Nicest Thing escrita por Nina Spim


Capítulo 8
Chapter Eight


Notas iniciais do capítulo

Olá, Cherries! Aqui está o novo capítulo! Espero que gostem da surpresa (:



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A atmosfera muda com frequência. Nos dias frios. Nos dias sobrecarregados. Nos dias que eu consigo perder as minhas chaves e preciso esperar até alguém aparecer.

Muda também numa noite fria de sexta-feira na qual uma convidada sua começa a agir de modo completamente esquisito e a acusa de coisas que você não tem noção. E aí você começa a viver numa espécie de limbo: não sei para onde vou, não sei o que fazer.

As tais Noites Malucas de Sexta mal começaram e já não existem mais. Não aqui no loft, ao menos. E não culpo a Lucy de querer continuar a tê-las em sua antiga residência. É justo, já que ela é mesmo amiga da Santana – e sei que esta não impediria de a Lucy aparecer lá apenas por um mal-entendido entre nós. Afinal, amigas são para sempre, ou algo assim. Não foi isso que aprendemos assistindo àqueles filmes da Disney e àquele outro mal produzido da Britney Spears?

Que seja.

Não estou preocupada com nada disso. Santana, brigas idiotas, o término das minhas sextas-feiras alegres.

Também porque Lucy disse que, algumas vezes, poderia passá-las comigo e poderíamos fazer noites legais, mesmo assim. E já que ela vive escutando Elvis e canções Disco já sei que não ficarei parada no silêncio, absorvendo notas musicais e memoriando todos os fatos de História da Música IV. Não é como se, também, eu conseguisse manter a minha boca fechada por muito tempo quando Lucy está por perto, pois ela sempre incita algum assunto – o que acaba me dispersando e me atrasando demais, mas não importa. Gosto das importunações dela.

Agora, por exemplo. Todos nós estamos sendo importunados por ela, mas ninguém está genuinamente irritado. Nós nos divertimos com ela, na realidade.

Apesar de ser muito cedo num sábado, já estamos completamente despertos e fora de casa. Estamos tomando café da manhã no Skylight Shoope, cortesia dos bônus acumulados por Kurt o mês inteiro. Eles têm uma política sobre bons atendentes: o que mais se destaca ganha uma refeição de graça para cinco pessoas. E, por sorte, hoje é o dia de folga dele – os funcionários têm um dia de folga por semana e podem escolher entre sábado ou domingo. Kurt quis ficar com o sábado, porque tem aulas extras de dança às 10h.

E a refeição que todos nós concordamos em aproveitar gratuitamente foi o café da manhã, porque eu prometi ao Blaine ajudá-lo a ir atrás de uma roupa para que ele se apresente na segunda rodada da Mostra de Inverno da Carmen Tibideaux. É a primeira Mostra dele e Blaine está completamente apavorado – bem mais do que eu, na minha primeira. Então ele precisa estar impecável, tanto na questão apresentável quanto na musical, ainda que ele não saiba o que cantar, embora queira uma canção típica da estação. Sua primeira aposta, por dois minutos, foi Let it Snow do Dean Martin, mas eu logo vetei, pois ela não exprime o verdadeiro potencial dele. Portanto, ainda sem música.

Lucy, depois das panquecas com cerejas e melado, precisa cobrir o turno da gerente na loja de fantasias, a Party City. Ela tinha prometido nos levar lá qualquer dia desses, mas não vai ser desta vez. Tenho grande certeza de que me ocuparei pelo resto da manhã com as loucuras de Blaine, sem contar que preciso reforçar os meus estudos em Análise Musical I e dar conta de terminar os ensaios da apresentação da Cassandra. E Kurt não vai burlar a aula de dança, já que está ficando em pânico com todas as piruetas e os saltos que erra e que rende gritos desdenhosos e maldosos de Cassandra.

Mas Lucy não parece se importar. Está bem mais interessada em reclamar de um garoto que conheceu na biblioteca da NYU. Tem falado sobre ele durante todos esses dias, mas ninguém realmente tem prestado atenção. No entanto, agora, todos estão com os ouvidos apurados. Ela parece tão irritada por ter sido incomodada por ele que não consegue se conter. Seus gestos estão mais agressivos e mais expressivos que o habitual.

Intimamente, estou reprimindo uma onda de surpresa, pois isso nunca passou pela minha cabeça: que ela pudesse se irritar por estar sendo apreciada por um cara. Porém, pelo jeito que já relatou o que lhe aconteceu, parece que este garoto em particular não a está apenas apreciando. Lucy diz que ele a está perseguindo e que esta louca para procurar o Conselho por conta disto. Diz também estar evitando entrar na biblioteca, para não dar de cara com ele.

