Stranger escrita por Okay


Capítulo 36
Avanços.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 15/10/2020



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Capítulo 36 — Avanços. 

Lucas desligou o telefonema e saiu do cômodo sem dizer uma única palavra, enquanto Alberto e Rachel se entreolhavam com os olhos curiosos. Ouviram a porta do quarto loiro bater e nem precisaram dizer nada para que soubessem que seria necessário dar um tempo para ele pensar antes de falar com ele do ocorrido.  

Alberto passou a noite se sentindo culpado, gostaria de tentar ao menos ter preparado o amigo para aquela situação, apenas torcendo para que Lucas não lhe odiasse para o restante da vida.  

♚ 

Quarta-feira, 20 de março de 2013. 

Lucas saiu mais cedo que o convencional naquela manhã, não querendo deparar-se com Alberto porque possivelmente ouviria perguntas do dia anterior e não queria falar sobre o fato de não ter saído do quarto nem para jantar. Se perguntava se ele sabia sobre aquela ligação de Marcus e o que mais lhe entristecia era imaginar que sim, ele sabia.  

Mesmo assim, rumou ao estágio, comprando um café e croissant no caminho. Não olhou o celular durante todo o dia para não se aborrecer com nenhuma mensagem dos amigos, precisando de mais um tempo para esfriar a cabeça antes de falar com eles, não queria magoar ninguém por algo que não devia dar tanta importância. 

Se seu dia não tivesse sido cheio, não teria passado tão rápido como teve a impressão que havia sido, apenas pegando no celular ao fim do dia, vendo as mensagens deixadas pelos amigos. Respondeu o básico, indo para a academia sem combinar com Rachel que estava indo para lá.  

Ao chegar, trocou-se no vestiário e assim que pegou o plano de treino para aquele dia, encontrou-se com Brock, que parecia ansioso para lhe ver, segurando-se para não lhe receber com um selinho. Conversaram um pouco enquanto ele lhe ajudava com o treino, combinando de saírem juntos naquele fim de semana, falando do que estavam a fim de fazer.  

Lucas interrompeu seu treino quando percebeu que Rachel tinha acabado de chegar, vendo-a deixar a mochila dentro do guarda-volumes. Sabia que não poderia evitá-la e quando notou que ela se aproximava, já sabia o que ela iria lhe perguntar.  

— Oi, Luke! Não sabia que viria hoje, você não falou nada. Tá tudo bem? 

— Tá sim, Rach. — Sorriu.  

— Eu fiquei preocupada ontem, queria conversar com você.  

— Aqui não, mais tarde a gente conversa, pode ser? — O loiro contornou-a.  

— Tá, tudo bem. — Ela sorriu, mudando de assunto. — Ah! Eu queria te falar antes, mas só me lembrei agora! Tá a fim de fazer uma aula de autodefesa comigo? Eu vi que eles estão iniciando uma turma de iniciantes no Krav Magá. Eles vão dar uma aula inaugural amanhã e queria saber se você quer ir comigo.  

— Tudo bem, eu vou sim. — Lucas concordou. — Eu li o folheto que estavam distribuindo e gostei da ideia.  

— Tá certo, então amanhã a gente vem pra cá e já fica pra aula. — Ela falou, agindo como se tudo estivesse bem, começando a treinar em seguida.  

♚ 

Marcus havia acabado de deixar o laptop de lado, estava cansado de ver as mesmas fotos e ler os mesmos artigos. Sentia-se péssimo por saber que estava apenas se enganando. Não tinha nada que lhe interessava no blog de Lucas a não ser ter sido escrito por ele, era como se conseguisse ouvir a voz dele enquanto lia, ele sempre soube se articular e escrevia muito bem.  

Suspirou e levantou-se da cama, não se preocupou muito com o que estava vestindo e saiu do quarto, precisava beber algo já que o que tinha no quarto havia acabado poucas horas atrás. Sabendo que Angela não trabalharia naquela noite, desceu ao bar do hotel. 

Rumou para lá e assim que chegou, olhou para a área externa pela parede de vidro, vendo uma pessoa familiar despedir-se de um homem com um beijo rápido. Assim que percebeu que estava sendo observada, a mulher pareceu ficar desconcertada, indo em sua direção.  

Desviou o olhar do dela e pediu um uísque no balcão, recebendo tanto a dose, quanto a companhia da mulher em seguida, dizendo-a: 

— Boa noite, Angela, tudo bem?  

