Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 29
Mamãe e seus deslizes


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada: relevem o jeito de Verônica.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/384593/chapter/29

Melina estava sentada na beira da cama de sua mãe, com as pernas cruzadas sentindo-se completamente entediada. Verônica estava de pé, tagarelando sem parar sobre os preparativos do seu futuro casamento com Jonathan. O noivo que fora viajar para passar uns dias na casa dos seus pais. No litoral.

— Dá pra acreditar filha? Que só tem datas na igreja para o fim no ano. Está tudo superlotado. De repente todos resolveram se casar de uma só vez. – Verônica passou as mãos pelo seu vestido preto com decote V. — Eu bem que tentei subornar o padre, mas ele se sentiu ofendido e nem quis saber de conversas.

— Mamãe! – Melina a repreendeu. Às vezes, ou na maior parte das vezes, sua mãe ia longe demais. E no final, Verônica sempre queria sair com a razão de que fez o melhor, fez o certo.

Verônica revirou os olhos, voltando-se para o espelho para pentear os cabelos sempre impecáveis.

— Mudando de assunto... Mãe, amanhã você vai querer ir à festinha de aniversário da vovó?

— Eu? Eu não. – Verônica colocou a mão na cintura. — Sua avó sempre me odiou. Aposto que vai ser lá no casebre dela, naquele fim de mundo! Estou certa?

— Vovó não te odeia mamãe. E você sabe disso. – Melina endireitou-se sobre a cama. — É, vai ser lá na casa dela. Afinal, é onde papai está morando. Vai ser só uma pequena comemoração. Não é nada de mais. E se você não quiser ir, pra mim tudo bem.

Seria até melhor.

— A tal Leila, namoradinha do seu pai, ela vai? – Verônica perguntou como quem não quer nada.

— Ah sim, claro. Ela vai. Mas se é pra você ir arrumar confusão com Leila, é melhor nem ir.

— Melina! Não me ofenda filha. Eu arrumar confusão? Eu não rebaixaria meu nível com qualquer uma.

Melina ficou para jantar com sua mãe.


~*~


— Eu tenho um compromisso amanhã, Rebeca. – Thomaz levou a boca mais um dos seus drinks fortes. — Vou com ela ao aniversário de sua avó. Uma senhorinha muita gente boa.

Thomaz já estava enrolando a língua com a bebedeira e ficando mais alegrinho. Exatamente como Rebeca deduziu. Assim, ela poderia controlar a situação sem levar a culpa.

— Ah, que pena. – Rebeca acenou ao barmen e pediu mais uma drink a Thomaz que agradeceu sorrindo. — Pensei que poderíamos sair pra comer algo amanhã. Mas já que você vai sair com sua namoradinha... Deixa para uma próxima vez.

Uma banda de rock tocava no fundo do barzinho.

— Vou ao toalhete. Me espere ai, fofinho – Rebeca apertou a bochecha dele, Thomaz riu. Ela se levantou ajustando o vestido colado ao corpo. Thomaz observou ela caminhar com graciosidade. Que mulher! Meu Deus!

— Vem Má – Rebeca chamou por Marcela, sentada em uma mesa não muito longe dali junto do seu namorado, Leonardo. — Vamos ao banheiro.

As duas retocaram a maquiagem de frente para o espelho.

— Quando é que aquele babaca vai cair em suas mãos? – Marcela se virou para Rebeca depois de passar seu batom.

— Você não percebeu? Ele já está em minhas mãos. – Rebeca riu alto. — Logo ele estará completamente em minhas mãos. Como um verdadeiro cachorrinho.


~*~


Melina desceu as escadas ao lado de Daniele, a quem ela tinha convidado para ir junto à festinha de aniversário de sua avó. Nicolas esperava pelas duas de frente para o prédio. Todo bem arrumado e encantador. O sol se colocava no horizonte.

— Vamos? – Melina abriu a porta do seu carro. Todos entraram e ela deu partida.

