Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 10
O passeio ao pôr do sol


Notas iniciais do capítulo

Aí está Henrique outra vez. Para ser sincera com você, já logo digo que ao decorrer do contexto Henrique não aparece sempre. Ele vai mais aparecer, assim, de repente, do nada. Sempre acompanhado de pequenas surpresas.



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Apesar do sol daquela tarde e o céu azul sem nuvens, o ar estava gelado. Melina optou em vestir um jeans, cardigã verde primavera e sapatilhas florais. O cabelo, como de costume, deixou soltos e livres, apenas com uma tiara simples no alto da cabeça, sem muito enfeite.

Henrique não se demorou muito, chegou no horário combinado, ficou mais fácil localizar onde Melina mora, assim que ela lhe enviou o endereço via celular no inicio da madrugada.

— Para onde está me levando? – ela perguntou ao entrar no carro, já haviam se cumprimentado.

Henrique usava uma bermuda jeans, uma camiseta branca e uma blusa xadrez em tons de azul. Melina não resistiu ter que admira-lo. Henrique é mesmo muito bonito.

— É uma surpresa. – ele não tirou os olhos da direção. — Você pediu que eu a surpreendesse, lembra?

Ela lembrou. Pelo visto, ele estava se desempenhando a seu pedido. Isso a satisfez e ela se surpreendeu por não está irritada com ele, como de costume.

Henrique estacionou seu carro na primeira vaga livre, antes de sair, pegou sua mochila no banco de trás do carro. Em seguida, rodeou seu veiculo e abriu a porta, como um devido cavalheiro, para que Melina pudesse descer.

Ela agradeceu encantada e o acompanhou lado-a-lado.

Melina nunca tinha estado naquele lugar antes. Ficou admirava com a simplicidade e o encantamento. Era uma praça mais alta que o habitual, com um grande movimento de pessoas. Casais, idosos, crianças brincando no playground, homens passeando com seus animais, grupos de amigos fumando.

Estavam rodeados por grandes árvores, mais a frente, em um nível mais baixo, a vista da cidade e dos altos prédios. No fundo, no horizonte, o céu incandescente. Todos admirados com a simplicidade da natureza.

— Puxa! – ela voltou seus olhos para o jovem ao seu lado. — O lugar é lindo! Você realmente conseguiu me surpreender.

— Gostou mesmo? – ele estava satisfeito, sorrindo atoa. Levava a ela para um local mais isolado, onde pudessem se sentar no gramado longe da falação e da movimentação. Assim poderia saborear mais os encantos da natureza e da bela visão que tinha a frente. — Eu gosto de vir aqui, para refletir, se divertir com meus amigos, admirar a paisagem.

— É um bom lugar para se aproveitar. – ela sentou-se ao lado dele, ainda olhando para os lados. Encantada.

Os dois compartilhavam a mesma felicidade, secretamente. Ficaram por uns tempos calados. Um silêncio agradável.

— Você gosta de viajar? – ela perguntou o surpreendendo. — Quero dizer, você gosta de se aventurar? Conhecer lugares novos?

— Eu gosto muito! – ele mergulhou em suas lembranças. — Minha família e eu sempre viajamos quando é possível. Já conheci muitos lugares que me trazem boas lembranças de quando estive lá.

— Legal.

Ela tentou se imaginar no lugar dele.

— E você? – ele se virou para ela, curioso. — Viaja muito também?

— Já fui muito para o exterior com a minha mãe. Mas pensando bem, aqui no Brasil, eu pouco conheci lugares incríveis como este.

— Nosso país é um lugar muito rico em paisagens naturais – ele comentou. — Conheci lugares exóticos.

— Ah é? – ela estava surpresa. — Me fale um pouco sobre cada um deles.

Henrique gostou do seu interesse e se pôs a relatar o mínimo de tudo que já havia vivido pelo país a fora.

— Eu tenho um sonho – ele disse por fim. — Gostaria de um dia por uma mochila nas costas e sair por ai, me aventurando.

— E porque não o faz? – Melina perguntou. Entretida na conversa. Estava sendo um bom começo para eles.