— Oi Mark, não te esperava por aqui hoje... — Ela se pronunciou, pensando no que dizer em seguida. — Olha, eu não queria que tivesse visto aquilo, me desculpa.  

— Se desculpa pelo quê? — Deu o primeiro gole em sua bebida, agora encarando seus olhos azuis.  

— Eu estava saindo com ele antes mesmo de te conhecer, espero que entenda...  

— Relaxa, eu já deixei claro que não tenho ciúme. — Sorriu. — Você não me deve satisfação nenhuma da sua vida pessoal.  

— Obrigada por entender. — Ela pareceu mais tranquila, retribuindo o sorriso. — A gente podia sair hoje depois do meu turno, o que acha?  

— Por mim, tudo bem, eu estarei aqui.  

— Eu te encontro aqui então.  

— Mas eu achei que não trabalharia hoje. — Marcus disse, em dúvida, ao finalizar o copo e indicar ao barman para lhe trazer outro.  

— Não estou no bar, estou cobrindo uma amiga no restaurante, mas o uniforme é quase o mesmo. — Ela apontou a própria roupa.  

— Você fica sexy de terninho. — Sorriu, deixando-a corada mais uma vez. — Te vejo mais tarde então. 

— Até! Tenho que voltar agora. — Ela acenou, já se afastando.  

♚ 

Quinta-feira, 21 de março de 2013. 

Lucas ainda não havia conversado abertamente com os amigos sobre o telefonema de Marcus, na realidade, nem ele sabia ao certo o que pensar e era aquilo que tanto lhe perturbava, nem mesmo falar com Brock e seus deveres do estágio conseguiam lhe distrair totalmente de alguns pensamentos que de vez em quando surgiam em sua mente.  

Estava decidido então que assim que voltasse da academia com Rachel naquele dia, conversaria com ela sobre o que tanto pensava. Então fizeram o treino normal de todos os dias e em seguida foram à aula inaugural de Krav Magá, que fizeram com que se interessassem desde as primeiras demonstrações, também aceitando quando viram que o preço adicional na mensalidade era justo.  

Rachel andava sozinha por toda a cidade e gostaria de se sentir mais segura por saber que saberia se defender, já Lucas, mesmo sendo homem e não se preocupando tanto quanto ela, sabia que haviam coisas de seu passado que poderiam ter sido evitadas caso fosse um pouco mais esperto. Se soubesse lutar poderia ter se livrado de muitas daquelas situações desagradáveis.  

A aula consistia em noções básicas sobre o Krav Magá, onde viram de onde a arte surgiu e o que ela abrangia, como defesa contra bastões, torções, armas, facas, entre outros. Treinaram em grupos alternados e confirmaram sua presença nas próximas aulas da semana seguinte.  

Saíram tão exaustos que decidiram que, nos dias que teriam as aulas de autodefesa, não fariam os treinos. Após Rachel tomar uma ducha e Lucas esperá-la se arrumar, foram ao carro, e antes mesmo que ela desse a partida, ele chamou sua atenção. 

— Rach, eu precisava falar com você.  

— Eita, você tá sério. — Ela ajeitou-se no banco, olhando para ele. — Pode falar.  

— Você sabe que eu venho evitando falar com você daquele dia... da ligação. — Ele olhou para as próprias mãos, mexendo seus dedos, inquieto.  

— Sim eu sei, eu não te perguntei mais nada sobre isso porque eu sabia que você não estava pronto pra falar. — Ela encarou-o, percebendo seu nervosismo. — É sobre isso que quer falar agora? 

— Sim e não, é um pouco de cada coisa. — Rodeou o assunto uma última vez, respirando fundo antes de continuar. — Eu só vou pedir pra você não falar pro Al sobre o que eu vou te falar aqui e você vai entender o motivo. 

—Tudo bem, você tem a minha palavra. — Ela confirmou, curiosa para ouvi-lo.  

Lucas informou-a primeiramente sobre ter descoberto que Al havia enviado para Marcus o vídeo que estavam comemorando juntos, dizendo que depois daquele dia, soube que provavelmente ele estaria dizendo ao velho amigo as coisas que aconteciam em sua vida, então com isso, quis manipular a informação que chegaria ao outro lado. Ela ouviu-o atentamente e ele continuou:  

— Então foi por isso que eu pedi pra ele tirar uma foto minha de quando eu ia sair com o Brock. Eu nem sei mesmo se ele ia enviar essas fotos, mas eu não sei o que deu em mim, sinceramente. — Desabafou, levando agora um dos dedos até sua boca, roendo a unha. 

