Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 20
Deixa o tempo


Notas iniciais do capítulo

Casais felizes e apaixonados também têm seus altos e baixos.



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É tarde, daquela mesma noite. Melina não consegue dormir, pois pensa em toda a fase difícil que ela está enfrentando nos últimos dias. Mas o que mais a incomoda é a indiferença de Thomaz. Ele não ligou para ela. E ela esperou por isso o dia inteiro na esperança de poder se desculpar um com o outro. De tudo o que está passando, o mais difícil e ficar brigada com o namorado de quem ela tanto gosta. Ela pensou nele dia inteiro e tentou disfarçar a dor que isso lhe causava, pensou até em ligar e ela mesma tomar a iniciativa. Por fim, chegou à conclusão que o tempo era o melhor remédio.


Tá acordada?

Seu celular apitou. Uma nova mensagem de texto de Henrique. Ela não esperava.

Sim, estou. Por quê?


Ela respondeu.


Menos de dez segundos depois ele respondeu.

Nada! É que eu não consigo dormir. Pensei que poderíamos bater um papinho.

Não sei se seria uma boa ideia. Estou muito chateada com algumas coisas.

Dessa vez ele demorou mais para mandar outra de volta.

Chateada? Posso imaginar o por que. Bom, que tal se déssemos uma volta por ai? Você poderia se reanimar, quem sabe.

Melina refletiu sobre a possibilidade. Afinal, já era tarde. Mais de uma da madrugada. O que eles fariam àquela hora na rua?

Você ficou maluco? Há essa hora? Não é uma boa ideia.

Vamos, vai? Pode ser legal. Eu te busco ai e depois te levo de volta pra casa quando quiser.

Tá. Você me convenceu. Mas não demore, só vou me trocar e te espero de frente para o prédio.


Melina levantou-se cuidadosamente sem fazer barulho. Não queria acordar ninguém. Vestiu algo mais descente e saiu de casa.


Eu só posso estar ficando maluca.

Henrique chegou dez minutos depois com o sorriso mais sínico que poderia existir. Ela entrou em seu carro e ele deu partida.

— Aonde pensa que vai me levar? – ela perguntou, já quase se arrependendo de ter aceitado aquela maluquice.

— Ainda não pensei nisso. Não faço a menor ideia. – ele riu. Ela gostava de quando ele ria. Por mais que às vezes a irritasse.

Henrique parou com o carro de frente a um terreno baldio. Em uma rua deserta e silenciosa.

— Estou começando a ficar com medo de você. – ela desceu do carro, olhava para os lados. — Que lugar é esse?

— Não faço ideia – ele riu outra vez. — Nunca vim aqui. Mas acho que pode ser um bom lugar. – ele voltou para dentro do carro e ligou o som do seu carro em um volume razoável.

Melina não conseguia reconhecer a musica.

Os dois sentaram no meio fio, na calçada. Um do lado do outro. O vento era cortante, Melina passou as mãos pelos braços na tentativa de se proteger.

— Só você mesmo para ter uma ideia maluca dessas – ela soltou um risinho.

— Eu não tive essa ideia. Ela apareceu assim, de repente, achei que poderia ser legal. Diferente, talvez – ele olhou para ela. — Você não está mesmo com um carinha muito boa, desde que te vi no shopping. Deve estar chateada com o seu namorado.

— Não é só isso – ela olhou para o céu. Por ironia ou não, a noite estava linda, um tanto romântica. — Muitas coisas aconteceram aquele dia. Mas você tem razão de certa forma. O que mais me incomoda é que Thomaz não me ligou. Nem pra conversar.

— Então, ligue pra ele. Comigo, pelo menos, sempre funciona. Eu espero que você me ligue, mas você nunca liga. Só ligou uma vez, quando precisou de mim. – eles riram. — Daí, eu te ligo.

— E porque eu te ligaria? – eles se entreolharam.

— Bom – ele desviou o olhar. — Para saber como eu estou, talvez? Ou pra conversar, jogar conversa fora. Essas coisas.

— Mas é que a gente tinha resolvido que o melhor seria se manter um longe um do outro. Eu pensei que...

— Eu também pensei que seria o melhor – ele completou. — Mas voltando o assunto, eu acredito que ele tenha razão de ter ficado chateado com você. Eu no lugar dele faria o mesmo. Ficaria com ciúmes da minha namorada segurando a mão de outro. Mas não te traria assim, feito um babaca. Eu não correia o risco de te perder.

Melina engoliu em seco. Ela também teria ficado enciumada caso fosse o contrário.

— Você teria medo de me perder? Acho que o Thom não tem medo de me perder. Ele sabe que eu o amo.

— Mesmo assim, eu teria. A gente poder perder o que mais ama a qualquer momento.

Melina pensou e acabou rindo da situação.

— Você me disse, uma vez, que não era bom em dar conselhos. Mas pelo visto, você foi modesto e me enganou.

— Não é verdade – Henrique sorriu, passando a mão pelos cabelos castanhos. — Eu não sou bom em conselhos. Apenas falei a primeira coisa que me veio à cabeça.

— Então, você é bom nisso – os dois sorriam juntos. — Me fale outra coisa, a primeira que vier na cabeça.

Sem pensar, ele disse:

— Você é linda!

Melina ficou envergonhada. Sentiu o coração bater mais rápido.

