Stranger escrita por Okay


Capítulo 38
Destino.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 24/10/2020



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Capítulo 38 — Destino.

— Eu juro que eu chorei quando vi você de beca andando ao som de “pompa e circunstância”, não consegui segurar! — Rachel revelou para Lucas, apertando a bochecha dele.

— Eu posso provar, tirei uma foto dela chorando. — Alberto revelou, fazendo o amigo rir.

— Depois me mostra isso! — O loiro pediu, apontando pra câmera que estava em cima da mesa.

— Ah, Luke... A gente tem um presente pra te dar. — Rachel iniciou, abrindo sua bolsa, pegando uma pequena caixinha de dentro.

— Eu sei que não é o convencional, mas levei a Rach pra escolher o anel de noivado e acabamos vendo uns anéis de formatura na loja. Então escolhemos um pra você... — Alberto continuou, com ela entregando a caixinha ao loiro.

— Espero que goste. — Ela sorriu ao ver a expressão surpresa do amigo.

— Meu Deus... — Lucas falou, ao abrir a caixa e encarar o anel de ouro com uma pedra vermelha.

— O rubi é a pedra do Jornalismo. — Rachel explicou. — E eu achei perfeito.

— Eu não sei nem o que falar... que coisa mais linda. — Lucas pegou o anel delicadamente, experimentando-o.

— O tamanho ficou bom? — Alberto indagou.

— Ficou perfeito, gente. — Respondeu, ainda admirado pela joia. — Vocês não precisavam ter feito isso...

— Para com isso, na hora que vimos sabemos que tinha sido feito pra você... é delicado, elegante. Eu sabia que ia combinar. — Ela admirou-o, o vendo reluzir de felicidade.

— É lindo demais... eu nem sei como agradecer. — O loiro esticou seus braços sobre a mesa para alcançá-los, apertando a mão de cada um, sorrindo. — Muito obrigado, mesmo. Não só pelo anel, mas também por todo o apoio e amizade, eu não estaria aqui senão fosse por vocês...

— Ownt, a gente te ama! — Rachel apertou os dedos dele, com um sorriso largo.

— Você nem tem que agradecer. — Alberto completou.

Já estava de noite quando chegaram em casa, cansados por terem comemorado durante a tarde toda. O evento tinha sido ótimo, com muita bebida, comida boa e músicas animadas.

Subiram ao elevador juntos e ao se encontrarem no andar, Alberto sabia que tinha chegado o momento de conversar seriamente com o amigo, tendo que lhe contar sobre o que se passava em sua cabeça durante os últimos dias.

— Lu, a gente queria falar com você um instante, sobre a nossa festa de noivado.

— Tá bom, por que vocês não entram e eu faço um café? — Lucas convidou-os ao seu apartamento.

Assim que entraram, ligou a cafeteira e colocou o pó, esperando para que coasse totalmente antes de pegar as canecas e levar aos amigos, colocando um pacote de cookies sobre a mesa de centro da sala.

— E então, o que vocês estão planejando? — Lucas perguntou, dando um gole no café recém-preparado.

— Então, já escolhemos o local da festa. — Alberto iniciou, depois de trocar um olhar sério com Rachel. — Mas não é aqui, é no México, em Cancún, especificamente.

— Sério? — Lucas arregalou os olhos. — Vocês falavam que ia ser algo simples, mas pelo jeito vai ser uma festa chique!

— Um pouco, sim. — Alberto sorriu. — A gente conversou durante essa semana sobre isso e com nossas famílias também, eles vão estar lá. Mesmo assim, esse não é o ponto principal do que eu queria te dizer, Lu... O que eu queria te falar é que Marcus está lá, pelo visto era onde ele estava todo esse tempo. Ele mandou passagens e quer que a gente vá ver ele.

— O quê? — O loiro perdeu a expressão animada que carregava.

— Eu sei, sei que é informação demais pra processar, mas eu espero que você possa ir pra Cancún com a gente mesmo assim.

— Vocês vão fazer festa de noivado em Cancún só porque o Marcus está lá?! — Lucas incomodou-se, encarando-os, vendo que Rachel deixava a caneca de lado, prestes a dizer algo.