— Luke, eu imagino a confusão que deve estar na sua cabeça nesse momento, quem nunca quis fazer ciúme pra ex? Ainda mais no seu caso onde ele te fez sofrer tanto... eu sei que você não quer nada com ele, mas eu te entendo, é uma forma de mostrar pra ele o que ele perdeu. 

— Eu não queria que fosse isso, mas no fim das contas, eu acho que é. — Lucas sentiu o peito apertar. 

— Mas qual o problema nisso? É imaturo? É! Mas todo mundo faz isso!  

— Por quê? Por que eu tive que fazer isso, hein? — Resmungou falando mais alto, passando a mão nos cabelos com raiva. — Eu sou um idiota! Eu me sinto horrível por ter dado corda pra esse sentimento dentro de mim! 

— Luke! Para pra ouvir o que você tá falando, você tem todos os motivos do mundo pra estar assim, fica calmo!  

— O pior de tudo é que eu me dei conta de que eu não estou sendo muito diferente do Marcus... — Suspirou, passando a mão pelo rosto.  

— Como assim? 

— Eu recebi uma ligação na terça-feira dele, você deve se lembrar, eu atendi o telefone e depois fui pro quarto e não saí mais. — Explicou com mais calma. — Isso aconteceu porque eu senti que eu tinha perdido, Rach. Eu tive o que eu queria, certo? Era pra eu ter “ganhado” porque eu consegui o que eu queria, eu chamei a atenção dele, fiz o Marcus se arrepender! Eu não sei de verdade se o Al chegou a mandar aquelas fotos minhas que eu pedi para ele tirar propositalmente, mas eu consegui o que eu queria e ainda assim eu sinto que eu perdi!  

— Você não tá satisfeito porque você tem um bom coração, Luke. Você não é como ele, não precisa se preocupar.  

— Como eu posso ter tanta certeza? Ele sabe me desestabilizar, parece que eu tô aprendendo a fazer isso também. — Desviou o olhar do dela, constrangido.  

— Mas vai, me fala... o que ele queria? — Ela indagou, já imaginando o que fosse por ter sido informada por Alberto.  

— Ele me ligou pra pedir desculpas, dá pra acreditar? Ele teve a cara de pau de dizer que estava arrependido e eu ainda parei pra ouvir. — Bufou, esfregando a própria testa. 

— Mas o que ele disse?!  

— Ele pediu dois minutos e eu ouvi, mas eu não queria ter feito isso, Rach, eu tô me sentindo horrível e... eu não sei o que pensar agora. 

— Tenta olhar por outro lado, isso que ele fez foi bom, né? Mesmo que você não aceite as desculpas, foi bom ele ter ao menos tentado. — Ela reavaliou, vendo a chateação no olhar dele.  

— Eu só sei que desde aquele dia eu não consigo mais me concentrar nas coisas, eu tenho questionado tudo, até mesmo se eu sinto algo pelo Brock... — Revelou, franzindo o cenho. —  Eu não quero ser como o Marcus, Rach, não quero dar falsas esperanças e abandonar alguém por puro capricho meu.  

— Você não vai fazer isso, para de se martirizar! O que foi que ele te disse pra te abalar tanto? — Ela indagou, ainda mais curiosa. — Me fala... eu posso te ajudar, tenho experiência com ex-namorados escrotos.   

— Nada, esquece, eu não quero mais falar disso. E outra, ele não é meu ex e nunca foi. — Falou com amargor.  

— Tudo bem, me desculpa. — Rachel aceitou que ele precisava de privacidade, vendo-o ainda abalado.  

— E foi por isso que eu pedi pra você não falar nada pro Al, porque eu gosto muito de ter a amizade dele e não quero ficar mais me questionando do que ele está ou não enviando pro Marcus... Eu quero manter a minha sanidade e não quero me afastar do Alberto, então eu decidi que agora seria o momento ideal pra sair do apartamento dele. — Desabafou. — Posso ir morar com você? 

— Seria uma honra! — Ela sorriu, concordando. — A gente pode falar com o Al hoje mesmo pra decidir como vão ser as coisas. Eu só espero que ele não volte atrás sobre a gente morar junto, porque antes ele parecia bem animado com a ideia.  

— Ele é um homem de palavra, mas mesmo assim, seria legal ter sua companhia então não tem problema caso não queira se mudar. Só o que importa é se você se sentiria confortável comigo por lá.  

