Stranger escrita por Okay


Capítulo 46
Derretendo.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 14/11/2020



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Capítulo 46 — Derretendo. 

Os amigos receberam os cardápios e Rachel notou que Marcus não conseguia sequer disfarçar a ansiedade que sentia esperando ver Lucas. Ela não tinha esperança de que o amigo apareceria, mas era fofo ver um homem daquele tamanho agindo como uma criança.

Ao mesmo tempo, era triste, porque analisava o olhar esperançoso dele para a porta do restaurante várias vezes em um curto intervalo de tempo, vendo-o murchar toda vez que um desconhecido passava por ali. 

Ela estava de costas para a entrada, mas já sabia que era para lá que ele olhava, pois não precisou nem se virar para saber do que se tratava, vendo o rosto de Marcus se iluminar, não demorando muito para ouvirem:

— Oi gente, desculpe a demora. — Lucas falou, sorridente, sentando-se na cadeira disponível à frente de Marcus. 

— Relaxa, a gente nem pediu ainda. — Alberto se pronunciou. 

— Toma aqui, pode usar o meu cardápio. — Marcus lhe ofereceu o menu. — Já escolhi o que pedir. 

— Valeu. — Lucas aceitou, pegando o item das mãos dele. — E como você está? Melhorou?

— Eu tô ótimo. — Respondeu, sorrindo bobamente. 

— Que bom. — Sorriu de volta, agora desviando seu olhar para o cardápio. 

Rachel e Alberto observaram aquela troca de olhares e sorrisos tímidos, nem precisando dizer nada um ao outro para que confirmassem o que estavam pensando. Com ambos torcendo mentalmente para os dois. 

Fizeram os pedidos ao garçom, começando a falar das atividades que gostariam de fazer naqueles poucos últimos dias que restavam de viagem. 

— Vocês não podem ir embora sem fazer a excursão em pelo menos uma das ruínas maias que tem por aqui… — Marcus sugeriu. — Não é muito perto, mas a de Tulum dá pra ir em menos de duas horas de carro. 

— Eu fiquei mesmo com vontade de ir, dei uma lida sobre elas, mas não encontrei nenhuma excursão disponível, todas estavam fechadas. — Rachel falou, desapontada. 

— Eu conheço um cara que pode ser nosso guia particular, posso marcar com ele se quiserem. — Continuou. 

— Se você conseguir pra gente, eu com certeza topo. — Rachel falou. 

— E lá tem praia também, não tem? — Alberto quis saber. 

— Tem sim, inclusive Tulum é uma cidade boa pra se hospedar e fica próxima de outras ruínas. Já fiquei em um hotel por lá e gostei bastante. — Marcus confirmou. — Mas dá tranquilamente pra visitar e voltar no mesmo dia. Vou falar com o guia e depois confirmo com vocês. 

— Perfeito! — Ela se empolgou, juntando a palma das mãos, ansiosa. — Se der certo, eu já vou com um biquíni por baixo. 

— E eu posso confirmar pra nós quatro? — Marcus olhou para a pessoa à sua frente. 

— Pode, eu quero muito ir também. — Lucas respondeu, sorrindo carismático. — Vou levar a câmera, óbvio.

— E protetor solar. — Aconselhou. — Se possível chapéu ou bonés também. Se não tiverem, lá eles vendem de tudo, até sombrinhas… Porque esses passeios levam quase uma hora e agora no verão é certeza de que vai ser um mormaço. 

— Eu soube que tem, pelo menos, uns quatro sítios arqueológicos desses pelos arredores de Cancún. Você já foi em todos?— Alberto indagou-o.

— Já sim e gostei de tudo. O de Tulum é, de longe, o mais agitado.

Lucas observava Marcus falar sobre os passeios e se perguntava como seria aquela experiência. Não só pelas ruínas em si, mas também, porque sabia que sairiam juntos e seu coração se agitava só de imaginar aquelas paisagens com a companhia dele. 

Seus pratos chegaram e enquanto comiam, aquele assunto se prolongou. Fizeram outra pausa para pedirem as sobremesas e falaram um pouco mais sobre o que estavam achando da estadia em Cancún, das possibilidades de fazer um casamento em alguma outra cidade do México, estavam realmente encantados por todo aquele paraíso. 

