Galen já tinha ligado pela terceira vez no dia, sabia que esta seria a ultima, até ele chegar em casa. Camille estava quieta, enquanto me assistia colocar poucas de suas roupas numa mochila. Sentia as lágrimas escorrendo em meu rosto e a adrenalina corria em meu sangue, deixando-me ainda mais preocupada.

Eu tinha feito tudo para ele, tudo por ele durante dois anos! Cozinhei, lavei, limpei e fui uma ótima esposa! Fiz seu jantar preferido, e o que ganhei em troca? Uma bofetada! Um soco! Ele bateu em Camille porque ela tinha caido das escadas! Ele bateu nela! Em nossa filha! Minha filha! Aquilo tinha sido o fim de um casamento. Eu tentei aturar, eu o perdoava todas as vezes, afinal, ele era meu marido. E se eu não lhe perdoasse, eu apanharia, claro!

Meu reflexo no espelho a minha frente, mostrava muito bem o corte em meu rosto. Marca de uma das agressões. Aquela foi a prova que levei a delegacia, mas todos eram parceiros de Galen, e acreditaram na desculpa dele de que eu tinha rolado as escadas. O olhar que Galen tinha me mandado foi o suficiente para eu saber que se eu abrisse mais minha boca para dizer algo, eu nunca mais abriria a boca na vida; assim acabei concordando e aceitando o fato de que eu realmente tinha caído das escadas. Joguei aquele quadro no chão, quadro que tinha uma foto minha e dele na praia. Eu estava feliz, ele tinha recém me pedido em casamento naquela noite. Por que, Deus, o senhor me deixou casar com tal monstro? Por que agora estou vivendo num puro inferno?!

Mas esse inferno vai acabar! Terminei de guardar as poucas coisas alí - roupas, objetos pessoais, todos os documentos de Camille (todos os meus documentos eu tinha queimado horas atrás) e poucos alimentos. joguei a mochila em minhas costas e puxei Camille para meu colo.

Já estava entardecendo quando sai pelos fundos daquela casa onde vivi os piores momentos de minha vida. Por sorte, agasalhei muito bem minha filha, já estava muito frio, e pelas grossas nuvens escuras no céu, a neve não demoraria muito a cair. As ruas estavam vazias, todas as pessoas deveriam estar curtindo a vespera de Natal com a família.

Família. Agredeço por ao menos ter Camille para ficar comigo nesta data. Meu ultimo natal eu tinha passado com um olho roxo porque eu tinha colocado o jantar na mesa mais cedo e depois por eu ter desligado a televisão. Monstro!

Andava em passos rápidos, querendo ser o mais discreta possível. Não tinha para onde ir, apenas pretendia pegar o primeiro onibus para qualquer lugar bem longe. Não podia partir para fora do país, pois Camille não tinha autorização de Galen. Imagine que lindo seria se ele descobrisse que eu tentei fugir do país? Se na ultima vez que eu fugi, tinha conseguido chegar apenas um quarteirão depois do nosso, Galen já espancou-me até eu não conseguir ficar de pé... Fugir do país, seria sim pedir para morrer. Já que Galen jurou que na próxima vez que eu tentasse fugir, ele não teria dó e mataria minha filha. Eu não duvido que ele faça isso, não depois de vê-lo espancar minha menininha, apenas por ela ter se machucado.

Faltava poucas quadras para eu chegar na rodoviária. Eu sentia a liberdade. Por sorte, carregava os documentos de Sophie - minha irmã mais velha, que falecera ano passado. Qualquer um que olhasse, acreditaria que era eu naquela foto dos documentos. Nós éramos idênticas. Eu sabia que fazer isso era errado, e esperava que seja lá onde minha irmã estivesse, ela me entendesse.

Quando vi uma viatura passando por mim, imediatamente abaixei minha cabeça, com medo de quem estivesse alí fosse conhecido de Galen, ou pior: Fosse Galen. A viatura continuou seu trajeto, levando consigo meu terror.

ATUALMENTE

Eu abri meus olhos assim que ouvi um barulho estranho. Camille dormia tranquilamente ao meu lado, agarrada a sua boneca de pano. Outro barulho. Senti meus batimentos cardíacos acelerarem e meu corpo extremeceu. O barulho vinha da sala, e parecia que era alguém querendo abrir a janela. Levantei de minha cama sentindo meu corpo tremer e meus olhos ficarem umidos. Caminhei em passos lentos e silenciosos para fora de meu quarto.