— Isso sem dúvidas, meu amor. — Ela apertou as duas bochechas dele até marcá-las levemente pela pressão dos seus dedos. — Agora vamos, eu estou morrendo de fome!  

♚ 

Sábado, 23 de março de 2013.  

— Alô? — Alberto atendeu o telefone com pressa, torcendo para que fosse o amigo.  

— Oi, Al, atendeu rápido. — Marcus impressionou-se.  

— Eu estava do lado do telefone. — Riu consigo mesmo, também roubando uma risada do amigo. — Como você tá? 

— Eu tô bem, tô bem. E você?  

— Eu tô dando uma pausa agora pra descansar, eu estava ajudando o Lu e a Rachel a arrumarem as caixas da mudança, ele tá se mudando pra casa dela e ela pra cá. 

— Ele está se mudando? 

— Pois é. E a Rachel está vindo morar comigo, foi uma decisão e tanto.  

— Eu queria saber, Al... O que ele disse sobre a minha ligação?  

— Ah, nenhum “parabéns, meu amigo, por tomar essa decisão de morar junto com a namorada” e sim direto ao ponto. Você sendo você — Alberto provocou-o.  

— Me desculpa, Al, eu estou totalmente aéreo hoje. Parabéns, eu fico feliz por vocês dois.  

— Obrigado. —  Riu baixinho. — Bom, respondendo a sua pergunta, ele não me disse nada do que você falou pra ele na ligação, parece que ele conversou com a Rachel, mas ela também não me disse nada, então... é isso. Não faço a menor ideia.  

— Quanto mistério.  

— Eu só sei que ele ficou bem abalado, ficou esquisito por vários dias... O que você falou pra ele, hein? 

— Eu já disse, pedi desculpas, falei que estava arrependido e que se eu pudesse, voltaria no tempo pra consertar o que fiz, foi isso.  

— Sr. Mark, tenho a impressão de que só isso não deixaria ele do jeito que ele ficou. Foi só isso mesmo? —  Insistiu. — Seja sincero.  

— Não, não foi só isso. — Marcus fez uma pausa antes de continuar. — Eu também disse que amava ele.  

— Você disse o quê?! — Alberto indagou, com os olhos arregalados.  

— Eu sei, eu sei que foi estúpido. É claro que ele se revoltaria, eu também me revoltaria, mas foi totalmente impensado! Foi a primeira vez em meses que eu estava oficialmente conversando com ele, a empolgação falou mais alto que eu, além do mais, eu também tinha bebido um pouco. — Explicou-se. — Ao menos eu não estava mentindo.  

— Você parece estar bebendo mais do que o normal... Toma cuidado com isso.  

— Relaxa, eu estou bem.  

— Eu não vou relaxar, você me ligou totalmente bêbado e me deixou desesperado. Vê se toma jeito ou eu vou aparecer aí pra puxar seu pé a noite.  

— Al, eu sei que pode parecer que estou mudando de assunto propositalmente, mas eu preciso saber... ele realmente ficou abalado? — Inquiriu, esperançoso. — Você acha que é um bom sinal? 

— Eu sinceramente não sei, não sei mesmo... — Alberto informou. — Ele nem sequer toca no assunto e eu não o forço a nada.  

— Entendi... — Marcus sentiu o peito apertar. — Bom, eu... tenho que desligar, tenho um compromisso.  

— Mas já? 

— É, tenho mesmo que ir. Falo com você depois, Al.  

Alberto desejava conversas mais longas que aquilo, porém não podia reclamar, assim voltando ao trabalho. Enquanto do outro lado da linha recém-desligada, Marcus remoía as palavras do amigo enquanto tentava descobrir algo.  

Tentava ligar os pontos das coisas que estavam se passando em sua mente e tudo o que conseguia pensar, era no fato de ter feito Lucas sair da casa do amigo. Só conseguia pensar no quanto ele deveria lhe odiar para que tomasse essa decisão, sentia como se tivesse sido o principal culpado por essa mudança e apesar de estar feliz por Alberto ter dado um passo importante em morar com Rachel, isso não bastava, pois Marcus sabia que era o causador de todo o rancor que o loiro carregava. 

Só de pensar em como Lucas queria se afastar para não ter que ver Alberto falando consigo, era como se conseguisse vê-lo na frente de seus olhos, imaginando perfeitamente sua figura, exibindo o olhar derrotado e expressão exausta, querendo se esquivar mais uma vez das coisas que lhe faziam mal. Sua amizade com Alberto afetava Lucas diretamente e como se não bastasse, ainda havia forçado aquele contato que fez com que tudo desmoronasse.  

