Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 31
A viagem a trabalho


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo fresquinho pra você!



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Melina levanta depressa. Ela não consegue olhar para Henrique. Está totalmente confusa e tem certeza que ele também está. Ainda mais depois de tudo que ele a disse, segundos atrás.

— Eu tenho que ir! Não estou me sentindo muito bem – ela passa a mão pelos cabelos.

Melina sente-se perdida. Não sabe como agir ou o que dizer. Está envergonhada. Henrique não deveria ter dito a ela aquelas coisas.

— O que foi? Algo que eu deva me preocupar? – ele levantou-se também, olhando para ela preocupado. — Eu fiz algo de errado?

Henrique tentou tocar em Melina, mas ela se afastou bruscamente como um animal ferido.

— Melina...? O que...

— Sai de perto! Eu...Quero ficar sozinha... Me leva pra casa!

Henrique estava se sentindo totalmente culpado pela reação dela depois dele ter dito tanta bobagem de uma só vez.

— Tudo bem. Vamos.

Eles voltaram pela trilha pouco iluminada pelo anoitecer.

— Desculpe, eu não quis parecer grosseira. – ela quebrou o silêncio, dentro do veículo.

— Tudo bem. – Não. Não estava tudo bem. Henrique não poderia estar se sentindo pior, complemente culpado por ter estragado tudo, de novo. Para amenizar o clima tenso no carro, ele ligou o rádio.

Tocava When I Was Yours Man do Bruno Mars.

— De novo? – ela sorriu. — Coincidência ou acaso?

Ele preferiu não responder.

Melina saltou do carro logo depois que ele abriu a porta para ela descer. Ela mal o olhou nos olhos.

— Melina! – ele agarrou o braço dela antes de partir sem ao menos se despedir. — Eu não quero que as coisas mudem depois do que aconteceu...

— Não se preocupe. Nada vai mudar – ela ergueu os olhos. — O problema não é você. Sou eu... Sinto que alguma coisa não está bem.

Ele não entendia. Mas não tinha porque questionar.

— Eu preciso de um tempo. Será que você pode...?

— Não. Mas vou lhe dá.

Melina beijou o rosto dele e correu em direção as escadas.

Não pôde falar com as meninas, estavam todas na sala vendo algo na tevê. Mas Melina só conseguiu dizer um simples “Oi!” e correu para o quarto, jogando-se sobre sua cama.

Uma e depois mais outra lágrima escorreram dos seus olhos.

O que está acontecendo comigo?

De repente, para Melina, estava tudo fora do lugar, tudo uma bagunça e fora de ordem. Não podia negar que as confissões de Henrique tinham mexido com ela. Mas era algo muito mais profundo do que isso... Algo de ruim estava acontecendo.

Em meio à lagrimas Melina se deu conta de que vestia o casaco de Henrique que esqueceu-se de entregar. Tirou-o cuidadosamente e ao invés de deixa-lo de lado, colocou de baixo da cabeça e deixou as lágrimas escorrem até molharem.

Gosto do perfume dele.


~*~


Rebeca está furiosa, andando de um lado para o outro em sua sala. Já vestida. Thomaz está desmaiado sobre seu sofá, completamente desacordado. Ele apagou no momento em que ela acreditou que finalmente as coisas dariam certo: ele iria agarra-la e se arrepender por ter se entregado aos seus encantos.

Mas deu tudo errado.

O feitiço foi contra a feiticeira. E Thomaz apagou antes mesmo de rolar um simples beijinho. Rebeca ainda pensa na possibilidade de usufruir de Thomaz inconsciente. Poderia fazer dele o que bem entendesse. Mas não teria a mínima graça, pois quando ele despertasse não se lembraria de nada. O melhor de tudo seria que ele se arrependesse depois e deixasse a namoradinha pra ficar com ela.

Babaca.

Rebeca correu até seu quarto pegou sua bolsa de couro, apagou as luzes de se flat e saiu. Deixando Thomaz para trás.

A noite do meu aniversário, eu não perco por nada.


~*~


— Onde está Melina? – Nicolas perguntou a Daniele. Já eram duas da tarde. — Cadê ela?

— Ainda no quarto, dormindo. Melina chegou muito estranha ontem à noite, correu até o quarto e lá se trancou. Caiu no sono quase cinco minutos depois que eu fui conferir se ela estava bem ou se precisava de algo. Até agora não acordou.

