Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 39
Quem disse que seria fácil?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/384593/chapter/39

Nicolas não suporta mais a mentira de Analu. Gosta dela, mas ela está indo longe demais com aquilo. Ela ainda lhe manda bilhetes anônimos fingindo ser uma admirada secreta. Eram tantos bilhetes que ele pôde encher uma caixa de sapato com todos eles. Todos eles sempre diziam a mesma coisa: ela o amava; queria poder estar com ele; gostaria que ele pudesse respondê-la e que ela o admirava.

— Acho que já está mais do que na hora de você dizer a ela que sabe de toda a verdade. Assim, ela não vai mais enviar nenhum bilhete e vocês poderão resolver essa situação de uma vez por todas.

Melina tinha razão. Nicolas deveria jogar a real a Analu e lhe dizer que sabia de tudo. Deveria também ser honesto com ela, confessando que nunca poderia corresponder o amor que ela sentia por ele. Ele gosta dela, disso não tem duvidas. Ela é uma boa companhia, mas Nicolas não a ama como ela o ama. O que ele é sente é carinho. Apenas carinho.

— E você, está melhor? – Nicolas mudou de assunto. Depositando seu olhar sobre Melina.

— Estou bem. Obrigada por perguntar. – ela sorria. Realmente, parecia muito melhor do que alguns dias atrás.

Eles estavam sentados na escadaria do prédio. Minutos atrás, enquanto Melina pintava as unhas dos pés e das mãos e Nicolas mexia em seu computador; Rafael tocou a campainha, Daniele que preparava o jantar foi atender a porta. Melina disparou em direção à sala de estar ao ouvir a voz dele. Sentia tanta raiva daquele garoto que se conteve ao máximo para não enxotá-lo dali.

Daniele pediu que Melina e Nicolas a deixassem conversar a sós com Rafael. Parecia importante. Nicolas pegou a mão de Melina, tomando cuidados para não lhe borrar as unhas e foi com ela em direção à porta, para deixarem Daniele e Rafael mais á vontade, sozinhos.

— Porque você não vai agora até a casa de Analu e faça o que você tem que fazer, antes que você mude de ideia?

— Mas e você? Vai ficar aqui sozinha do lado de fora esperando eles acabaram de conversar?

— Não tem problema. Eu fico. Agora vai lá, vai. Não deixe pra manhã o que se pode fazer hoje.

~*~

Thomaz sentia-se exausto. Trabalhara o dia inteiro e sentia-se aliviado por estar finalmente em um lugar calmo e tranquilo para descansar: no flat de Rebeca. Ele estava sentando em uma poltrona, com os músculos relaxados, de olhos fechados enquanto ela lhe massageava as costas com carinho, fazendo-o suspirar.

— Thom?

— Hum?

Há alguns dias Rebeca vinha esperando o momento certo para tocar naquele assunto. Ensaiou as palavras certas durante dias.

— Agora que você está solteiro, aproveitando que estamos saindo juntos todos os dias, você se sente bem, eu melhor ainda. ..Não acha que deveríamos dar um próximo passo?

Thomaz abriu os olhos, se afastou da massagem de Rebeca e virou para olhá-la com as sobrancelhas arqueadas.

— Do que você está falando?

— Bom... Eu... Só queria...

Thomaz sabia exatamente onde ela queria chegar com todo aquele rodeio.

— Tá sugerindo que eu te peça em namoro?

— É... Acho que sim. – ela sorria.

Thomaz soltou um risinho.

— Desculpe Rebeca, mas sinceramente? Ainda não estou preparado. – ele se levantou, em busca da sua camisa. — Eu gosto de você. Você é ótima! Mas eu ainda amo Melina. E não sei se algum dia serei capaz de deixar de ama-la. No fundo, eu tenho esperança que as coisas se ajeitem. – ele terminou de abotoar os botões da camisa.

Thomaz calçou os sapatos, pegou a pasta, passou a mão pelo cabelos desalinhados e foi em direção a porta.

— Sinto muito. Mas ainda tenho esperança que Melina volte para os meus braços. Espero que você entenda.

E ele se foi, deixando Rebeca de queixo caído. Todo esse tempo, desde que foi contratada, ela tentou de todas as formas, por vários meios separar seu chefe da namorada e agora que finalmente havia conseguido, Thomaz estava lhe dando um pé, alegando que ainda amava a ex.