Mais uma vez tinha estragado tudo.  

♚ 

Era manhã de domingo e Lucas acordou já no novo apartamento, sentindo seu corpo todo dolorido, sem saber se tinha sido pelas aulas de autodefesa, pelo treino, ou por ter passado todo o dia anterior ajudando Rachel com as coisas dela, já que não tinha muito do que trazer das suas.  

Conferiu as mensagens no celular e falou com Brock, combinando de se verem mais tarde. Pegou seu novo laptop que havia adquirido tanto para o estágio, como para poder trabalhar no blog e passou um tempo conferindo as redes sociais.  

Percebeu que seus números de leitores estavam aumentando e animou-se com aquilo, começando a pesquisar meios de remuneração para suas postagens, pensando em colocar anúncios. Leu um pouco e planejou os próximos artigos, parando apenas quando viu que o horário de se arrumar para sair com o instrutor se aproximava.  

Era maravilhosa a sensação de ver que agora tudo estava se encaixando e sua vida estava finalmente nos trilhos, suas notas da faculdade estavam boas, sua tese melhorava a cada dia com a instrução da professora Catherine e sentia um peso enorme sair de suas costas, era maravilhoso ter o próprio espaço e o apartamento de Rachel era extremamente aconchegante.  

♚ 

Dois meses depois. Sexta-feira, 24 de maio de 2013. 

Lucas estava voltando de mais uma consulta e outra vez sua dose dos remédios estava sendo diminuída pelo psiquiatra, no caminho para que ele parasse com o tratamento medicamentoso em breve. Já estava tomando o antidepressivo e o calmante há cinco meses e não via a hora de parar de tomar por completo e manter apenas a psicoterapia, pois não largaria as consultas com seu psicólogo Elijah, ele era o melhor.  

Mais tarde veria Brock a noite e sairiam para jantar juntos, onde teria que levar seus remédios e tomar escondido como vinha fazendo nas últimas semanas. Ainda não tendo coragem de contar para ele o motivo de precisar se medicar, muito menos falando sobre a aliança que carregava na corrente de seu pescoço.  

Já estava há um bom tempo apenas vendo o instrutor na academia, sem muito tempo livre para saírem ou dormirem juntos, estava estudando, finalizando a tese, além de estar conciliando o estágio com o blog, que demandava muito mais atenção do que há alguns meses.  

Depois de treinar, combinou com Brock que o esperaria até seu turno acabar, ficando por lá até mais tarde. Quando deu o horário, se arrumaram lá mesmo e foram jantar, indo do restaurante ao apartamento do instrutor em seguida. Lucas levava todas as coisas importantes para passar a noite em sua mochila, pois sabia que seria convidado a dormir por lá.  

Não foi diferente das outras vezes, chegaram, brincaram com Mia, conversaram por um tempo e depois se enfiaram debaixo dos lençóis para recompensarem os dias que não tinham se visto. E como sempre gostaram de fazer, aproveitaram para recuperar o fôlego dando uma pausa e conversando sobre como estavam as coisas.  

— Eu senti tanto a sua falta... — Brock aproximou-se dele na cama, alisando o corpo nu do loiro que estava debruço. — Estamos fazendo um ótimo trabalho nos seus membros inferiores, sua bunda tá maravilhosa.  

— É, eu tenho um instrutor bem atencioso, ele às vezes me assedia enquanto eu tô treinando, mas ele não faz isso com nenhum outro aluno. — Lucas riu, sentindo-o apertar sua parte carnuda e descer a mão para as suas coxas.  

— Você vai ficar aqui, não vai? Diz que sim. — Aproximou ainda mais seus corpos, depositando beijos leves pelas costas expostas dele.  

— Eu posso ficar. — Gemeu, sentindo os toques dele se tornarem mais safados. —Mas eu tenho que te recompensar pela hospitalidade em me deixar ficar, não é?  

— Que safado, outra vez? — Brock riu maliciosamente ao entender o que ele queria, abrindo a gaveta para pegar outro preservativo.  

Repetiram e dormiram exaustos. Lucas apenas foi se vestir pela manhã, arrumando-se sozinho ao ver que Brock já tinha levantado. Encontrou-o na cozinha e ele terminava de servir o café na mesa.  

— Eu já estava indo te chamar. — O instrutor serviu os copos de suco. — Dormiu bem? 

