Stranger escrita por Okay


Capítulo 35
Involuntário.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 07/10/2020



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Capítulo 35 — Involuntário. 

Lucas desligou o computador imediatamente, não queria olhar mais nada. Sua mente oscilava entre períodos de raiva e inquietação por ter invadido a privacidade do amigo. Tinha deixado claro para Alberto que ele não precisava abandonar o contato com Marcus, então talvez não devesse se incomodar em ter sua vida falada, principalmente por saber que fazia parte do convívio com ele, mas aquilo incomodava, e muito. 

Estava em dúvida se confrontava Alberto novamente ou se deixava aquela situação de lado, porque apesar de tudo, sabia que no fundo eram suas emoções tomando conta de si. Tentava relevar porque sabia que o amigo tinha um bom coração e não fazia aquilo com más intenções, no entanto, era a pessoa do outro lado do e-mail que fazia com que se irritasse mais. 

Mesmo à distância, sabia que Marcus poderia estar observando sua vida e tinha plena noção de que ele estaria interessado em saber o que estava fazendo e com quem. Com isso em mente, Lucas pensou que poderia usar essa situação de ferramenta para incomodar quem tanto tinha lhe prejudicado e que até hoje não conseguia tirar de seus pensamentos. 

Já longe do computador, deitado no sofá-cama, olhava para o teto enquanto refletia na situação, tendo sorte por estar sozinho naquela noite, pois talvez no calor do momento teria ido esclarecer as coisas com Alberto e agora mais calmo, pensava melhor no que fazer. 

Estava em silêncio quando viu que recebeu uma mensagem, pegando o celular para ler:

“Oi, aqui é o Brock, acabei de chegar em casa, queria saber se nossos planos para o fim de semana ainda estão de pé. Me avise do dia e horário que for melhor pra você.”

Lucas abriu um sorriso ao lembrar-se que depois de muito tempo, sairia com alguém, respondendo-o:

“Estarei livre amanhã e domingo, pode escolher o horário.”

Durante aquela noite, os dois conversaram e escolheram a data que sairiam, o que fez com que o loiro se distraísse por um tempo do que antes estava lhe preocupando sobre o amigo, não pensando naquilo até chegar a hora de ir dormir. 

No dia seguinte, Lucas acordou e tomou café da manhã sozinho, sabendo que Alberto voltaria com Rachel na hora do almoço, talvez viriam no horário certo para verem que ele não ficaria em casa naquela tarde de sábado.

Já quase terminando de se arrumar, finalizou com sua colônia preferida, que economizava e só usava em momentos especiais. Olhou seu cabelo no espelho uma última vez, tinha passado fixador para sua franja não ficar na frente dos olhos, penteando o cabelo em um topete alinhado.

Escondeu sua corrente debaixo da camiseta básica que usava, acompanhada de uma jaqueta jeans clara, como a calça que escolheu. Estava na sala, terminando de calçar seu tênis branco, quando Rachel entrou no cômodo, acompanhada do namorado. 

— Olha só, você tá todo arrumado! Que lindo! — A amiga elogiou. — Você vai sair com o Brock hoje?!

— Brock? — Alberto indagou, sem saber de quem ela estava falando.

— É o instrutor da academia que tá paquerando ele de longe tem semanas! — Rachel explicou.

— Vou, a gente vai almoçar junto e depois vamos ao cinema. — Lucas confirmou.

— Você vai me falar todos os detalhes depois, né? — Ela pediu, fazendo-o rir.

— É claro que eu vou.

— Quer carona? — Alberto ofereceu. 

— Valeu, Al, mas eu já agendei um táxi. Já tô pra sair. 

— Tudo bem, se precisar, me liga. — O amigo continuou. 

Lucas sorriu ao perceber que os amigos torciam por ele, mas não conseguia deixar de pensar que Alberto provavelmente compartilharia aquele momento da sua vida com outra pessoa. E como aquilo seria inevitável, pensou em participar daquela situação, assim conseguiria manipular o que seria passado e gostaria de provocar quem tanto fazia questão de saber o que estava acontecendo consigo, pedindo então:

— Al, tira uma foto minha com seu celular? Depois você me manda pra eu postar. 