Isso, para mim, é quase de outro mundo. Isso detona por completo a minha antiga teoria de que Lucy era igualzinha às líderes de torcida que davam em cima de Finn, na época do colégio. Essa Lucy que tem fugido deste cara se parece bem mais... Bem, comigo. Alguém que não se satisfaz com pouco. É claro que, há quatro anos, Finn era muito para alguém como – ele era uma das estrelas do time de futebol enquanto eu era apenas uma nerd musical. Pessoas de mundos assim, tão opostos, quase nunca dividem uma vida, a não ser nos filmes e nos seriados, claro. Mas eu não sou uma Cinderela dos dias atuais: não vou me casar com o Príncipe Encantado. Já aceitei isso, de qualquer forma. Vou me casar com minhas músicas, que vale muito mais a pena.

De todo modo, é bom constatar que eu e ela temos coisas em comum. Que, apesar das divergências, conseguimos nos equiparar.

– A Santana nunca está lá para começar a atacá-lo como fez comigo ontem? – não sou capaz de evitar que este questionamento escape. Não quero confusão, mas, quem sabe, ela seria mesmo muito produtiva para esta situação.

Lucy, que está sentada ao meu lado, maneia seu rosto perfeitinho – mas sem muita maquiagem, apenas o suficiente para todos dizerem que ela parece estar “bastante natural” – e rola os olhos.

– Eu já pedi desculpas pela atitude dela.

– Não me importa as suas desculpas. Elas têm de partir da Santana, não de você – dou ênfase.

– A Santana não é do tipo que se arrepende, mas uma hora ela vai acabar percebendo que isso é ridículo, tenho certeza.

– Eu duvido – Kurt sussurra do outro lado da mesa e recebe um pontapé de Lucy. Ele solto um gemido baixo e lança um olhar feio para ela – Quê? Ela não é nada boazinha, não é mesmo? Todas as vezes que nos divertimos com ela, ela mais pareceu uma lunática do que com uma garota universitária.

– Garota universitárias, todo mundo sabe, são bem lunáticas – Blaine diz – Mas algumas deixam esse lado escondido por algum tempo.

Imagino que eu seja do tipo que esconda o lado lunático.

– Ela não é assim – Lucy sai em defesa ostentando uma expressão irritada – Vocês não a conhecem o suficiente para tomar este tipo de partido.

– E ela pode tomar qualquer partido que preferir e me enquadrar em todas as palavras que berrou ontem, ótimo – digo sarcástica.

– Rachel, não é nada assim.

– Como se eu não soubesse o que ela pensa sobre mim.

Lucy suspira, derrotada – ou talvez somente para tentar ignorar a situação.

– Espero, de verdade, que vocês voltem a se dar bem. Sei que você não guarda ressentimento, certo? – ela me inquire.

– Não. No entanto, é difícil deixar para lá as críticas nada verdadeiras dela. É inaceitável – estou cansada deste tópico, portanto aplico uma manobra verbal nela – Então? Quando vamos conhecer o seu admirador?

– Ele não é nada disso – sua voz me ataca veemente – É somente um idiota que acha que pode me ganhar. E adivinhe, ele não vai me ganhar.

– Você devia convidá-lo para os nossos Embalos de Todas as Noites! – Kurt pisca para Lucy de forma sugestiva, mas sem deixar de transparecer sua alegria típica. Ele adora falar sobre esse tipo de coisa inútil tanto quanto ainda sabe todos os passos de Black Swan. – Juro que não fico soltando indiretas.

– Mentira. É melhor não confiar nele – Blaine revela, dando uma cotovelada de leve em Kurt – Precisava ver como ele era no Glee, na época em que tentava dar uma de Cupido para a Rachel e o...

Corto-o na mesma hora. Será que ninguém ainda entendeu que não quero escutar o nome dele? De preferência nunca mais?

Solto um pigarro alto, lançando um olhar afiado em sua direção.

– Não vamos falar sobre essa época ridícula da minha vida.

– Você a sustentou por quatro anos, não dá para jogá-la no lixo como um lencinho descartável – Kurt assume aquela posição que me dá nos nervos: tenta ser racional demais. Mas, olha só. Que seja! Racional ou não, continuarei a ignorar que, um dia, fui namorada de Finn. Porque assim a vida é muito mais suportável.

