Stranger escrita por Okay


Capítulo 6
Elevador.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 28/09/2017



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Capítulo 6 — Elevador.

O coração de Lucas ainda estava aos pulos com o abraço apertado de Gustave, mal acreditando naquela mera coincidência, jurando que não existia ninguém na face da Terra mais azarado do que ele.

Não que o loiro não tivesse gostado de rever o ex-namorado, só não queria ter sido pego de surpresa, principalmente usando a jaqueta que havia ganhado de presente dele no passado.

Lucas acompanhou-o com os olhos até a saída da livraria e trombou com Alberto no meio das estantes, vendo-o carregar uma pasta e poucos livros.

— Precisa de ajuda, Al?

— Ah, se você não se importasse, você poderia finalizar uma compra pra mim? Uma das meninas saiu para o intervalo e acabou me deixando na mão.

— Posso tentar, mas eu não sei como usar o sistema direito, fico todo embolado na parte do cadastro. — O loiro respondeu.

— Eu sei que você consegue, é para o Marcus, ele já é nosso cliente antigo, então ele já tem cadastro, você só precisa finalizar o pedido, ele está esperando no balcão do caixa.

— Tudo bem, eu tento. — Lucas tentou disfarçar o desconforto, não queria ter que encarar aquele homem novamente.

— Eu vou terminar de atender outra cliente que eu deixei esperando na linha, qualquer coisa me chama que eu venho correndo te ajudar. — Alberto entregou-lhe os livros, retirando-se em seguida. 

Sem pressa, o loiro caminhou para a recepção, ficando com os nervos à flor da pele, sentindo um embrulho no estômago ao ver Marcus debruçado ao balcão, de costas.

Lucas praguejava mentalmente por aquele dia, sabendo que não deveria ter levantado da cama. No entanto, o que o impressionou, foi o fato de que Marcus trocou poucas palavras consigo, respondendo o necessário antes mesmo que perguntasse.

Após finalizar a compra, colocou os livros dentro da sacola e no momento de entregá-la, sentiu os dedos gelados de Marcus tocarem os seus, desviando seus olhos para baixo, não querendo encará-lo, principalmente porque o moreno não tirava os olhos de si, atormentando-o com seu olhar profundo.

Ele deu as costas, soltando um frio “obrigado”, retirando-se do local, deixando Lucas mais uma vez com seus pensamentos, sem sequer conseguir respondê-lo com um “volte sempre”, sabendo no fundo que ele voltaria. Ele sempre voltava.

O loiro soltou um longo e pesado suspiro, sentindo-se cansado, parecendo que Marcus havia levado todas as suas forças embora, como ele sempre fazia. Lucas pensava no código do cadastro, mal tendo tempo de ler o nome inteiro de Marcus, somente precisava daquilo para saber de uma vez por todas quem era aquele homem, estava prestes a abrir o cadastro dele quando teve um sobressalto.

— E aí, Lucas? Como foi? Conseguiu? — Alberto aproximou-se, assustando-o.

— Foi tranquilo.

— Valeu por quebrar esse galho pra mim. — Agradeceu, colocando a mão em um dos bolsos de seu casaco. — Aqui, compra um café descafeínado pra mim e aproveita e pega alguma coisa pra você.

— Eu já tomei café hoje, mas posso ir lá pra você sim. — Recebeu o dinheiro.

Lucas levantou-se, afastando-se do computador um pouco contrariado, pois queria ter tido mais tempo para vasculhar o cadastro de Marcus. Mas aproveitou a saída da livraria para respirar ar fresco e relaxar, já podendo sentir o aroma forte de café no ar.

Entrando na cafeteria novamente, percebeu que as mesas estavam cheias e correndo os olhos pelas pessoas, pode notar Marcus ali novamente, vendo que o moreno também percebeu sua presença e encarou-o, fazendo com que Lucas virasse a cabeça, fingindo não vê-lo.

Já estava se tornando comum para o loiro vê-lo por aí, por mais que ainda ficasse alterado quando o via, agora estava acostumando-se. Mesmo assim, não deixava de ficar em alerta, pois sabia que aquele homem poderia voltar a persegui-lo quando bem entendesse.