— Tiro sim, aonde você prefere? Aqui perto da sacada ou em outro lugar?

— Pode ser aqui mesmo. 

Lucas aceitou e colocou uma das mãos no bolso de frente da calça jeans, olhando para a câmera com um sorriso satisfeito, sabendo que essa foto atingiria quem esperava. Depois de posar, se despediu dos dois e rumou ao seu encontro.

Pegou o táxi, chegou ao restaurante combinado e encontrou-se com Brock logo próximo à entrada. Recebeu um beijo no rosto e pegaram uma mesa próxima da janela, conversando sobre o que gostavam de comer enquanto olhavam o menu.

— Tem algum prato preferido? — Brock perguntou. 

— Eu amo panacota de framboesa. — Lucas afirmou, lembrando-se da sobremesa típica que sua mãe fazia. — E você? 

— Eu acho difícil escolher, mas se eu tiver que sair da rotina, sempre vou escolher o bom e velho hambúrguer com batata frita. — Riu. — Mas eu gostei do que você escolheu hoje.

— Se quiser, eu divido um pouco do meu risoto com você. 

— Digo o mesmo. Fica à vontade pra roubar qualquer coisa do meu prato. — Sorriu, envergonhando-se em seguida. — Ah, eu queria saber, é cedo demais pra eu te dar um apelido?

— Não acho, mas do que você me chamaria? A Rachel me chama de Luke. 

— Luke é óbvio demais. — Brincou. — Mais pra frente eu te digo se pensei em algo. 

— Tudo bem, vou pensar em um apelido pra você também. — Sorriu.

— Vai facilitar se você souber que meu primeiro nome é Marco.

— O quê? — Arregalou os olhos, não imaginando o azar que tinha. 

— Brock é o meu nome do meio e todo mundo me chama assim, mas nunca me apresentei devidamente pra você. Pode me chamar assim se quiser. 

— Ah, eu prefiro te chamar de Brock, se não tiver problema. — Afirmou, sem querer lhe contar a causa da sua escolha. 

— Por mim tudo bem. Sinceramente, até eu esqueço às vezes. — Riu baixinho. — Minha família é de Cuba, por isso o nome. Seus familiares todos são daqui? 

— Pelo que lembro, me diziam que a minha bisa tinha vindo da Itália. Sempre quis saber mais da minha origem, mas nunca fui atrás, infelizmente. Espero um dia poder saber mais das minhas raízes. — O loiro contou. 

— Isso é importante, faz a gente sentir que pertence a algum lugar. 

— Também acho. — Sorriu.

O encontro seguiu tranquilo e com boas conversas, sem silêncios assustadores, a não ser no momento necessário, quando foram do restaurante ao cinema. Escolheram um filme de romance ambientado no século dezenove e iniciaram a sessão com um grande balde de pipoca, mesmo tendo almoçado recentemente. 

A atenção de ambos estava voltada à tela e pouco depois da metade do filme, Lucas percebeu que uma das mãos de Brock pousava no seu ombro oposto a ele, abraçando-o ligeiramente. Não se incomodou nem um pouco com o gesto, apoiando sua cabeça nele após isso, sentindo-se confortável. 

O filme estava quase acabando e Lucas ainda permanecia apoiado em Brock, que agora usava sua mão livre para tocar a mão do loiro que havia pousado em sua coxa sem nenhuma segunda intenção. O instrutor não se aguentava de felicidade em como as coisas iam, não querendo que acabasse tão cedo.

Mesmo assim, a hora voou e o filme chegou ao fim. Conversaram sobre suas considerações do que tinham assistido enquanto os créditos passavam e se levantavam, indo para fora da sala. Sentaram-se depois  de darem uma volta pelo ambiente, onde ficaram mais um pouco e falaram de seus gostos pessoais e hobbies, não querendo que o encontro chegasse ao fim.

