Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 5
O reencontro através de um incidente


Notas iniciais do capítulo

Agora sim as coisas irão se mover mais rapidamente, com um pouquinho de mistério.



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O primeiro dia de aula na faculdade. O que era pra ser um dia agradável e ideal como Melina havia imaginado tantas vezes. Acabou sendo, desde cedo, uma inicio tumultuado. Melina atrasou-se para acordar, pois o celular não despertara. Demorou-se no banho e teve que se arrumar as pressas. E pra pior, lá fora, caia uma garoa fina. Ela mal teve tempo para comer alguma coisa antes de sair. Recebeu uma ligação repentina de sua mãe, e mesmo a aula iniciando-se as oito, sem escolhas, Melina teria que antes passar na casa de sua mãe e ver o que ela queria. Verônica parecia desesperada.

Verônica não tinha nada de tão importante para falar, pelo telefone ela bem pareceu preocupada, como se algo grave tivesse lhe acontecido ou um acidente. Quando Melina chegou em sua casa deparou-se com sua mãe sorrindo normalmente, perguntou o que ela queria, mas antes de responder, Verônica apenas a envolveu em um forte abraço apertado.

— Estou tão orgulhosa de você Melina – Verônica sorria, segurando firme o rosto da filha entre suas mãos. — Eu sei que eu nunca concordei com as suas escolhas, assim como seu pai. Mas eu não poderia deixar essa oportunidade passar sem dizer que eu amo muito você.

O gesto foi realmente muito bonito. Verônica aproveitou também para entregar o presente que havia comprado para a filha no dia anterior, quando se lembrou de que ela iniciaria as aulas.

Era um colar de prata com um pingente em forma de coração, atrás havia uma pequena mensagem gravada: mamãe ama você.

— Obrigada mãe. – Melina tentou sorrir da maneira mais agradável possível. Preocupada com o horário. Não queria se atrasar no primeiro dia. — Vou guardar com carinho.

— Não! – Verônica questionou. — Não é para guardar filha, é para usar. Vamos! Coloque. Eu quero ver como vai ficar em você...

Assim que saiu da casa de sua mãe, Melina fez de tudo de ir o mais depressa possível com seu carro até a faculdade. Mas as coisas se reverteram contra ela. Além da chuva que havia engrossado naquela manhã fria, estava parada em um semáforo que parecia nunca dar sinal verde para que ela pudesse seguir em frente.

Na avenida principal, ao seu redor havia uma movimentação constante. Pedestre de um lado para o outro com suas bolsas e pastas de trabalho e os guarda-chuvas nas mãos. Atrás e na frente muitos carros também parados e seus motoristas impacientem, outros nervosos buzinavam um com o outro.

— Ai. Meu. Deus. – Melina ligou o rádio. — preciso chegar antes da primeira aula se iniciar.

Já era sete e cinquenta. Faltando apenas dez minutos.

Nenhuma estação de rádio lhe era agradável, Melina resolveu colocar seu CD para tocar. Sua banda favorita, Fresno. Uma banda formada em 1999 em Porto Alegre.

Melina já estava perdendo as esperanças de chegar a tempo. Parecia que estava parada ali há uma eternidade. Só lhe restava cinco minutos para chegar a tempo. Não vou conseguir. Ou o semáforo mais a frente estava com sérios problemas ou havia acontecido algo de muito grave mais a frente. Talvez alguém tivesse se acidentando.

O carro de traz buzinou.

Melina não estava estressada tanto quanto os outros. Estava até que tranquila, porém, desesperada para chegar a tempo. Afinal, não seria nada bom chegar atrasada justo no primeiro dia na faculdade. O dia pelo qual ela tanto esperou e sonhou por noites seguidas, sempre imaginando o melhor.

A chuva deu uma diminuída.

— Por favor, meu Deus – Melina suspirou fundo. — Me ajude.

A fila de carros andava muito vagarosamente, quase parando outra vez.

Melina observou o fluxo intenso de pessoas nas calçadas em sentidos opostos umas as outras. De longe avistou uma velha senhora de cabelos grisalhos e mal vestida. Ela não tinha guarda-chuva e parecia não se incomodar em deixar sua roupa velha se molhar.

A senhorinha tinha um cachorro que lhe acompanhava. Um vira-lata cor caramelo de olhos verdes. O cachorrinho da senhora parecia triste amarrado a uma corda em volta do seu fino pescoço. Mas andava fielmente ao lado de sua dona.