— Muito bem. Acho que eu não dormia assim há um bom tempo... 

— Você realmente tá na correria agora, não vejo a hora de você terminar seu estágio pra gente poder ficar mais tempo junto. — Puxou a cadeira para ele. — Vem, senta.  

— Que cavalheiro. — Obedeceu, sentando-se.  

— Você já tem planos do que fazer depois do estágio? — Brock indagou, em seguida juntando-se à mesa também. 

— Ainda não, mas de qualquer forma preciso continuar dando atenção ao blog, ele continua crescendo e eu tenho certeza que isso vai ser útil lá na frente e gerar mais frutos do que agora. 

— Ah, você devia descansar um pouco mais, dar uma pausa dele por enquanto, você já tá estudando muito, daqui a pouco quando você se formar, você volta pra ele. — Aconselhou, vendo que Lucas não ficou muito contente com aquele comentário, mudando de assunto. — Se você sentir que é a coisa certa, claro.  

— É uma decisão difícil, mesmo. — Pegou um copo de suco de laranja da mesa, dando um gole. 

— Olha, eu tenho uma coisa pra te dar.  — Brock colocou a mão dentro do bolso da calça que vestia, pegando e deixando sobre a mesa. — Toma, é pra você. 

— Uma chave? 

— É, a chave daqui. — Afirmou, sorrindo. — Assim, quando quiser vir pra cá e eu ainda não tiver chegado, você não precisa ficar lá fora esperando, ou até mesmo se eu precisar sair e você ficar... enfim, vai ser prático. 

— A-Ah, eu entendi, mas... — Pensou no que diria, incomodado. — Acho que não vou precisar. 

— Como não? Você sabe que é algo importante, a gente nunca sabe quando vai precisar... Eu não quero que encare isso como um pedido pra gente morar juntos, nem nada, eu só quero que você fique à vontade. 

— Eu já estou à vontade. — Empurrou a chave na direção dele. — Eu agradeço pelo seu gesto, mas não vai ser preciso, não por enquanto.  

— É só uma chave. — Brock relutou, entristecendo-se. — Você tá dizendo que não vai precisar disso por que vai terminar comigo, é isso? 

— Não! É claro que não! Não olhe pelo lado ruim, mas eu sinto que as coisas estão indo rápido demais, eu sei que a gente já tá saindo tem uns dois meses, mas eu não queria rotular nada e esse tipo de coisa faz com que a gente tenha que oficializar e e eu acho que é muita coisa pro momento, consegue me entender?  

— Acho que sim. — O instrutor assentiu, cabisbaixo, mudando completamente a tonalidade de sua voz.  

— O que foi? Foi algo que eu disse?  

— Não, Lucas, tá tudo bem. — Falou, levantando-se da mesa em seguida, sem conseguir encará-lo. 

— Ei, não fica assim.... — O loiro seguiu-o, também se levantando, vendo-o de costas. — Isso não significa que eu não goste de você. 

— Eu sei, mas se fosse só isso já estaria bom, Lucas. — O instrutor, que antes estava de costas, agora girava o corpo para lhe encarar. — Você não se abre comigo, mesmo eu sempre deixando claro que estou aqui pra você... Você nunca confiou em mim de verdade, nunca.  

— O que você tá dizendo?! Acha que eu dormiria na casa de alguém se eu não confiasse? Acha que eu estaria com você todo esse tempo sem confiar? 

— Não, Lucas, eu tô dizendo sobre o fato de você achar que eu nunca iria reparar que você não tem uma desculpa plausível pra não beber bebidas alcoólicas e eu perceber que você toma algum tipo de remédio que você nunca quis falar qual, mas eu ter visto que você traz comprimidos na carteira... — Falou as palavras com pressa, irritado. — E esse anel no seu pescoço? Acha que eu nunca percebi que tem um nome dentro dele? Quem é Gustave? Por que você nunca me contou nada sobre isso?!  

Lucas perdeu as palavras por um momento, começando a se sentir enjoado, em um misto de ódio e vontade de chorar. O instrutor continuava encarando-o buscando respostas, fazendo o loiro engolir um possível choro, apenas começando a dizer, tentando ao máximo manter a compostura: 

— Já que faz tanta questão de saber... eu tomo antidepressivos e calmantes pra ansiedade, porque ano passado eu perdi meu noivo, essa era a minha aliança. — Ergueu o anel na corrente. — E se eu não quero acelerar as coisas é porque eu já sofri pra caralho e me fodi demais por isso. Agora, se você não aguenta ter que esperar, eu sinto muito, mas eu não posso mais continuar com você.  