— Não, Luke, não é isso. — Ela iniciou. — Alberto não teve essa ideia por conta das passagens que recebeu dele, mas sim quando ligou para avisar a família do nosso noivado e que estaríamos indo pro México. Eles deram essa ideia da festa por lá porque moram por perto, então não é pelo Marcus que decidimos isso.

— Ah. — Expressou, sem saber mais o que diria.

— E eu quero muito que você vá, por favor... — Alberto pediu. — Eu sei que isso envolve ter que ver ele em algum momento, mas eu quero que você esteja com a gente no nosso dia especial...

— Tá. — Lucas respondeu inexpressivo.

— Você vai? — Rachel quis saber, curiosa com a reação dele.

— Eu sabia que esse dia chegaria, se não fosse na festa de noivado de vocês, seria no casamento e assim por diante. Eu sei que ele faz parte da sua vida, Al. — Lucas deu de ombros. — Eu só não gosto da ideia de ir pra lá com a passagem comprada por ele.

— Eu sei, posso imaginar. — Alberto compreendeu-o. — Mas eu vou ficar muito feliz mesmo se você estiver lá com a gente. Até cogitamos em fazer uma segunda festa aqui em Nova York para caso você não fosse.

— Que exagero! Eu não sou tão importante assim! — O loiro sorriu envergonhado.

— É claro que é, deixa de besteira! — Rachel exclamou, discordando.

— Mas pode deixar, eu vou dar o meu melhor por vocês, vou fazer o possível pra não pegar ele na porrada. — Lucas falou, fazendo-os rirem, mal sabendo eles que aquilo era plena verdade.

— Isso me deixa aliviado. — Alberto continuou. — Bom, amanhã eu te entrego a sua passagem, tá? A data da viagem tá marcada pra daqui umas duas semanas, dia cinco de julho.

— Nossa, já tá perto. — O loiro espantou-se.

— Está mesmo! — Rachel concordou. — Mas tudo acabou se encaixando tão bem que foi inevitável. Foi uma surpresa até pra gente.

— Você vai poder ir mesmo, Lu? — Alberto quis ter certeza, vendo-o ligeiramente incomodado.

— Posso, posso ir sim, tá tudo bem. — Lucas concordou, disfarçando seu desconforto, sentindo um frio na barriga por saber que estava tão próximo. — E quanto tempo vamos ficar lá?

— Bom, o plano é ficar uns quinze dias, no mínimo. — Alberto respondeu. — Você tá bem mesmo com isso tudo? Você pode ficar menos tempo se preferir...

— Fica tranquilo, Al. Tá tudo bem. — Sorriu. — Sua festa vai ser linda e eu vou estar do lado de vocês.

Exatamente uma semana se passou e Alberto mandava as fotos de seus presentes para Marcus, um par de abotoaduras de ouro que ganhou de Lucas e sapatos sociais de couro italiano vindos de Rachel. Haviam comemorado em seu restaurante preferido e tudo tinha sido perfeito, exceto pela ausência do amigo.

Já estava tudo confirmado para a viagem da próxima semana, o hotel já havia sido reservado para os três, assim como o salão de festas para o noivado. Marcus tinha pensado em todos os detalhes e queria garantir que eles ficassem confortáveis, desde a chegada, até o último dia da estadia.

Sua angústia não duraria mais muito tempo, não suportava a distância de seu melhor amigo e a saudade dele quase lhe matava a cada dia. Como se não bastasse, ainda precisava lidar com a ansiedade de saber que Lucas também viria, antes uma possibilidade remota, agora tinha certeza de que ele estaria presente e isso remexia com todos os seus nervos, era emoção demais para lidar.

Tinha sido limitado em todas as doses de bebida alcoólica que ingeria com a ajuda de Angela e estava sendo difícil passar por aquela abstinência, não conseguindo controlar-se todos os dias, principalmente por não ter mais o incentivo dela por estarem afastados desde o corte que deu na relação que tinham.

Estava disposto a encontrá-la, precisava das palavras dela e de alguém para conversar. Ela era quem mais lhe ajudou nos últimos meses e esteve presente sempre que precisou, precisava dar valor na amizade que tinham construído.