A senhorinha se distanciou dos outros pedestres e saiu andando entre os carros parados na tentativa de atravessar até o outro lado. Um pouco mais a frente do carro de Melina. Que acompanha atentamente os passos da senhorinha, preocupada, caso lhe acontecesse algo.

Foi nesse exato momento, quando Melina menos esperava, veio uma moto lá de trás, tão rápida e ágil, passando entre os carros com facilidade, o motor roncando de tão potente.

O motoqueiro não viu a senhorinha, estava muito mais preocupado com sua rápida corrida, quando freou bruscamente a alguns centímetros da velhinha que parou assustada de olhos arregalados no meio da rua enquanto atravessa tranquilamente com seu cachorro também assustado. Ainda chovia.

Melina não pensou duas vezes em ir até lá conferir se não havia acontecido nada de grave com a senhorinha além do susto que ela tomara. Nem se importou com a fila de carros que havia, finalmente, andado. Melina correu até a senhorinha abandonada pelo motoqueiro que saiu às pressas sem prestar socorros.

Melina nem se quer conseguiu ouvir o barulho do carro atrás do chocando-se com o seu. E nem viu que o para-choque do outro havia batido com força na traseira do seu carro, deixando o levemente amassado.

— Está tudo bem senhora? – Melina colocou sua mão no ombro da senhora assustada. — Aconteceu alguma coisa com você?

— N-não minha filha – a senhorinha tremia de horror. — Estou bem, graças a Deus. Mas...

Assim que a senhorinha olhou para baixo, para o seu cachorrinho todo molhado, Melina acompanhou seu olhar e viu que o animalzinho tinha sido levemente ferido, na pata esquerda dianteira.

— Oh, meu Deus – Melina abaixou-se no mesmo momento. — Que horror! Para onde foi aquele desgraçado da moto?

Melina olhou em volta ainda segurando a patinha do bichinho, levemente ferida, estava sagrando, mas não era nada muito grave, nem doía. Ele conseguia pô-la no chão sem se queixar.

Mas o infeliz do motoqueiro ao menos devia ter descido da bendita moto para prestar socorro à senhora e o cachorro que ele quase havia atropelado. Ao invés disso ele se foi, mais rápido do que chegou, e Melina nem conseguiu identifica-lo e nem anotar a placa da sua moto.

— Ei, sua maluca! – alguém gritava com Melina. — Você enlouqueceu foi?

Melina levantou-se e se deu conta do desastre a sua volta. Todos aqueles carros parados atrás do seu carro buzinando, com os motoristas enfurecidos por elas ter saltado do carro e o abandonado, deixando-os sem saída para prosseguir.  Mas ficou especialmente intrigada com o jovem rapaz que gritava furiosamente com ela nesse exato momento.

O jovem tem a pele translucida a boca levemente roxeada por conta do frio, os olhos são de um castanho escuro intenso, os cílios longos estão molhados com algumas partículas de água da chuva acumulados sobre suas pálpebras.

Ele veste um moletom cinza estilo canguru. O gorro do moletom está sobre sua cabeça, na tentativa de protegê-lo da chuva que cai sobre eles. Seu rosto impecável sem qualquer tipo de imperfeição está molhado, assim com os cabelos castanhos escuros e lisos que caem sobre a testa úmida.

Ele é lindo, Melina admite a sim mesma. Veste um jeans escuro e um sapato preto. Nem é alto e nem baixo e pelo que Melina pode perceber é magrinho, mas ela pode estar enganada. Ele tem as maçãs do rosto suavemente rosadas e mesmo enfurecido com ela, é lindo de arrancar suspiros. Tem traços delicados e angelicais.

— Você é maluca? – ele pergunta outra vez. Mas não obtém  nenhuma resposta.

Os carros ainda buzinas, os motorista estão revoltados.

Henrique está furioso com aquela maluca. Como ela pode deixar o próprio carro? Por culpa dela ele não teve tempo para frear antes do seu carro chocar com a traseira do dela.

Assim que o incidente aconteceu, ele saiu do carro nervoso pronto para se queixar com a maluca. Mas viu que ela correu para socorrer uma senhorinha quase atropelada por um motoqueiro ainda mais maluco. Henrique achou bonito da parte dela. Mesmo assim não justificava. Ela devia ter encostado o carro e só depois ter saído dele, assim evitaria o acidente e toda aquela confusão.

A jovem olhava para ele seriamente. Ele não entendia por que. Já que ele estava soltando os cachorros sobre ela. Mas assim que parou para olha-la, percebeu que havia algo de família na jovem molhada a sua frente. Além dela ser encantadoramente linda.

