O Emissário Do Equilíbrio escrita por LordRyuuken


Capítulo 7
Um assunto de família


Notas iniciais do capítulo

Obrigado por responderem a enquete, pessoal. Continuem dando suas opiniões sobre o que desejam, para que eu possa ir adaptando melhor os acontecimentos, ao gosto de todos. Como dito antes, haverá um pouco de tudo, de forma a pesquisa ser apenas para verificar qual será o maior foco neste momento, por assim dizer.

Quanto a dedicatória do capítulo de hoje, homenageio outro de meus amigos que lêem e acompanham a história fielmente. Kauê, meu assassin, este é para você!



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P.O.V. Berserker (Percy)

Quando escutei de Lorde Caos que precisaria ficar preso no acampamento mais uma vez, rangi os dentes de indignação, olhando com raiva para o criador. Entretanto, como tinha um profundo respeito para com ele, por razões que cabem apenas a mim saber, nada fiz além disto. Mesmo realizando uma coisa que me causasse tanto mal, milorde pousava em seus lábios um sorriso, como quem se diverte com toda a situação. Eu só sabia que depois teria uma conversinha a sós com o criador, ah se teria.

Você pode pensar que sou louco por pensar em “discutir” com alguém como Caos. Todavia, peço que se recorde do jeito no qual ele pensa e se porta. Contanto que você não o desrespeite ao extremo, ao ponto de ferir sua honra e orgulho, ele é como um excelente pai, que compreende a situação e nos deixa descarregar o que temos dentro de nosso peito para ajudar-nos no processo de cura, por assim dizer.

Dos muitos cenários que esperava para o prosseguimento daquela conversa, certamente não esperava que fosse logo Ártemis a contrapor o pensamento da ordem dada por milorde:

— Não seria melhor ele ficar conosco no grupo de caça? Afinal, se o trabalho dele é o extermínio, colocar ele em uma divisão de combate seria muito mais adequado. — pronunciou ela, fazendo que que eu virasse minha face para ela de imediato, tanto com um espanto evidente quanto com um agradecimento no olhar. Se ela tivesse sucesso, me salvaria de uma temporada desagradável no acampamento e isto, por si só, já era o suficiente para fazer-me ganhar o dia.

Percebi que todos fitavam a deusa da caça como se houvesse crescido uma segunda cabeça em seu pescoço, fazendo-a ficar notoriamente contrariada. Ainda assim, como poderíamos achar isto normal? A deusa casta da lua. A destemida líder das caçadoras, que odiava aos homens e pregava esta idéia para suas discípulas. Como ela poderia, espontaneamente, chamar um rapaz como eu para se juntar a caçada? Não era algo comum, com certeza.

— Fico feliz que tenha sugerido isso, minha cara Ártemis. Na verdade, meu plano original era exatamente o que você havia dito, mas tive de me adaptar pensando que iria fazer com que você e suas caçadoras tivessem de suportar forçosamente a companhia de um homem. Como você mesma sugeriu isto, creio que não temos mais problemas. Perseus fará parte da guarda das caçadoras junto com Archer. — falou Caos, fazendo com que eu compreendesse finalmente o seu plano. Ele sabia, de alguma forma estranha, qual seria a reação da divindade lunar, de modo a fornecer-me uma falsa incumbência apenas para fazer com que ela intervisse na decisão. Me lembre de agradecer a ele depois.

Ártemis parecia finalmente haver compreendido o que havia sugerido, mas, esperto como era, Caos se desvanesceu em um vórtex, retornando para Ankareth. Como apenas ele e nós, servos d’O Luminoso, conhecíamos a técnica para se deslocar até a dimensão onde ele se encontrava, Ártemis estava sem saída. Havia feito uma sugestão para o próprio Criador e parecia que ela entendia a intensidade disto. Era muito superior a um simples juramento pelo Rio Estige. Provavelmente ela não soubesse disto, mas a pessoa que quebra uma promessa feita em nome do criador simplesmente se evanesce.