— Lucas, espera! — Brock aparentou arrepender-se instantaneamente de tê-lo colocado contra a parede.  

— Me solta! —  O loiro desvencilhou-se dos braços dele. — Eu vou pegar as minhas coisas e vou embora.  

— Por favor! — Seguiu-o, indo atrás dele até o quarto, vendo-o arrumar a mochila com pressa. — Eu não quis... eu não imaginei, eu só... Desculpa!  Eu não pensei em nada!  

— Tchau, Brock.  

♚ 

Aquela última semana de maio se passou e Lucas sentia-se muito mais leve desde que tinha terminado sua relação com Brock, não gostava das cobranças e a forma que ele falava para abandonar seus objetivos apenas para ficarem mais tempo juntos. Ele até poderia ser bonito e bom de cama, mas ter invadido sua privacidade daquela forma era de um mal caráter que não conseguiria aceitar.  

Aproveitou ao máximo aqueles últimos dias na revista, pois teria que se despedir do estágio em breve. Já pensava no que faria a seguir, mas ao menos tinha uma boa reserva para poder continuar pagando o aluguel para Rachel tranquilamente, o que poderia dar-lhe um tempo a mais para pensar. 

Era um sábado e estava relaxando vendo suas redes sociais. E como se fosse um sinal para suas dúvidas, recebeu um e-mail da assessoria de uma empresa com um grande nome no mercado, oferecendo uma oportunidade para fazer publicidade de um novo produto em seu blog, fazendo-o pensar que aquilo provavelmente era falso. 

A quantia ofertada lhe assustou e fez com que Lucas entrasse em negação, não querendo acreditar que a proposta era real. Pesquisou na internet as informações deixadas no e-mail, vendo que os dados estavam certos e que realmente se tratava de um contato oficial.  

Estavam oferecendo dez mil dólares para a publicidade de um produto de beleza que seria anunciado dentro de alguns dias e que ele receberia com antecedência para testar e dar sua opinião em sua postagem como qualquer outro artigo que escrevia.  

Leu tudo mais uma vez e retribuiu o contato para demonstrar interesse e poder tirar suas dúvidas antes de aceitar aquele contrato. Quando enviou a resposta, deixou o computador de lado, saltando de onde estava sentado, saindo de casa descalço com pressa, saindo pelo corredor e atravessando até chegar na porta do apartamento de Alberto e Rachel, tocando a campainha. 

O amigo abriu a porta e o loiro surpreendeu-se ao ver seus olhos vermelhos, pensando que algo ruim pudesse ter acontecido. Rachel também estava por perto e com os olhos marejados, os dois estavam chorando. 

— O que aconteceu?!  — Lucas adentrou o apartamento, percebendo que eles sorriam, não parecendo nem um pouco tristes.  

— Ficamos noivos! — Ela exclamou, fazendo-o abrir um sorriso tão grande quanto o que eles carregavam.  

— Sério? Sério mesmo?! — O loiro indagou, recebendo um abraço de Alberto e em seguida dela.  

— Foi um pedido espontâneo. — Alberto falou, se afastando gentilmente do abraço, com Rachel ainda agarrada ao amigo.  

— Como aconteceu? — Lucas olhou para eles, sentindo os olhos lacrimejarem levemente.  

— A gente tava falando do quanto a gente gosta das mesmas coisas e eu comecei a me emocionar e me declarar. — Confessou, rindo bobamente. — Quando eu vi, já tinha acontecido, as palavras só saíram da minha boca.  

— E eu aceitei. — Ela sorriu mais uma vez.   

— Vocês vão se casar... — O loiro emocionou-se. — Vocês vão se casar!

— Eu sei! Eu sei! — Rachei deu um gritinho histérico.

— Eu não sei nem o que pensar! — Lucas sorriu encantado. — Eu tô muito feliz por vocês! Sério, vocês dois merecem tudo de melhor nessa vida! De verdade, vocês vão ser ainda mais felizes! Eu amo vocês…

— A gente também te ama, Luke. — Ela apertou-o ainda mais.

— Ainda não tem aliança, mas eu vou providenciar. — Alberto falou, limpando uma lágrima do canto dos olhos. — É engraçado porque eu não imaginei que eu faria o pedido assim... nem que seria tão cedo. 

