Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 26
Dia Dois – Parte II




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Hector se afasta do quileute para apreciar o show e começa a se divertir apenas com o semblante apavorado que o lobo cinzento assumia naquele instante. Embry estava visivelmente abalado. Sua missão era quase impossível de se cumprir e somente de imaginar Andy chorando novamente, ele sentia-se sufocado. Com passos trôpegos ele se aproximou dela e com extrema rapidez seus olhos marejaram, pois o que estava para fazer era realmente imperdoável...

― Oi de novo, Andy – cumprimenta, tentando não deixar suas lágrimas afetarem sua voz.

― Oi.

― Quer saber por que está aqui? – Ela confirma com a cabeça. – Eu a trouxe para cá apenas para lhe dizer que me cansei de você e para lhe mostrar o quanto eu a enojo!

O lobo fecha os olhos diante da expressão incrédula de Andy, de seus olhos castanhos já desciam uma enxurrada de lágrimas, mas até mesmo os soluços de seu pranto precisavam ser contidos para não levantar suspeitas.

― Que brincadeira é essa, Embry? – pergunta com voz afetada.

― Não é brincadeira – resmunga entredentes, com medo de que sua voz saísse trêmula.

― Por que está me dizendo isso?

― Vai me dizer que você não sabe? Achou mesmo que eu fosse ficar com alguém como você? – Seu coração se aperta, não acreditando que diria aquelas palavras novamente. – Eu mereço mais do que alguém como você, mereço uma mulher perfeita e não um defeito!

Andy abaixa a cabeça, mordendo o lábio ferido ao mesmo tempo em que fechava os olhos. Aquelas palavras a machucavam, ainda mais vindo da pessoa que mais amava, porém, ela não entendia o porquê dele dizer tais coisas depois de tudo o que lhes aconteceu, depois de tudo o que ele fizera para salvá-la e depois do que lhe dissera.

Um silêncio estranho se estabeleceu naquela sala, o quileute não sabia o que dizer para magoá-la, visto que essa não era a real intenção de seu coração, todavia Andy ainda não havia chorado e Hector não costumava ser paciente durante suas torturas. Com o mover de seu dedo indicador o líder ordenou um avanço por parte de Ana, e quando a vampira se levantou de seu assento, Embry se desesperou ainda mais.

O quileute avança um passo, implorando com o semblante e pedindo com a cabeça para que a vampira não fizesse nada contra ela. A imortal sorri vitoriosa, fazendo o companheiro sair de seu lugar somente para apreciar o que ela via: o medo estampado no rosto de Embry. Agora sim a vingança começava a ser saboreada.

― Se você pudesse se ver agora... – recomeça ele, deixando sua frase suspensa.

― O que eu veria? – pergunta Andy num sussurro.

― Veria o quão lastimável está!

― Embry – chama com voz chorosa.

― Nenhuma pessoa normal se apaixonaria por alguém como você – continua ele, porque se parasse não teria coragem o suficiente para seguir em frente.

― Você não é normal, é um lobo! – rebate ela, já assumindo sua forma defensiva.

― E você não acha que isso me torna ainda mais especial? Por que eu ficaria com "o resto"? Com o que ninguém quer? Eu seria um idiota se aceitasse ficar preso a uma ceguinha inútil.

― Já chega! – Se levanta abruptamente. – Não ficarei aqui ouvindo estas besteiras.

― Fique onde está – ordena o lobo, olhando atentamente o semblante dos vampiros se tornar ainda mais sombrio. – Por favor, fique onde está! – repete, com uma pitada de urgência na voz.

― Não pode me obrigar a ficar!

John levanta o lábio irritado e se aproxima rapidamente da humana para "ajudá-la" a chorar. E o líder nômade? Não moveu sequer o dedo mínimo para impedi-lo. Entretanto, Embry fora rápido o suficiente para agarrar o braço de Andy e jogá-la contra a cadeira com certa ferocidade.

― Disse para ficar onde está! – grita a plenos pulmões.

Embora seu rosto estivesse úmido pelas lágrimas, os olhos do transformo encaravam John de forma desafiadora, e apesar de ter forçado Andy a se sentar, seu último grito fora direcionado ao vampiro e não a ela. No entanto, era impossível para ela saber disso, e, quando o quileute a olhou em seguida, sentiu sua raiva sumir, a dor se intensificar em seu peito e o pranto retornar.