Talvez você agora esteja se perguntando o que diabos é este tal evanescer. Pois bem... Evanescência é o estágio de morte final, no qual a própria essência existencial de um ser é simplesmente apagada do universo, sem troca equivalente, sem compensamento algum. Ela se torna um buraco, um vazio e, junto a isto, todas as lembranças ou marcas deixadas por tal entidade simplesmente desaparecem. Seus feitios, se benéficos ao mundo como um todo, são conservados e protegidos pela lei do herói, criada para fazer com que uma evanescência não mudasse radicalmente o destino do mundo, mas é só. Não há vida após a morte, nem um sono profundo e nem nada do gênero. Você apenas passa a ser uma parte da energia do universo, um amontoado de nada. Sem sombra de dúvidas, era um destino triste, que eu não desejava a ninguém. E olha que eu teria razões para querer matar muita gente (e até tenho), mas com certeza não chegaria a tais extremos nem mesmo com meu pior inimigo. Ao menos, não enquanto isto estivesse sob meu controle.

Com a saída do criador, nitidamente todos ali relaxaram. Eu sabia muito bem o que viria a seguir e estava preparado para isto. Ignorando os olhares dirigidos a mim, fitei diretamente a deusa da lua, como se a agradecendo através de um olhar. Ficar junto a um monte de meninas que odeiam homens seria uma experiência estranha, sem sombra de dúvidas. Apesar disto, era melhor do que ficar preso a um local ao qual nutria uma lembrança tão amarga como o acampamento. Mesmo assim, não imaginava que Lady Artemis fosse aprontar, dizendo as palavras que eu menos desejava ouvir em seguida:

— Caçadoras. Preparem suas coisas, vamos ficar um pouco aqui no Acampamento. Vocês precisam de um repouso após tantas tarefas bem-feitas.

Meu rosto mudou completamente de uma expressão agradecida para uma irritada. Ela havia feito aquilo para me tirar da frigideira e lançar-me ao fogo? De um modo ou de outro no momento não possuía outra alternativa. Este round havia sido vencido, sem sombra de dúvidas, por ela.

Receber a notícia de que teria de ficar no acampamento não me deixou de muito bom humor, o que, unido ao que eu sabia que viria a seguir, era algo péssimo. O olhar dos deuses sobre mim era pesado, mas não em um sentido ruim de todo. Mostravam um intenso desejo no fitar, afinal, agora que uma nova guerra estava se iniciando, eles precisavam de seus heróis e, havendo provado que conseguia vencer semideuses fracos como meu irmãozinho imbecil sem mover sequer um dedo, provei-me um filé mignon em um canil de bestas famintas.

Notei o olhar de Zeus para meu pai, como se falasse um nítido “Vá até ele” e foi exatamente isso o que o deus dos mares fez. Aproximando-se de mim, deu dois tapinhas em meu ombro e disse:

— Que bom que você está de volta, Percy. Agora, que tal irmos até meu chalé para você tirar essa armadura e relaxar um pouco? Podemos conversar sobre o que você fez nestes três anos, ter uma conversa de pai para filho. — falou ele, fazendo meus companheiros arregalarem os olhos com uma nítida surpresa que eu ainda não houvesse me movido para impedí-lo — Sei que você sempre quis ter uma relação de pai e filho mais próxima e agora podemos ter isso.

Ele ostentava um sorriso na face, convencido de que suas palavras funcionariam. É claro que, usualmente, elas teriam o efeito esperado. Um filho abandonado e ignorado que recebia de seu pai a proposta de finalmente conviver melhor com ele? De ter uma conversa agradável com seu próprio progenitor, como qualquer pessoa comum. Era óbvio que qualquer semideus tinha essa ânsia no âmago de sua existência.

Infelizmente para Poseidon, eu era uma das pouquíssimas exceções a esta regra. Depois de tudo o que havia vivido, com o que vira naquela reunião do olimpo e fora informado pela boca do próprio criador, não havia forma alguma de esta conversa mole funcionar. Virando para ele, sorri fracamente, vendo o rosto dele se iluminar. Notei por um momento que a alegria que ele mantinha na face mostrava uma saudade tal que realmente parecia feliz com minha volta, mas afastei estes pensamentos de minha mente. Era impossível, que depois de ser o responsável pelo ordenar de minha morte, que houvesse simplesmente se arrependido e me quisesse de volta. Era a síndrome do semideus abandonado se manifestando e eu, certamente, não sucumbiria a uma jogada tão simples.

— Você está brincando com a minha cara, não é? — falei, com a face impassível e mirando diretamente em suas orbes de cor semelhante a minha própria.

Com certeza o senhor dos mares parecia surpreso com minha resposta. Retraindo sua mão apoiada sobre meu ombro, tentou novamente me convencer:

— Com o que eu estaria brincando? Não foi isso que você sempre quis de mim, uma relação mais próxima? Então por que reage assim, filho? — entoou o homem, novamente lançando sua conversa mole para cima de mim.