Sabendo que ela estava trabalhando naquela noite, foi ao bar do hotel e se aproximou do balcão, apoiando seus cotovelos sobre ele, roubando a atenção dela ao chegar.

— Oi, Mark. — Angela caminhou até ele, curiosa.

— Senti saudades. — Iniciou, fazendo-a sorrir.

— Eu também, a gente disse que continuaria a se falar, mas não foi o que aconteceu...

— Eu sei, estive pensando em muitas coisas nos últimos dias, eu fiquei devendo.

— Eu não te procurei, então também tenho uma parcela de culpa nisso. — Ela amenizou. — Mas está tudo bem com você?

— Pra ser sincero, até pensei em beber um pouco hoje, mas era como se eu ouvisse o seu sermão no fundo da minha mente, então decidi não fazer isso escondido como antes. — Marcus assumiu, fazendo-a rir. — E você?

— Na medida do possível, estou bem. — Ela respondeu, vendo um cliente se aproximar. — Só um instante.

Marcus observou enquanto ela preparava um drink para o homem que esperava, admirando a velocidade com que ela trabalhava, sempre com boa postura e simpática. Assim que terminou, o cliente saiu com seu drink e se encontraram a sós novamente.

— E então, você tá parecendo distraído... — Ela pontuou, vendo-o olhar para longe. — Tá acontecendo alguma coisa que queira me contar?

— Ele tá vindo. — Falou, ainda sem encará-la.

Angela percebeu que os olhos dele pareciam ligeiramente distantes, mas sabia bem o que aquela expressão indicava. Parecia como um cachorrinho perdido à espera do dono e carregava um olhar tão significativo, que fez com que seu peito doesse, principalmente porque ele nunca tinha olhado assim para ela.

— Isso é bom, né? — Ela forçou um sorriso.

— Eu vou pegar eles no aeroporto no dia cinco.

— Já tá chegando, então... Você deve estar animado.

— Eu estou, não paro de pensar nisso. Até andei preparando algumas coisas pra quando eles chegassem. — Assumiu, sorrindo. — E também estou feliz, porque o Al pediu a Rachel em casamento e eles escolheram dar a festa de noivado aqui, então eu reservei o salão do hotel pra eles.

— Ah, então a festa que vai ter é dele... — Ela raciocinou em voz alta. — Me escalaram pra um evento, acho que provavelmente vou trabalhar servindo no noivado.

— Então você vai conhecer ele. — Marcus afirmou, vendo-a parecer surpresa.

— Não sabia que tinha contado de mim pra ele.

— Contei, ele sabe que você é minha única amiga aqui.

Ela sorriu, sem saber se ficava feliz com aquela informação, “amiga” não era bem a palavra que gostaria de ouvi-lo dizendo, mas também sabia que ter algo além daquilo não era uma possibilidade, principalmente quando ele estava prestes a ver quem tanto sonhava.

Angela não podia negar que ainda alimentava os sentimentos por ele, era difícil desapegar depois de terem passado por tanta coisa. Quando o conheceu, não imaginava que suas noites de diversão resultaria naquilo, em uma amizade que cresceria e faria que ela o olhasse com outros olhos.

Tinham um trato desde o início e nunca recebeu cobranças por parte dele. Ela sempre teve a certeza de que estavam juntos para curtirem sem amarras, mas conforme o contato ficava cada vez mais frequente, era ela que estava ali sempre que ele precisava. Principalmente quando ele viu-se afundando em um vício eminente.

Angela nunca quis nada em troca ao permanecer ao lado dele enquanto via seu estado piorar e enquanto tentava-o tirar do fundo do poço. Logo depois de se conhecerem, Mark sempre costumava aparecer coberto por uma angústia tremenda e se recusava a dizer o motivo, sempre falando que era tudo impressão dela.

Não demorou até que os pedidos de drinques ficassem cada vez mais rápidos, entre um e outro. Quando deu por si, estava lidando com alguém afundado no alcoolismo. Sempre que chegava para trabalhar, Mark já estava lá, bêbado e esperando por ela.