Brock ofereceu a carona e Lucas aceitou, era uma ótima oportunidade para conversarem um pouco mais. Encarar o trânsito não pareceu demorado como nos outros dias, o tempo havia passado correndo para ambos pela companhia agradável que tiveram. 

— Obrigado por me trazer, hoje foi ótimo. — O loiro agradeceu, tirando o cinto.

— Digo o mesmo, já quero te ver amanhã. É exagero da minha parte?

— Eu vou estar livre. — Lucas sorriu, percebendo que ele olhava para seus lábios, assim aproximando seu rosto o suficiente para que ele entendesse como sinal verde. 

Brock tocou gentilmente sua bochecha e avançou o restante da distância para tocar seus lábios. Beijou-lhe delicadamente, sem tentar nada atrevido, percebendo todos os seus gestos serem retribuídos pelo loiro. Ao afastar-se devagar, viu-o abrir os olhos azuis e sorrir em seguida, despedindo-se uma última vez antes de sair do carro. 

Lucas observou-o ir embora e entrou no prédio, subindo até o andar pensando nas perguntas que ouviria dos amigos. 

— Boa tarde, gente. — Entrou em casa, vendo os dois no sofá, vendo um filme.

— Oi, Lu! Chegou cedo! — Rachel virou-se para ele. — Como foi?

— Foi bem legal, a gente vai se ver de novo amanhã. — Resumiu.

— Sério? Então foi bom mesmo! — Ela animou-se.

— Rolou beijo? — Alberto quis saber.

— Rolou. — Afirmou, rindo ao ver Rachel dando batidinhas no meio do sofá onde estavam sentados, em sinal de que era para ele se aproximar. 

— Vem, pode vir contando tudo em detalhes.

Domingo, 17 de março de 2013.

O loiro estava mais ansioso do que no dia anterior, o primeiro encontro tinha sido ótimo e portanto, sua expectativa para esse segundo era mais alta. Como marcaram para jantar juntos e Lucas ainda não sabia o que fariam depois, pensou em levar os remédios consigo, pois costumava tomar após os jantares e não queria esquecê-los, nem que tivesse que tomar escondido, iria levá-los. 

Era de tarde e tentava distrair-se até a hora de se arrumar para sair com Brock. E por estar ouvindo música, mal percebeu que estava atrasado. Mesmo que estivesse com pouco tempo, correu para o banho, se lavou o mais rápido que conseguiu e saiu do banheiro, ouvindo Alberto dizer de longe:

— Ei, Lu, seu amigo chegou pra te buscar. Ele tá te esperando, falo pra ele subir?

— Pode chamar, não quero que ele fique me esperando lá embaixo. — Lucas respondeu o amigo, ainda de toalha, indo ao seu quarto. 

Se trocou rápido e arrumou o cabelo, passando perfume em seguida, calçando os sapatos antes de sair do quarto. Deparou-se com Brock na sala, que levantou-se após vê-lo, dizendo:

— Você tá lindo.

— Eu tentei. — O loiro sorriu. — Você também tá muito bonito. 

— Vamos?

— Vamos, mas espera um pouco, vou pedir pro Al tirar uma foto nossa. — Lucas pediu um instante, pedindo o favor ao amigo. 

Os dois posaram para foto e o loiro colocou uma das mãos no tórax de Brock, ficando de lado, quase abraçando-o para a foto. 

— Ficou ótima, depois mando pra você, Lu. — Alberto declarou, abaixando seu celular. 

— Valeu, Al. Até mais tarde. — O loiro pegou em uma das mãos de Brock, indo para a porta. 

Andaram pelo corredor de mãos dadas e ao chegar no elevador, Lucas perguntou, aproximando seu corpo do dele:

— Já decidiu onde vamos hoje?

— Escolhi um restaurante ótimo, de gastronomia francesa. — O instrutor respondeu.

— Que delícia, tô com fome. — Sorriu, olhando para suas duas mãos unidas. — E depois?