O loiro falava pouco, observando os amigos animados. Também participava na conversa quando achava conveniente, mas assumia que ainda estava um pouco envergonhado pela presença de Marcus. 

Quando foram servidos de suas sobremesas, Alberto e Rachel comeram seus doces estranhamente rápido, não dando mais tanta importância para as conversas. Aparentemente estavam com pressa. Foi então que tudo começou a fazer sentido, com eles se levantando da mesa, dando uma desculpa esfarrapada de que precisavam ir embora.

Marcus e Lucas ainda estavam à mesa, estranhando o comportamento dos dois e se entreolharam quando eles foram embora.

— Eles não conseguem nem disfarçar. — O loiro iniciou, dando outra colherada em seu tiramisù.  

— Não mesmo. — Riu com ele, tomando uma dose do café que acompanhava seu bolo de chocolate amargo. — Mas eu fiquei feliz que você veio jantar, achei que não te veria hoje. 

— Eu pensei muito nisso, na verdade. — Lucas afirmou, olhando para o seu prato agora vazio. — Quase não vim.

— Que bom que mudou de ideia. — Abandonou a xícara. — Você quer dar uma volta?

— Agora? — O loiro ergueu o olhar. 

— É. 

— Pode ser. — Respondeu, envergonhado. 

— Vamos. — Levantou-se. — Já tá tudo na minha conta. 

— Tá querendo me impressionar, é? — Lucas deu a volta na mesa, se encontrando com ele do outro lado. 

— Só um pouquinho… 

Foram juntos à porta e o loiro esperou que saíssem do restaurante, para assim tocá-lo no braço, com Marcus percebendo que ele queria andar junto a si, dobrando o antebraço para caminharem entrelaçados. 

— Como passou o seu aniversário ontem? — Perguntou, depois de um tempo andando, chegando ao saguão. 

— Foi mais ou menos. — Revelou sinceramente. — Eu assumo que não consegui aproveitar muito. 

— Quer se sentar aqui? — Marcus indagou-o, assim que chegaram à sala próxima do hall de entrada, com os sofás de espera e as grandes janelas que refrescavam o ambiente. 

— Pode ser. — Aceitou ao ver que não tinha mais ninguém no cômodo, sentando-se ao lado dele. 

— Eu vi que está usando o colar. — Olhou para o interior da gola da camisa que ele usava. 

— Ah, é… eu gostei mesmo dele. — Lucas sorriu timidamente, desviando o olhar.

— Mas me fala, por que não conseguiu aproveitar seu aniversário?

— Você sabe o porquê. — O loiro encarou-o hesitante. — Eu fiquei o dia todo pensando no que eu fiz…

— Sobre isso, olha, você não precisa se preocupar. — Marcus adiantou-se. — Não pense que tem que me dar uma explicação, nem nada do tipo… Eu gostei? É óbvio que sim! Mas se você não estiver pronto pra lidar com isso, eu entendo totalmente.

— É sério? — Perguntou, aliviado. 

— É claro que é. — Falou, vendo que Lucas ainda parecia dividido. — Eu só quero que você consiga aproveitar a sua viagem e que leve boas recordações. 

— Isso eu vou, com certeza. — Sorriu envergonhado. 

— Fica tranquilo, tá? Eu vou continuar fingindo que não tô pirando por dentro e a gente continua numa boa, sem precisar falar do que aconteceu. Aí amanhã a gente pode só se preocupar com o passeio. — Marcus roubou uma risada baixinha dele. — Inclusive, vou mandar uma mensagem para o guia, antes que eu me esqueça. 

Lucas observou-o naqueles primeiros minutos, vendo-o tirar o celular do bolso e escrever a mensagem. Se pegou analisando a expressão dele enquanto digitava, admirando cada linha de seu rosto, sem saber como podia existir um homem tão bonito assim.

— Pronto. — Sorriu. — Ele acabou de responder, disse que topa fazer o passeio e quer saber se pode ser às nove. 

