com o passar do tempo ganhou velocidade, até que a menina sentiu dificuldades em acompanhá-lo. Estranhamente, nenhum ruído era feito pelos passos do golem. Subiram dois lances de escada, até chegarem em uma prateleita com o dobro do tamanho do guia, que subiu em uma escadinha para tirar o exemplar de seu lugar.

Rin agradeceu e quase tombou quando recebeu o manual, que deveria ter o seu peso ou quem sabe um pouco mais. Quase não foi capaz de levá-lo até a mesa mais proxima. Sentou-se no local melhor iluminado pelo lustre e o folheou. As páginas não eram amarelas, o que indicava que era novo.

Havia todo o tipo de raças no manual, com seus costumes, suas crenças e seus comportamentos decifrados e explicados.

– Há tantas raças aqui! – exclamou – Como vou descobrir a que Len pertence?

– Eles fazem ilustrações – apontou SeeU – Pode se guiar por meio delas. Veja, minha raça!

– É verdade – Rin passou a ponta dos dedos por uma pintura de um homem com orelhas semelhantes às da moça, com um gato ao seu lado para simbolizar a transformação.

Dependendo do quanto se conhecia sobre cada raça, mais páginas ela ocupava. Os elfos eram donos de mais de vinte folhas. Fadas, gárgulas, anões, ogros, goblins... nada que parecesse com Len. Não tinha certeza de quanto tempo havia se passado, minutos, horas, realmente não sabia.

Já estava perdendo as esperanças quando se deparou com uma foto de um homem com garras exageradamente grandes, e chifres que mais pareciam pertencer a um touro.

Radória

Franziu o cenho, interessada.

Evolução, Adaptação e Aparência:

Radória (com os dois Rs com som como de “carinho”) cujo significado é literalmente “nômade” na língua antiga, é uma raça andarilha conhecida pela facilidade em adaptação. Essa facilidade era tanta, que as ossadas de seus ancestrais confundiram estudiosos por várias decadas, os levando a acretidar que se tratavam de espécies distintas.

Acredita-se que a raça possua um ancestral em comum com humanos e elfos, pois tem semelhanças com ambas, desde a aparência até o comportamento e organização política.

A teoria diz que essa raça ancestral, que em certo momento era um grupo só, se dividiu em três (ou quatro, pois alguns acreditam na possibilidade de os anões compartilharem essa origem conosco), uns passando a viver permanentemente nas florestas de pinheiros, originando elfos, outros se espalhando ainda mais pelo globo, originando humanos, e outros sem nunca encontrar um ponto fixo, originando radória.

Assim como humanos e diferentemente de elfos (ver também “elfos”. Página 214) poderiam nascer com todos os tipos de tons de pele e cabelo. Entretanto, a mudança do fenótipo era mais rápida e perceptível que nos humanos. Por exemplo, a pele ou o cabelo tornando-se mais escuros em lugares frios, e mais claros em locais quentes, caso lá permanecessem por tempo suficiente para a mudança ser percebida e a produção de melanina alterada.

São maiores e mais altos que humanos, característica desenvolvida pelo hábito de caçar animais maiores, mas a longevidade que alcançam é praticamente a mesma.

As únicas diferenças físicas entre machos e fêmeas é o tamanho e o fato de machos possuirem um par de chifres, com tamanho e forma diferentes em cada um.

Além disso, fêmeas tinham audição mais aguçada, uma visão voltada para os arredores, focando em tudo, e a capacidade de exercer diversas tarefas de uma só vez. Por outro lado, machos eram donos de faro inigualável e visão especializada em localizar um único ponto, no caso a presa. Não eram conhecidos por sua paciência em fazer mais de duas coisas ao mesmo tempo.

Ambos os sexos contavam com capacidade impressíonante de dilatar a pupila, de modo que podiam enxergar melhor no escuro do que elfos e humanos.

As características em comum com elfos é a força, velocidade e o formato de orelha, muito embora a de radórias serem menores e mais triangulares, ao passo que de elfos são maiores e esticadas.