Nicolas foi até o quarto e deparou-se com Melina encolhida sobre sua cama em uma posição fetal. Ela estava adormecida, ainda com as roupas que tinha saído ontem e os cabelos espalhados sobre o colchão.

Ele se aproximou, passando cuidadosamente a ponta dos dedos em seu rosto, sem intenção de acorda-la. Melina parecia tão frágil.

— Oi – ela esboçou um sorriso. Abrindo os olhos lentamente. — Nick, o que está fazendo aqui?

Melina de um pulo, sentando-se sobre a cama.

— Sabe que horas são? Duas da tarde. Você dormiu muito! O que houve? – ele se aproximou. — Você andou chorando?

Ela poderia negar, mas Nicolas a conhecia, não tinha com esconder.

Contou tudo a ele.

— Você ficou mexida com o que ele te revelou? – ele sustentava seu olhar dentro do dela.

— Não! Claro que não. – constrangida, ela desviou o olhar. — Nick... de um jeito ou de outro, eu e Henrique temos uma historia no passado. Uma historia que nunca foi contada.

— Então, porque você não me conta? Agora.

— Não posso. Não agora.

Ela sorriu, fraca.

— Vamos deixar a tristeza de lado. – Nicolas abriu um largo sorriso, expondo suas covinhas. — Eu vim até aqui pra te chamar para te mostrar algo. Lá em casa. É muito importante!

Melina mal conseguiu tomar o café da manhã, ou da tarde. Já que se passavam das duas horas. A ansiedade de Nicolas para mostrar a tal coisa estava a afetando.

Os dois correram até a casa dele. Nicolas abriu a garagem de sua casa, onde deveria ter um carro, se eu pai tivesse um. Renato vendeu seu antigo carro no ano anterior na esperança de comprar um melhor.

— Anda logo Nicolas! – Melina não conseguia aguentar por muito tempo todo aquele mistério.

Nicolas riu, abrindo de uma vez por todas o portão elétrico de sua garagem, ampla e espaçosa. Cheia de antigas tralhas de seu pai e de sua infância. Mas ao centro havia algo inusitado. Reluzente. Como uma estrela. Suas cores cintilavam a luz do dia.

Melina ficou boquiaberta. Trocou alguns olhares com Nicolas que sorria todo o tempo. Melina resolveu ter certeza de que aquilo não era uma miragem e se aproximou da máquina com cautela.

— É sua? – Melina perguntou, passando os dedos por todos os detalhes. Ela tinha cuidado, com medo de que quebrasse.

— Agora é. – Nicolas se aproximou ainda sem tirar o sorriso do rosto. Agora Melina já sabia o verdadeiro motivo para tamanha felicidade. — É usada, foi mais barato. Papai não pode me dar meu presente de dezoito anos no ano passado. Ele esperou, juntou uma boa grana e me deu só agora. Valeu a pena esperar.

— Parabéns! – Melina pulou em seus braços. Ele a segurou. — É linda, Nicolas. Linda demais!

A Moto Naked é toda em preto com detalhes prateados.

— Quer dá uma volta? – ele pegou os capacetes sob uma mesa velha de madeira destruída pelo cupim no canto da garagem.

— Só se for agora. – ela pegou um dos capacetes e cobriu a cabeça, esperou que ele se sentasse, ligasse a moto e se encaixou atrás, segurando-o pela cintura.

O motor roncou. A moto foi ligada e estremeceu. Melina sentiu seu coração acelerar. Nunca antes em toda a vida tinha andado numa moto tão bonita como aquelas. Tão potente. O sonho de Nicolas era ter uma daquelas, ele estava radiante de tanta felicidade.

Os dois andaram de moto pelas avenidas movimentadas da cidade, passando pelos carros com rapidez. Eles mal conseguiam ver as coisas em volta, tudo ficava para trás em borrões.

As pontas dos cabelos de Melina voavam ao vento. O vento batia de encontro ao seu rosto, e ela tentava se proteger deitando com a cabeça nas costas larga de Nicolas.