Thomaz esperava por ela enfrente a casa de Alexandra, todo engravatado e com um sorriso irresistível. Ela o beijou e pegou-lhe pela mão. Ele cumprimentou seus amigos e todos entraram.

A casa estava vazia. Como seria uma pequena comemoração, só foram convidados os mais íntimos.

O ambiente cheirava a pão de mel no forno. Leila estava na cozinha tirando algo da geladeira. Como sempre ela era simpática com todos e estava muito bem arrumada em um vestido simples.

— É bom ver vocês! – ela sorria. — Melina, seu pai está lá dentro, ainda se arrumando. Sabe como ele é – elas riram juntas. — Sua avó, foi à casa de um vizinho, mas já volta. Sentem-se! Fiquem a vontade.

— Ah, Leila – Nicolas chamou-lhe a atenção enquanto os outros foram se acomodar na sala. — Juliana pediu desculpas por não poder vir. Ela e papai foram visitar uns parentes.

Nicolas sentou-se ao lado de Daniele no sofá, enquanto Thomaz e Melina conversavam animados.

— Venha campeão! Vamos cumprimentar os outros – a voz de Alberto vinha do corredor.

Todos se calaram quando ele se aproximou, com uma criançassegurada a sua mão.

— Pessoal, esse é o Enzo. Filho de Leila – o garotinho parecia muito tímido, mas impulsionado por Alberto ele foi cumprimentar a todos com um sorriso tímido e leve aperto de mão.

— Olá, Enzo. Como vai? – Melina se abaixou. Ela tinha a voz doce e melancólica. — Sou Melina. Quantos anos você tem?

— Dez. – ele disse sem sorrir. Era muito tímido, ainda mais que Nicolas. O que encantou a Melina. Enzo voltou para perto de Alberto, eles pareciam bem familiarizados, como amigos.

Leila voltou à sala com uma bandeja em mãos. Ela servia pão-de-mel. Melina se ofereceu para ajudar com o refrigerante.

Alexandra voltou dez minutos depois e foi recebida por todos com um forte abraço e palavras de carinho.

— Vovó eu trouxe o seu presente – Melina havia esquecido no carro. Nicolas ofereceu-se para busca-lo e logo voltou.

Melina lhe comprou um perfume.

— Aqui está o meu vovó Alexandra – Thomaz tirou do bolso um pequeno embrulho. Era uma joia fina e simples.

Nicolas e Daniele compraram junto um faqueiro.

— Obrigada a todos! Vocês são maravilhosos! – Alexandra chorava de emoção. — Vou guardar os presentes no meu quarto.

Todos conversavam freneticamente, enquanto Leila estava mais preocupada em servir a todos. Alexandra bem tentou detê-la, mas no fundo estava adorando uma “quase” nora que estava disposta a ajuda-la, como Verônica nunca fez antes.

Enzo estava entretido em um canto afastando junto de Alberto, eles davam uma olhava nos antigos livros de Alexandra, bem organizado nas prateleiras.

Melina observava aquela cena comovida. Lembrando-se do seu tempo de infância em que seu pai a tratava com tanta compaixão, paciência e carinho quanto trata Enzo agora. Como se fosse um pai.

A campainha toca. Melina se disponibiliza a atender. É sua mãe, com um grande embrulho de presente. Verônica a abraça e entra na sala chamando a atenção de todos.

— Feliz aniversário Alexandra! – Verônica aperta a senhorinha. — Eu trouxe isto para você – ela entende o embrulho. — São muitos cremes, um para cada parte especifica do corpo. Para que você possa cuidar mais de si, agora que está ficando mais velha.

Verônica não percebeu o quanto foi deselegante com o comentário, mas o fez mesmo assim, de todo seu coração.

— Sente-se Verônica, fique a vontade. E muito obrigada pelo presente, eu adorei! – Alexandra se afastou.

Depois dos cumprimentos, Verônica sentou-se ao lado da filha e de Thomaz, entrando na conversa.