Organização Social:

Podiam viver em grupos ou sozinhos. Machos tinham a responsabilidade de caçar, e fêmeas de proteger o território e colher frutos e frutas, mas não era incomum que papeis fossem invertidos, dependendo da aptidão natural de cada um. As habilidades em reconhecer plantas e frutas venenosas, além de cuidar de filhotes, eram muito valorisadas, por isso o líder do grupo era, na maioria dos casos, fêmea.

Poderiam desenvolver língua própria, se cominucar por rosnados ou até mesmo copiar a comunicação de outros animais. Por ser uma raça bastante inteligente e com facilidade de copiar comportamentos e dialetos, já foram encontrados radórias que falavam fluentemente a língua élfica ou humana.

Como eram grupos nômades, conflitos eram constantes, sendo um grupo sempre expulso ou eliminado pelo mais forte e mais organizado.

Os que viviam isoladamente quase sempre já haviam pertencido a um bando, mas que foram exilados ou o abandonaram por vontade própria. Ou até mesmo poderiam ser membros velhos que já não viam mais que benefícios poderiam trazer ao grupo.

Caça e Alimentação:

Sua facilidade de adaptação transformou essa raça em comensais pouco exigentes. Sua alimentação pode variar de carne fresca, insetos venenosos, frutas, folhas, raízes e até mesmo carne em decomposição. Seu estômago forte podia aguentar quase qualquer iguaria oferecida pela mãe natureza.

Possuíam garras especializadas em cavar a terra (a procura de raízes) e ao mesmo tempo segurar uma presa, sendo pontudas e ao mesmo tempo curvadas. Essas mesmas garras, ao longo da evolução, tornaram-se retráteis, a fim de não ferir filhotes.

A arcada dentária era característica de onívoros, retos na frente e na parte posterior lateral, especializada em arrancar e triturar folhas e frutos, e afiadas na parte anterior lateral, contando com os famosos caninos, feitos para fatiar e mastigar carne.

Outra característica singular dessa raça é a capacidade de regenerar dentes perdidos, não importando a idade.

Comportamento e Reprodução:

A dificuldade de reprodução da raça foi talvez um dos principais motivos para sua extinção”

– Espere – Rin interrompeu a leitura – Extinção?

A dificuldade de reprodução da raça foi talvez um dos principais motivos para sua extinção. Formavam casais para a vida toda, e as tarefas de criação de filhotes eram separadas irmãmente entre pai e mãe. Mas cada casal gerava no máximo apenas quatro filhotes por toda a vida, sendo que caso um dos parceiros viesse a morrer, o outro era capaz de jamais procriar novamente.

Choravam pela morte de um parceiro ou pela morte de um filhote, enterrando os corpos do mesmo modo que humanos e elfos.

Assim como felinos, ronronavam quando estavam satisfeitos, quando estavam ao lado de um membro doente, quando estavam tristes e quando estavam com raiva (mas nesse caso, é praticamente inaudível para humanos).

Eram conhecidos por seu temperamento sereno quando não incomodados, e explosivo em batalha ou quando filhotes eram ameaçados. Características válidas tanto para machos quanto para fêmeas.

Relacionamento com Humanos e Elfos e Extinção:

Pela maior parte de sua história, radórias viveram longe das civilizações humanas e elfas, tanto que a maioria desconhecia (e continua desconhecendo) sua existência.

Entretanto, chegou um momento em que a fartura e a comida tornaram-se escassas nos locais onde já haviam explorado. Provavelmente por esse motivo os grupos invadiram o território de elfos. E foi nessa migração que seu declínio se iniciou. Ao destruir as plantações de elfos, sua caça foi liberada, exterminando a maior parte da raça em menos de cem anos.

Os que sobraram juntaram-se em um só grupo (o último existente) e migraram para o sul do globo, no trigésima alinhamento da lua com o sol. Esse grupo, uma verdadeira mistura de sobras de bandos outrora unidos, era fraco em organização por não possuírem uma só língua.

Encontraram, nessa travessia global, um local com bons solos, abundância em uvas e bovinos. Ambas, plantação e criação, eram propriedade da cidade sulina conhecida como Cidade da Tempestade, que foi assolada pela fome, pois suas duas principais fontes de alimentos foram devoradas, e pelas doenças, trazidas por radórias imunes.