— Pra gente já sair às nove ou antes? — O loiro quis saber.

— Antes, eu vou alugar um carro pra gente ir e nos encontramos com ele lá, já que ele é de Tulum. Acho que temos que sair daqui umas sete.

— Por mim pode ser, acho que o Al e a Rachel disseram que não tinham nada planejado, então pode confirmar, eu aviso eles. 

— Tá ótimo, então. Confirmado — Guardou o celular de volta. 

— Eu tô empolgado pra ir, tenho certeza que deve ser lindo por lá. — Lucas sorriu envergonhado, encarando-o. 

— E é mesmo. 

— Que roupa que eu tenho que ir?

— Roupas frescas. Bermuda, uma camisa leve, se quiser nadar você pode ir com sunga por baixo ou levar roupa para trocar lá. — Marcus afirmou, vendo-o sorrir satisfeito. — E eu sei que mesmo sendo calor você ainda não deixa de tomar café, então você tem que ir numa cafeteria que tem próxima da entrada da zona arqueológica onde ficam as ruínas. 

— Você me leva lá? 

— É claro que sim. — Declarou, vendo-o totalmente tímido. 

— Bom, então eu já vou indo. — Olhou as horas no relógio da sala. — Já tá dando nove horas e já que temos que acordar cedo amanhã, melhor eu ir dormir.

— Vamos. — Levantou-se do sofá com ele.

Marcus percebeu que ele quis caminhar lado a lado novamente, entrelaçando seus braços mais uma vez. Sorriu com aquele gesto, lembrando-se que estavam indo devagar, mas que não era um mau sinal. 

Foi ao elevador com ele, pensando no dia de amanhã, sabendo que se ele gostasse do passeio, tinha uma alta chance de Lucas continuar desenvolvendo algum possível sentimento por ele, torcendo para que até o final da viagem, pudessem, pelo menos, ficar um pouco mais próximos. 

E enquanto tinha isso em mente, Marcus observou a porta do elevador se fechar e acordou dos seus devaneios com seu pescoço sendo agarrado bruscamente pelo loiro e puxado para um beijo apressado. E daquela vez, não era apenas um selinho.

Lucas sabia que não era o único confuso, mas seu coração falou mais alto, se manifestando com aquele impulso. Ainda colado ao corpo dele, subiu as mãos pelas suas costas, sendo o primeiro a aprofundar o beijo, não só invadindo a boca dele com sua língua, como também abrindo ligeiramente os lábios para recebê-lo. 

Sentiu um calafrio percorrer todo seu corpo, ao ter Marcus lhe explorando, não só no beijo, como agarrando a lateral de seu quadril, firmando seus dedos ali. O loiro arqueou as costas, grunhindo, ainda com os lábios dele sobre os seus, movimentando-se no mesmo ritmo. 

Lucas não conseguia distinguir o que sentia, porque não estava sequer pensando, deixando que toda a sua razão fosse para longe, voltando a provar o gosto amargo de café residual da boca dele. 

Os braços de Marcus subiam por aquelas costas que tanto amava tocar, ao mesmo tempo que o rapaz se afastava para analisar em qual andar estavam e, conforme o visor, ainda faltavam seis. Por estar olhando ao lado, o loiro agora sentiu a respiração quente colada em seu pescoço, gemendo baixinho com os arrepios dos beijos que recebia naquela região, ficando com as pernas mais bambas do que já estavam.

Lucas suspirou, encarando-o quando ele abandonou seu pescoço, antes de puxá-lo mais uma vez. Beijou-o com vontade, mordiscando seu lábio inferior de leve, brincando com sua boca até soltá-lo de mansinho, trocando outro olhar com ele, vendo o rosto de Marcus colado ao seu, enquanto a porta se abria ao lado. 

O loiro encarou a expressão apaixonada à sua frente uma última vez, antes de sussurrar:

— Até amanhã. 

Marcus viu-o se afastar, deixando seus braços vazios e seu peito queimando.

