Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 17
Roupinha de bebê


Notas iniciais do capítulo

Não estou me sentindo muito motivada, mesmo assim vou continuar a postar.



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As duas caminhavam lado a lado pelos largos corredores do shopping Center. Verônica não conseguia tirar os olhos das tantas vitrines de suas lojas favoritas. Melina tentava ao máximo dar importância a todos os comentários que sua mãe fazia de loja em loja enquanto ela digitava mensagens de texto no seu celular. Um dos empregados de sua mãe, um homem alto e sério, caminhava logo atrás, coberto de tantas sacolas.

Que tal uma parada para um lanchinho? – Verônica perguntou a Melina. Cheia de sorrisos.

— Hum. Pode ser. – Melina nem a olhou, o que causou certa irritação em Verônica.

— Melina, preste atenção em mim! Largue já esse celular! Mas que falta de educação filha! – todos em volta pararam para olhar. — Você nem escutou o que eu acabei de dizer. Ou escutou?

— Claro que sim, mãe. – Melina guardou o celular no bolso do jeans. Mas ainda assim, não olhou para sua mãe. Seus olhos foram em direção a uma loja onde vendia todos os tipos de coisas para bebês.

No mesmo momento em que pisou o pé dentro da loja cheirando a perfume de bebê, Melina lembrou-se de Daniele.

— Ah! Mais que gracinha! – ela ficou encantada com tudo. Especialmente o setor direcionado a meninas, tudo em cor de rosa, vermelho e lilás. — Que coisinha mais linda!

— Posso ajudar senhorita? – uma jovem se aproximou com um crachá expondo seu nome. Uma funcionaria da loja.

— Melina – sua mãe vinha logo atrás, sem entender. — Porque entrou aqui? Eu sugeri que fôssemos comer algo...

— Moça – Melina ignorou sua mãe. — ainda não sabemos o sexo do bebê. Poderia me mostrar alguma coisa que servisse tanto caso for menininha quanto menininho?

— Claro! – a vendedora sorria. — Venha até aqui. Dê só uma olhada nessas coisinhas.

Verônica seguia os passos de sua filha.

— Desculpe perguntar, mas, é você quem está esperando um bebê? – a vendedora foi um tanto invasiva, mas Melina não se importou e soltou um risinho.

— Oh, não! Uma amiga minha descobriu recentemente que está gravida! Queria levar uma coisinha para ela.

— Melina! Isso você não me contou! – Verônica a repreendia, atenta a tudo. — Que amiga sua está grávida?

— Mãe, me desculpe. Mas por enquanto não posso falar. – Melina voltou-se para a vendedora. — Gostei desse. Vou levar.

O escolhido foi um conjunto de pagão na cor azul céu com estampa de ursinhos sorridentes. Serviria tanto para menina ou para menino. O tamanho era pequeno. Para recém-nascido.

Após a compra, Melina e sua mãe foram até a praça de alimentação do shopping. E sentaram-se na parte sem cobertura próxima ao chafariz, onde o céu azul de poucas nuvens estava exposto.

— Você não vai comer esse hambúrguer calórico, vai?

Verônica com seus quarenta e um anos é uma mulher extremamente vaidosa, preocupada com o corpo, cabelo, pele e sua silhueta. Por isso, vive de dietas.

— Seu corpo é lindo Melina, mas não vai durar para sempre – Verônica advertiu. — Não coma isso, peça algo mais saudável.

— Mãe – Melina encarou sua mãe. — Eu sei que você se preocupa. Mas eu estou faminta!

Melina devorava seu hambúrguer calórico e sua mãe preferiu a uma salada de frutas.

— Filha, tenho algo muito importante a dizer – Verônica quebrou o silencio. — Mas antes, te peço, por favor. Não saia correndo e nem fique brava comigo.

— Tá mãe – Melina estava calma e paciente. Ou pelo menos era o que aparentava estar. — pode falar.

— Eu e o Jonathan vamos fazer uma festa de noivado. Em breve. O mais rápido possível.

— Ah – já era o que ela imaginava. Mesmo contrariada, não deixou suas emoções falarem mais alto. — Parabéns pra vocês.

— Mas eu vou precisar da sua ajuda filha, você é tudo que eu tenho, sabe disso.

Melina limpou os dedos gordurosos no guardanapo.