Usualmente um deus torraria qualquer um que tivesse falado com tanta audácia consigo, ou, no mínimo, dado a ele uma bela de uma ameaça. Entretanto, Poseidon e os outros sentiam que precisavam de mim e estavam a engolir o próprio orgulho ao tentar novamente se aproximar. Ah, era doce essa sensação de desconforto vinda do pescador que chamara de pai... Ah se era.

— Não... me chame... de filho! — respondi, tentando me controlar. Era muita audácia ele falar isto. Eu não conseguiria suportar tanta falsidade. Minha máscara impassível estava prestes a se romper e eu sentia isso. Dando as costas ao soberano do oceano, falei — É muita audácia sua me chamar assim. Vá ver como está seu favoritinho, ele pode estar precisando de sua ajuda, afinal, o dano cerebral que ele tem desde que nasceu já é extenso o suficiente, um trauma por conta de sua própria incompetência não vai lhe ajudar em nada.

Sem mais opções, Poseidon resolveu jogar verde para colher maduro, questionando a última coisa que eu desejava ouvir naquele momento.

— Isso tudo são ciúmes de Ethan? Vocês dois são meus filhos. — proferiu, sorrindo e continuando em seguida, enquanto o rapaz que havia acabado de ser citado sorriu pela perspectiva de um possível ciúme por minha parte, o que, obviamente, não era verdade — Se os outros semideuses conseguem compartilhar seu parente olimpiano com dezenas de irmãos, por que você não pode fazê-lo com um, Percy? Vamos lá, somos uma família, temos que agir como tal.

Escutando as últimas palavras do homem, congelei instantaneamente. Sentia o Ikhor em meu sangue pulsar de forma intensa, a divindade em meu corpo gritando para se manifestar em máxima potência. Minha mente já começava a embaralhar, de forma a eu não conseguir mais juntar coisa com coisa. Foi necessária toda minha concentração e uma dor extremamente intensa na região atrás do umbigo para retrair meu ímpeto de exercer os poderes divinos para atacar meu “pai”, mas, no fim das contas, através de muito custo, consegui fazê-lo. Precisava agradecer também as sete trancas que Lode Caos havia imposto em meu corpo, que por si só faziam parte do trabalho de retrair parte de meus poderes. O mesmo valia para a armadura que vestia. Apesar de ter tantos pontos a meu favor e um auto-controle de dar inveja em Madre Teresa, não consegui se segurar de todo, liberando uma ínfima parte de meu potencial atual.

Meu corpo começou a ser coberto por uma fina camada de uma névoa negra, mas que não apresentava expessura o suficiente para impedir que vissem meu corpo. Meus dentes rangiam de raiva e, em um acidente, acabei mordendo minha própria boca. A adrenalina causada por meu furor não me fez sentir dor, mas era capaz de sentir o sangue jorrar a finos borbotões da ferida, que em poucos segundos se fechou. Meu corpo tremia de forma sutil, como se minha hiperatividade estivesse ativada em seu ápice.

— Ciúmes? — questionei, virando-me para Poseidon — Desta escória? — falei, apontando para o garoto que ele mencionara — Não se considere tanto, papai. — entoei, sublinhando ironicamente a última palavra — Família? Você disse que somos uma família? — a cada momento, meu tom de voz aumentava ainda mais e o poder que me rodeava ficava ligeiramente maior, ao passo de eu saber que os outros seis discípulos de milorde estavam preocupados que eu perdesse o controle. Colocando o máximo de veneno em minha voz, continuei, enquanto tentava retrair meu próprio furor — Como você se atreve a falar de família!? Em uma família, um pai não ordena a morte de seu próprio filho!

Os olhos de todos ali se arregalaram com minha revelação. Caçadoras, semideuses e até mesmo os deuses. Os dois primeiros grupos, provavelmente, por não saber que o projeto de me aniquilar havia partido de meu próprio pai. Já os últimos, por desconhecerem minha presença na reunião que escutava três anos atrás. Sentia que estava retirando um veneno de meu peito, de forma a certamente não parar por ali. Precisava me limpar, jogar tudo o que haviam feito comigo na cara deles, de modo a eles saberem que não faria as pazes com eles e nem tinha a pretensão de fazê-lo um dia. Não pretendia me vingar e nem deixar de defender o que acredito apenas por conta de algo tão pequeno.

