Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 22
A jovem desaparecida




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Melina penteava seus longos fios de cabelo de frente para o espelho aquela manhã. Daniele, por sua vez, calçava sua sapatilha de camurça. As duas não conversavam.

— Depois da aula, estive pensando em sair para procurar um emprego. – Daniele comentou.

— Tá maluca? – Melina se virou. — E o bebê? Você está grávida, lembra?

— Sim, eu sei – Daniele pega seu gloss sobre a penteadeira. — Justamente por ele, eu preciso de um emprego. Eu fiz os exames pré-natais, Melina. Não há com o que se preocupar. O meu médico garantiu que está tudo bem com o meu bebê.

— Por favor, tome cuidado – Melina pegou sua bolsa. — Eu me preocupe com vocês – acarinhou a barriguinha já mais aparente de sua amiga. — Não faça nada que precise de muito esforço.

As duas se encaminharam até a mesa para o café da manhã.

— Bom dia! – Melina disse as outras duas. Ariela lhe respondeu, sempre bem educada. Já Marcela, nem olhou para ela. Ainda parecia chateada com aquele antigo ocorrido.

Na faculdade, Melina caminhava até a sua próxima aula. Ainda não tinha visto Nicolas quando chegou.

Caminhava distraidamente, pensando de que maneira iria encontrar a dona dos bilhetes anônimos.

— Olá. Bom dia – alguém te tocou a cintura. Era Nicolas. — Melina, estive pensando: papai vai sair com Juliana essa noite. Os dois não se desgrudam mais. Sugeri que ele convidasse seu pai e Juliana chamasse Leila. Mas então, eu não terei nada para fazer essa noite, pensei que poderíamos sair e fazer algo diferente.

— Ótimo! Acho uma excelente ideia! – ela sorria. — Que bom que você também está dando uma forcinha para o meu pai. Ele se esqueceu como se deve conquistar uma mulher.

No final da aula, Melina teve uma grande ideia: pediria alguns cadernos emprestados das garotas da sua turma e dessa forma poderia dá uma analisadas nas letras. Assim, poderia descobrir se alguma delas estava escrevendo bilhetes anônimos para Nicolas.

— Ei – Nicolas entrou na sala. Pegando-a de surpresa. — Veja só o que acabei de receber: outro bilhete.

— E ai? Já leu? – ela tomou-o das mãos. — O que é que ela disse dessa vez?

— Não, eu não li. Ler você – ele deu de ombros, sentando-se na carteira ao lado.

— Vou ler depois – ela enviou o bilhete no bolso do jeans. — Agora, tenho algo muito importante para fazer.

Melina se encaminhou até o fundo da sala, onde um grupo de meninas conversava distraidamente pela ausência de professor.

— Olá meninas – ela conhecia boa parte delas. — Alguma de vocês pode me emprestar à matéria da aula anterior? Eu fiquei tão distraída que nem anotei a explicação.

Muitas delas sugeriram seus cadernos de uma só vez, duas delas ficaram receosas e foram muito suspeitas, mas duas acabaram emprestando ao mesmo tempo o caderno que Melina garantiu que devolveria em minutos.

— O que é que você está fazendo? – Nicolas tentou olhar melhor, na tentativa de deduzir.

— Analisando as letras – Melina falou por cima dos ombros, olhando atentamente para cada letra diante de seus olhos.

— Já sei! – a ficha em Nicolas finalmente caiu. — Você acha que, talvez, um delas seja minha admiradora?

— Exatamente.

— Hum – ele também se pôs a olhar as letras. — Mas e se no final das contas ela não for dessa turma? E for apenas uma amiga fazendo um favor...

— Não complique Nicolas! Deixe-me fazer o meu trabalho.

A professora de Metodologia Cientifica entrou na sala, interrompendo o barulho da turma.

— Vamos lá pessoal, todos atentos aqui – ela chamava a atenção da galera. — Vamos dar uma revisada no conteúdo, afinal, as provas já estão a caminho.

Melina teve que devolver os cadernos e as folhas das meninas.

— E ai? Alguma suspeita? Alguma pista? – Nicolas perguntou enquanto se encaminhavam para o intervalo.

— Nada! Nenhuma delas é a tal admiradora secreta – Melina estava levemente aborrecida. — Já não sei mais como procurar por ela. É tudo tão complicado!

Para Melina, era o seu dia de folga no trabalho. Ela e Nicolas marcaram de se encontrar mais tarde.

Em casa, Melina aproveitou estar sozinha e decidiu arriscar na cozinha. Achou que o melhor seria começar a tentar fazer arroz. Daniele bem que tentara ensinar duas ou três vezes.

— Acho que consigo. – Melina disse a Bel, a cachorrinha balançava o rabinho, como se entendesse.