— Que tipo de ajuda, mamãe?

— Na festa, com os convidados, a decoração, os convites, esse tipo de coisa.

— E o que você gostaria que eu fizesse?

— Primeiro, chame todos seus amigos, todos mesmo. Assim que os convites estiverem prontos, comece chamando-os. Chame seu pai, sua avó e especialmente Thomaz.

— Tá. Mas eu posso convidar também a namorada do papai?

Verônica ficou paralisada.

— O quê?

— A namorada do papai, mãe.

— Seu pai está namorando é? – Melina assentiu, mentindo. Preferindo não entrar em muitos detalhes para não se entregar. Verônica ficou surpresa e ao mesmo tempo irritada com a novidade. — Eu sou sempre a ultima saber.

Depois ela riu descaradamente.

— Chame ela também. Mal posso acreditar que seu pai conseguiu arranjar uma namorada... Logo ele.

Melina revirou os olhos.

— E eu já comprei seu vestido para o dia da festa.

— Mãe! O quê? A senhora já comprou meu vestido? – Melina tentou conter a raiva. — Mãe! Nós nem temos os mesmo gostos...

— Não se preocupe querida, dessa vez, você vai gostar.

Em casa, certificando-se de que Marcela e Ariela tinha ido mesmo para a festa da faculdade, que começaria a tarde e viraria toda a noite, em um barzinho não muito longe dali; Melina procurou por Daniele, que ainda vinha se sentindo muito enjoada e quase não saia de casa.

— Olha só o que eu comprei para o seu bebê.

Daniele deu um salto da cama e pegou o presente. Ficou imaginando seu bebezinho vestido naquela roupinha, seu rostinho de contentamento e não conseguiu resistir ao choro de emoção.

— Muito obrigada Meli.

— Só não chore, por favor.

E as duas passaram às duas horas seguintes, deitadas sobre a cama, sentadas lado a lado, conversando sobre o bebê, discutindo os nomes, a aparência, os gostos e preferencias com o sol entrando pela janela e o vento sacudindo as cortinas.


Que tal um sorvete?


Foi à mensagem de texto que Nicolas enviou. Melina perguntou a Daniele se ela não queria vir junto. Mas a garota não quis. Pois disse que tinha alguns trabalhos da faculdade pra fazer e aproveitaria o tempo livre e o bom-humor para começar a fazê-los.

Melina descia a escadaria do prédio cantarolando uma de suas musicas prediletas da sua banda favorita.

“Ás vezes fico saudade, de momentos que eu ainda vivi. Ás vezes peco na vontade de sentimentos, que eu ainda não senti.”

Um garoto alto, de cabelos pretos e olhos esverdeados, também descia as escadas. Mais rápido do que Melina. E ao perceber a aproximação dele, ela parou no mesmo instante de cantar.

— Continue – ele disse parando ao lado dela. — Você tem a voz bonita!

Não era verdade, Melina sabia disso.

A aproximação do rapaz, bem mais alto do que ela, fez com que ela se sentisse encurralada em um beco sem saída. Apesar de lindo, como um ator de filme americano, ele lhe causava arrepios.

No momento instante, ela lembrou-se, que fora aquela mesma voz repleta de malicia, que um dia chamou-a de “gatinha” naquelas mesmas escadas do seu prédio.

— O que foi? Tá com medo de mim, é? – ele se aproximou ainda mais. Fazendo Melina bater com as costas na parede.

Naquele momento, Melina desejou mentalmente que alguém aparecesse ali para tira-la daquele beco sem saída. Enquanto o rapaz se aproximava ainda mais dela, com um hálito de cerveja, como quem estava querendo beija-la a força.

Não tinha situação pior de se sentir presa e inferior às garras de um homem desconhecido que lhe causava arrepios.

— Por favor, se afaste de mim! – sua voz estava embargada de medo. — Agora mesmo!

— Nada disso gatinha – ele riu sarcasticamente. — Eu quero ficar aqui, juntinho de você.

E ele se aproximou ainda mais, colando seus rostos, e ela pôde sentir sua barba áspera por fazer, pinicando seu rosto.

— Por favor, saia! – ela tentou fugir, mas ele a agarrou e a deixou imobilizada com as costas pregada na parede fria do prédio.

— Tire já suas mãos sujas dela! – finalmente alguém apareceu, para a sorte de Melina, que estava prestes a chorar.