— Verônica, aceita um Cupcake? – Leila se aproximou gentilmente com a bandeja de bolinhos coloridos.

Verônica a analisou de cima a baixo. Atônita. Ela é mesmo muito bonita. Verônica não pode acreditar que mesmo depois de tudo Alberto tinha conseguido se dar tão bem na vida.

Leila é completamente diferente dela. Talvez até melhor, mas Verônica não pode admitir isso. Ela deseja ser o centro das atenções.

— Querida, você acha mesmo que eu vou comer isso? – Verônica olha com desprezo para o bolinho. — Você quem fez? – Leila assente, constrangida. — Eu não como isso! É uma bomba calórica! Não quero ter gordurinhas localizadas assim como... Você.

Todos olharam, paralisados.

— Oh, desculpe. – Leila se afasta, sentindo-se envergonhada. Já tinha sido avisada o quão Verônica era difícil, mas não imaginou que seria tanto. — Tudo bem então.

Ela o ofereceu ao próximo.

Depois do bolo de aniversário, Melina se afastou do grupo e foi até Enzo, ainda encantado com os livros. Ela se abaixou diante dele.

O garotinho é muito bonito, de pele branquinha e os cabelos pretos como o breu.

— Você gosta de livros, Enzo? – ela tenta puxar assunto. Ele olha para ela um tanto intimidado. E confirma com a cabeça. — Eu também gosto muito! Eu tenho um montão deles lá em casa.

— Você não mora aqui? – ele tem a voz mansa, tão baixa que mal dá pra escutar. Seus olhos negros brilham com pouca a luz.

— Não, eu moro com as minhas amigas. – Melina se senta no chão, tomando cuidado com o vestido. — Quer um dia conhecer a minha casa? Eu moro em um apartamento. Tenho uma cachorrinha...

— Você tem uma cachorrinha? – os olhos dele se arregalam. — Eu gosto de cachorros! Muito! Mas mamãe tem alergia a eles. – ele parece aborrecido. — Você me leva um dia para ver a sua?

— Claro! Eu converso com a sua mãe e combinando de se encontrar. Tá? – ele balança a cabeça outra vez, depois volta sua atenção para um livro antigo de contos. — Sabe ler?

Ele afirma que sim. Olha para o livro, depois olha para Melina.

— Mas gosto quando leem pra mim. Quer ler esse?

Melina sorria satisfeita. Está emocionada com a nova amizade. Ela é apaixonada tanto por animais quanto por crianças. E por Enzo sente que tem um carinho especial.

Melina pega o livro escolhido por ele e o abre.

— Onde está Melina? – Thom pergunta a Nicolas. — Ela sumiu! Você sabe?

— Acho que a vi ir até a sala. – Nicolas revela. — Quer eu a chame para você?

Thomaz aceita.

Nicolas vai até a sala e se depara com a cena de Melina contanto historinha para o garotinho filho de Leila. Eles parecem entrosados, apesar da timidez do garoto. Nicolas sabe bem como é isto. De longe, ele continua a observa-los. Enzo está á atento à leitura de Melina, e ela parece satisfeita.

Nicolas imagina que tipo de mãe Melina será no futuro. Provavelmente muito diferente de Verônica.


~*~


Melina tira o avental as pressas. Durante todo o dia, na faculdade e até mesmo no trabalho, pensou muito no encontro que teria com Enzo, o filhinho de Leila. Enzo é uma criança adorável e Melina está apaixonada por ele, nunca pensou que seria capaz de algum dia gostar tanto de uma criança tão facilmente.

— Onde você vai com tanta pressa? – Nicolas se aproxima com um sorriso.

— Vou levar Enzo ao Mc Donald’s, eu prometi a ele. – Melina não conteve o sorriso. — Ele é adorável, Nick. Você precisa conhece-lo! Sinto como se fôssemos irmãos! Aliás, você quer ir conosco?

Nicolas faz uma careta.

— Desculpe. Não posso. – ele parece aborrecido ou envergonhado. — Marquei de levar Analu ao cinema.