Durante essas crises, ele finalmente lhe contou quem era o motivo de sua amargura. Ciente disso, ela tentou a todo custo mudar o rumo das coisas, fazê-lo esquecer um pouco aquele que tanto machucava seu coração e, indiretamente, seu corpo.

Em poucos meses, ela percebeu que seria capaz de fazer tudo por ele, tendo ficado ao lado dele em todo o pico de seu estresse de abstinência, doente e sem ânimo para mudar aquela situação, o que não era fácil.

Por vezes, Mark se demonstrava até agressivo, querendo retornar ao vício para esquecer Lucas e nesses momentos, ela precisava se manter firme em sua palavra. Fazia isso, temendo não só pela própria segurança, mas pela dele também, pois sabia que a primeira gota de álcool levaria a várias outras que o fariam voltar ao vazio onde estivera antes e ela jamais permitiria isso.

Mesmo com ele tendo negado seus sentimentos e não dando a oportunidade para terem algo mais sério, ela não conseguia abandonar o carinho que sentia por ele, sabendo que faria tudo mais uma vez se fosse preciso.

Lucas aproveitou aqueles últimos dias antes da viagem para sair com Rachel e fazer compras, precisava de roupas novas para o calor. Também aproveitaram e foram ao salão, fazendo juntos o pacote completo: unhas, corte de cabelo, depilação, hidratação e o que mais que tivessem direito.

Rachel percebia que apesar de ver que o amigo estava feliz, ele não comentava com muita frequência da viagem, sabendo que provavelmente ele ainda estaria desconfortável com a ideia de saber que veria quem lhe magoou tanto no passado. Mesmo assim, ele não deixava de ajudá-la com os detalhes do noivado e parecia sincero em todas as vezes que comentava sobre estar ansioso para a festa.

Sexta-feira, dia 5 de julho de 2013.

Como passaram o feriado do dia anterior juntos e foram ver os fogos de artifício, não tinham deixado as malas conferidas, então quando chegou o dia da viagem, foi Rachel quem verificou se tinham esquecido alguma coisa importante, pois mesmo Alberto tendo feito isso, ele esqueceu de colocar na mala várias coisas essenciais, pelo simples fato de estar tão ansioso, que dificultava sua concentração e o deixava aéreo para boa parte das coisas que andava fazendo nos últimos dias.

No aeroporto não tinha sido diferente, enquanto Rachel e Lucas conversavam normalmente, Alberto estava presente apenas em corpo, pois sua mente parecia cada vez mais distante, não participando de quase nenhuma conversa. Era como se seu noivo estivesse totalmente fora de si, ficando assim até entrarem no avião.

O voo durou um pouco mais de quatro horas e era sete horas da noite quando chegaram. Pegaram suas bagagens no desembarque e passaram pela imigração, mais uma vez, Rachel tinha que se atentar com as coisas de Alberto, pois ele ainda parecia avulso, como se estivesse em um transe.

— Vocês estão com fome? Que tal um lanchinho? — Rachel sugeriu-os.

— Ele disse que ia se encontrar com a gente... — Alberto respondeu, murmurando baixinho, como se estivesse chateado.

— Tudo bem, então esperamos. — Ela falou, vendo o noivo ainda introvertido.

Levavam suas bagagens, assim como Lucas, Rachel estava com duas malas médias e uma bolsa de mão, já Alberto, apenas uma mala de rodinhas média, o qual soltou-a no meio do caminho, antes de começar a correr, deixando-os para trás. Até ficariam confusos caso não fosse a figura de um homem alto abraçando-o com igual intensidade.

Rachel deu um sorriso envergonhado indo para lá, enquanto percebia que Lucas mudava a direção, não indo diretamente até eles, passando reto de onde estavam, desviando das cadeiras da área de espera.

Alberto apenas soltou-se do amigo quando quis encará-lo, enxugando os olhos para conseguir vê-lo melhor. Não acreditava que estava finalmente o vendo, ele estava ali, na sua frente, em carne e osso. Não conseguia parar de encará-lo, levando suas mãos ao rosto de Marcus, apertando suas bochechas e roubando algumas risadas dele, querendo ver se era real, passando as mãos em seus cabelos crescidos que já estavam quase na altura do pescoço. Sonhou tantas vezes com aquele momento, que apenas queria se certificar de que não estava dormindo.