O rapaz virou-se bruscamente para a voz que via de trás e se deparou com Nicolas.

— Venha Melina! – Nicolas a chamou. Ela deu um passo, mas o monstro de olhos verdes não permitiu. — Agora Melina! – dessa vez ele gritou. Nicolas nunca estivera tão nervosa como naquele momento.

Os dois garotos ficaram se encarando, como se faíscas fossem capazes de saltitar dos olhos deles.

— O que está acontecendo aqui? – Daniele apareceu, de repente, ela tinha ouvidos gritos nas escadas e achou melhor ver o que era. — Rafael, o que faz aqui?

O tal Rafael, o moreno alto, a ignorou.

— Como ousa se intrometer entre eu e a minha gatinha? – Rafael perguntou a Nicolas, elevando o tom de voz. Melina e Daniele estavam assustadas.

Ele deve estar bêbedo, Melina pensou.

— Sai fora cara! Tire suas mãos da minha amiga e deixe-a passar agora mesmo. – Nicolas estava tão furioso quanto o Rafael.

Tudo aconteceu muito rápido, Rafael pulou alguns degraus e foi parar até o patamar, onde Nicolas estava à espera de Melina. Rafael socou o rosto de Nicolas e as duas garotas gritaram.

Nicolas tombou para trás, mas não caiu com o forte impacto, seu rosto com a pancada, adormeceu. Uma raiva ainda maior acordou de dentro dele, e ele não deixou por menos, socou Rafael também.

E os dois caíram no chão como verdadeiros lutadores do MMA, enquanto Daniele e Melina só sabiam gritar, apavoradas.

— Solte ele já, Rafael. – Daniele pediu.

— Pare com isso, Nick. Saia já daí. – Melina também tentou.

O zelador do prédio apareceu segundos depois, com mais dois caras, eles apartaram a briga. Rafael, ao ficar de pé, caiu correndo para fora do prédio antes que alguém o pegasse. Nicolas foi levado até o apartamento de Melina e Daniele. Que cuidaram de seus ferimentos, especialmente, o mais próximo do olho, o primeiro soco de Rafael.

— Ai ai ai ai tá doendo – ele queixou-se.

— Fique quieto. Deixe-me cuidar disso pra você. – Melina tentava fazer com o máximo de carinho. — Como você soube que eu estava em perigo?

— Você estava demorando demais! Então, eu resolvi vir até aqui para te arrastar até a sorveteria.

— Se eu ver aquele garoto outra vez, onde quer seja, vou pular no pescoço dele. Ele não deveria ter feito isso com você!

— Ei, calma. Não faça nada com o Rafael. – Daniele interveio. — Ele não é uma má pessoa.

— Você o conhece? – Melina e Nicolas perguntaram ao mesmo tempo.

— Mais do que gostaria. – ela levantou-se e deu as costas, tentando esconder seu choro. — Ele é o pai do meu filho.

Os outros dois ficaram boquiabertos, mas resolveram não dizer nada. Nada naquele momento parecia certo a dizer. Daniele trancou-se no quarto, sentindo-se envergonhada.

— Obrigado pelo curativo.

— Obrigada por ter chegado no momento exato.

Os dois amigos se abraçaram.

— Ai cuidado! – Nicolas se afastou com a dor. — Acho que ele me acertou em cheio na costela.

Melina riu.

— Nunca te vi tão bravo! Nunca pensei que você ficaria bravo alguma vez em sua vida. Foi um ato heroico.

— Não exagere – ele passou as mãos pelos cabelos alaranjados, sentindo-se acanhando. — Eu também nunca pensei que ficaria tão bravo, caso, alguém fizesse mal a você.

Os dois se olharam com ternura.

— Você quer ir ao médico? Talvez seja melhor...

— Não nada disso! Que tal irmos tomar o sorvete?

A sorveteria ficava sempre cheia em dias de calor como aquele. Melina e Nicolas tiveram dificuldades em encontrar uma mesa vazia, mas enquanto faziam seus pedidos no balcão, um casal se levantou e deixou a mesa livre para que eles pudessem se acomodar.

— O que você vai dizer ao seu pai? Porque ele vai sim, reparar na vermelhidão próximo ao seu olho.