Lucas fez o pedido, sentindo suas mãos suarem enquanto segurava o troco, esperando o café ficar pronto. Notou pelo canto dos olhos que Marcus olhava demais em sua direção, tremendo na base quando viu que ele se levantava. A cada passo que ele dava, torcia para que o café de Alberto ficasse pronto, logo se arrepiando ao ouvir a voz familiar soar atrás de si:

— Quem é o maluco que bebe café descafeínado?

— Alberto, seu amigo. — Respondeu sem olhar de volta, pegando o pedido e dando-lhe as costas. — Deveria saber...

— Ei, espera... — Falou, segurando o loiro pelo antebraço. — Ele te mandou aqui?

— Sim. — Lucas disse, monossilábico, assim que seu braço foi solto.

— Vem, senta comigo, vamos conversar um pouco.

— Não.

— Por favor, eu queria te dizer uma coisa. — Marcus continuou.

— Eu sei qual é a sua, você vai inventar qualquer coisa só pra me prender. — Lucas encarou-o, fuzilando-o com o olhar. — Além do mais, tenho trabalho, ao contrário de certas pessoas.

— É só falar para o Al que estava comigo, ele vai entender. — Insistiu mais uma vez. — Além do mais, não é um assunto qualquer, na verdade é sobre o assunto que vocês conversaram sobre mim.

— O quê? — Lucas assustou-se, sem deixar transparecer o espanto.

— Eu sei que você perguntou de mim para ele, nada demais. — Ergueu os ombros. — Mas eu prefiro sanar a sua curiosidade pessoalmente.

— Você se acha demais, né? — O loiro debochou.

— Vem, não vou te morder. — Marcus sorriu. — A não ser que você queira.

— Babaca. — Respondeu, seguindo-o para onde antes ele estava sentado.

— Que milagre você não correr. — O moreno sentou-se, vendo-o se juntar à mesa.

— Não me deixe arrependido por aceitar seu convite. — Ergueu uma das sobrancelhas. — E eu espero voltar antes que o café dele esfrie.

— Tudo bem. — Abriu outro sorriso, dessa vez transparecendo um lado brincalhão que era novidade para Lucas. — E aí, você está bem?

— Deixa de papo furado, vai logo para o ponto. — O loiro suspirou.

— Eita, que objetivo. — Marcus riu baixinho.

— Se enrolar eu vou sair daqui.

— Foi mal, desculpa. — Levantou as palmas das mãos, em rendimento. — Bom... Primeiramente, quero pedir desculpas pela impressão que te passei e pelo jeito que eu vim agindo, sei que eu posso ter te assustado.

— Você “pode” ter me assustado? Você me assustou! — Lucas exclamou, logo abaixando o tom de voz novamente. — Mas de que isso vai adiantar agora, afinal? Tudo o que você já fez contra a minha vontade já não foi o suficiente? Você gosta de chantagear as pessoas emocionalmente ou é só comigo?

— É sério, eu não tenho o que dizer, eu sei que eu fui um cretino fazendo isso, mas é que... Você sabe, já tá bem claro.

— Não, não está nada claro pra mim, na verdade, tudo tá bem confuso.

— Eu sei que isso pode ser estranho, mas não importa o quão absurdo isso soe pra você, mantenha a calma. — O moreno pediu.

— Só me faltava essa... O que é?

— Eu quero ter uma chance com você, mesmo depois de tudo isso.

— O quê?! — Lucas arregalou os olhos, querendo que aquilo fosse uma brincadeira. — Você tá zoando, né?

O loiro viu-o suspirar e a expressão dele mudar, não demonstrando a confiança que sempre demonstrava. Seu coração estremeceu, não que Lucas quisesse admitir, mas havia ficado abalado com aquilo; tentou desviar seus olhos do dele, olhando para baixo, envergonhado pelo modo que respondeu.

— Eu te peguei de surpresa, né? — Marcus indagou, tocando as mãos do loiro sobre a mesa, cobrindo-a com os seus dedos gelados pelo nervosismo.