Marcus segurava o nó que formava em sua garganta, Alberto poderia até pensar que tinha sofrido muito mais que o amigo, principalmente por saber que ele não era a pessoa que mais falava sobre sentimentos, mas mal sabia ele, que depois de quase oito meses afastados, apenas agora Marcus sentia-se completo novamente, tudo que precisava estava bem a sua frente, a companhia de seu melhor amigo.

Quando Alberto pensou que conseguiria dizer algo, voltou a fungar, abraçando-o mais uma vez, Marcus soltou uma risada gostosa com aquilo, segurando mais uma vez a vontade de chorar. Acariciou as costas do amigo, ouvindo-o engolir o choro, ao mesmo tempo que também tentava se controlar, vendo agora Alberto se afastar definitivamente.

Marcus percebeu que Rachel se posicionava ao lado, apenas esperando o momento certo para se apresentar, mas antes que falasse qualquer coisa, Alberto alcançou seus ombros com as duas mãos e desestabilizou-o pelo chacoalhão o qual não esperava, gritando em seguida:

— Nunca mais faça isso!

Marcus se desequilibrou e demorou alguns segundos para se recompor e entender o que tinha acontecido, e então riu do gesto.

— Eu também senti sua falta! — Marcus respondeu, não deixando de olhar a moça parada ao lado.

— Oi. — Ela sorriu e acenou com uma mão timidamente.

— Rach! Me desculpa! — Alberto exclamou. — Mark, essa é Rachel.

— É um prazer, Rachel. — Cumprimentou-a e logo lembrou-se, indo pegar um buquê de flores no banco mais próximo. — Eu trouxe isso pra você.

— Jura?! — Ela abriu um sorriso genuíno, recebendo os lírios rosa e branco. — São as mesmas flores que escolhi pra decoração do noivado! Eu amei!

— Admito que fui investigar com a organizadora do evento pra descobrir qual era o seu gosto. — Sorriu envergonhado.

— Mas cadê o Lu? — Alberto indagou, olhando para os lados.

— Ah, ele me disse que ia dar uma olhada nas lojinhas... Pode deixar que eu vou lá chamar ele, já volto. — Ela disfarçou, deixando as malas com eles, mas saindo com o buquê em mãos.

— Ela é bonita. — Marcus elogiou, vendo Alberto assentir. — E é boa mentirosa também, isso pode ser uma vantagem.

— O quê? — Alberto espantou-se, sem saber se ria da constatação do amigo.

— Não precisava tentar amenizar o fato de que ele não quer nem me encarar. — Marcus assumiu. — Eu já sabia que isso ia acontecer, na verdade. Eu só não imaginei que fosse ser tão rápido, eu mal tive a chance de ver ele.

— Você vai ter que se esforçar, ele ainda tá muito chateado. — Alberto declarou, vendo a expressão desanimada do amigo.

— E ele tem todos os motivos do mundo pra isso, eu só espero que ele consiga aproveitar a viagem… e falando nisso, eu queria te pedir uma coisa.

— Diz, o que é?

— Tenta não esfregar a nossa amizade na cara dele, se possível. Já deve ser insuportável demais estar perto de alguém que você odeia.

— O que você tá querendo dizer com isso, exatamente? — Alberto indagou, confuso.

— Eu sei que faz muito tempo que a gente não se vê e eu estava sim com muita saudade. — Tocou o ombro do amigo. — Também sei que você está vibrando por dentro e por fora e é difícil controlar a empolgação, eu também me sinto assim. Mas tenta não chatear ele com isso, eu sei que ele não gosta do fato de você manter contato comigo… isso ficou bem nítido uns meses atrás. E eu não quero estragar a amizade de vocês, só eu sei como foi perder ele pra sempre e eu não quero que você passe por isso também.

Alberto estava em choque por não imaginar que ele pediria tal coisa, mas principalmente, por vê-lo com os olhos levemente marejados. Não tinha como negar aquele pedido, não conseguindo responder nada em palavras, mas gesticulando com a cabeça positivamente, percebendo que ele mudava de assunto em seguida.