— Eu não estou preocupado com isso – Nicolas apoiou os cotovelos sobre a mesa. — Estou preocupado com Daniele. Além de não ser uma boa hora para ela ter engravidado, o pai, tal do Rafael, não me parece uma boa pessoa. Devemos ficar de olhos nos dois.

— Você tem razão. Ela precisa muito do nosso apoio, agora mais do que nunca. – Melina suspirou.


~*~


Naquela mesma noite, as quatro meninas que dividem o apartamento, tiraram a noite para ir ao mercado fazer a compra do mês.

— Melina – Marcela lhe chamou a atenção. Melina que até então estava olhando o preço de algumas bolachas recheadas, virou-se para a morena que vestia um curto short jeans. — Você não tem namorado?

— Claro que eu tenho. – Melina se permitiu sorrir aproximando-se da morena, Nicolas vinha logo atrás com o carrinho de comprar em mãos. — Porque a pergunta?

— É que, é estranho – Marcela soltou um riso, colocando um pacote de pão de forma dentro do carrinho e dando um largo sorriso a Nicolas. — Você e o Nick vivem pra cima e para baixo, sempre juntos. Seu namorado, por acaso, sabe disso?

Melina limitou-se a responder. Ficou tão nervosa com a tal pergunta que se afastou, levando Nicolas consigo. Marcela sabia como lhe tirar do sério, sempre cheia de ironia, perguntas sem sentido. No próximo corredor, encontrou-se com Daniele e Ariela, com mais um carinho de compras.

— O que foi Meli? Que cara é essa? – Daniele foi a primeira a perceber, puxando Melina consigo em direção ao final do corredor enquanto Nicolas ficou com Ariela a ajudando com o resto das compras.

— Nada com o que você tenha que se preocupar. – Melina forçou um sorriso. Daniele resolveu não insistir no assunto.

— Você acha que já dá pra ver minha barriguinha? – Daniele perguntou, mais por curiosidade.

— Ah, não – Melina conferiu. — eu, pelo menos, não consigo ver nada por enquanto.

— Ótimo! – Daniele sorriu. — Será que consigo esconder por muito tempo das meninas?

— Dani, mas porque tentar esconder? Não seria mais fácil que você abrisse o jogo? Tentasse conversar com as duas...

— Nada disso! – Daniele bateu o pé. — Eu preciso de um tempo, Meli. Um tempo pra organizar minhas ideias e se acostumar com a ideia de que vou ser mamãe... Por falar nisso, estou uma vontade de comer pão de queijo – as duas estavam na parte dos frios, no mercado.

— Olha – Melina pegou o saco de pães de queijo congelado. — Que tal se levasse e fizéssemos hoje mesmo? Parece fácil.

Daniele nunca esteve tão feliz. De repente a ideia de ser mãe a encheu de expectativas para o futuro. Seria difícil, disso ela já sabia, havia pensando nisso por muitas noites seguidas. Mas por fim, valeria a pena, seu sonho de ser mãe, ter um bebê para cuidar, mais responsabilidade, mesmo que precocemente.

— Meninas? Precisam de alguma ajuda? – Nicolas se aproximou, com aquele sorriso de dá inveja e as covinhas na bochecha.

Melina estava na cozinha, esperando o óleo aquecer, enquanto Nicolas abria o saco de pão de queijo. Daniele estava sentada em uma das cadeiras de madeira escura, as outras duas meninas assistiam à novela na sala de estar.

— Tem certeza que não querem minha ajuda? – Daniele atreveu-se a levantar, mas Melina não permitiu.

— Nada disso! Fiquei ai, quietinha, esperando – Melina pediu, rindo junto de Nicolas.

— Gravidas não podem fazer esforços – Nicolas sussurrou para que somente as duas pudessem ouvir. Melina e Daniele riram ainda mais. Nicolas era sempre tão especial. — Vamos cuidar direitinho de você.

Naquela tarde, quando Daniele falou da gravides com Melina e pediu que ela não contasse a ninguém, Melina contou sim, mas não para um alguém qualquer: para Nicolas, seu melhor amigo. Quando Daniele soube, não ficou com raiva e nem nada disso, simplesmente adorou, pois desde então Nicolas vinha sendo ainda mais fofo que o normal, mais cuidadoso e ainda mais sensível com ela.


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Notas finais do capítulo

Nem tudo que parece, é.



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