— Você realmente achava que eu não sabia? Se dependesse de você, Zeus, Hades, Ares, Apolo, Dionísio e Hefesto eu já estaria a sete palmos debaixo da terra, congelando em Cocytos — disse, me referindo a prisão de gelo nos Campos de Punição do Mundo Inferior para onde iam os traidores do Olimpo. Voltando meu olhar para os quatorze membros do panteão, disse, aumentando ainda mais meu tom de voz — Lutei por vocês e jamais pedi nada em troca e, assim que vocês percebem que meu poder é um maior do que o de um semideus comum, inventam uma razão logo para me tirar do mapa, antes que possa me tornar uma ameaça!? E você ainda quer vir até mim com um discurso da importância da família? Responda-me, Poseidon!

Ao passo em que bradava em voz tão ensurdecedora que já podia ser tida como um grito, meus poderes continuavam a sair de meu controle. Instintivamente, ao terminar de falar evoquei minha Theoi Vortigern, mantendo a espada em minha mão destra, enquanto meu elmo, anteriormente no chão, desfazia-se em névoa para novamente aparecer intacto em minha face. Era um alívio que isto tivesse ocorrido, pois, desta forma, ninguém ali presente poderia notar as lágrimas que começavam a verter de minhas orbes. Mesmo com tudo o que havia acontecido, ainda não conseguia odiá-los de verdade. Guardava em mim uma profunda mágoa e um terrível ressentimento, mas não conseguia sentir ódio. Depois de tudo, continuava tão fiel aos ideais do olimpo quanto fora no tempo que recebera a alcunha de herói.

Meu defeito fatal, depois de tudo, continuava sendo o mesmo. A lealdade. A maldita lealdade que rompera o tratamento de indiferença e sarcasmo que planejara dar a eles para transformar minhas palavras em uma discussão acalorada, uma briguinha de família. Estava fisicamente mais forte, ao ponto de suportar minha armadura com o peso do céu e conseguir lutar com facilidade mesmo assim. Estava espiritualmente mais forte, ao ponto de conseguir exercer os poderes divinos em uma escala tão grande quanto a dos deuses, se não maior. Entretanto, no que se tratava da mente... Continuava sendo o mesmo garoto ingênuo e fraco, o que me enervava profundamente.

— Então você viu... — balbuciou meu pai, não precisando ver minha face ou ouvir uma resposta minha para constatar que o que ele supunha era verdade — Não foi exatamente isso o que aconteceu, Percy...

— Não minta para mim! — falei, gerando uma nova explosão de energia. Alguns campistas mais fracos começavam já a ficar sem ar e mesmo os mais fortes a se sentirem acuados por minha presença. Aquilo era uma parte ínfima da monstruosidade que encerrava dentro de mim, mas, se comparado ao que semideuses comuns sem treinamento de verdade algum poderiam fazer, já era muito, de fato. Voltando-me novamente ao rei dos mares, continuei, lívido de fúria — Já chega de mentiras, deus do mar! Não pensem que estou aqui como um antigo campista que retorna para casa, para ver sua família. Se dependessem de mim, nunca mais veriam minha face e, se fossem os titãs ou Gaia a tentar lhes destruir de novo, teria ficado de fora do problema com prazer! Só estou aqui pelo aparecimento de Tehom, cumprirei minha missão e sairei daqui, querendo vocês ou não.

— Não desafie a autoridade desse conselho, moleque... — começou o rei dos deuses, fazendo-me começar a rir descontroladamente.

— Ou o que, Zeus? Vai me fritar com essa pilhazinha alcalina que você chama de arma? Eu te desafio a tentar — falei, sorrindo de forma excitada por baixo de minha máscara de metal.

O que ocorreu a seguir foi muito rápido. Ao passo em que o rosto de Zeus enrubesceu pela vergonha de ser desafiado por um mortal, ele sacou seu raio mestre e, mesmo em sua forma reduzida, enviou um ataque fulminante em minha direção. Obviamente, não continha toda a potência que a entidade era capaz de gerar, afinal, ele não se encontrava em sua forma completa. Mesmo assim, ali tinha eletricidade o suficiente para matar, ressucitar e matar de novo um semideus umas cem vezes.