Com tudo isso tendo acontecido, precisava chegar logo ao quarto, correndo com pressa pelo corredor. Entrando na suíte, arrancou as roupas e foi para baixo do chuveiro, seu corpo todo estava ardendo e pedindo alívio, fazendo o que seus instintos pediam. O banho teve que esperar, enquanto mordia o lábio inferior para conter os gemidos. Lucas jogou a cabeça para trás, apoiando as costas nos azulejos para não cair, totalmente fraco e desorientado, mas aliviado.  

Se enxugou e foi ao quarto, vestindo apenas a roupa íntima antes de se deitar. Não sabia se ria ao se recordar de tudo o que aconteceu, porque era engraçado pensar que poucos minutos antes de entrarem no elevador, tinham concordado juntos em relevar o fato acontecido, e depois, seu coração lhe contrariou, se decidindo por conta própria. 

Não entendia bem como aconteceu, mas apenas se lembrava de ter sentido seus batimentos acelerarem e não querer se despedir dele. Não queria se afastar e, ao ficarem a sós, foi tudo o que conseguiu fazer para sanar aquela vontade.

Levou as mãos para cobrir o rosto, não estava se sentindo culpado pelo o que fez, mas não sabia com que cara iria enfrentar ele no dia seguinte. Mesmo assim, sabia que dali em diante já tinha a resposta que queria, só precisava deixar claro para ele os seus sentimentos. 

Respirou fundo, lembrando-se de que precisava avisar os amigos do passeio, mandando mensagem, agradecendo mentalmente por terem respondido rápido, confirmando que mudariam o horário do despertador. 

Também colocou seu celular para tocar mais cedo, jogando-o ao lado em seguida, logo vendo uma peça de roupa que não era sua. Pegou o moletom de Marcus, puxando para perto, fungando, com saudade daquele cheiro que já estava leve no tecido, mas forte em sua memória.

Permaneceu com suas lembranças e foi assim que pegou no sono, ainda abraçado com a blusa. 

 

Quarta-feira, dia 17 de julho de 2013. 

Não queria levantar da cama, não só pelo sono, como pela vergonha que ainda sentia, sabendo que dali pouco tempo ficaria frente a frente com o homem que estava embaralhando todos os seus sentidos. 

Se arrastou para um banho, ligando o chuveiro e lavando o sono de seu corpo. Sabia que não tinha nada para se envergonhar, mas não era tão fácil aceitar que não podia mais ignorar o que sentia. 

Se arrumou, escolhendo um conjunto de praia de linho, fechando os botões da camisa de manga curta enquanto se olhava no espelho. Colocou os tênis brancos, da mesma cor que a combinação fresquinha que tinha vestido, estava charmoso, mesmo com os olhos ainda inchados por ter acordado há pouco tempo.

Arrumou os cabelos, passou perfume e pegou a bolsa da câmera, conferindo as mensagens do celular, vendo que Rachel levaria o protetor solar em sua bolsa. Esperou que os amigos passassem no seu quarto para descerem juntos para o café, eram seis e meia quando foram ao elevador. 

Para o desespero do loiro, os três se depararam com Marcus chegando ao salão do café, sorrindo ao vê-los. Lucas tentou não atrapalhar-se, se aproximando aos poucos, vendo os amigos conversarem com ele, enquanto se mantinha alguns passos atrás. 

Rachel e Alberto pegaram os pratos para se servirem e Lucas foi ao café, sendo seguido por quem mais temia conversar. 

— Você tá lindo. — Marcus iniciou, pegando uma xícara logo após o loiro.

— Obrigado. — Sorriu, olhando-o discretamente. — Você também. 

— Dormiu bem? Eu dormi igual a um neném. — Provocou, esperando-o se servir. 

— Depois a gente conversa, tá? — Pediu, com o café em mãos, sem coragem pra falar sobre o que aconteceu. 

— Tá, tá bom. — Aceitou, vendo-o se retirar. 

Pela primeira vez em doze dias de viagem, os quatro se sentaram juntos para o café da manhã. Alberto e Rachel perceberam que os outros dois mal se encararam enquanto comiam e também não falaram mais do que o básico. O que deixou os noivos confusos e sem entender da situação, já que no jantar da noite anterior estavam aparentemente bem.