— Tenho motivos para ficar – ele pareceu levemente aborrecido. Ou foi só a impressão que ela teve em sua expressão. — não posso largar tudo, deixar tudo que conquistei para trás.

— Entendo. – ela refletiu. — Eu também não sei se seria capaz de sair por ai, como quem não tem nada com o que se importar.

Os dois olharam um para o outro e sentiram que tinham muito mais em comum do que poderiam imaginar. Esses pensamentos fizeram os dois desviarem o olhar. Quebrando a magia.

— Em um telefonema seu você comentou que, estava se ocupando muito com a faculdade – ela observou. — Você conseguiu passar para faculdade de São Carlos?

— Espera – ele foi pego de surpresa por sua observação. — Como você sabe que eu queria ter ido para a federal de São Carlos?

Automaticamente Melina se arrependeu do que disse. A verdade, é que ela sabia muito mais dele, do que ele poderia imaginar.

— Você realmente não me reconheceu, não é? – ela ficou constrangida. Sentiu as faces queimarem.

Ele olhou bem para ela.

— O que você quer dizer com isso? – ele tinha os olhos firmes nela. — A gente se conhece de algum lugar? – ela não respondeu. — Desculpe, mas eu não estou lembrando...

Agora que Henrique olhava com mais atenção para Melina, assim como no dia do incidente que os uniu, ele sentiu que ela era familiar, de algum lugar, do qual ele não se lembrava mais. Seus traços angelicais, sua feição de boneca, os cabelos longos castanhos, a pele pálida, os olhos cor de avelã... De onde seria?

— Espera – ela nem precisou relembra-lo. Como se flashes do passado refrescassem sua memoria. Ele repentinamente lembrou-se de onde a conhecia. Claro! Como poderia te esquecido? — o ensino médio, o ano passado... Você... Melina...

— Exatamente. – ela sorriu. Nem tudo estava perdido. Acho que, ele finalmente se lembrou. Ótimo!

— Com um nome diferente desses... Como eu poderia ter me esquecido? – ele retribuiu ao sorriso dela. — E nem faz tanto tempo assim. O ensino médio foi o ano passado. – ele se encheu de lembranças daqueles bons tempos. — Veja só, acho que o destino se encarregou de unir a gente.

— Pode ser – Melina encolheu os ombros. Não entendia porque, mas estava tão envergonhada, agora, ali, diante dele. Agora que ele se lembrava do passado, não muito distante.

— Mas espera – ele lembrou-se de outra coisa. — Eu não me lembro de ter comentado a você sobre a faculdade federal...

— Não tem importância. Mas você ainda nem me disse se passou ou não.

— Bom, eu passei sim. Mas por fim, eu acabei optando por algo mais perto de casa. Não tive coragem de abandonar meus pais, meu irmão. Não sei se ficaria bem longe de casa.

— Entendo. Eu também pensei muito nisso antes de fazer minhas escolhas. Mas e você, fazendo engenharia civil?

— Sim, isso mesmo! E você, medicina veterinária? – Melina ficou encantada por ele ter lembrado. Ela assentiu e os dois caíram na risada.

— Algumas vezes – ela articulou, antes de poder dizer o que tinha em mente. Parecia tão intimo e particular. Ela teve receio de confessar, parecia tão precipitado. — eu sinto falta daqueles tempos...

— Eu confesso que – ele também pausou antes de dizer. Com Melina ali ao seu lado outra vez, o ano anterior, veio com tudo em seus pensamentos. — sinto falta.

Os dois lembravam de alguns dos poucos momentos que estiveram juntos.

— Mas onde estão seus óculos? – ele perguntou repentinamente. Com um meio sorriso. — Você está mudada. Os cabelos também cresceram muito.

— Optei por lentes. Não é fácil ter miopia. – ela riu. — E seus amigos, ainda tem contato com eles? Vocês eram tão unidos!

— Sim. Ainda falo com todos eles. – ele comentou. — Nessas ultimas férias aproveitamos para viajar juntos.

— Eu o invejo – ela afirmou. — Meus amigos daquele tempo: hoje não tenho noticias de nenhum deles. Eu bem que tentei manter contato, mas não é a mesma coisa. Aquela velha amizade se perdeu no tempo.