— Não sei qual é a sua intenção, mas seja lá qual for, saiba que eu não sou sua marionete. — Recolheu seu braço, tirando sua mão debaixo da dele.

— Olha, sei que é difícil, mas pensa um pouco nisso, eu venho conversar com você mais tarde, pode ser? Eu te pego depois do trabalho...

— Não, eu não quero. — Levantou-se, pegando o café de Alberto.

— É sério, eu preciso resolver isso com você, juro que te deixo em paz depois disso, me dê só mais uma chance pra tentar te explicar. — Marcus pediu, também levantando-se.

— Não sei, não dá...

— Por favor, só mais hoje.

— Você vai me deixar em paz depois disso? — Lucas mordeu o lábio inferior, receoso.

— Eu vou, eu prometo.

— Tudo bem, então... Mas só hoje.

— Eu venho te buscar, me espera.

Marcus sorriu, vendo-o se retirar da cafeteria após o trato, segurando seu impulso de dar um beijo naquela bochecha rosada do loiro, nunca sabendo se ele ficava vermelho pela vergonha ou por nervosismo, já que o mesmo parecia estar sempre estressado, além de viver bufando, o que ele, particularmente, achava uma graça.

Lucas andava pela livraria com as palavras do moreno em sua cabeça, não podia negar que tinha sido uma proposta irresistível, mas também não tinha como se esquecer de que aquele homem não parecia bater bem da cabeça, não era normal alguém aproximar-se de outra pessoa do dia para a noite e querer tanta proximidade.

Encontrou Alberto conferindo mercadorias, onde foi até ele, esticando seu braço para entregar-lhe o café.

— Desculpa a demora, encontrei o seu amigo por lá, ele me chamou pra conversar.

— O Marcus? — Pegou o café, vendo o loiro sacudir a cabeça positivamente. — E o que ele queria?

— Nada demais, só falamos sobre os livros. — Disfarçou.

— Aham, sei. — Olhou, semicerrando os olhos. — Vocês estão parecendo estranhamente próximos...

— Como assim? — Lucas rodeou a conversa, sentando-se em um banco dali.

— Esquece, deve ser só impressão minha. — Alberto soltou uma risada baixa.

— Por que tá dizendo isso? Ele te disse alguma coisa?

— Não, Marcus não me conta muito da vida pessoal. — Ergueu os ombros. — Mas se você quiser, eu pergunto.

— Não! Por favor, não se incomode, eu só estava curioso. — O loiro assustou-se. 

— Tem certeza?

— Eu não estou interessado nele. — Respondeu.

Mentia para si mesmo, pois Lucas sabia muito bem que sua curiosidade já não cabia em si, pois quando seu expediente chegava ao fim, olhava em seu relógio a cada mísero segundo. Pensava que estava ficando louco, não conseguia conter a ansiedade, ainda mais quando a hora de fechar se aproximava.

Percebeu que sua dor de cabeça finalmente estava dando uma trégua ao massagear suas têmporas. Enquanto isso, notou de soslaio que recebia um olhar de Camille, somente naquele momento dando-se conta de que a moça tinha lhe evitado o dia todo. 

Lembrou-se de que no dia anterior mesmo que estivesse facilmente manipulável por estar bêbado, não deixou que ela prosseguisse com o que queria fazer consigo, simplesmente negando os gracejos dela, dizendo sonoramente que era gay e que ela não poderia mudar aquilo. 

A expressão da moça era memorável, que fazia o loiro se esforçar para segurar a risada ao recordar-se. Ela havia lhe deixado marcas de chupão ao pescoço e parado ao chegar no zíper de sua calça. 

Ajudava os outros funcionários a fecharem as portas de metal de proteção, perdendo a esperança de que Marcus viria, principalmente quando todos haviam ido embora após trancar as portas por fora. Só tinha sobrado ele ali.

Olhou para as ruas, não via-o em lugar algum, então assim seguiu seu rumo com passos lentos e cansados pela calçada, estava sem ânimo e quase rastejava até o prédio. Quando já tinha avançado um quarteirão completo, percebeu um carro diminuindo a velocidade, aproximando-se da sarjeta, com o loiro sendo despertado por uma voz familiar que cumprimentava-o.