Ficaram curiosos para saber o que houve nesse meio tempo, mas não comentaram nada. Seguindo viagem, entraram no carro que Marcus havia alugado e, como já tinha a carteira de motorista do México, estava habilitado a dirigir por lá, mesmo que não tivesse seu próprio carro no país. 

Alberto e Rachel se sentaram atrás. E apesar de envergonhado, Lucas se sentou no banco ao lado do motorista, deixando a bolsa da câmera em seus pés. A viagem não seguiu silenciosa, mas os dois amigos no banco de trás se esforçavam para reunir assuntos naquela uma hora e quarenta de estrada. Já estavam até cansados de arranjar o que falar ao chegarem, se rendendo na última meia hora para apenas ouvirem música, sabendo que aqueles dois não estavam a fim de papo. 

Estacionaram em um estacionamento improvisado no acostamento de uma estrada vicinal próxima à praia, vendo muitos outros carros parados ali. E ao pegarem tudo do carro, andaram pouco até chegarem na entrada da região das ruínas, vendo o centro comercial ao redor, com barraquinhas de artefatos; banheiros; lojas de conveniência e um quiosque de informações e mapas. 

— Você quer ir naquela cafeteria que comentei com você ontem? — Marcus se aproximou de Lucas, o perguntando. 

— Quero. — O loiro aceitou, encarando-o finalmente. 

— A gente vai ali dar uma olhada nas bugigangas, então. — Rachel falou após ouvir os dois conversarem, querendo deixá-los sozinhos por um momento. — Vem comigo, Al… 

Marcus abriu um sorriso, sabendo que outra vez ela queria colaborar para que tivesse um tempo sozinho com Lucas, que agora caminhava ao seu lado. Puderam ver dali algumas quadras o estabelecimento que procuravam, uma pequena e charmosa lanchonete. 

— Desculpa, eu não queria que ficasse essa situação chata. — Lucas falou primeiro, assim que entraram na cafeteria. 

— Tá tudo bem. — Sorriu envergonhado. — Eu só queria saber como eu posso agir com você agora. Eu ainda tô perdido, não sei o que fazer, não quero que fique desconfortável, nem nada. 

— Você pode fazer o que quiser. — O loiro deu de ombros. — Não precisa pensar muito. 

— O que eu quiser? — Indagou sugestivamente, abaixando próximo ao ouvido dele. — Tira essa roupa agora. 

— Engraçadinho. — Ergueu uma das sobrancelhas, tentando segurar a risada. — Isso não.  

— Então tá. — Sorriu alegre, aproximando-se outra vez, lhe dando um selinho. — Pronto, é o que eu queria. 

Lucas não podia falar que não esperava aquilo, mas não conseguiu evitar abrir um sorriso tímido, encaminhando-se à fila, ao lado dele, pedindo um expresso. Marcus também pediu o mesmo e quando se retiraram, encontraram com os amigos do lado de fora, indo até onde o guia os esperava, próximo à bilheteria, para comprarem as entradas do acesso às ruínas. 

Enquanto passavam o protetor solar, o guia se apresentou com um inglês marcado de sotaque, mas totalmente compreensível; ele se chamava Alejandro e agora começava a contar a história do estado de Yucatán e das ruínas, levando-os pelo caminho, onde paravam para tirar algumas fotos. 

Lucas fazia imagens das estruturas quase milenares e depois se oferecia para tirar fotos dos amigos juntos. Depois de ver Rachel e Alberto posando pra foto e voltando para ver o resultado, perguntou a eles:

— Tira uma foto nossa também? — Indagou-os, surpreendendo Marcus.

— De vocês dois? — Rachel quis confirmar, vendo o amigo assentir. — É claro! 

Alberto encarou a situação tão surpreso quanto o velho amigo, sem nada a comentar. O loiro pousou uma das mãos sobre o peito de Marcus, ficando de lado para a foto, esperando até o sinal da amiga para voltar a se mexer. Após isso, Lucas analisou a câmera, mostrando-a também para o seu companheiro na foto, que disse:

— Acho que é a nossa primeira foto juntos. 

— É verdade. — O loiro sorriu. — E eu vou querer tirar mais.