Chegando na sala eu logo vi o que estava acontecendo. A ventania lá fora fazia minha janela abrir e se fechar. Corri até a mesma, fechando-a de uma vez e a trancando. Senti um grande peso saindo de minhas costas e encostei-me na parede ao meu lado, fechando meus olhos e controlando minha imensa vontade de chorar.

Eu não aguentava mais passar por isso. Já fazia dois anos que sai daquela vida para viver como uma fugitiva junto com minha filha. Eu queria apenas uma vida normal, não apenas para mim, mas principalmente para Camille. Ela já tem quatro anos, nunca foi a uma escola, nunca fez amigos e só tem a mim. Que estilo de vida é essa que estou dando a ela? Que exemplo de mãe sou eu? O que ela poderá contar de sua vida mais para frente? Que vive fugindo do próprio pai? Infelizmente, esse era o melhor que eu poderia dar a ela, e vou me culpar por isso todas as noites e sempre que vê-la crescendo.

Levei o pedido da mesa 3 e voltei para a cozinha. Já era hora do almoço, hoje Bonnie estava aqui; pois era folga de Vicky. Matt como sempre cuidava do caixa, Elena e eu servíamos enquanto Bonnie e Jordan estavam na cozinha.

Elena e Bonnie discutiam algo quando entrei na cozinha.

- O que está havendo? - perguntei confusa e as duas viraram-se para mim. Bonnie riu de leve revirando seus olhos e logo percebi que não era bem uma discussão.

- Elena comprou o box de The Walking Dead para dar a Damon, e estou dizendo que ela deveria dar algo melhor. - Bonnie disse virando-se para o fogão.

- Eu conheço Damon, sei que ele adora essa série! - Elena disse batendo o pé levemente e bufou irritada.

- Elena, você sendo namorada dele, deveria dar algo demontrando ser a namorada, não demonstrando ser um melhor amigo dele. - Bonnie retrucou e sorriu de lado.

- Eu sou noiva dele. - ela corrigiu - E sei que ele vai curtir, nós dois amamos essa série e vamos assistir juntinhos. - ela sorriu empolgada e acabei rindo.

- Acho que encontrei segundas intenções nesse presente. - digo rindo e vou preparar as bandejas. Elena ri concordando.

- Tudo bem, Elena, você quem sabe. - Bonnie disse revirando seus olhos novamente - Pedido da mesa oito. - ela disse entregando a bandeja para Elena que sorriu vencida.

- The Walking Dead. - disse pensativa - Nunca pensei que Damon gostasse desse tipo de coisas. - sorri meio incrédula e Bonnie riu negando.

- Ele não gosta, apenas assisti porque Elena adora. - ela explicou fazendo uma exxpressão de que fosse segredo. Ri entendendo.

- Parece que você conhece bem o Damon. - comentei sorrindo de leve e ela ficou um pouco sem jeito.

- Eu gosto bastante dele. - ela explicou encolhendo seus ombros levemente. Bonnie virou-se novamente para o fogão e entendi aquilo como se ela não quisesse dizer mais nada.

Fiquei quieta, percebendo que alí tinha coisa. Suspirei baixo e sai da cozinha para ver o movimento no Grill. Sorri surpresa quando vi aquele homem no bar, como se estivesse a espera de alguém.

- Olá! - disse aproximando-me dele e deixando apenas o balcão entre nós. Klaus sorriu quando me viu - Não está trabalhando hoje? - questionei um pouco em duvida. Sabia que Klaus trabalhava na empresa de sua família, trabalhava o dia todo, então vê-lo aqui a essa hora parecia estranho.

- Vim apenas tomar algo. - ele explicou - Hora do almoço. - deu de ombros levemente e entendi sorrindo.

- E já foi atendido? - perguntei apoiando minhas mãos no balcão.

- Estava esperando uma loira linda me atender. - ele disse com um pequeno sorriso e ri.

- Hum... Está melhorando, Mikaelson. - disse sorridente e ele riu - O que vai pedir?

- Primeiro isso. - antes de mais alguma ação, Klaus inclinou-se e roubou-me um demorado beijo, no qual eu não fui idiota em recusar.