— Você já me disse isso – a voz dela era um sussurro.

— Eu diria isso muitas outras vezes se fosse preciso.

O silêncio tomou conta dos dois. A música que vinha do carro de Henrique, parado enfrente, era a única coisa que preenchia o vazio.

— Às vezes eu penso muito em você. Mais até do que deveria. Mas não consigo evitar. O passado vem à tona e trás todas as lembranças daquele tempo.

— E isso é ruim?

— Um pouco. Porque sei que você não pensa em mim como eu penso em você.

— Você tem razão. Mas como é que você pensa em mim? – Melina sabia que estava indo longe demais. Mas tinha curiosidade em saber.

— Ah, não vamos falar sobre isso. Não agora. – ele sorriu e levantou-se. — Vem, quero te mostrar umas músicas.


~*~



Quando Melina acordou no outro dia, foi invadida pelas lembranças da madrugada que esteve ao lado de Henrique. A principio ele foi muito misterioso, desenterrado sentimentos do passado, tanto de dentro dele, quanto de dentro dela. Ela quase se arrependeu de ter aceitado ao convite dele. Mas depois, os dois se divertiram juntos, discutiram sobre suas musicas, bandas e cantores favoritos. E terminaram conversando sobre as expectativas da semana de prova na faculdade.


Ela decidiu ir para casa, já eram quatro da manhã, e já estava tomada pelo cansaço. Henrique a levou até em casa e prometeu mais momentos como aqueles.

Melina tomou café da manhã sozinha. As outras já tinham tomado antes de ela acordar. Sem muito que fazer, Melina lembrou se dos conselhos sábios de Henrique e decidiu que era hora dela tomar uma iniciativa. Pegou o celular e ligou para Thomaz.

— Melina? O que aconteceu? – ele tinha a voz embargada pelo sono. — Porque está me ligando a essa hora?

— Queria saber se Tina apareceu. – ela inventou qualquer desculpa para não ter que tocar no assunto principal.

— Ah não. Mas ela mandou noticia por um telefone anônimo dizendo que estava bem, com algumas amigas e que mandaria noticias sempre que possível, mas que não estava pronta para voltar. Mamãe está mais calma, mas ainda quer que a polícia atrás daquela patricinha mimada. – ele tinha raiva no tom de voz.

— Bom, pelo menos ela entrou em contato. – ela tentou sorrir. — Thom, poderíamos sair pra conversar? Fazer um programa legal. Há tanto tempo não ficamos juntinhos.

— Sorte sua que hoje não tenho que ir ao trabalho. – ele levantou-se da cama. — Vamos sair sim. – ele não parecia tão interessado o quanto ela gostaria que estivesse. — Te pego ai as duas.

O carro de Thomaz parou de frente para o prédio, onde Melina já o esperava ansiosamente. Ela sentou-se no banco ao lado do dele e deu-lhe um beijo, mal correspondido, antes que ele desse partida no carro.

— Para onde vamos? – ele perguntou, atento a direção.

— Pensei que poderíamos passar essa tarde de sol no parque.

Thomaz deu de ombros, e apenas dirigiu. Sem mostrar empolgação pelo programa que ela havia planejado.

No parque foi a mesma coisa. Melina segurou-lhe a mão, os dois caminhavam a procura de um lugar que pudesse ficar mais a vontade, ela tentava puxar assunto, mas ele não correspondia a suas expectativas.

— O que você tem? – ela decidiu perguntar. — Está estranho comigo! Ainda está chateado?

— Não. Só estou preocupada com a Tina – ele mentiu, forçando um sorriso. — E você sabe que eu, não gosto de parques.

— Ah – Melina ficou constrangida. Em todo o tempo de namoro ele nunca havia dito diretamente que não gostava de parques. — Desculpe.

Eles sentaram-se em um banco, próximo a um senhor alto, que vendia sorvetes. Thomaz comprou dois.

— Queria aproveitar esse momento, para me desculpar com você sobre aquele dia. Henrique é um amigo meu, desde o primeiro ano do ensino médio. Nos conhecemos no colégio. E nunca tivermos nada...

— Tá tudo bem Melina – Thomaz interrompeu. Beijou-lhe rapidamente os lábios cobertos de sorvete de morango. — Já passou.

Por mais que ela quisesse acreditar nas palavras dele, não conseguiu, pelo resto do dia que passaram juntos. Melina sabia que Thomaz tentava disfarçar sua angustia, tentar transparecer que estava gostando daquele dia no parque, mas no fundo, ela sabia que ele só estava acumulando algo dentro de si que a incomodava.

Eles poderiam ter passado a tarde toda namorando, como nos velhos tempos, cheios de amor e saudades um do outro. Só que não foi bem assim. Melina tentou conversar, tentou fazer o melhor que pôde parar tornar aquele dia especial. Mas Thomaz não facilitou. Não estava empolgado, nem um pouco interessado, esteve vidrado no celular, mal quis conversar e a tratou de uma maneira indiferente, com mais frieza, foi rude e ignorante.

O namoro, definitivamente, já não era mais o mesmo. E ela se culpava por isso.

Ao se deitar, no final daquele dia, bem mais cedo que o normal, ela chorou baixinho. Com medo de que as coisas piorassem.



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Notas finais do capítulo

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