— Era isso o que eu queria decidir com você… eu fiquei em dúvida do que você gosta de fazer, então eu queria te perguntar. A gente pode dar uma volta e conhecer algum lugar, ou até mesmo ir pra minha casa, se você quiser.

— Ontem quando você comentou comigo da sua cachorrinha, eu fiquei com vontade de conhecer ela, sabia?

— Ah, é? — Brock abriu um sorriso malicioso, vendo a porta do elevador se abrir em seguida. — Podemos ir pra lá depois de jantar, então. 

— Eu gosto da ideia. — Caminhou com ele para fora do prédio. 

Seguiram juntos ao restaurante e tiveram mais conversas agradáveis, era recíproca a atenção que cada um dava ao assunto do outro. E após terem pedido a sobremesa, Lucas pediu um instante para ir ao banheiro, onde tirou um tempo para tomar o remédio sem o questionamento dele, não queria ter que contar daquela parte de sua vida no momento. 

Voltou para a mesa e pouco depois de terem finalizado, por mais que o loiro insistisse para ajudá-lo a pagar, viu-o fechar a conta e pagar, dizendo que outro dia eles poderiam dividir, mas aquela noite ele queria que fosse especial.

Brock confirmou se ele queria realmente ir pra sua casa ou se gostaria de ir em outro lugar, Lucas concordou outra vez e foram diretamente para lá. O instrutor morava em um bairro um pouco mais afastado, mas por conta disso, o prédio que morava desbancava vários apartamentos do centro da cidade.

Chegaram e mal Brock abriu a porta, já foram recebidos pela felicidade da pequena cachorra de pelos dourados, que ia contente para o dono, ao mesmo tempo que também queria socializar com o novo amigo. 

— Essa é a Mia, minha neném. — Apresentou-o para ela, segurando-a em seu colo enquanto fechava a porta. — Ela é um doce.

— Ela é muito simpática. — Lucas acariciou-a. — E também uma gracinha, eu posso pegar?

— Aqui. — Passou-a para seu colo. 

— Ela parece um travesseiro, bem fofinha. 

— Ela é lulu da pomerânia, eles não crescem muito, tem mais pelo aí do que cachorro. 

— É verdade. — O loiro riu, enquanto acariciava as costas da pequena. 

— Então, tá a fim de beber alguma coisa? Eu tenho vinho, gin, uísque.

— Ah, não. obrigado. Mas fica à vontade pra beber se você quiser.

— Eu tô bem também… Tá a fim de ver um filme? Tem bastante coisa legal aqui. — Caminhou para o sofá, sendo seguido por ele. 

— Pode ser. Tem algum filme antigo? — Lucas sugeriu.

— Eu tenho ghostbusters. — Riu. — Você gosta?

— Já vi milhares de vezes, eu amo. — Respondeu, sentando-se ao lado dele no sofá, ainda com Mia no colo. 

— Então vai esse. — Abriu o DVD e inseriu o filme, voltando para o sofá. — Ah, Lucas, tem uma coisa sobre a Mia que eu não te falei, ela gosta de dar beijos, então cuidado que daqui a pouco ela pode roubar alguns. 

— Isso não é um problema, eu gosto de beijos roubados. — O loiro falou sugestivamente, vendo-o ser pego de surpresa por aquilo.

— Gosta, é?

— Gosto. — Aproximou seu rosto do dele, sendo puxado pelo pescoço para aproximar-se até ter seus lábios tomados. 

Lucas subiu com uma das mãos pelo tórax do instrutor, ainda por cima da camisa que ele usava, sentindo-o aprofundar o beijo conforme ele percebia que estava disposto a ir além. Seu pescoço foi tomado por beijos furtivos antes que ele voltasse para sua boca, sugando-a com mais vontade, demonstrando todo o desejo acumulado. 

Deixaram claro um para o outro o que queriam, dando liberdade para que se tocassem além de onde as roupas cobriam. Dando atenção apenas ao caminho que faziam ao quarto, enquanto Mia era a única na sala que assistiria ao filme. 