O arroz já estava no folgo, Melina esperava sentada em uma das cadeiras, com seu notebook sobre a mesa.

Seu celular tocou.

No identificar de chamada Melina viu o nome do namorado piscando.

— Melina, meu amor – ele tinha a voz doce, muito diferente nos últimos dias. — Lembra-se da surpresa que eu prometi que faria? – ela disse que sim, lembrava. — Que tal hoje?

Melina sentiu o coração disparar.

— Tá falando sério? – ela mal podia acreditar. — Quer mesmo sair comigo hoje à noite?

— E porque não? – Thomaz sorria. Ele adorou a ideia de Receba, a secretária. Agora, só teria que colocar o plano em pratica. — Topa?

— É claro que sim Thom! Eu topo.

Marcaram as oito.

Só depois, enquanto comia o arroz que ela mesma havia preparado, lembrou-se que tinha marcado algo com Nicolas.

— Nick, me desculpe. – ela disse ao telefone. — Mas Thomaz me ligou, marcamos de sair. Não vai dá para fazermos algo hoje, juntos.

— Ah – Nicolas escondeu a decepção. — Tudo bem! Vocês estavam mesmo precisando se resolver, não é? Boa sorte então.

— Que bom que você entende – Melina não poderia estar se sentindo melhor. — Você é o melhor amigo do mundo!

Daniele chegou por volta das três da tarde com a notícia que tinha conseguido um emprego, no mercadinho da esquina, como caixa.

— Vamos comemorar! – Melina a abraçou. — Que tal se eu fosse comprar um pote de sorvete de coco com cobertura de chocolate? Você adora, não é mesmo? O daqui de casa já acabou.

Melina voltava do mercadinho com o sorvete prometido. Ela estava radiante, não conseguia esconder sua empolgação com o encontro que teria aquela noite com Thomaz. Estava tudo dando certo finalmente!

Ou quase... Rafael vinha em sua direção.

— O que você quer? – ela disparou. Sentia muita raiva daquele garoto que não estava nem um pouco a fim de assumir suas responsabilidades como pai.

— Queria poder falar com Daniele – ele tinha a voz mansa, quase como um cão arrependido. Melina não podia acreditar e deixar se levar pelo leve tom de voz dele. — Você pode dizer a ela?

— Nem pensar! – Melina continuou a subir as escadas. — Deixe-a em paz! Você não a merece.

— Por favor – ele a agarrou pelo braço. — É muito importante que eu fale com ela. É urgente.

— Está bem – ela se deu por vencida, antes que ele pudesse machuca-la. — Vou dizer a ela.

Daniele aceitou na hora. Ama Rafael, não poderia deixa-lo na mão.

— O que você quer? – ela se encontrou com ele de frente para a porta.

Rafael estava incrivelmente bonito aquela tarde com uma camiseta verde primavera.

Daniele se segurou para não abraça-lo. Precisava ser mais firme, por mais que quisesse estar em seus braços.

— Preciso de dinheiro, Daniele – ele foi direto ao ponto. — Preciso pagar uma divida. Antes que os caras acabem comigo.

— Divida? Divida do que Rafael? – ela se aproximou. Via que nos olhos dele só havia tristeza. Sentia pena. Mesmo sabendo que ele se envolvia com coisas ruins. — De quanto você precisa?

— Divida com uns antigos amigos – ele mentiu. — Preciso de cento e cinquenta reais. Até amanhã de noite.

Daniele guardava na primeira gaveta do seu guarda-roupa uma pequena quantia de suas economias. Ficaria sem quase nada, mas daria a ele, antes que lhe fizessem algum mal.

— Eu estava guardando um dinheiro para o bebê, mas posso de emprestar esse dinheiro. Desde que você me devolva.

— Claro que devolverei – ele a abraçou. Ela não esperava. — Muito obrigado Daniele!

Por fim beijou-a rapidamente nos lábios.

Tolinha.


~*~


Melina estava impecável com uma saia cinza brilhante até o meio das coxas, uma blusa de cetim de alcinha na cor azul e sapatos pretos de salto alto. Os cabelos castanhos longos estavam trançados em uma traça efeito “espinha de peixe”.

— Você está mais do que bonita essa noite. – Thomaz segurou sua mão, ajudando a entrar no carro. Depois, sentado ao lado dela, no banco de motorista, deu-lhe um suave beijo.

Rebeca sugeriu que Thomaz levasse a um hotel, mas não um hotel qualquer, fora o hotel onde Melina teve sua primeira noite com o namorado, no meio do ano passado.

No quarto de Hotel foi preparado um jantar para eles a luz de vela com uma musica suave de fundo.

— Thomaz! Isso é incrível! – Melina ficou encantada com o que viu. Gostou ainda mais das pétalas de rosa espalhadas pelo chão e o cheiro de essência de flores do campo por todo o ambiente.