— E então? Fizeram uma boa viagem?

— Luke, o que tá fazendo aqui? — Rachel encontrou-o em uma mesa, dentro de uma cafeteria.

— Escolhendo um café, você vai querer um?

— Não, não quero. Eu quero que você vá pra lá com a gente, eu sei que tá se escondendo aqui.

Lucas apenas rolou os olhos e bufou, não sabendo o que responder diretamente, até que viu as flores na mão dela.

— Foi ele que te deu isso? — Indagou, apontando o que ela segurava. — Já te comprou tão rápido assim?

— Ele só estava sendo cavalheiro, até pesquisou quais eram as flores que eu gostava. Tenho que admitir que ele é bom… e bem bonito também. — Ela assumiu, vendo-o desviar o olhar. — Vai, vamos embora, ele prometeu um jantar pra gente e não vai arrancar pedaço aguentar até o fim da noite.

— Eu não sei se eu consigo fazer isso, Rach. — Resumiu, expressando todo seu incômodo. — Eu não consegui ficar nem pra ver o Alberto se derreter todo e abraçar ele… fiquei até enjoado, sério.

— Eu imagino. — Ela puxou uma cadeira para ficar ao lado dele. — Mas é só hoje, você não vai ser obrigado a ver ele tão cedo. Depois disso, só no noivado.

— Mas eu tenho mesmo que ir nesse jantar? Não posso ir direto ao hotel? Eu posso pegar um táxi. — Rebateu insistindo. — Não me faz ir… Por favor.

— Não é por mim, Lu, você sabe disso. Vem… quanto antes você vir, mais cedo seu sofrimento acaba. — Ela levantou-se esticando uma mão para ele.

— Você não faz ideia do que tá falando. — Lucas segurou na mão dela até ficar de pé. — Eu vou, mas vou precisar de um favor seu.

— Qual?

— Não desgruda de mim. — Pediu seriamente, enquanto caminhavam à porta. — Eu sei que pode parecer estranho agora, mas você vai entender.

— Mas eu quero entender agora. — Rachel reforçou.

— É que você não conhece esse homem… quando você menos espera, ele tá colado em você igual chiclete e te encurrala. Aí você acaba ficando sem opção, sentando em uma cadeira onde ele fica na outra ponta, estrategicamente localizado para que você só possa sair do lugar sentando no colo dele. — Explicou, angustiado, tendo calafrios ao imaginar a situação.

— Isso foi específico demais. Já aconteceu, né?

— Eu tive que me fingir de hétero durante uma noite todinha, batendo papo com uma colega do meu trabalho que queria ficar comigo, tudo isso só pra evitar ele. Foi horrível.

— Ok. Eu já entendi, vou me sentar do seu lado no restaurante, mas de qualquer forma você vai ficar de frente pra ele na mesa. Igual casais fazem.

— Eu tô quase desistindo da ideia de novo. — Falou, com a amiga rindo com ele enquanto caminhavam.

Marcus olhava ao longe os dois se aproximando, mal prestando atenção no que Alberto contava, fazendo o amigo chamar sua atenção.

— Ei! Vou te desafiar a repetir todas as últimas coisas que acabei de te falar.

— Não vai dar, não. — Marcus encarou-o, sorrindo como uma criança arteira.

— Tava distraído que eu sei. — Alberto olhou para a mesma direção que ele. — Ele tá lindo, né?

— Nem me fala. — Marcus precisou respirar fundo para retomar o fôlego, principalmente quando viu-o ainda mais perto.

Lucas chegou com Rachel e nada de especial aconteceu, nem mesmo trocaram uma simples frase. O loiro simplesmente encarava o chão após trombar o olhar com o dele por poucos segundos.

As malas foram levadas até o carro sedan que aguardava-os no exterior do aeroporto, com um motorista ajudando-os a colocar as bagagens no porta-malas. Ao ver que teriam um chofer, Lucas adiantou-se e se sentou no banco ao lado do motorista, não dando margem para ir atrás e alguém indesejado ficar ao seu lado.

Iriam a um restaurante próximo ao hotel que ficariam, então após um pouco mais de meia-hora de trânsito, chegaram na região beira-mar que acolhia as regiões mais agitadas de Cancún.