No rosto feminino estava à perplexidade de seu ato, o susto, o medo... E como se não bastasse isso, em seu braço estavam às marcas de sua pegada forte e truculenta, as formas perfeitas de seus dedos que, com certeza, deixariam marcas roxas naquela pele tão alva. Ele não queria machucá-la, sua intenção era de protegê-la, mas era pressão demais, coisa demais para processar e, quando caiu em si, já havia quebrado mais uma regra.

Embry encara Hector com urgência, implorando com lábios mudos para que ele perdoasse sua falha. Apesar da tentação de vê-la morta, o líder decide não fazer tal coisa, já que o toque não se tratava de um carinho e sim de uma inteira grosseria, porém, o nômade não pretendia deixar aquilo passar sem uma devida consequência.

― Continue – ordena o vampiro somente com o mover dos lábios.

O quileute pensa por alguns instantes, precisava ser insistente e rápido em suas frases, sem tempo para uma resposta por parte dela, somente assim ela se deixaria afetar e choraria na frente do clã nômade. Andy era humana, não sentia a força do imprinting como ele sentia, no fim das contas, e por mais que fosse magoada, o lobo acreditava que ela superaria, que era forte o suficiente para se esquecer de sua existência como algo que se quebrou e foi jogado fora.

Já ele nunca se esqueceria daquela noite. Assistir as suas lágrimas seria sua perdição e sua ausência com certeza o faria definhar, mas tudo bem... Machucá-la – mesmo que sentimentalmente – ainda era terrível aos seus olhos, no entanto Embry parecia se conformar agora com a ideia de morrer. Dissera tantas vezes que preferia perecer a perdê-la, talvez aquele fosse o momento de provar tais pensamentos.

Ele respira profundamente, fechando os olhos com força e sufocando a vontade que tinha de gritar. Seus olhos se abrem lentamente, permitindo que a verdade se esvaísse de seu peito em forma de lágrimas. Aquela era a hora de ser o mais desprezível possível, pelo bem de sua Andy.

― Vou ser franco e rápido, Andy – diz ele, retomando a atenção da ruiva que agora alisava o braço que ele agarrara. – Não suporto mais olhar para o seu rosto e os seus tais olhos de vidro. – Ela permanece muda. – Só existiu uma única razão para ter me acertado com você...

― E qual seria? – pergunta rapidamente, ainda com seu módulo defensivo ativado.

― Queria apenas me aproveitar de seu corpinho bonitinho – menti, fazendo-a arregalar os olhos. – Você se atirou tão facilmente sobre mim quando nos conhecemos que pensei em desfrutar um pouco mais de sua falta de pudor e brincar um pouco com seu corpo.

― Eu não fiz isso – rebate ofendida.

― É claro que não pretendia ficar com você depois de tudo – continua ele, sem pausas –, uma pessoa defeituosa é como um brinquedo quebrado, você usa, brinca e joga fora sem o menor remorso.

― Eu não sou defeituosa – rebate novamente, já sentindo o timbre de sua mudar para um tom choroso.

― E o que é então? Como você chama uma pessoa que ninguém quer, que não enxerga e se atira em cima dos homens como uma vagabunda carente? E todo aquele papo de segunda vista, nunca vi coisa mais otária em toda minha vida, aposto que era só uma desculpa para me fazer apalpá-la...

― Não era nada disso!

― É claro que era – grita, na tentativa de intimidá-la –, não se faça de sonsa! Se entregou como um banquete para um completo estranho, quem lhe ensinou estas coisas desprezíveis, afinal? Sua vovozinha?

― Não fale da minha avó – responde no mesmo tom, com a voz saindo trêmula.

― Não me faça rir, Andy... Vai me dizer o que agora, que ela te ensinou a manter sua pureza? – Ele ri, mesmo sem achar graça, mesmo que sua vontade você de gritar. – Aposto que foi o contrário, que a velhinha safada lhe ensinou a se esfregar em qualquer homem que aparecesse em seu caminho.

― Cale a boca!

― Não – grita ainda mais alto –, eu não calo!