Aquela época ficou conhecida como “A Era da Dor”, onde quase metade da população morreu, e os cemitérios ficaram cheios. Corpos eram jogados nos rios e florestas.

A história então se repetiu quando foi liberada a caça da raça. A única diferença foi a descoberta da propriedade mágica existente em machos da espécie, cujos dedos dos pés e das mãos, olhos, chifres, orelhas e genitália passaram a ser vendidas no mercado noturno para bruxos que realizavam rituais com esses amuletos. Um dedo de macho chegou a valer três cavalos sangue puro, tal era o sucesso do feitiço.

O lucro foi tanto, que os moradores esconderam a caça e a venda das cidades vizinhas, temendo concorrência.

Vigaristas chegaram a usar partes do corpo de fêmeas para enganar compradores, que pagavam por um item inútil, pois elas não possuíam a mesma característica mágica.

Passou então a ser necessário conservar o corpo inteiro para provar de que não se tratava de um golpe, mas era mais complicado de manter fresco que as pequenas partes, por isso muitos pagavam caçadores para capturar os machos ainda vivos, e mantê-los assim até que se tornassem inúteis. Isso chegava a ser mais barato que manter o corpo fresco em bacias de gelo, mesmo levando em conta a alimentação, as jaulas, as focinheiras e os remédios para evitar infecção e morte.

Muitos radórias em cativeiro cometeram suicídio quando tiveram a chance, do mesmo modo que muitos adultos mataram filhotes também presos.

Tudo isso levou a extinção primeiramente de machos, e depois de fêmeas. De modo que o último exemplar da espécie foi uma fêmea, morta próximo do quartel da guarda da cidade, morta pelos próprios guardas.”

Rin engoliu em seco, sentindo o estômago dar voltas, o coração bombeando sangue de tal modo que esse o fluxo era a única coisa que conseguia escutar. Sua garganta estava seca, língua, aspera. Trigésimo alinhamento da lua com o sol, cerca de três décadas atrás.

Virou a página. Só o que havia do outro lado era o começo de mais uma longa explicação sobre outra raça qualquer, mas as letras estavam tão desfocadas que ela nem se deu ao trabalho de tentar decifrá-las. Só o que via era uma foto, pintura, desenho (ela não sabia dizer) do último exemplar da raça e de seu caçador.

Reconheceu o guarda da veia saltada sem muito esforço, mesmo ele estando jovem. Jamais esqueçera de sua aparência e feições cruéis. Ele segurava a radória com a garganta ensanguentada pelos cabelos, como quem segura um alce pelos chifres para uma fotografia. As palpébras nem fechadas estavam, indicando que havia acabado de ser morta.

Mas não foi só isso que percebeu.

Passou os dedos pela imagem.

Pelos deuses e pelo palácio.

Ela conhecia quele nariz.

Ela conhecia aqueles cabelos.

Ela conhecia aqueles olhos.

O livro estava enganado. Aquele não era o último.

Aquela era a mãe de Len.

– Eu vou vomitar.

. . .

Rin foi recebida com o abraço amoroso de que tanto precisava. Len lhe sorriu e tomou sua mão na dele, guiando-a para a estalagem que alugaram SeeU preferiu dormir no bosque. Ela não prestou atenção no caminho, não prestou atenção nas casinhas e não prestou atenção nas pessoas. E tomou um susto quando viu Meiko na sua frente, já dentro da estalagem de madeira encerada.

– E então?

– E então o quê? – ela realmente não estava com a cabeça em perfeito estado.

– Falou com a maluquinha? – a morena respondeu, desconfiada.

– Ah... – lembrou-se – Ainda não...

Meiko se curvou até ficar na altura da menina, examinando-a de perto.

– Tudo bem com você? - falou lentamente, quase parando.

– Tudo... tudo bem – mentiu – Só quero um banho quente – puxou Len pela mão, para longe de Meiko e para perto de portas depois de um lance de escadas. Presumiu que fossem os quartos, pela qualidade um pouco superior da madeira da porta.