Lucas se esticou para pegar o celular no bolso da calça que estava jogada ao chão, vendo que horas eram.

— Já passou da meia-noite. — O loiro virou-se para ele na cama. — É melhor eu ir, antes que fique ainda mais tarde.

— Por que você não fica por aqui hoje? 

— Eu agradeço a gentileza, mas não quero te atrapalhar, também tenho que trabalhar amanhã e nem estou com minhas coisas aqui. 

— Isso não é um grande problema, a gente pode acordar mais cedo e eu posso te deixar no seu prédio. 

— Ah, eu não sei… prefiro ir pra casa, tá bom? 

— Tudo bem, mas saiba que eu preferiria que você ficasse. — Acariciou a coxa desnuda do loiro, fazendo-o pensar que no dia seguinte poderia repetir o que fizeram. 

— Tem certeza mesmo que não seria um problema? — Lucas indagou, mordendo o lábio, levemente relutante. 

— Eu adoro a sua companhia, falo sério. 

— Se você diz, então eu fico. — Sorriu, sendo agarrado por ele outra vez, recebendo mais beijos em comemoração. — Ah, só me dá um minutinho pra eu avisar o Alberto que não vou dormir em casa hoje. 

— Esse é o namorado da Rachel, né?

— Ele mesmo, conheci ela por ele, inclusive. — Sentou-se na cama, pegando o celular novamente. — Ele é uma ótima pessoa, está me deixando ficar por lá enquanto eu me resolvo na vida. 

— Todo mundo precisa de um amigo assim, seria legal sair com os dois algum dia. — Brock afirmou, também sentando-se na cama. 

— Pronto, mensagem enviada. — Lucas largou o aparelho.

— Eu tô ficando com fome, posso fazer um lanchinho pra gente? 

— Eu aceito. — O loiro sorriu, recebendo um beijo na bochecha dele antes de vê-lo se levantar. 

Segunda-feira, 18 de março de 2013.

Alberto tinha acabado de se trocar para ir ao trabalho e estava fazendo o café da manhã apenas para ele, já que Lucas tinha dormido fora. Como amigo, ficou feliz que o loiro estivesse conseguindo dar os primeiros passos para seguir em frente com um novo alguém, já seu lado ciumento alarmava e seu lado cupido-casamenteiro queria reuni-lo com Marcus. 

Aquela era uma probabilidade vaga e que talvez em um universo paralelo onde Marcus não tivesse feito besteira poderia até ter uma chance de conseguir aquela proeza, apesar de tudo, sabia que seu velho amigo estava arrependido e queria trazê-lo para perto, mesmo que Lucas nunca o perdoasse. 

Alberto nunca teve a oportunidade de vê-los como um casal, mas ainda assim, tinha esperança de que algum dia aquilo pudesse acontecer, pelo menos, em sua cabeça, aquilo era o cenário mais perfeito imaginável. Um mundo mágico que acontecia apenas em suas ilusões, que todo mal pudesse ser apagado e onde todos se perdoavam mutuamente.

Na noite anterior, assim que Lucas saiu de casa, não conseguiu deixar seu lado fofoqueiro de lado e foi ao computador, enviando as duas fotos novas que tinha do loiro para Marcus, a primeira de sábado e a segunda de domingo, onde ele estava acompanhado de Brock. Não sabia bem o que pretendia com aquilo, mas não conseguia evitar, tinha uma pulguinha que fazia com que sentisse vontade de provocar o velho amigo e não conseguia fugir das tentações dela. 

Agora, comia o café da manhã sozinho, sentindo-se um idiota ao lembrar-se do que tinha enviado para Marcus, mas já tinha sido feito. O que poderia fazer dali em diante, era controlar os impulsos de tagarelar todas as coisas que vinha em mente, principalmente porque já havia magoado Lucas antes e precisava mudar seu comportamento para que não acontecesse de novo.