— Hum. Parece sério. Vocês não estão mesmo namorando? – Melina resolve perguntar, sem olhar nos olhos dele.

— Não. Não estamos namorando. É muito cedo pra mim. Só quero me desculpar com ela pela pequena discussão que tivemos.

— Ah. – Melina podia compreender. — Então, até amanhã.

Melina tomou um banho quente, colocou um casaco, penteou os cabelos e saiu de casa. Indo em direção à casa de Leila.

Enzo já estava pronto, só esperando Melina. Ansioso pela chegada de sua mais nova amiga. Antes de sair, ao ouvi-la buzinar, Leila disse a ele que deveria se comportar e ser educado. Qualquer problema poderia ligar para ela.

— Já entendi mamãe. – eles se encaminharam até o carro de Melina, parado de frente a casa. — Tchau, mãe.

— Tchau, Enzo. – ela beijou o alto da cabeça dele. — Oi Melina. Se Enzo der qualquer tipo de trabalho, dê uma bronca nele.

Melina assentiu sorridente e deu partida no carro. Os dois iam ao Mc Donald’s do shopping.

— Me conta Enzo – ela o impulsionou. — Como é a sua escola? Tem muitos amiguinhos? Você gosta de estudar?

O garoto muito timidamente narrou como é sua vida durante todo trajeto até o shopping. Melina atravessou o estacionamento segurando à mãozinha dele. Como sempre o Mc Donald’s estava superlotado. Enzo localizou uma mesa pequena vazia próxima às vidraças. Ele se sentou a mesa e esperou por Melina enquanto ela foi fazer os pedidos.

— Oi – um jovem alto se aproximou da mesa de Enzo, ainda sozinho aguardando Melina. — Você está sozinho?

Enzo assentiu timidamente. Como muitas crianças ele tem pavor de ficar sozinho.

— Você se importaria se eu ficasse com essa mesa? Eu e meu irmãozinho – um garoto bem menor que Enzo estava ao lado do rapaz olhando para o irmão. — estamos sem mesa.

Enzo agradeceu mentalmente ao ver Melina se aproximar com as bandejas e os lanches.

— Henrique? O que faz aqui? – ela depositou a bandeja sobre a mesa onde Enzo estava sentado. — Aconteceu alguma coisa?

— Ah! Então essa mesa é sua? – Henrique era o rapaz com o irmãozinho sem mesa para sentar. — Eu estava pedindo a esse rapazinho... Ele é seu amigo?

— Filho da “namorada” do meu pai – ela riu. — Mas então?

— Então, eu e Caio ficamos sem mesa. Como pode ver está tudo muito lotado em plena semana. Nós poderíamos nos sentar com vocês?

Melina sorriu

— Claro! Sentem-se. – a noite não poderia estar sendo melhor. — Oi Caio. Tudo bem?

— Oi Melina. – Caio sorria espontaneamente. — Qual é o nome dele? – mais ousado, Caio perguntou de frente para Enzo.

— Esse é Enzo. Meu novo amiguinho.

Depois do termino do lanche, Caio chamou Enzo para irem até o grande escorregador de muitas cores, onde muitas outras crianças se divertiam entre risos. Muitas delas mal se conheciam, se encontraram ali por acaso e já pareciam amigos de longa data.

— Saudades do tempo em que tudo era perfeito. Não tínhamos malícia, preocupações, vergonha, afazeres... – Melina suspirou, voltando-se para Henrique. — Foi bom te encontrar aqui. Por acaso. Ou não.

Eles sorriram.

— Também tenho saudades daquele tempo. Mas prefiro os dias de hoje. Sou mais livre para poder fazer o que tenho vontade. – ele confessa, olhando para ela.

Os dois se entreolham. Melina sente-se constrangida.

— Engraçado, estamos sempre nos encontrando por acaso. Ou não. De alguma forma você está sempre no meu caminho. Será que o destino quer nos dizer algo?

.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero seu comentário! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Luz Dos Olhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.