Continuaram o passeio, com Alejandro apontando cada arquitetura e contando o que houve com aquela região, dando mais um tempo antes de continuarem, com mais pausas para fotos. Rachel e Alberto estavam com a posse da câmera agora, andando à frente do mais recente casal, que mesmo ouvindo o guia, só pareciam ter olhos um para o outro. 

Subiram algumas escadas para admirar a vista do litoral dali, a junção das ruínas com a praia tornava a paisagem um paraíso medieval. Olhavam tudo ao redor, com Alejandro apontando os caminhos à frente, finalizando toda a trajetória do que tinha contado, com o passeio guiado acabando, tendo levado um pouco mais de quarenta minutos para conhecerem tudo e ouvirem as explicações. Se despediram do homem carismático, que finalizou dando dicas de onde tirar mais fotos e onde deviam ir comer. 

Rachel cutucou o noivo ao perceber algo, apontando um pouco distante dali, com Lucas sendo abraçado pelas costas por Marcus, enquanto aparentemente olhavam a praia no litoral, conversando tranquilos. Ela preparou a câmera e tirou a foto sem que vissem, dando um sorriso ao perceber que tinha ficado ótima, conseguindo pegar outras imagens fofas dos dois, sendo uma delas, de um beijo rápido que deram.

Rumaram às escadarias em meio aos relevos rochosos, descendo até a praia, com Lucas ficando encarregado de cuidar das coisas de Rachel enquanto ela ia à água por estar com um biquíni por baixo do vestido que usava, e Alberto também deixou as roupas para trás, com um short de praia por baixo da bermuda, indo para o mar com a noiva.

O loiro fez companhia para Marcus, que não queria arriscar se molhar por ainda estar se recuperando da dor de garganta recente. Então aproveitariam aquele momento para conversar, sentados sobre as rochas não muito próximas da margem. 

— Você bem que podia ficar mais… — Iniciou, chamando a atenção do loiro.

— Hã? — Lucas quis entender. 

— Fica mais alguns dias aqui comigo em Cancún, uma semana ou duas, um mês… 

— Um mês? — Riu da proposta. — Eu não tenho dinheiro pra tudo isso.

— Se esse for o único impedimento, isso não é um problema pra mim. 

— E de onde você tira tanto dinheiro, afinal? Você está morando num hotel há meses e bancou toda a nossa vinda pra cá… Pelo o que eu saiba, você nem trabalha.

— Como assim eu não trabalho? — Marcus riu, brincalhão. — Bom, já que você tá com essa dúvida, assim que a gente voltar pra Cancún, eu te mostro o meu trabalho.

— É sério? Tô curioso agora… o que você faz?

— Chegando lá, você vai ver.

Ficaram observando o litoral, apoiados um no outro, sentindo a brisa fresca e vendo os dois pombinhos brincarem juntos na água. Esperando até que terminassem, indo almoçar com eles antes de pegar estrada novamente. 

Lucas não aguentava mais de ansiedade, o caminho todo tinha sido torturante e apenas queria saber o que Marcus tinha para lhe mostrar, se perguntando se ele havia falado daquilo para Alberto, já que o amigo nunca comentou de nada consigo antes. Pararam de volta no hotel, avisando os amigos de que dariam uma volta, deixando-os e partindo para o que o loiro esperava tanto para ver. 

Foram se afastando da zona hoteleira e entrando nas regiões mais arborizadas, apesar de distante, estavam em um belo local. Lucas apenas conseguia se perguntar internamente para onde estavam indo, chegando em um galpão que parecia abandonado.

— Por favor, não vai me falar que tem uma banheira cheia de gelo me esperando pra você arrancar meus órgãos, né? — O loiro afirmou, retirando o cinto de segurança. 

— Engraçadinho. — Puxou o rosto dele para lhe dar um beijo rápido. — Aqui é o meu trabalho, é onde guardo os artefatos da minha loja virtual. Eu tenho um antiquário. 

— Antiquário? — Lucas indagou sem entender, descendo do carro com ele. 

— Vem ver. 