Com a Vortigern em mãos, deixei que o poder da foice de Cronos se manifestasse sobre mim, começando a ver tudo acontecer em um ritmo consideravalmente mais lento ao meu redor. Tendo tempo o suficiente para mostrar uma reação, deixei que a potência original de minha arma se manifestasse, usufruindo das capacidades especiais de seu poder divino. Ao ponto que o raio se aproximou de mim, um vórtice completamente negro surgiu em fronte a meu peito, absorvendo o ataque. Em seguida, meu próprio corpo sumiu em um efeito semelhante ao que fizera desaparecer o ataque do soberano do olimpo, fazendo com que, menos de um segundo depois, viesse meu contra-ataque.

Dois vórtices surgiram junto aos corpos de Zeus e Poseidon, desta vez não para absorver, mas para liberar. O poderoso golpe emitido contra mim agora rumava com potência total ante o peito de meu pai, atacando a queima-roupa. Contra Zeus, uma espada aparecia junto a seu pescoço, brandida por minha mão destra, enquanto a esquerda atacava-lhe na boca do estômago.

Os campistas ali presentes provavelmente se recordariam daquilo por eras, o dia em que um mero mortal conseguiu acertar golpes diretos em dois dos três grandes. Ainda que não ostentassem todo seu poder e nem pudessem lutar realmente a sério no que dizia respeito a suas ofensivas, por respeito ao criador e cuidado para com os jovens ali, que mal estavam suportando a energia que eu mesmo emanava, foram incapazes de se defender com maestria.

Meu pai, talvez por já estar habituado aos ataques elétricos de Zeus, conjurou uma defesa automática. Era água pura, o isolante elétrico perfeito. Não imaginava que ele — sendo o deus dos mares, que naturalmente continham em si diversas substâncias dissolvidas — teria capacidade para realizar tal feitio com tamanha facilidade, mas, pelo visto, realmente não era tão simples para ele. A utilização do poder não fora feita de forma perfeita, de modo a ainda ele ser atingido por uma corrente elétrica, apesar de sua intensidade ser bem menor, se comparada a do ataque original. No fim das contas, ele foi atingido por um golpe que poderia levar um mortal ao hospital, mas sem matá-lo. Contra um deus, isso não era grande coisa, mas já era algum dano, alguma dor.

O caso do soberano dos céus era um pouco diferente. Sendo uma espécie de “rei” dentre os seus, o campo de batalha não era exatamente sua especialidade, ainda mais no que dizia respeito ao combate corpo-a-corpo. Fazendo o que qualquer um despreparado faria, Zeus reagiu através do instinto, retirando a espada que lhe era prostrada ante o pescoço. Todavia, isto desviu a atenção dele do verdadeiro ataque, que o atingiu em cheio.

Muitos imaginariam que, sendo um simples soco, ainda mais com o que sabiam não ser minha mão boa, não faria um dano sequer considerável contra um deus, mas não era bem assim. Ao ser acertado por meu punho, o rei dos deuses foi lançado longe, batendo contra uma árvore, partindo-a ao meio violentamente. Sarcástico, não pude deixar de observar:

— Drama Queen idiota. Ignorando as leis antigas por conta de uma mera provocação? Você não sabe o que lhe aconteceria se esse golpe sequer tocasse minha pele, não é mesmo? Tem sorte de eu ter sido legal e redirecionado seu ataque antes que me acertasse, senão as coisas estariam bem feias para você agora. — concluí, fitando as orbes azuis do homem com certa diversão.

Tentando retomar o diálogo entre nós, meu pai disse:

— Isto é desnecessário, Perseus. Gostando ou não, você é meu filho. Seu lugar neste acampamento é no chalé de Poseidon. Disto você não vai fugir, são suas ordens, não é mesmo? — falou ele sorrindo.

Finalmente alguém tinha apresentado algum argumento decente naquela discussão. De fato, eu não deveria me afastar em demasia do acampamento, para poder realizar a proteção da deusa da lua com maior eficácia, mas, certamente, isto não significava que concordaria com a moção de meu pai.

— Não pense que isto é exatamente verdade, Poseidon. — falei, virando-me para ele. Novamente o pensamento de preocupação do homem para comigo veio a minha mente, quando vi o quanto parecia lhe incomodar que eu não mais lhe chamasse de pai, mas novamente afastei isso de minha mente — De fato, eu não posso ficar longe daqui, preciso estar junto ao acampamento para completar minha missão. — ele sorriu quando eu disse isso, mas continuei a falar despreocupadamente — Apesar disto, não significa que eu precise ficar em seu chalé imundo. Estando junto a caçada, tecnicamente sou um caçador honorário, de modo ao chalé de Ártemis também me ser uma morada válida.