Rebeca está enfurecida. Deve pensar rápido em como fazer aquela situação se reverter. Rebeca não admite que Thomaz a descartasse com se ela fosse um objeto. Afinal, eles se deitam todas as noites juntos e rolam por horas. Ao seu lado, ele parece enlouquecido, mas quando ela toca na ferida, ele volta a ser sentimentalista, sensível, chega a chorar de saudades da ex-namorada. Rebeca atura tudo calada, sem se queixar, só esperando o momento certo para dá o bote.

Aquele momento pareceu à ocasião certa para sugerir que ele a pedisse em namoro. Mas seu plano falhou. Rebeca gosta de se sentir no comando, superior, notável, extraordinária. Tudo começou quando ela ainda era uma garotinha e seu pai a colocava em primeiro lugar sempre, deixando sua mãe de lado. Rebeca se sentia maravilhada, sempre no topo. Seu pai fazia de tudo para alegra-la, repetindo sempre que ela era uma princesa e merecia as melhores coisas do mundo. Rebeca levava as palavras do pai a sério. E quando as coisas não saiam conforme ela planejara, ela não desistiria até ter tudo que deseja na palma da mão.

Quando seu pai morreu com câncer, a última coisa que disse a Rebeca foi:

— Não abaixe a cabeça pra ninguém. Esteja sempre à altura, seja boa em tudo que faz. Se você quiser alguma coisa, use tudo que puder até obtê-la. Não me decepcione, filha.

~*~

— Como é que é? – Analu estava surpresa. Então, ele sempre soube a verdade e não fez nada a respeito?

— É. Eu descobri com a ajuda de Melina que era você a admiradora secreta. Eu leu todos os seus bilhetes e os guardo. Mas agora estou cansado. Eu pensei que você me contaria toda a verdade, mas você sempre age como se não fosse a autora dos bilhetes. Porque não me contou que era você?

— Por quê? Porque eu não saberia dizer. Como eu disse em alguns bilhetes: eu não saberia qual seria sua reação. Eu tive medo. Eu me apaixonei por você desde o momento que te vi entrando no laboratório. Foi incrível quando você me chamou pra ir a festa da mãe de Melina com você. Eu nunca imaginei que isso iria acontecer. Fui pega de surpresa! Imaginei que você pudesse sentir o mesmo por mim mesmo não sabendo quem era eu.

— Mas...

— Espere! Deixa-me falar enquanto ainda tenho coragem – ela o interrompeu. — Então, nos tornamos amigos, descobrimos vários pontos em comum. Digamos que sejamos almas gêmeas. Meu amor por você só aumentou. Eu tinha esperança que você me dissesse que me ama, assim como eu te amo. Mas eu percebei, olhando nos seus olhos, que você não me ama. O que você sente não se compara ao que eu sinto. E isso me dói. Porque eu só queria que você pudesse me corresponder. Eu sou apaixonada por você!

Analu não suportava mais. Sentia-se aliviada por finalmente poder falar tudo que sente desde o principio. É como se seu corpo estivesse sendo esvaziado conforme as palavras vão fluindo.

Ela dá um passo à frente, chegando mais perto de Nicolas. Ele recua, mas ela insiste. Tudo que ela mais quer, é que ele possa correspondê-la pelo menos uma vez na vida.

— Você não me ama, não é mesmo? Você ama outra. Eu sei que ama outra. Não tem como esconder, vejo isso nos seus olhos. Mas tudo bem – ela balançou os ombros. — Eu posso conviver com isso, porque eu te amo de verdade. Eu suporto qualquer coisa Nicolas, só para ficar com você! Não tem problema se você a ama e não a mim. Eu fico com você de qualquer jeito...

— Analu, você não está entendendo...

Ela o silenciou com seu dedo indicador.

— Não precisa dizer nada, Nick. Eu sei que ela não te ama, porque ela ama outro. Você está na mesma situação que eu, não é mesmo? – lágrimas escorriam dos olhos azuis de Analu.

Sua voz não estava mais regular, pelo contrário, era quase um sussurro. Ela falava baixinho e manso. Com a boca bem próxima a de Nicolas. Ele tentou dar alguns passos para trás, mas acabou se chocando com a parede do quarto dela.

— Podemos nos unir, Nick. O que você acha? – ela o prendeu de encontro à parede fria. — Ficar juntinhos. Pois nenhum de nós pode ter o amor correspondido por aqueles que nós amamos. Mas veja só: eu te amo. Não é lindo? Eu sempre te amarei...