Ela usava um jeans preto, uma jaqueta por cima de uma blusa sem estampa e sapatilha floral. Os cabelos extensos e escuros estavam completamente molhados, grudando em sua pele branca. Mais o que mais chamava atenção em Henrique na jovem, além de seus olhos cor de avelã, era o nariz afilado, a boca pequena e o quanto ela parecia com uma boneca de porcelana.

Será que ele não a conhecia de algum lugar? Tinha a impressão que sim. Mas não se lembrava de onde.

— Você que é doido! – ela disse de repente quebrando a magia que os envolvia naquele instante. — Veja só o que fez com o meu carro! – ela conferiu a traseira amassada do seu veiculo novinho. — Aprendeu a dirigir quando? Ontem?

— Ei. Espera ai. – ele se aproximou. — A culpa é toda sua! Você quem brecou sem mais e nem menos e não tive tempo para frear antes de bater. Como poderia adivinha que você ia sair do próprio carro no meio de uma avenida movimentada?

— Vocês dois! – um cara forte e barbudo gritou de um carro chamando a atenção dos jovens. — Deixem de bobagem! Foi só uma batidinha! Saiam da frente de uma vez por todas.

Melina ignorou o homem com cara de marginal e voltou a olhar para o lindo jovem a sua frente, lembrando-se exatamente de onde o conhecia. Mas não tinha coragem de comentar nada a respeito. Era mais que obvio que ele não a reconhecia mais.

— E agora? O que vamos fazer? – ela perguntou a ele.

— Me passe o numero do seu celular – ele buscou pelo dele nos bolsos da roupa. — Vamos! Depressa!

— Tenha calma! – ela se irritou com a maneira como ele se dirigia a palavra com ela sem ao menos saber quem ela era. — E não fale assim comigo!

— O.K. Desculpe-me. – ele estava pronto para salvar o numero da jovem na agenda do seu celular. — Agora, me fale o seu numero. Vou te ligar outra hora e resolveremos essa questão.

Melina passou o seu numero, mesmo não confiando muito se ele ligaria mesmo para que pudesse concertar o estrago em seu carro.

Mas algo dentro dela dizia para ela que devia dar um voto de confiança a ele.

Henrique sorriu em forma de despedida antes de a chuva engrossar definitivamente. Já com o numero da garota salvo em seu celular, voltou correndo, completamente molhado para o seu carro, esperou que ela fizesse o mesmo. E os dois se foram, cada qual, para o seu caminho.

Melina andava depressa pelos corredores vazios da faculdade, sentindo o peso do cabelo molhado e roupa completamente ensopada da chuva que levou.

Estava nervosa por ter chegado atrasada, havia perdido um bom tempo da primeira aula.

— Oi – ela falou com um inspetor, o primeiro que encontrou. Um senhor calvo, muito magro e que tinha um bigode. — Pode me informar onde ficar a sala – antes de dizer, Melina conferiu no papel umedecido dentro do posso do jeans. — 52?

— Você está atrasada mocinha – ele forçou um sorriso. — Sala 52 é no quarto andar. Suba de elevador, é mais rápido.

Melina não teve dificuldade alguma de identificar a sua sala, apesar de não conhecer absolutamente nada do prédio universitário.

A jovem bateu a porta com receio do que podia se esperar do professor que estava dando aula lá dentro. E se ele não permitisse a sua entrada? O que faria? Esperaria a próxima aula? Ou iria embora para casa trocar a roupa molhada?

— Já no primeiro dia chega atrasada mocinha? – o professor era um barrigudo rechonchudo. — Eu sou Jorge. Entre.

Melina não teve coragem de olhar para os olhinhos atentos dos tantos alunos que lotavam a sala que nesse momento olhavam para ela completamente ensopada. Percebeu que eram muitos. Uma base de quarenta ou mais.

Dirigiu-se até o fundo da sala, o único lugar que estava disponível, encostado a parede. Percebeu que a sala era completamente fechada, não havia janelas, apenas ar-condicionado no qual não estava ligado. A sala é ampla, bem iluminada por lâmpadas florescentes e há um quadro negro gigantesco a sua frente.

— Atenção turma! – o professor chamou aqueles que ainda olhavam para Melina. — Vamos continuar com a aula.

Melina sentia-se completamente perdida. Como quem estava deslocada em um lugar estranho. Não sabia do que a aula se tratava, mas parecia interessante pelo que o professor Jorge falava, apresentando a aula com slides em um projetor.

Definitivamente não foi daquela forma como ela imaginou que seria o seu primeiro dia na faculdade.


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Notas finais do capítulo

E ai? O que achou? Comente! Gostaria de saber a sua opinião.



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