Foram deixados ali pelo chofer, que voltaria para pegá-los mais tarde, enquanto isso, deixaria suas malas com o concierge do hotel, que cuidaria para que cada uma fosse levada com cuidado aos seus respectivos quartos.

A conversa no carro tinha sido básica, primeiro sobre a música que estava tocando no rádio e depois, um pouco da cultura mexicana, com Marcus esforçando-se para se lembrar de tudo o que havia aprendido sobre os nativos, apesar disso, era um obstáculo aprender da cultura quando se era um local tão turístico.

Desceram do carro em frente ao restaurante, andando pelo deck de madeira que levava até ele. Era uma pena que já estivesse de noite, caso contrário, conseguiriam ter uma bela vista do pôr do sol beijando o mar.

Marcus anunciou sua reserva na recepção e foram guiados até a mesa para quatro pessoas. Rachel estava esperta assim como o amigo havia pedido, grudando nele desde que chegaram, sentando ao lado de Lucas no primeiro instante, dando um sorriso meigo para ele, que havia entendido o recado e agradecido com o olhar. Ela estava de frente para Alberto, assim como Marcus estava na reta do loiro, que teria que se esforçar para ignorar os olhares dele durante todo o jantar.

— Você vai ter que ajudar a gente a pedir, eu acho que nunca vi tanta opção de peixes e frutos do mar na minha vida. — Alberto falou ao velho amigo, após receber o cardápio.

— É facil, tudo daqui é bom. — Marcus respondeu, sorrindo.

— E vocês vão ter que me ajudar a pedir em si, não treinei espanhol o suficiente pra isso. — Rachel continuou, rindo.

Lucas não entrou na conversa, ainda olhando o cardápio, optando por um prato simples de peixe grelhado para começar com algo que provavelmente não teria erro. Os outros foram de pratos mais típicos e clássicos, pedindo bebidas refrescantes e alcoólicas, com exceção de Marcus, que pediu apenas água.

Os drinks chegaram antes da comida e já começaram a provar enquanto esperavam a comida. Alberto elogiou o que bebia, pedindo para que Rachel provasse o seu, também roubando um gole do drink de sua noiva.

Lucas bebia sua gin tônica em silêncio, admirando o ambiente e apreciando a música que tocava, apenas ouvindo Alberto mudar de assunto inquietamente em um curto intervalo de tempo, dizendo a Marcus:

— Eu estou morto de inveja em como você tá bronzeado, espero conseguir ficar com a pele assim também, isso se eu não me queimar.

— Isso porque eu nem tomo sol. — O amigo respondeu-o.

— O sol é o meu inimigo. — Rachel reclamou. — Sempre fico rosa, mesmo passando muito protetor. Eu espero não me queimar até o dia do noivado, imagina ficar parecendo um camarão em todas as fotos da festa?

— Ah, falando nisso, você trouxe a câmera? — Alberto indagou-a.

— É claro que sim, tá com o Luke. — Ela respondeu-o, fazendo o loiro voltar a atenção àquela conversa.

— Você vai fazer umas fotos pro seu blog também, não vai? — Alberto quis saber.

Lucas encarou o amigo, gesticulando positivamente com a cabeça, tomando mais um gole de sua bebida, sem querer conversar. Vendo-o continuar:

— É verdade! Quase me esqueci, a gente tem que comprar algum adaptador de tomada?

— Não, o padrão do México é igual ao de lá. — Marcus respondeu-o.

— Ouviu isso, Lu? Não vai ter problema pra usar o notebook aqui. Você vai preparar alguma postagem do blog com antecedência ou só quando voltar?

Lucas deixou sua taça na mesa, não querendo estar oficialmente dentro daquela conversa, permanecendo em silêncio, com Rachel percebendo seu desconforto, não entendendo porque o noivo forçava aquele diálogo desagradável. Ela esticou sua perna debaixo da mesa para dar-lhe um pequeno chute, para ver se ele entendia o toque como alerta de que estava sendo grosseiro.

— Com licença. — O loiro pediu para ir ao banheiro, levantando-se. — Eu já volto.