Marcus estacionou, descendo do carro e dando a volta por ele, abrindo a porta ao lado do motorista para que ele entrasse. Lucas riu com o gesto, entrando no luxuoso carro preto, com ele fechando a porta novamente.

— Me desculpe pela demora. — Deu a partida. — Achei que não aceitaria tão facilmente. 

— Só aceitei porque temos muita coisa para conversar. — Rebateu, colocando o cinto.

Sem precisar perguntar, Marcus pisou no acelerador, rumando ao apartamento de Lucas, só não ficaram totalmente constrangidos com o silêncio durante o caminho, porque o volume do rádio estava razoavelmente alto.

Ao chegarem, o coração do loiro disparou mais uma vez, por mais que quisesse conversar com aquele homem, algo lhe dizia que tinha sido arriscado demais ir tão longe. Descia do carro com pressa, caminhando na frente, dando passos rápidos, sem nem mesmo entender o porquê de estar fazendo aquilo.

Não que estivesse fugindo, mas Lucas temia a aproximação constante daquele homem, passando pela recepção e indo direto ao corredor, sem esperá-lo. Ouvia a risada de Marcus quando apertou o botão do elevador impacientemente. Ele alcançou-o, tendo que segurar a porta para entrar.

— Estava tentando se livrar de mim? — Perguntou, ao entrar.

— Não é isso, só não queria que ninguém me visse com você. — Ergueu os ombros, sentindo o elevador começar a subir.

— Se fizer isso de novo vou te obrigar a andar de mãos dadas comigo.

— Fala sério. — Riu, logo sentindo um baque abaixo de seus pés, notando que o elevador havia parado de subir. — O que foi isso?

— Relaxa, acontece às vezes.

— Ele não tá subindo, ele não tá subindo! — Lucas apertou incessantemente o botão do quinto andar.

— É só esperar um pouco, não precisa afundar o botão. — Segurou seu braço.

O loiro olhava tudo em volta, já procurando saída de emergência, olhando para a luz, tentando achar qualquer alarme ou coisa que ajudasse. Como se não bastasse estar trancado com Marcus, agora sentia-se sufocado, com a respiração descompassada, aumentando ainda mais seu nervosismo.

— Droga! Droga! Droga! Droga! — Gritava, tentando livrar-se dos braços do dele.

— Dá pra parar com isso, caralho?! Para de ser infantil!

— Me acalmar?! Foi sua culpa! — Soltou-se.

— Minha culpa?!

— Se você não tivesse impedido a porta do elevador, ele não teria parado de funcionar!

— Isso não tem nada a ver Lucas, você sabe que essas coisas precisam de manutenção, para de se estressar à toa! Não vamos morrer trancados aqui!

Logo sentiram outro baque, como se o elevador subisse pouco e logo parasse novamente de subir, onde as luzes começaram a piscar. O loiro sentiu uma de suas sobrancelhas tremer, virando-se novamente para Marcus.

— Eu te mato! — Exclamou, com raiva, fechando os punhos em seu tórax.

— Para, para com isso! — Segurou ambas as mãos do que mais parecia um pirralho.

— Como você pode ficar tão calmo com isso?!

A luz tornou a piscar e Lucas retirou seu celular de seu bolso, vendo que estava sem sinal, o que não era surpresa, pois a fonte de sua sorte já estava seca há tempos. Sua respiração tornou-se ainda mais falha e o elevador sem ventilação deixou-o ainda pior.

— Já acionei o botão de alerta, calma, vão nos tirar daqui.

O loiro levou sua mão ao próprio peito, não conseguindo respirar, murmurando:

— E-Eu não...

— Lucas, você tá bem? — Marcus segurou-o, sentindo-o mole, como se estivesse prestes a cair.

A expressão do moreno era irreconhecível, pois nos intervalos em que a luz piscava, era notável o ar de preocupação, suas sobrancelhas estavam curvadas, ainda perguntando o que ele estava sentindo, esperando uma resposta. Enquanto a respiração dele era curta e constante.

Quando conseguiu retomar pouco de suas forças, o loiro sussurrou:

— E-Eu... Tenho asma.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

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