— Vocês são tão lindos! — Lucas fez um beicinho e abraçou-os mais uma vez. — Parabéns! Eu tô muito feliz mesmo! Quando for pra acontecer comigo, quero que seja assim também, vocês são meu exemplo...  

— Ah! Que gracinha! — Ela agarrou o amigo. — Já pode ir se preparando pra ver de quem você vai ser padrinho, meu ou do Al, porque você vai ter que escolher!  

— Sério?! — Arregalou os olhos, rindo com eles. — Podem tirar no sorteio, então, porque eu não vou conseguir escolher!  

— Engraçadinho! — Ela riu. — Mas a gente ainda vai ter um tempo pra pensar nisso, ainda nem escolhemos a data. Vamos focar agora em contar pra família e planejar uma festa de noivado.  

— Eu posso ajudar, se quiser, essa semana já acabo o estágio e aí vou ter um tempo livre... Inclusive, eu vim aqui pra conversar com vocês sobre uma novidade muito boa, não tão boa quanto a de vocês, mas é muito boa!  

— Ah, eu já ia perguntar porque você chegou parecendo ansioso, até pensei que tivesse adivinhado por telepatia o que aconteceu aqui. — Alberto falou, fazendo-o rir. 

— Conta! O que é?! — Ela pediu, puxando-o para se sentarem ao sofá.  

— Então... eu recebi um e-mail agora pouco de uma empresa que quer me contratar pra fazer uma publicidade no meu blog. — Sorriu, animado. — Foi a primeira empresa séria que entrou em contato comigo.  

— Jura?! — Rachel animou-se. 

— E aí, Lu? O que eles querem?! — Alberto quis saber, curioso.  

— Eles me ofereceram dez mil pra fazer uma resenha de um creme facial que vão lançar oficialmente daqui uns dias.  

— Tá brincando?! — Ela arregalou os olhos.  

— Eu sei, parece bom demais pra ser verdade! Eu mandei um e-mail pra perguntar algumas coisas que me deixaram em dúvida e também pra não aceitar nada sem pensar, mas eu tô muito feliz... sério, eu nem acredito.  

— Todo seu esforço valeu a pena, Lu. — Alberto orgulhou-se. — Você se desdobrava pra estudar, terminar a tese, estagiar e manter o blog mesmo ganhando pouco. Você é demais, você sabe disso, né? 

— Eu cheguei a ter as minhas dúvidas, mas hoje não tenho mais. — O loiro sorriu, com as bochechas vermelhas. — Eu vim correndo contar pra vocês... não achei que vocês é que me pegariam de surpresa.  

— Parece que hoje foi o dia das boas notícias. Daqui pra frente tudo vai ser assim. — Rachel deitou a cabeça ao ombro de Lucas. — Acho que hoje é melhor dia da minha vida.  

Lucas aproveitou e passou a tarde com os amigos, apenas indo embora depois de algumas horas. Estava definitivamente satisfeito com o rumo que suas decisões tinham tomado, também estava contente pelos amigos, sentia falta de ter alguém por perto para dormir abraçado e sair, mas se arrependeria amargamente se tivesse escolhido ficar com alguém que não dava importância aos seus sonhos.  

Um pouco mais tarde, naquela mesma noite, Alberto terminava de assistir um filme, que Rachel havia começado a dormir na metade, capotando em um sono profundo. Ele levou-a para a cama no colo, a cobrindo e deixando-a de modo confortável. 

Também se arrumou para dormir, escovando os dentes e colocando o pijama, apenas pegando seu celular para verificar suas mensagens uma última vez antes de ir deitar. Viu que tinha um novo e-mail e mesmo que odiasse ver sua caixa de entrada pelo celular, estava com tanta pressa para ver do que se tratava que não se importou em ir ao computador, abrindo a mensagem no mesmo instante. 

Era de Marcus, em resposta ao que tinha lhe enviado mais cedo: 

“Oi, Al, tudo bem? Eu queria dizer primeiramente que estou feliz pela grande notícia, queria poder sair pra comemorar com vocês, mas enquanto isso não for possível, saiba que eu continuo com muitas saudades e que em breve nós nos veremos. Não pense que eu esqueci que seu aniversário está chegando também, eu sei que ainda tem quase um mês pela frente, mas já pensei em qual será o seu presente, você espera isso há muito tempo. Spoiler: tem a ver com a minha localização.”  

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Aaaaa, parece que a história está marchando para a reta final! O que vocês esperam que vai acontecer a partir desse momento? ♕