Notei o sorriso de meu pai esmorecer ao passo que os protestos de indignação das caçadoras cresciam. Por fim, escutei a voz de Thalia soar, divertida:

— Não conte com isso, cabeça-de-alga.

No fim das contas, era bom ouvir a voz dela chamando-me desta forma mais uma vez. Thalia era uma excelente amiga, apesar de seu temperamento tão irritante quanto o de seu pai. Com o mesmo tom de diversão na voz, respondi:

— Não é minha intenção, cara-de-pinheiro. Apenas estava mostrando a eles que o chalé de meu "papi querido" não é a única opção para eu ficar. — pronunciei, novamente chamando Poseidon através de uma alcunha irônica — Entre os locais em que desejo como leito, tenha certeza que uma casa com dezenas de garotas que desprezam homens está bem embaixo em minha lista de prioridades.

— E para onde você vai então? — questionou o rei dos mares.

— Bem, isto não é de sua conta, não é mesmo? — encerrei, com um sorriso no rosto, novamente encoberto pela gélida liga metálica da armadura que cobria todo meu corpo — Não me considere mais um cãozinho dos deuses. Não pretendo ser amiguinho de ninguém aqui. O homem que vocês conheceram, que lutou um dia por vocês e tinha lealdade para com suas causas morreu naquele dia, por suas próprias mãos. Não me confundam com ele.

Ao terminar de falar, dei as costas a todos os presentes e me preparei para sair, dando uma última olhada em meus aliados. Pude ler, através da boca de Zöe e o movimento de seus lábios o proferir de uma única palavra silenciosa: Mentiroso.

Mais uma vez tive que conter a vontade de rir. Deixando com que minha armadura inteira se desprendesse de meu corpo, se tornando a névoa negra já tão conhecida, as roupas que vestia quando não estava em vestes de combate se mostraram: uma calça cargo esverdeada, com uma camisa normal preta que, apesar de não ser colada, evidenciava os músculos meu corpo bem trabalhado na tarefa de suportar os céus. Além disto, a cor da camisa contrastava com o tom atual de meus cabelos e a calça harmonizava com meus olhos, formando um conjunto harmonioso. Antes de sair do local, recordei-me de uma última coisa, que falei antes de sumir:

— Ah sim. Como Lorde Caos ordenou, enquanto estiver aqui no acampamento ensinarei a vocês semideuses como lutar de verdade. Apesar de as caçadoras já serem um pouco melhor desenvoltas no que ensinarei, ainda tem muito a evoluir. Irei fazer o trabalho de mostrar a vocês a verdadeira forma de lutar de alguém com sangue divino, algo que os deuses escondem de vocês por muito tempo. Amanhã, uma hora após o final do horário de almoço me encontrem junto ao lago. Ensinarei àqueles que merecerem minha ajuda — encerrei, vendo o rosto pasmo dos deuses que sabiam muito bem ao que eu me referia quando falei sobre “lutar de verdade”. Sumindo em um vórtex, concluí que minha vida de acampamento havia começado, mas era eu a ditar minhas próprias regras.



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Notas finais do capítulo

E com isto chegamos ao fim de mais um capítulo. Espero que tenham gostado do confronto de Percy com sua família, ou seu pai, melhor dizendo. Deixem suas opiniões!

Ah sim, sobre o que eu havia dito antes, quanto aos reviews. Gostaria de esclarecer que TODO review é bem vindo, seja qual for o tamanho ou o quão simples seja seu conteúdo. O mero fato de comentar me mostra que você está lendo e já impulsiona-me a continuar escrevendo. Apesar disso, como eu disse antes, colocar sua opinião sobre a história, o que você gostou (se possível, sem utilizar um simples tudo, afinal, sempre se gosta mais de algum ponto, mesmo que tenha curtido a todos), o que achou estranho e o que poderia melhorar sempre é mais animador de se ler, de modo a, se você achar que a história merece, gaste cinco minutinhos e comente sua opinião. Se gostou, mais não pode perder este tempo ou tem vergonha de fazer algo mais elaborado, não se retraia de escrever um comentário simples, ele ainda é tão bem-vindo quanto todos os outros. O importante é mostrar o interesse de vocês, é ele que faz com que eu sente na frente de meu laptop, abra o word e comece a digitar todo santo dia um capítulo novo. Dito isto, como o usual, encerro com meu:

Se gostaram, por favor, comentem. Se realmente gostaram, indiquem aos amigos, adicionem aos favoritos e, se possível, recomendem. Até a próxima!