Marcus caminhou com ele até o portão enferrujado da entrada, buscando em um dos cantos, uma chave reserva que deixava escondida por ali. Abriu o cadeado e tirou a corrente, liberando a entrada, ligando a luz para entrarem. 

— Aqui está. 

Lucas olhou tudo ao redor, vendo velharias, desde carcaças de automóveis; placas antigas; itens de decoração diversos espalhados e móveis despencando. Sua própria expressão esboçava um grande ponto de interrogação, que fez com que Marcus começasse a dizer:

— É aqui que eu lavo o meu dinheiro. 

— O quê? — O loiro encarou-o sem entender.

— Eu quero que tudo esteja totalmente esclarecido entre nós e você precisa saber disso. Eu saí dos Estados Unidos com três milhões de dólares em espécie, de todos os anos que guardei pra minha fuga… Eu não poderia usar esse dinheiro sem declarar, então é aqui que tudo acontece. — Andou para detrás de um balcão improvisado, pegando pastas. — Aqui estão as minhas notas fiscais, contratos, boletos… Tudo burlado, é claro. Meus compradores são fictícios e o bom de se trabalhar com esse tipo de coisa, é que o valor é estimado, não existe nada que você não possa transformar e aumentar o preço por ser um artefato antigo e procurado… É claro que não trabalho com relíquias, porque isso envolveria autenticar objetos, mas… é do melhor jeito possível. Eu não faço grandes movimentações de uma vez pra não levantar suspeitas, então provavelmente vou manter esse local por mais uns dois anos. 

— Três milhões? — Foi tudo o que Lucas conseguiu falar, sem digerir totalmente aquelas informações. 

— Eu sei, é muito. — Admitiu. — Mas nos últimos dez anos, foi quando eu mais guardei, eu passei a ganhar cinquenta mil, tirava metade e guardava, o resto eu fazia o mesmo por lá. Eu tinha uma empresa para tornar o dinheiro lícito e depois o usava normalmente. 

— Cinquenta? — O loiro falou, sem fôlego. — E eu ralando pra ganhar dois mil ao mês… Isso é uma loucura. 

— Não é um absurdo, o próprio Lars ganhava uns cento e trinta, no mínimo… eu sei que pode parecer assustador, mas foi como eu tive que me manter pra poder sair disso um dia. Foi tudo mudando de nível. — Explicou, vendo-o parecer amedrontado. — E eu tô feliz que finalmente estou aqui, fazendo o meu plano B, longe de tudo aquilo… 

— Marcus, fala sério… — Lucas olhou ao redor, não reparando que tinha o chamado do nome verdadeiro, sentindo um arrepio ruim. — Não tem como isso dar certo. 

— É claro que tem, tá indo tudo bem por aqui! 

— Não, não com você… — O loiro declarou, sentindo um nó na garganta. — O que a gente tá fazendo? Quem eu tô querendo enganar? 

— Eu sabia que você ia ficar desapontado, mas eu precisava te mostrar isso, era a única coisa que faltava pra você saber absolutamente tudo de mim. — Assumiu, totalmente aberto. — Eu não tenho mais nada a esconder… 

— Não, Marcus… — Suspirou, agora encarando o chão. — Não dá. Eu não posso continuar com isso, me desculpa por ter te confundido, eu achava que podia fazer isso… Só me leva pro hotel, por favor. 

— Lucas.

— Não! Não tenta me explicar nada. — Pediu, tentando controlar a vontade de chorar. — Eu quero ir embora. 

Marcus se sentia um monstro, não gostava da sensação de ter sido o responsável por ele ter ficado tão alterado, querendo interromper todas as coisas boas que estavam tendo e que possivelmente teriam no futuro. Seu peito se contorcia em uma dor conhecida, uma velha amiga que queria voltar para o assolar com seus pensamentos mais sombrios. 

Até tentou pensar que poderia estar revelando aquilo para ele cedo demais, ou com a abordagem errada, sabendo que talvez seria diferente em outra circunstância. Mas a verdade mais difícil e dolorosa de aceitar, era que Lucas não seria capaz de amar um criminoso como ele. 

 

 

 


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Notas finais do capítulo