– Na verdade, dá sim. Se tenho a intenção de começar a viver com liberdade, vou fazer o possível para mantê-lo e manter todas as coisas que já me disse bem no fundo do lixo.

Kurt faz uma cara de quem não acredita que eu esteja mesmo dizendo a verdade. Mas o problema é dele, porque estou sendo mais sincera do que nunca acerca deste assunto. É hora de virar a página, fechar o livro e deixá-lo mofar em algum lugar longe demais de meu alcance. É isso. Estou no presente, não mais no passado. Estou seguindo em frente, como planejado. Gosto da sensação de não querer permanecer na cama nem de devorar todos os bombons ao meu redor. Agora consigo até mesmo escutar Faithfully, a canção que, um dia, já foi minha e de Finn.

Lucy, de repente, levanta a sua batida sem álcool de frutas, propondo um brinde.

– Ao futuro sem caras idiotas atrasando as nossas vidas! – ela diz sorrindo, olhando mais para mim do que para os meninos.

Nós a copiamos, erguendo nossos copos também.

– Ao futuro!

~*~

É preciso dizer.

Às vezes, eu odeio a Santana. Realmente, não dá para não afirmar isso quando, por exemplo, ela me acordava com as canções mais irritantes do mundo. Ou quando ela insiste em me mandar SMS no meio das aulas de Matemática Financeira.

Ou quando ela me arrasta para uma festa no terraço de um hotel muito chique cujo hóspede não conheço – e nem tenho ideia se há mesmo alguém hospedado neste local. A julgar pelas roupas arrumadinhas demais posso prever que nem mesmo Santana conhece a pessoa que está oferecendo a comemoração a algo que também não faço ideia; não sei é se é aniversário de alguém, ou se é apenas uma noite para festança com música alta e luzes enlouquecidas. Parece que estou numa daquelas festas do Gatsby e, automaticamente, me faz querer sair correndo, porque sei muito bem que não me encaixo neste tipo de sociedade.

E, dois segundos depois, noto que perdi a Santana. EU PERDI A SANTANA NO MEIO DESSA GENTE FRESCA QUE TEM MEDO QUE ALGUÉM PASSE E DERRUBE O COQUETEL DE CAMARÃO EM SUAS ROUPAS BRILHANTES.

Como fui permitir chegar a esse ponto?

Quero dar um chute na bunda da Santana agora mesmo!

Vejo-me desesperada, meio claustrofóbica mesmo que não haja um teto sobre mim. A noite está clara e estrelada, apesar da baixa temperatura. Essa multidão desconhecida está me encarando e me deixando desconfortável. Passo por algumas pessoas, ignorando os olhares de crítica. Sei que não estou elegante como todas as outras garotas. Mas como poderia estar? Santana me ligou dizendo que tinha uma urgência e que precisava da minha ajuda, então fui ao seu apartamento do modo que estava, pois ela tinha me afirmado que pouco importava o que eu estava vestindo. E aí ela me lançou a confissão:

– Preciso dar uma passada na Madison Avenue. Por favor, venha comigo.

Aquilo foi estranho. Primeiro, sua primeira opção é sempre a Brittany. E segundo, o que ela poderia querer na Madison Avenue às 23h?

– Cadê a Britt?

– Dormindo. Enxaqueca, sei lá. Por favor, não me deixe na mão. Preciso muito de você.

Naquela hora, realmente considerei que era caso de vida ou morte. Algo que... Bem, eu nem conseguia imaginar de tão sério. Porque a Santana não encara nada com seriedade, de modo que inferi que aquela situação em especial era realmente inadiável.

Então eu a acompanhei com minha calça skinny clara, minha blusa de veludo básica, minha parca cor de terra e minha bota de cano baixo sem salto. Santana, por outro lado, estava tão bem vestida que quase a questionei sobre isso. Agora percebo que deveria ter inquirido. Teria me poupado dessa situação.

Quando estacionamos no canteiro, Santana deixou a chave do carro com um carinha, e eu olhei para onde estávamos.

Um prédio alto. Bonito. Imponente.

Morgans Hotel.

– Santana... Que negócio é esse?

Ela não respondeu de imediato, pois estava concentrada demais em seus pés, tentando impedir que tropeçasse por conta do salto agulha do sapato brilhante.

– Ahn, é rápido. Lembra da Claire? A minha colega de Estatística que jantou conosco algumas vezes antes de você me trocar por aquela reprimida depressiva? Pois então, ela me convidou para essa... Humm, confraternização.