— Sinto muito. – ele foi sincero. — Mas tenho certeza, de que, você já encontrou novos amigos.

— Sim. Você tem razão. Dessa vez farei o possível para mantê-los, sempre comigo. – eles sorriam um para o outro. — Bom, eu estou faminta. O que é que você tem ai dentro dessa mochila?

— Ah. Eu já tinha me esquecido – ele abriu o zíper. — Já que era para te surpreender, eu não pude deixar de trazer algumas besteirinhas para que pudéssemos comer.

— Ótimo! – ela abriu um largo sorriso. — O que você tem ai? – ela observava seus movimentos atentamente.

— Que tão pãozinho com geleia? – Melina fez cara de quem não gosta, Henrique caiu na risada. — Eu adoro! Mas já imaginava que você não pudesse gostar e trouxe – como quem tira um coelho da cartola, ele estende um saco de salgadinhos. — Refrigerante e salgadinhos!

Enquanto conversavam, devoravam tudo que Henrique havia trazido em sua mochila. Eles mal perceberam o quanto o tempo passava depressa, estavam tão entrosado um no outro. Poucas vezes tiveram tempo para conversar daquela forma, como se fossem íntimos. A timidez foi um dos piores inimigos dos dois. Ela não permitia que nos tempos passados, eles pudessem se aproximar, mesmo que fosse para conversar naturalmente, como agora.

— Veja, quase perdemos o momento mais importante – Melina perseguiu a direção de seus olhos e ficou deslumbrada com o que viu.

O céu que antes era azul, agora estava sendo pintado de tons de laranja e tons de rosa. O sol se colocava no horizonte.

— É lindo demais! – seus olhos brilhavam. — Quase romântico!

Os dois riram da brincadeira.

— Você já namorava o tal de Thomaz, naquele tempo? – ele perguntou de uma hora pra outra. Pensou naquilo durante toda a noite anterior. Mas isso, não revelaria a ela.

— Nos conhecemos quando eu estava no segundo ano do ensino médio. E então, estamos namorando até hoje.

— Ah. – ele deixou as duvidas penderem no ar.

Melina que não era boba nem nada percebeu que ele tinha muito mais que uma simples pergunta a fazer. Mas ela também sentia vontade de saber tudo sobre ele de uma vez. Coisas que nunca teve oportunidade e nem coragem de perguntar.

— Mas e suas garotas? – ela tentou soar o mais brincalhona possível, mas não cortar o clima amigável.

— Não tem essa de: minhas garotas. – ele foi sarcástico. Não gostou da brincadeira, também não levou a sério.

— Jura? – ela ainda brincava. — Duvido muito que um garoto como você não tenha nenhuma garota.

— Não, eu não tenho. – ele admitiu. Melina percebeu que no seu tom de voz havia uma leve irritação. — Não tenho tido tempo para pensar nisso nos últimos tempos

Melina se arrependeu de ter feito o clima parecer tão pesado de uma hora para outra. O melhor seria não mais fazer brincadeiras e nem perguntas como aquelas.

O céu já estava escuro. Um vento frio sobrava à copa das arvores com forças. O movimento de pessoas já havia diminuído bastante. No alto, Melina avistou uma única estrela.

— Desculpe se eu pareci grosseiro. Não foi minha intensão.

— Tudo bem. Me desculpe pela ousadia das perguntas.

De repente os dois havia selado a paz com poucas palavras e voltaram a conversas sobre os últimos acontecimentos de suas vidas sem entrar em muitos detalhes. Afinal, desde os tempos passados já havia se passado um tempo. Muitas coisas haviam mudado. Eles se reencontraram de uma hora pra outra. Mas isso não significava que eram amigos confidencias.

— Está ficando tarde – ela tomou a iniciativa de levantar-se. — Preciso ir para casa.

— Eu levo você – ele também se levantou tirando da roupa alguns partículas de comida que deixara cair ali.

O dia de domingo, que tem o costume de ser tão deprimente, aquele dia havia sido o contrário. Melina não queria que o tempo tivesse passado tão depressa e que ela precisasse ir para casa. Se dependesse somente dela, ficaria ali por mais longas horas, conversando com Henrique, falando sobre o futuro, o presente e o passado. Era bom estar ao lado dele. Gostaria de poder ter descoberto coisas que nunca soube ao seu respeito. Mas ela, por fim, achou melhor ir com calma. Poderiam ter outras oportunidades como essa, ou não.