Seus lábios eram doces e macios. Apenas de tocar nos meus, meu corpo inteiro reagiu, e adorei sentir isso. Sorri de certo modo acanhada quando Klaus separou seus lábios do meu e me olhou gentil.

- Pedido concedido. - sussurrei sorrindo ainda acanhada e ele riu de leve - Próximo pedido?

PDV KLAUS

Após meu pedido - um bourbon - acabei levando uma pequena bronca de Caroline, que insistiu dizendo que eu deveria me alimentar de uma maneira saudável, e que eu não deveria beber tal tipo de bebida enquanto estiver em horario de trabalho. Eu acabei rindo com tal preocupação, nem minha mãe agia de tal maneira.

Consegui convencê-la de que estava atrasado de mais para almoçar direito e apenas tomei minha bebida.

- O que fará essa noite? - pergunto assim que lhe entrego o dinheiro. Ela me olha meio em duvida.

- Nada. - respondeu encolhendo os ombros tranquilamente.

- O que acha de irmos jantar fora? Você, Camille e eu? - questiono sorrindo e ela sorri surpresa.

- Eu adoraria. - admiti e ri baixo - Mas faremos diferente, você irá jantar comigo e com Camille essa noite, o que acha? - ela sugere - Eu preparo o jantar. Na minha casa.

Sem dúvida que eu tinha aceitado o jantar na casa de Caroline. Eu adorava estar com ela, adorava tê-la comigo, e sentia algo que nunca senti com nenhuma mulher. Era até estranho pensar de tal maneira. Eu conhecia aquela loira há tão pouco tempo, não sabia quase nada sobre ela, mas eu a admirava. Por pequenas coisas, eu a admirava.

- Então, finalmente Niklaus Mikaelson foi laçado? - Elijah disse num divertido tom.

- Não diga tal asneira, não fui laçado nem nada do tipo. - digo revirando meus olhos.

- Está na cara que você está apaixonado por ela, Niklaus! - meu irmão advertiu espontâneo e suspirei de leve.

- Não acha muito forte tais palavras, Elijah? - eu o olho incrédulo.

- Responda-me você, irmão. - ele sorriu atrevido e fiquei calado.

Andávamos já para dentro de nossa casa. Finalmente aquele dia estressante na empresa tinha se acabado. Eu quase nem aguentava mais aquilo. A empresa ultimamente estava me cansando e muito. Já dentro de casa, Elijah e eu encontramos uma pequena movimentação e vozes conhecidas.

Na sala encontrava-se: minha irmã sentada ao lado de seu noivo Stefan Salvatore; minha mãe conversando com Kol e meu pai dando um pequeno sermão em Henry. Foi surpreendente ver meu pai em casa logo cedo, já que o mesmo sempre demorava para voltar para casa, nunca chegava antes do jantar. Eu tinha toda a certeza de que ele traia mamãe com sua secretária, não apenas eu, acho que todos deveriam saber, Mikael não sabia ser muito discreto.

- Que surpreendente! A família Mikaelson reunida! - digo em belo tom sarcasmo, chamando a atenção de todos para mim - Olá, Stefan! Quanto tempo!

- Parece bem feliz, Klaus! - Stefan saudou-me divertido.

- Muito feliz. - admito, deixando todos de certo modo curiosos.

- Essa alegria toda tem nome? - Mikael me olha intrigado, ainda sim, com sua expressão séria de sempre. Sento-me ao lado de meu irmão Kol, olho ao meu pai despreocupadamente.

- Acho que sim. - respondo sincero e dou de ombros.

- É uma mulher? - Rebekah indaga curiosa.

- É aquela loira que vi você conversando naquela tarde, no centro da cidade? - Henry pergunta com um sorriso malandro em seu rosto juvenil.

- Pode ser. - respondo surpreso, pelo meu irmão ter me visto com Caroline naquela tarde, acabo rindo em seguida. Eles eram sempre tão curiosos e principalmente intrometidos.

- Eu vim aqui convidá-los para o aniversário de Damon nessa sexta. Klaus, por que você não leva essa mulher misteriosa? - Stefan questiona amigável. Até que seria uma ótima ideia, levar Caroline.

- Seria bom, quero conhecer minha cunhada. - Rebekah diz com pouco caso e sorri dando de ombros - Quem sabe pelo menos você acertou na família? - ela olhou cínica a Elijah, que pouco se importou com tal indireta.