Nicolas nunca se sentiu tão liberto. Tirou a carta para motoqueiro no final do ano passado e finalmente tinha uma moto para chamar de sua, graças ao seu pai. Nicolas sempre gostou de motos e ali estava ele ao comando em uma. Atrás, Melina se segurava nele com firmeza. O melhor era poder compartilhar aquele momento tão precioso com ela, a primeira que subia em sua moto.

O primeiro de muitos passeios juntos.

— Para finalizar – ele desceu da moto, tirou o capacete e sacudiu os cabelos alaranjados. — vamos comer algo. Você deve estar faminta! Estou certo?

Ela assentiu.

Ele sempre está certo. Conheci a mim melhor que ninguém.


~*~


Thomaz deu um soco forte em sua mesa de trabalho com os punhos cerrados. Seus papéis junto a outros objetos se espalharam ao chão. O porta-retratos favorito de Thomaz partiu ao meio. Ele havia uma foto dele com Melina a uma viajem que eles fizeram ao exterior.

— Como assim teremos que viajar? – Thomaz cuspia as palavras com ódio. Seu sócio estava a sua frente, seu amigo, com os olhos amedrontados com a fúria de Thomaz. Rebeca tentava em vão pegar as coisas que caíram ao chão. A foto ela amassou entre dedos.

— Tenha calma, Thom. É uma viajem a negócios. Para o bem da nossa sociedade. Não será nada mais do que uma semana.

Thomaz respirou fundo, pousando os cotovelos sobre a mesa.

— Parece fácil pra você. Porque não vai no meu lugar? – Thomaz encarou seu amigo, que não disse nada.

— Chefe – Rebeca resolveu agir, parecia à chance perfeita. — Não fique tão nervoso. Se for para o bem da sociedade de vocês, não vejo porque você não ir. Eu vou estar ao seu lado... – disfarçadamente ela jogou a foto que amassou no balde de lixo.

Uma viagem a aquela altura do campeonato não era exatamente o que Thomaz tinha em planos. Além do relacionamento dele e Melina não estar lá essas coisas... Eles fariam dois anos de namoro em poucos dias. Essa viagem só estragaria todos seus planos.

Mas também tinha muitas outras coisas em jogo. Ele e Rebeca estavam sempre juntos e desde aquele incidente na casa dela que acordou no meio da sua sala escura, mal conseguia olhar nos olhos dela. Com medo de que eles tivessem feito algo em sua embriagues que pudesse se arrepender depois. Ela, por outro lado, não fez nenhum comentário em quanto a isso. E a duvida permaneceria, já que ele não tem coragem de perguntar com medo da resposta.

Na situação que se encontrou, tonto sentindo a cabeça latejar de dor e as roupas ainda no corpo, é provável, quase certo, de que eles não tenham feito nada. Isso já faz com que ele se sinta mais aliviado e tranquilo. Sem peso na consciência.

Melina nunca saberá disso.

— Vou buscar uma água para o senhor. – Rebeca se foi. Tiago, seu amigo e sócio, olhou para ela, até Rebeca desaparecer. De fato, ele sempre dava uma conferida no corpo de Rebeca.

Tiago voltou à atenção para Thomaz deixando o sorriso malicioso de lado e soltando um risinho.

— Essa sua secretária é uma tentação!

— Cale a boca. – Thomaz cerou os dentes. — Tiago, é mesmo necessário que Rebeca vá comigo a essa viajem?

— Claro, Thom. Ela é sua secretária, irá de ajudar no que for preciso. Eu já falei com ela e ela está totalmente à disposição. Mas qual é o problema dela ir?

— Não tem problema – Thomaz abaixou a cabeça. Pôs-se a refletir. Mas e se por outro lado essa viagem fosse uma boa? — Porque é que você não vai ao meu lugar?

— Thom, eu não posso. Lembra-se que Fernanda e eu estamos em crise? Ela precisa de mim. Ela também jamais permitiria que eu fosse a essa viajem. Você tem que ir... Para o nosso bem.

Fernanda é a namora de Tiago a mais de sete anos. Ele sempre a enrolou e ela insiste que eles estão mais que na hora de casar.

Thomaz teria todos os motivos pare se preocupar com essa viajem, principalmente em ter que ir com Rebeca, mas...

— Eu vou. – ele abriu um sorriso. — Pode contar comigo.

Não tenho escolhas.



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Notas finais do capítulo

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