Embry soca a pequena mesa para enfatizar suas palavras e a parte ao meio com a mesma facilidade com que rasgaria um papel. O barulho ruidoso e alto fez Andy pular em sua cadeira e se encolher assustada, não sabia ao certo o que havia acontecido, mas tinha certeza que ele estava muito nervoso.

― Pare! – grita Andy num tom estridente, estava assustada e ferida por dentro, não conseguia mais conter as lágrimas. – Por favor, pare! – implora ela, chorando.

Os vampiros sorriem, estavam satisfeitos com a humana chorosa e acuada na cadeira, apesar de Embry não ver motivo para sorrir. Nem mesmo o alívio lhe sobreveio por ter cumprido com o plano de Hector. Seus olhos castanhos se tornam opacos, os braços caem moles ao lado de seu corpo e o quileute não conseguia ouvir mais nada, apenas sentia as lágrimas de sua Andy o matarem por dentro.

"É mentira", grita o lobo em sua cabeça, "diga que tudo não passou de uma grande mentira", implorava ele. Embry teve de apertar os lábios um contra o outro para que não pudesse verbalizar os pensamentos de seu lobo, por dentro ele uivava, sentindo-se despedaçar completamente.

O quileute assistiu atentamente a saída de Andy, que mais uma vez era carregada pelos frios. E quando sua imagem cruzou o batente da porta, ele deixou-se desabar, caindo de joelhos e colocando as mãos no rosto desnorteado. Mas o vampiro não tinha tempo para esperá-lo se recompor ou extravasar sua dor, e logo o agarra pelo braço direito forçando-o a se levantar, o arrastando de volta ao porão.

Embry nem sequer prestava atenção ao percurso que fizera e somente notou que chegou a sua prisão particular, quando Hector o empurrou pelos últimos três degraus e o fez cair de cara no chão. Levou quase um minuto inteiro para que ele conseguisse se colocar de pé novamente. O vampiro solta uma risada baixa, não imaginando que a menina humana pudesse afetá-lo tanto...

― Eu lhe disse, garoto lobo, que seu orgulho acabaria antes do dia terminar – recomeça o vampiro, fazendo-o prestar atenção em suas palavras. – Você desobedeceu a uma regra lá em cima, posso não ter matado a garota, mas isso não significa que não haverá consequências. – Ele caminha lentamente para um objeto largo e alto, sendo seguido com os olhos pelo quileute – Sabe o que é isso, garoto lobo?

Embry observa o instrumento com olhos desfocados, e, depois de forçar um pouco a vista, enxerga algo parecido com um sarcófago, inteiramente feito de ferro e com o rosto de uma donzela esculpido em sua porta. O torpor ainda permanecia em seu corpo, mas, ainda assim, o quileute se aproximou e arriscou abrir a porta pesada daquele sarcófago, assustando-se com as múltiplas pontas em seu interior. Aquilo certamente perfuraria o corpo de qualquer um que ficasse preso ali, infligindo-lhe uma longa e cruel agonia.

― Esta é a Dama de Ferro – continua Hector, aproximando-se das costas do quileute. – Quando suas portas são fechadas, nenhum grito pode ser ouvido do lado de fora! Mas não se preocupe, como o próprio nome diz ela é uma dama e não lhe perfurará os órgãos vitais.

O lobo capta as intenções do vampiro e lentamente se vira em direção a ele. Seu rosto derrotado já não podia esboçar reação diante da ameaça e seu corpo não ofereceu resistência quando o vampiro o empurrou para o interior da Dama de Ferro. E quando a porta do sarcófago se fechou, ele chorou. Pela dor, pela agonia, pelas pontas que pressionavam sua pele até rasgá-las e adentrar sua carne, pelas lágrimas de Andy, por tudo isso ele chorou...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! É meio difícil dizer " eu gostei" para acontecimentos como esse, eu sei rsrs, mas se vocês ficaram boquiabertos e/ou chocados, então me dou por satisfeita, pois alcancei meu objetivo...
E para os que não conhecem a Dama de Ferro, aqui está uma foto para terem noção de como era este instrumento de tortura: http://2.bp.blogspot.com/-JC41aV3wmyM/T76bQfV7TzI/AAAAAAAADoo/AfgCybk3JSo/s1600/Dama+de+Ferro+ou+Virgem+de+Nuremberg+000.JPG
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Próximo capitulo: Dia Três
Aguardem, pois o massacre de Hector ainda não acabou...