Ao ver o amigo sair, Rachel cruzou os braços, encarando o noivo com uma sobrancelha arqueada, enquanto Marcus também virava sua atenção para Alberto, que ficava sem entender porque os dois estavam lhe encarando daquela forma.

— O que foi, gente?

— Al, parece que você esqueceu o que eu te disse no aeroporto não tem nem uma hora. — Marcus esclareceu, incomodado. — Por que você tá forçando tanto ele?

— Eu também ia dizer isso. — Rachel concordou. — Você não percebeu como o Luke estava incomodado com as suas perguntas?

— Eu achei que se eu quebrasse o gelo talvez pudesse ajudar. — Alberto desanimou-se. — Mas eu não vou fazer mais isso… eu vou me desculpar com ele depois.

— E eu vou me desculpar com ele agora. — Marcus levantou-se.

Olhou em volta e como não o viu no bar e nem fora do restaurante, foi ao banheiro e viu-o logo de cara, indo em direção à pia, começando a lavar as mãos.

— Oi… — Adentrou o local, vendo Lucas bufar ao notar sua presença. — Me desculpa por isso, eu juro que eu não pedi pro Alberto fazer aquilo, eu pedi pra que ele parasse de forçar você a falar comigo.

— E você veio aqui pra me forçar a falar com você, dizendo que falou pro Al não me forçar a falar com você? É, parece um bom plano. — Ironizou-o, esfregando uma mão na outra, depois começando a enxaguar.

— Mas eu achei que o chute tinha sido pra isso.

— Hã? — Fechou a torneira, lhe encarando sem entender.

— Ah. — Fechou a expressão, logo entendendo tudo. — O chute debaixo da mesa não foi seu… eu entendi errado, provavelmente era a Rachel querendo acertar o Al, mas a minha perna tava na frente.

— E você ensaiou essa desculpa por quanto tempo antes de vir aqui me adular? — Pegou as folhas de papel no suporte, enxugando-se.

— Por que eu mentiria sobre isso?

— Eu sei que você vai aproveitar todas as brechas possíveis pra encher a porra do meu saco. Mas já que estamos conversando, saiba que eu só vim nessa viagem pelo Al e pela Rachel, só por eles! Por que se dependesse de você, eu não viria mesmo. — Bufou, jogando o papel com raiva na lixeira. — E se por acaso eu chegar no hotel e tiver alguma gracinha sua, pode saber que eu não vou deixar barato, então finge que eu não existo, por favor, pelo bem da nossa coexistência.

Marcus encarou-o sem saber o que responder, vendo-o irritado, sem poder tranquiliza-lo, porque sabia que era o motivo da irritação dele. Mesmo assim, não poderia reclamar, pois antes estava incomodado por não ter ouvido a voz dele, então ao menos agora ele estava falando consigo.

— Ok, eu dou a minha palavra, mesmo sabendo que ela não vale muito pra você. — Assumiu e Lucas deu-lhe as costas, chamando sua atenção novamente. — Ei, só mais uma coisa.

— O quê? — O loiro virou, encarando-o como se estivesse exausto.

— Parabéns pela formatura. — Anunciou, parecendo pegá-lo de surpresa. — O Al disse que foi uma cerimônia linda.

— Foi mesmo. — Falou, simplesmente.

— Eu posso te dar um abraço de felicitação? — Perguntou, dando um sorriso cínico, sabendo a resposta.

— Se você se aproximar de mim, você vai parar no chão sem nem saber o que te atingiu e quando menos perceber, vou estar te imobilizando, com o meu pé na sua cara. — Falou com todo o prazer do mundo, controlando a vontade súbita de dar um soco no meio de seus dentes.

— Você e eu em uma posição exótica de sadomasoquismo? É uma proposta atraente, devo dizer. — Provocou-o, sabendo que ele provavelmente explodiria de estresse.

— Vai se foder.

Lucas xingou e saiu do banheiro com pressa, deixando Marcus rir consigo mesmo, mal sabendo que Lucas também tinha segurado a risada por puro orgulho, não podia negar que tinha sido uma bela esquivada.

 

 

 


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Notas finais do capítulo