— Sente-se. Vamos jantar – ele a conduziu até a mesa, já preparada com seus pratos favoritos e uma garrafa de champanhe.

A vista da janela, ao fundo, era de toda a cidade, os prédios altos e suas luzes e o céu incandescente.

— Foi você quem preparou isso tudo sozinho? – ela bebericou do champanhe na taça de cristal.

— Quase. – ele foi sincero. Sorriu. — Mas isso não importa. O que importa é que estamos os dois, aqui, essa noite, juntinhos.

Enquanto jantavam a meia luz, Melina e Thomaz conversavam como há muito tempo não faziam. Colocando em dia todo o assunto dos últimos acontecimentos em suas vidas.

— Quer dançar? – ele levantou-se, pegando sua mão. Ela aceitou ainda encantada. Imaginando se aquilo seria um sonho.

Thomaz dançavam incrivelmente bem.

— Isso me faz lembrar o em dia que nos conhecemos – ela falou baixinho, deitando com a cabeça no peito dele.

Melina inalou o cheiro forte de sua colônia.

— Ah! Que saudades eu sinto – ele a ouvia com atenção, com as mãos firmes em volta da cintura fina dela.

Os dois balançavam suavemente de um lado para o outro.

— Melina, eu sinto muito se venho sendo um estupido com você nos últimos dias – ele seguia a todas as sugestões de Rebeca. — São tantas coisas acontecendo, que eu acabei descontando em você.

— Tudo bem – ela olhou para ele. Sorria. — Não faz mal. Eu entendo. E também peço desculpas

Os dois sorriam e se beijaram em seguida.

Um beijo doce e apaixonado. Como um casal que acaba de se conhecer em uma noite romântica.

Thomaz aperta firme a pele de Melina, beijando-a cada vez com mais vontade. Ela sente que o clima está esquentando e se permite se entregar como há muito tempo não faziam.

Os dois acabam se beijando sobre a cama. Os carinhos aumentam a medido que os beijos se tornam mais quentes. E uma explosão acontece. Uma mistura de ardor, com amor e desejo que os dois compartilham em um só momento.

— Eu te amo tanto! – ela suspira, aconchegando-se nos braços dele, colando seu corpo ao corpo quente de Thomaz.

Os dois sentem-se aliviados. Há muito tempo não se amam como antes, como no principio. O primeiro passo para salvar aquela relação, era tudo que eles precisavam para se sentirem ainda mais apaixonados um pelo outro.

— Eu te amo, princesa – ele beija o alto da cabeça dela, sentindo o cheirinho de shampoo em seus cabelos agora soltos e dasalinhados.


~*~


Melina chega em casa tarde da noite, provavelmente todas já estavam dormindo. Ela tira os sapatos e os joga de lado. Ainda embriagada com a felicidade de ter se entendido com Thomaz.

Ela senta-se no sofá estendendo seu corpo. Melina fecha os olhos e se põe a pensar nos últimos instantes que esteve com o namorado naquele quarto de hotel. Cada toque, cada beijo, cada contato de seus corpos quentes colados um no outro, cada troca de olhar. Tudo fora tão bem planejado.


Essa noite entrará para a minha lista de noites mais especiais. Todas elas passei ao seu lado.

Foi o que Thomaz disse, em seu torpedo.

Melina fica sorrindo atoa, desejando mais momentos como aqueles ao lado de Thomaz. Nesse instante, enquanto ela se perde em pensamentos, ouve uma batida na porta. E depois mais outra.

Quem seria?

— Melina! – era Tina, a irmã de Thomaz. A que desapareceu. — Por favor Melina, me deixe ficar aqui. A polícia, meus pais e meu irmão estão todos atrás de mim.

Melina pede que ela se acalme, sente no sofá enquanto ela vai pegar um copo com água.

Tina conta a história do porque ter fugido de casa. E sim, foi verdade. Ela passou todo esse tempo na casa de uns amigos. Amigos do seu namorado, Carlos. O namorado que sua mãe, principalmente, não aceita.

A garota chora de desespero.

— Eu não quero voltar para casa Melina! – Melina a abraça. Rezando para as outras meninas não acordarem com o barulho. — Eles me odeiam! Quero ficar com Carlos! Nós nos amamos.

Melina não sabe o que dizer, e acha melhor que Tina vá dormir,em sua cama até elas decidirem o que fazer no dia seguinte.

— Tenha calma e paciência – Melina sussurra, secando as lágrimas da jovem. — Eu vou te ajudar. Confie em mim. Durma e amanhã resolveremos essa situação. Juntas.

Tina confia em Melina, sempre gostou da cunhada. Ela controla o choro, lava o rosto e quando cai na cama esgotada pelo cansaço, dorme rapidamente, em questão de minutos.

Melina passa a noite no sofá.




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