Meu olhar sobre ela se intensificou, e ela sabia que eu estava exigindo maiores explicações.

– Vou procurá-la, dizer um oi e partir.

– Somente um oi?

– Um oi, alguns drinques para me socializar um pouquinho... Mas estaremos fora daqui em, no máximo, meia hora.

– Por que não estou acreditando nem um pouquinho em você? – cerrei meus olhos para ela.

– Ah, deixa disso! Aproveite para conhecer gente nova! Garotos novos, garotas novas... Deve ter alguém da sua preferência.

Amaldiçoei-a em pensamento, mas continuei a segui-la.

E agora estou aqui no meio de todo mundo. Todo mundo que não conheço, à exceção de Claire, que nem deu as caras até agora. Nem dá para saber se Santana já a encontrou.

Não gosto disso. Não gosto de parecer perdida. Nunca mais acredito em uma “chamada de emergência” da Santana. Sabe-se lá para onde ela pode me levar da próxima vez.

Mas eu não tenho escolha. Já estou aqui, portanto começo a caminhar lentamente pelo local, desviando de todos à minha frente, tomando cuidado para não esbarrar em ninguém e receber um olhar de advertência assassina.

A música está muito alta; quase me faz colocar os dedos nos ouvidos. Anything Could Happen reverbera pelo espaço, mas ninguém parece se incomodar. Ao menos, não há confetes nem fontes onde os convidados estão se jogando nelas. Não que isso seja tão tranquilizante assim, já que parece que todo mundo está bêbado o suficiente para nem mesmo discernir a diferença entre um goblin e um duende.

Começo a ficar verdadeiramente irritada. Como a Santana tem a audácia de fazer isso comigo?! Eu mal frequento as festas dadas pelos colegas que tenho certa intimidade, imagine vir a uma “confraternização” deste porte, tão brilhante e custoso! Essa Claire deve ser mesmo muito rica! Quem é o pai dela, o Robert Downey Jr.?

Chego ao ponto de ceder à tentação de me sentar, então procuro o bar. Há bartenders servindo batidas especiais dos mais variados tipos e das mais variadas cores. Algumas levam gelo seco para dar aquele efeito fumegante ao copo.

Não acho um local para me sentar no bar, mas peço um drinque sem álcool. O bartender me oferece coquetel de suco de maçã que parece elaborado demais. Aceito, pois estou com sede. O local, apesar de arejado, está me sufocando.

Pago pela bebida e encontro um sofá, num dos cantos sob algumas luzes piscantes, desocupado. Enfim me acomodo e aprecio a vista. Nada mal. Quer dizer, se você aprecia ver pessoas bêbadas rirem sobre coisas ridículas e tentarem arranjar alguém para terminar a noite na cama.

É deprimente, isso sim. Mal posso observar todas essas garotas, que dentro de suas casas são as princesinhas do papai, agindo de modo tão... Lascivo, talvez? Balanço a cabeça, incrédula. Bebo meu suco de maçã, sentindo-me um pouco mais confortável. Não sinto mais vontade de cometer um homicídio.

Tudo fica bem por um tempo. Até que...

– Sugeriria o coquetel de rum com licor de marula.

Viro minha cabeça agilmente em direção à pessoa. Ela está sorrindo do mesmo modo que o gato Cheshire. De repente, todo o líquido que já absorvi parece querer retornar.

Você – digo com desdém e com rudez.

– Eu... E você – ele continua a sorrir. E, mesmo que eu não o convide, senta-se ao meu lado no sofá – O que faz aqui, fotomaníaca?

– Eu não... – balanço a cabeça num gesto rápido, mas me refreio, porque sei que não deve satisfação alguma a ele – Se quer importunar alguém olhe em volta. Muitas delas estão implorando por qualquer tipo de atenção vinda de qualquer cara.

Ele olha em volta por um instante, então seu olhar torna a recair em mim.

– Nah. Não tem ninguém interessante para lá. Já aqui, acho que...

– Olha aqui – corto-o na mesma hora –, não me interessa o porquê está brincando comigo, ou o que pretende com isso. Apenas pare. Já não gostei de você na biblioteca e, com certeza, não vai ser agora que vai me conquistar. Sua técnica é péssima, só para você ficar ciente.