O telefone tocou e levantou para atender, pensando ser o loiro, que poderia estar ligando para avisar-lhe de algo. 

— Alô?

— Alberto? Sou eu…

— Marcus! Quer dizer, Mark. Que surpresa! Você nunca liga nesse horário, ainda mais que o horário daí é sempre uma hora mais cedo do que pra mim, né?

— Você tá indo trabalhar? — Ele indagou, fazendo o amigo perceber que a voz dele estava estranha.

— Vou daqui a pouco, mas fica tranquilo, pode me falar… o que foi? Aconteceu alguma coisa?

— Eu… preciso falar com o Lucas. Passa pra ele, quero falar com ele.

— Ele não tá em casa, dormiu fora. — Alberto respondeu, preocupando-se ainda mais com o tom de voz dele. — O que houve? Fala pra mim.

— Eu tenho que falar com ele, Al, eu preciso, eu preciso falar, eu tenho que me desculpar… eu não aguento, eu tenho, ele tem que saber… — Fez uma pausa, onde Alberto conseguiu ouvi-lo fungar, continuando a dizer. — Eu fiz tudo errado, Al...

— Calma, calma… — Pediu, percebendo então que ele tinha bebido, e não era pouco. — Você tem que me contar o que aconteceu, e bebe água, você tá bebendo água? Onde você tá?

— Tô no meu quarto… eu nem devia ligar desse celular, mas eu preciso falar com ele, ele tá aí? 

— Você pode falar com ele mais tarde, tá bom? — Alberto sentiu seu coração apertar. — Primeiro você tem que se acalmar, beber uma água, tirar um cochilo e depois sim você vai poder falar com ele. 

— Eu quero falar com ele agora! Eu tenho que contar pra ele, eu tô sentindo falta dele, eu tô com saudade dele, eu preciso dele agora… eu tenho que contar pra ele, eu tenho que me desculpar, Al, eu fiz tudo errado, eu fiz besteira. — Desabafou lentamente, com a voz embargada tanto pela bebida, quanto pelo provável choro por seu nariz parecer obstruído. 

— Eu queria poder estar aí, eu queria poder te ajudar, você sabe que pode voltar quando quiser. E eu vou te receber de braços abertos.

— Eu não posso, Al… ele me odeia, você me odeia.

— Eu não te odeio, não diga isso! 

— Eu não mereço… não mereço esse mundo, não mereço nada porque eu sou um canalha, é o que eu sou, você também me disse isso, ele me disse isso, eu não presto, eu só sei foder as coisas, é isso. — Falou com a voz enrolada, com Alberto conseguindo decifrar o que estava dizendo.

— Marcus, você dormiu essa noite?

— Ainda não, eu vi o sol nascer, Al… como a gente fazia quando eu dormia na sua casa.

— Eu lembro. — Alberto sentiu o peito doer mais uma vez, segurando o choro. — Você bebeu a noite toda, não foi?

— Eu não… não queria. 

— Vai ficar tudo bem, sempre fica. — Tentou confortá-lo. — Tenta dormir um pouco, tá bom? Mais tarde você liga pra mim de novo, pode ser? 

— Mas eu quero me desculpar com ele… — Pediu manhoso.

— Você vai, tá bom? Você vai. Só promete pra mim que vai tentar dormir um pouco agora.

— Eu não quero.

— Você precisa, tá? Finge que eu tô aí puxando sua orelha, bebe um copo grande de água e vai dormir. Você faz isso?

— Tá. — Marcus afirmou, com Alberto ouvindo o que parecia ser ele dando goles em alguma coisa, apenas torcendo para ser água e não mais bebidas. 

— Vai dormir agora, tá?

— Eu vou. 

— Até mais tarde então. — Despediu-se, sabendo que não valia a pena falar mais nada, pois ele não estava em sã consciência para qualquer outro sermão. 