Nicolas estava ficando com medo. Analu não estava falando coisas que pudessem fazer sentindo. Ela estava fora de si, quase como se tivesse obcecada por ele.

— Eu chamei a sua atenção todo esse tempo. Tentei que fazer com você olhasse de verdade pra mim. Mas você não olhou pra mim, você não me notou. Você só tem olhos para Melina, porque você a ama. – lágrimas escorriam de seus olhos, mas era como se ela não percebesse que chorava. — Pra você, eu sou praticamente invisível, nada mais do que uma boa amiga, uma companheira, colega, quase uma irmã. E você sabe o quanto isso parte o meu coração? Porque eu nunca poderei ser como Melina. Ela é a luz dos seus olhos. E eu? Eu não sou nada. Mas mesmo assim, eu ainda amo você...

Ela se aproximava cada vez mais, deixando sua boca muito próxima da de Nicolas. Ele poderia sim tentar sair dali, daquele abismo. Mas sabia que Analu não estava bem e a ultima coisa que ele queria era magoa-la, feri-la ainda mais.

— Amo você – ela repetia, sussurrando. — Amo... Amo...Amo... Eu sempre vou te amar.

E antes que ela pudesse beija-lo, Nicolas escapuliu.

— Você não está bem. – ele a conduziu até sua cama. — Analu, olha pra mim! Por favor, não chore. O que está acontecendo com você afinal? Você não é assim. Me perdoe se a culpa é toda minha, eu jamais tive a intensão de decepciona-la...

— Tudo bem, Nick. Tudo bem. – ela permitiu que ele secasse suas lágrimas. A sensação da ponta dos dedos dele em seu rosto era das melhores. — Mas seja sincero comigo: você a ama, não ama?

— Quem?

— Melina! É ela quem você ama. É ela quem você quer! Não minta pra mim! – ela chorou ainda mais. — Eu sempre soube! Sempre!

Analu gritou suas ultimas palavras. Assustada, sua mãe veio em direção ao seu quaro ver o que estava acontecendo.

— Desculpe dona Luiza, mas eu realmente não sei o que deu nela. De repente estava tudo bem e depois já não estava mais.

Nicolas se desculpou pela ultima vez e foi embora o quanto antes, não poderia ficar ali nenhum mais um minuto. Confuso, ele caminhava até sua casa as pressas. Com a mente em um turbilhão não sabia exatamente no que pensar: no descontrole de Analu ou na certeza de que ela tinha que ele ama Melina.

Ela não tem razão.

— Ei, Nicolas, você está bem? – seu pai perguntou ao vê-lo entrar em casa, mas Nicolas não respondeu, subindo as escadas em direção ao seu quarto. Só queria poder ficar sozinho.

~*~

— O que foi que ele disse? – Melina estava com Daniele, jantando naquela mesma noite na mesa de jantar na cozinha.

— Se desculpou por não se lembrar daquela noite – Daniele se referia a Rafael e a conversa que eles tiveram minutos antes. — Perguntou se eu estava bem com a gravidez, perguntou o sexo do bebê e se eu já havia pensando no nome. Também quis saber se já tinha comprando alguma coisinha para o bebê e pediu para que eu lhe mostrasse. Eu mostrei e ele pareceu encantado.

— Mas ele não comentou sobre a responsabilidade de ser pai? – Melina sabia que estava sendo dura, até mesmo um tanto fria. Mas não conseguia suportar a ideia de que Rafael não assumiria suas responsabilidades, deixando Daniele na mão.

— Não, ele não falou sobre isso. – Daniele sentia-se envergonhada, mal conseguia encarar Melina nos olhos. — Antes de ir embora disse que... Não estava preparado para ser pai.

Melina viu de longe uma lágrima escorrer dos olhos da loirinha. É claro que ela estava aborrecida. Melina tinha noção de que não deveria falar mais nada de que pudesse aborrecê-la, por mais vontade que tivesse de falar umas verdades. Por fim, optou por se manter calada. Levantou-se e foi consolar Daniele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Estarei a espera do seu comentário! ♥

A pedido de uma das minhas melhores leitoras, Isa Cipriano, eu recomendo a primeira fic dela: http://fanfiction.com.br/historia/417892/O_Amor_E_Cego/
Dê uma olhadinha. Espero que goste!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Luz Dos Olhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.