– Uau. Você ainda é A Garota das Palavras Desagradáveis. Incrível – ele está impressionado de uma maneira peculiar. É esquisito também, porque, normalmente, esse tipo de coisa repeliria qualquer um. Por que não o repele também? Será que ele é mesmo um perseguidor? Pior: um serial killer? Mas ele não se dá por vencido e continua – Como pode ser tão afável por fora e tão bagunçada por dentro?

– Para a sua informação, não sou bagunçada coisa alguma! – revido na mesma hora, porque isso se faz necessário. Não posso aceitar ser taxada por um completo estranho que, ainda por cima, não se contenta em receber um fora.

– Ah – ele exclama como se tivesse acabado de descobrir a cura do câncer – Você é uma derrotada sentimental. Finge que não precisa de ninguém, porque alguém a fez se sentir diminuída ou humilhada. Acertei?

Não dá para acreditar. Agora ele acha que pode dar palpite sobre o que houve comigo no passado? Preciso sair daqui agora! Preciso encontrar a Santana e sair daqui...

– Caso clássico – ele logo emenda com um sorrisinho lateral que me irrita ainda mais no mesmo instante.

– Ótimo – digo e me levanto – Continue a fazer tentativas sobre quem sou eu.

– Já sei quem é você, Lucy Fabray. Esqueceu que retenho a maioria das informações que circula pelo campus? Além do mais, não há ninguém que não tenha um computador por perto que não saiba manipular dados arquivados.

– Que seja. Continue a bancar o Sherlock e me deixe em paz – tento encerrar a conversa a todo custo, mesmo que ele já esteja de pé também, me encarando de um modo que me faz sentir completamente nua na frente dele.

– Hey, Lucy – sua mão enorme segura meu antebraço sem impor força alguma, mas é o suficiente para me parar. Ele está insistindo fisicamente? Sim, ele está. Penso que as pessoas deveriam ter o poder de evocar as outras em situações como esta: quando há perigo real. Porque posso totalmente sentir o perigo emanando entre nós – Não seja tão arisca. Tenho certeza de que, no fundo, você apenas quer alguém que a faça sentir especial de novo. Posso ser esse cara, se você me permitir.

Ah, que ridículo. Ele está apelando para o típico jeito “cara cafajeste tentando agir como um cara romântico e compreensível”. Mas adivinhe, cérebro de orangotango. Não vai rolar. Você não vai me ter tão facilmente. Na verdade, de maneira alguma.

– Não dou permissão alguma. Agora, solte meu braço.

– Ou? – seu sorriso cresce.

– Minha amiga latina vai lhe dar um belo chute naquele lugar que vai deixá-lo estéril para sempre.

Ele solta um riso momentâneo.

– Isso parece provocativo demais.

– Vai me soltar ou vou ter que fazer um escândalo?

– Escândalo, você? Não acho que você seja assim, nem acho que tenha necessidade. Estamos tendo uma boa conversa, não estamos?

– Você é idiota, ou o quê? – pergunto com agressividade ao mesmo tempo em que tento liberar meu antebraço, mas o esforço é em vão – Claramente não estamos tendo uma boa conversa nem iremos ter, futuramente. Quer uma dica? Segurar uma garota contra a vontade dela não é nada conquistador.

– Você é diferente, então preciso de táticas diferentes.

– Isso não é diferente. É uma tática que todos os filhos da mãe utilizam.

– Certo, solto você a menos que me dê uma chance. Apenas uma.

– Não dou chances a imbecis. E não quero ser “mais uma garota” de alguém. Muito menos sua.

– Não vai ser, prometo. Vamos conversar devidamente. Um bom restaurante, um bom vinho, uma boa caminhada. Uma chance.

Por um momento, parece que há sinceridade nele inteiro. Nos olhos. No rosto. Na voz. Ele está replicando, não está pedindo. Isso é inusitado.

Engulo um pouco de ar para me dar mais tempo de pensar. Então, quando menos espero, já estou acenando com a cabeça num gesto de concordância.

Eu estou caindo da tática dele. Estou prestes a ser “mais uma garota” na vida dele. Estou regressando para o passado. Exatamente igual. Mas, dessa vez, sou a Lucy universitária e estou ruiva.

É incrível constatar que mesmo depois das modificações, os problemas me acham. Eles sempre me encontram, onde quer que eu esteja. Belleville, Lima, Nova York.

Uma chance – friso com minha voz fria. Ele me larga e, enfim, posso encontrar minha decência. Mas agora já é tarde demais. Estou assombrada mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Espero que possam lidar com o final deste capítulo o suficiente para esperar o próximo! Deixem seus reviews! Beijos e muito obrigada!



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