E esse “ou não” a deixava entristecida. E se eles não voltassem a se encontrar por causa das ocupações do dia-a-dia? E se aquela oportunidade fosse a ultima? E se ela nunca descobrisse o que tinha tanto vontade de perguntar?

Balançando a cabeça, ela resolveu deixar aqueles pensamentos negativos de lado. Deixaria o destino tomar conta disso. Caso tivesse que acontecer, aconteceria. Como o reencontro. Mas caso não tivesse que acontecer, aquele seria um adeus.

O que ela não sabia, é que enquanto caminhavam até o carro, Henrique também tinha os mesmo pensamentos. Temia que ela não quisesse o reencontra-lo nunca mais.

— Obrigada pelo passeio de hoje – ela quebrou o silencio durante o percurso até em casa.

Ele apenas sorriu atento a direção.

Outra vez ele deu a volta no carro e abriu a porta para ela descer, Melina agradeceu. Ela se pôs de frente para ele. Estavam diante da porta principal do seu prédio.

— Você não vai me convidar para subir? – ele resolveu arriscar.

— Hoje não. Eu não saberia dizer se as meninas estão com roupas descentes, bem penteadas, ou se querem receber visitas. Você sabe como as mulheres são.

— Sei sim. – os dois riram.

O vento batia de encontro ao rosto de Melina, fazendo ela estremecer. Henrique reparou que ela tremia. Mas ele não podia fazer nada para ajuda-la. Ele também estava com frio.

— Agora que você já sabe onde eu moro, pode aparecer se quiser. Mas antes, por favor, não se esqueça de ligar. E por favor, ligue nos momentos certos.

— Mas eu não posso adivinhar que – ele ia questionar. Mas achou melhor não. Esboçou um sorriso e cedeu — Está bem. Eu ligo.

— Se é assim, eu vou indo – ela também sorriu. Por instinto beijou o rosto dele. E rapidamente ficou sem jeito. — Tchau. Boa noite.

— Tchau. – ele observou ela subir a escadaria. Só quando ela subiu de vista ele se foi.

Melina trocava de roupas, colocando algo mais confortável para poder dormir. Como havia comido muitas guloseimas com Henrique na praça do pôr-do-sol, nem sentiu fome para comer a comida preparada por Daniele.

— Como foi o passeio? – Daniele sentou-se em sua cama, encarando sua amiga. Melina relatou tudo. Ou quase tudo.

Já deitada em sua cama, preparando-se para pegar no sono, pois teria de acordar no próximo dia bem cedinho, não pôde de deixar de pensar em Henrique e o passeio que ele proporcionou a ela.

De fato, havia conseguido surpreende-la. Ele foi melhor do que ela esperava que fosse. No domingo inteiro que passaram juntos, ela não sentiu nenhum pouco de raiva dele. A raiva que ele despertava nela sempre que ligava nos momentos errados. Melina esperava que dali em diante fosse sempre assim. Não queria sentir raiva, nem nada do tipo. Gostava de estar com ele.

Por sua vez, Henrique também já estava deitado em seu quarto, pensando em Melina e como foi capaz de não reconhece-la. Se bem que ela havia mudado o bastante, mas continuava doce e encantadora como ele costumava se lembrar dela depois que o ensino médio acabou.

Henrique levou sua mão até o seu rosto, onde ela, horas atrás, depositou um beijo suave em sua bochecha. Ele suspirou fundo e imaginou a cena do beijo por outro ângulo. Mas, imediatamente se arrependeu por tais pensamentos. Afinal, Melina é uma garota comprometida, querendo ou não, Henrique deve respeitos ao seu namorado e a ela principalmente.

Se ao menos ela não tivesse um namorado...

Henrique se remexeu sobre a cama afastando tais pensamentos horrorosos. Não. Não poderia ficar pensando naquele tipo de coisa. Melina e ele poderiam ser bons amigos no futuro. Apenas amigo.

Isso basta.


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Notas finais do capítulo

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