Percebeu um silêncio antes da chamada ser desligada e Alberto suspirou, colocando o telefone de volta à base, sentindo-se completamente destruído. Era horrível não saber onde exatamente o amigo estava, apenas que era em outro país.  Se sentia impotente e queria poder estar lá para ajudá-lo, torcendo para que ele conseguisse descansar um pouco até a embriaguez passar. 

Terça-feira, 19 de março de 2013.

Já no dia seguinte, Alberto ainda estava sem respostas do amigo do ocorrido, não deixando de olhar o celular durante todo o dia, torcendo para que ele lhe mandasse algum sinal de vida.

Chegando a hora de fechar a livraria, percebeu que tinha um aviso no celular, indo verificar sua caixa de entrada com pressa. Assim como torcia para ser, era um e-mail de Marcus lhe pedindo desculpas por ter sumido, dizendo que finalmente tinha se recuperado do dia anterior, deixando Alberto aliviado em saber que ele estava bem.

Apesar daquilo, algo no fim da mensagem lhe deixou agitado, ele dizia que ligaria em algumas horas e que precisava esclarecer umas coisas com Lucas, já que agora estava sóbrio o suficiente para aquilo. 

Foi para casa o mais rápido que conseguiu, pensando no caminho todo se deveria deixar o amigo atender o telefone naquela noite. Não sabia se seria uma boa ideia, ao mesmo tempo que sabia que aquilo era necessário. 

Chegou ao apartamento e Lucas ainda não havia voltado com Rachel da academia, seu coração estava disparado pela ansiedade, pensando se interviria ou não naquela ligação que o amigo faria em breve. 

Bebeu água para se acalmar e tentou não transparecer a agitação que sentia quando a namorada chegou acompanhada do amigo, cumprimentando-os diretamente da cozinha, estava cozinhando para tentar se distrair. Lucas partiu ao banho e Rachel aproximou-se dele, lhe dando um selinho antes de perguntar:

— Al, tem alguma coisa que eu possa te ajudar? 

— Não, eu tô bem, eu tô bem. — Negou a ajuda, sem conseguir encará-la por mais de alguns segundos. 

— Não parece. — Ela cruzou os braços. — Desembucha.

Alberto era transparente com seus sentimentos e isso fez com que ela o interrogasse até que ele finalmente dissesse o que estava o preocupando, contando sobre a ligação de Marcus do dia anterior e o estado dele, assim como o que ele havia dito, sabendo que em pouco tempo, entraria em contato e conversaria com Lucas. 

— Olha, eu sei que você só quer ajudar, mas agora é a hora que você tem que se afastar um pouco, deixa o Luke resolver isso, se ele não quiser conversar, ele não vai. Tá tudo bem, vocês não vão se desentender de novo por causa disso, confia em mim… — Ela aconselhou. — E se quer saber, eu acho que esse Marcus tá tentando fazer a coisa certa, então deixa os dois conversarem. 

— Tá bom, eu só tô com medo. — Alberto assentiu, voltando ao que fazia na cozinha, agora aceitando a ajuda dela. 

Os dois quase finalizavam o jantar quando Lucas saiu do banho, se arrumando e depois indo ao encontro deles, falando um pouco mais do seu dia de trabalho, até como estava sua relação com Brock. 

Foi então que o telefone começou a tocar, fazendo Alberto gelar por completo. Lucas não estava atendendo os telefonemas nos últimos dias, mas como naquele momento era quem se encontrava mais próximo do aparelho, foi até lá, tirando-o da base e atendendo.

— Alô? 

— Oi loirinho, sou eu. — Marcus saudou-o, provocativo como sempre. 

— Eu vou passar pro Alberto. — Revirou os olhos.

— Não! Espera! É com você que eu quero falar.

— O que você quer? — Lucas indagou, aborrecendo-se.

— Eu só quero dois minutos do seu tempo, é só isso, eu prometo que vou tentar ser o mais breve possível, mas eu preciso mesmo falar com você. — Insistiu, torcendo para que ele aceitasse.

— Tô ouvindo. 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Eita! Agora ficou tenso! O que vocês acham que vai acontecer? Me digam nos comentários! ♕