Len plantou um beijo em sua testa e bocejou, pronto para se recolher, mas a loura o impediu.

– Len – murmurou – Posso dormir com você?

Ele nem parou para pensar. Balançou a cabeça em afirmação, um sorriso no rosto.

Como vou contar para ele... Será que devo contar para ele?

O rapaz fechou a porta assim que ela entrou no quarto. Sentia-se como um morto-vivo, andando mais por instinto que por vontade. Entrou no banheiro. Pela humidade no ar, Len havia tomado banho há pouco tempo. Deixou a água quente acalmar a dor de cabeça que sentia, e apoiou a testa na parede de cerâmica marrom.

Por que mantiveram Len vivo por todos esses anos? Seria ele uma espécie de troféu? Um prêmio do qual se orgulhavam, que exibiam, com o qual se divertiam? Um símbolo de que saíram vitoriosos nessa batalha?

Massageou as têmporas com força, mordendo os lábios. Era a dor de cabeça mais violenta que tinha desde uma virose que pegara quando era criança.

Mesmo depois de terminado o banho, ficou imóvel por sabe-se lá quanto tempo, até que sentiu frio demais para continuar daquele modo. Vestiu uma camisola qualquer e saiu do banheiro. Len a esperava, olhos quase fechando de tanto sono.

Não prestou muita atenção na aparência do quarto. Só sabia que tinha uma janela, pois sua única iluminação era a lua, e que o chão não tinha carpete ou tapete, era só madeira.

– Desculpe a demora – ela se enfiou debaixo das cobertas e em seus braços.

– Tudo bem – ele ronronou, fechando os olhos e afundando a cabeça no travesseiro - Boa noite...

– Boa noite...

Como uma pessoa pode ter coragem? Como uma pessoa pode ter coragem de fazer algum mal à alguém assim como ele?

. . .

Neru se embrenhou no bosque cada vez mais fechado. Foi-lhe dito que a estariam esperando com uma lanterna acesa, mas nada parecido com luz foi percebido. Isso até ver, por entre as árvores, o brilho de uma lanterna vermelha.

– Que sutileza – ironizou.

– Se fosse menos óbvio, você não encontraria – rebateu outra voz.

Neru fez uma careta para a figura de capa preta, que afiava sua espada de lâmina ondulada.

– O que você quer? – cuspiu – Vá direto ao ponto.

A figura se levantou, a luz da lanterna fazendo-a parecer não fantasmagórica, mas diabólica.

– Acalme-se – riu, tirando a capa do rosto, revelando seus cabelos rosados – Só vim perguntar como vão as coisas.

– Muito bem – a arqueira instintivamente apertou o cabo da faca.

– Precisa de ajuda?

– Não, Luka, tudo está indo muito bem – insistiu.

– Então por que ainda não tem o não livro em mãos? – sorriu, doce.

– Deixe-me trabalhar em paz – ordenou – Você teve sua chance. Você teve três chances seguidas e falhou em todas. Nem envenenar Len conseguiu. Seus métodos são grandiosos, mas tolos.

Luka franziu o cenho, e em um rápido movimento encurralou a loura entre uma árvore e sua lâmina.

Escute aqui, sua porcaria – sibilou – Acho que está confundindo as coisas. Eu não sou Haku. Eu não vou dar uma de mamãezinha para você. Trate de me respeitar, entendido?!

– Entendi...do – engasgou.

Entendido?!

– Entendido...

– Bom – afastou a lâmina, preparando-se para partir – Ah, você esqueceu isto.

Luka jogou algo para Neru, que examinou o que era com a ajuda da luz de uma lanterninha de bolso que carregava. Era um joguinho de lógica, onde era preciso passar uma bolinha de madeira cheia de fios emaranhados nela por uma abertura aparentemente menor.

A arqueira respirou fundo, sabendo que aquela pequena reunião era só para que não esquecesse quem mandava em quem naquela dupla. Pôs o jogo no bolso e caminhou de volta à estalagem.


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Notas finais do capítulo

Todo mundo está contra eles XD