- Espero que essa mulher seja de boa conduta, Niklaus. - estava demorando para Esther se intrometer no assunto. Ela me olhou autoritária, como sempre - Espero não ter mais uma nora interesseira. - ela diz fria.

- Mãe. - Elijah tenta repreendê-la, o que nunca funciona.

- Tenho a impressão de que estão falando de mim! - a sarcástica e sedutora voz de Katherine surge, enquanto a dona de tal voz vem descendo as escadas pomposamente.

- Acertou em cheio! - Rebekah concordou com ironia. Henry e Kol riram sabendo que a qualquer momento aconteceria uma pequena discussão entre as duas, o que já não era mais uma novidade.

- Falando verdades, apenas. - Esther disse pouco se importando e jamais perdendo sua pose de superior.

Katherine apenas lançou um olhar cínico a minha irmã e a minha mãe. Era engraçado ver as três agirem assim. A gêmea de Elena caminhou tranquilamente até onde Elijah estava e saudou o mesmo com um delicado beijo nos lábios. Todos nós reviramos os olhos ao vermos aquilo.

- Bom, eu vou subir, pois preciso me arrumar. - digo me levantando tranquilamente.

- Para onde vai? - Kol pergunta curioso.

- Ele tem um jantar. - Elijah diz rindo de leve, abraçando Katherine pela cintura da mesma.

- Elijah, irmão, pare de se intrometer em minha vida, por favor. - peço fazendo ele rir divertido.

PDV CAROLINE

Por sorte, hoje eu sai bem mais cedo do serviço. Então tive tempo suficiente para preparar um bom jantar. Consegui passar no mercado e comprar algumas coisas diferentes. Eu estava me sentindo diferente, nunca tinha me sentido de tal maneira. E era muito confuso isso para mim. Eu não entendia o que se passava: meus batimentos aceleravam quando eu imaginava Klaus. Ele estava sendo tão especial para mim, não sabia o que tínhamos, e tinha medo que isso acabasse. Eu adorava saber que teria alguém comigo e que esse alguém era ele. Mas eu me sentia muito mal por isso, afinal, por quanto tempo eu teria Niklaus ao meu lado? Até quando Galen descobrir meu paradeiro e vir atrás de mim novamente? Eu teria que fugir, abandonar o que estava construindo em Mystic Falls... e abandonar Niklaus?

Pensar naquilo me doeu até no ultimo fio de cabelo. Como eu podia estar tão dependente de Niklaus assim? Eu não o conheço. Ele não me conhece. Ele poderia me abandonar no momento que descobrir que sou uma fugitiva ao lado de minha filha. Ou pior, ele poderia me entregar para Galen... Oh meu Deus! As lágrimas brotaram em meus olhos. Eu estava com medo. Eu não podia me relacionar com ninguém, não enquanto tiver meu passado me perturbando para sempre.

Limpei meu rosto rudemente. Preciso deixar de ser covarde. Eu consegui fugir por dois anos, Camille e eu estamos bem há dois anos, caso algo dê errado, fugiremos novamente. Parte de mim já me achava idiota por ter tido tais pensamentos de Niklaus segundos atrás. Porque essa grande parte de mim, confiava mais em Niklaus do que em mim mesma. E até que ponto eu confiava nele? Até o ponto de esta noite eu lhe contar tudo sobre o meu pequeno passado.

Depois de deixar toda minha casa arrumada, fui apanhar Camille na casa da senhora Sheila. Minha pequena loirinha estava alegre e agitada como sempre, e assim que lhe contei que teríamos visitas no jantar, sua animação foi para lá de grande. Quando voltamos para casa, deixei Camille arrumada e fui preparar o jantar. Meu relógio alegava que ainda faltava uma hora para Klaus chegar, claro, apenas se ele for pontual. o que eu tenho a certeza de que ele é.

Quando o jantar já estava quase pronto, Camille já muito impaciente, fui me arrumar e não demorei muito para finalmente já estar pronta. Vesti um liso vestido vermelho claro, calcei sapatilhas pretas e meus cabelos ficaram presos.

O som de um motor fez as batidas de meu coração se acelerar dentro de meu peito. Não contive um pequeno sorriso e imediatamente olhei para as janelas abertas de minha pequena sala. Luzes de faróis de um carro se apagaram ao mesmo tempo que ouvi o barulho da porta do carro se abrir e se fechar. Ele chegou.