Stranger escrita por Okay


Capítulo 34
Caminhos.


Notas iniciais do capítulo

Beijos e Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 29/09/2020



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Capítulo 34 — Caminhos. 

Terça-feira, 5 de março de 2013. 

— Oi, Al, acabei de falar com a Amber, aquela moça que eu comentei com você que é amiga da minha professora. — Informou-o, quando estavam prestes a sair para o almoço. 

— E aí, conseguiu uma entrevista com ela?

— Consegui! Ela só tinha horário na quinta-feira, então eu vou morrer de ansiedade até lá, mas pelo menos tenho um tempo pra me preparar, estudar um pouco sobre a empresa, sobre a própria Amber e treinar meu espanhol, pensei que você poderia me ajudar… Você fala espanhol, né?

— Só porque meu nome é Alberto você já deduz que eu seja latino e fale espanhol? — Falou, fazendo com que o loiro parecesse confuso, e com isso começou a rir pouco depois com a expressão dele. — É brincadeira! Boa parte da minha família é mexicana e eu aprendi a falar espanhol na infância. Hoje estou um pouco enferrujado, mas posso tentar te ajudar sim. 

— Ufa! Que susto! Eu achei mesmo que eu estava sendo xenofóbico! — Lucas falou, com a mão no peito. 

— Desculpa! Eu adoro fazer essa brincadeira com as pessoas, é um hobbie maldoso, eu sei. — Riu, puxando-o para um abraço. 

Quinta-feira, 7 de março de 2013.

O dia da entrevista havia chegado e Lucas já estava pronto para sair, tendo previamente combinado com Alberto, não iria à livraria, tirando o dia para se preparar. Enquanto esperava o táxi chegar, aproveitou a luz do sol para tirar uma foto com a câmera de seu celular novo.

A fotografia ficou tão boa que decidiu postá-la na sua nova rede social, percebendo que Rachel já havia curtido sua foto em poucos minutos depois de compartilhar a imagem. Riu com o comentário histérico da amiga sobre sua aparência, guardando o celular no bolso ao perceber que seu táxi estava chegando. 

Durante o caminho, ficava percorrendo todo o diálogo que havia treinado consigo mesmo sobre as possíveis perguntas que Amber lhe faria, tentando articular-se mentalmente para convencer a mulher, que parecia extremamente exigente, com medo de que fosse um completo desastre. 

Chegou ao prédio da revista mais rápido do que gostaria e se encaminhou para o andar indicado pela recepcionista. Era como se pudesse ouvir seu coração enquanto subia pelo elevador ao último andar, percebendo que suas mãos estavam frias e molhadas de suor. 

Apresentou-se para a secretária, que pediu para que esperasse um instante que ela lhe chamaria em breve. Aproveitando para dar uma olhada em todo o andar antes de se sentar e, como a maioria das divisórias eram de vidro, conseguia ver a quantidade de pessoas trabalhando lá dentro, não deixando de reparar que eram muito estilosas. 

Começou a pensar que apesar de estar bem vestido, ficou em dúvida se realmente estava de acordo com o nível do pessoal da empresa, pensando se teria escolhido a roupa certa para a entrevista. Havia comprado as peças que usava assim que a entrevista foi marcada, jeans escuros e camisa de botões branca para fora da calça, complementando com um tênis escuro. 

Recusou educadamente a oferta de um café que a secretária Lucy lhe propôs, pois do modo que estava nervoso com aquilo, poderia acabar manchando a camisa branca e ainda passar vergonha na frente da entrevistadora. 

Tentou manter-se em postura ereta sentado na sala de espera, queria passar uma boa impressão para quem o visse ali, se é que alguém se importava com sua presença. Mesmo assim, fez questão de parecer um bom candidato desde o início, nem sequer mesmo pegando em seu celular para conferir mensagens, estava presente ali de corpo e alma. 

Respirou fundo ao ouvir passos da secretária em sua direção, ouvindo em seguida:

— Sr. Fontaine, a Srta. Powell já pode recebê-lo agora. Me acompanhe, por gentileza. 

O loiro levantou-se e a seguiu enquanto olhava para os lados, agora ainda mais impressionado com o local de trabalho, com alguns funcionários em seus computadores, digitando concentrados ou ao telefone com pessoas aparentemente importantes, enquanto outros desfilavam pelos corredores carregando pastas e esbanjando boa aparência. 

Foi deixado pela secretária Lucy em frente à porta de vidro do escritório de Amber, onde pediu licença antes de entrar, estendendo a mão para cumprimentá-la. 

— Sente-se. — Ela falou após cumprimentá-lo, acomodando-se de volta à própria cadeira, colocando os cotovelos sobre a mesa antes de perguntar. — Então você é aluno da Catherine, certo? Ela é uma grande parceira nossa hoje, mas também é uma amiga muito antiga minha… Falei com ela ao telefone e apenas ouvi bons comentários a seu respeito. 

— Fico feliz com isso. — Lucas sorriu com o elogio, percebendo que ela parecia ter a mesma idade de sua professora, que estimava ter um pouco mais de quarenta anos. — Ela me inspirou na minha tese, estou gostando muito da cadeira de Comunicação e Cultura. 

— Ótimo saber! — Amber falou animada. — Qual o tema da tese?

— Comunicação informal nas redes. — Respondeu. — Também estou estudando a possibilidade de desmistificar o marketing em relação ao jornalismo, mas ainda não sei qual seria a aceitação dos examinadores em relação a isso. 

— Olha, eu vou te falar, essa é uma coisa que tá faltando muito hoje, já cansei dessa ideia de que apenas o pessoal da publicidade pode cuidar dessa parte, então gostei muito dessa iniciativa sua. — Ela admirou-se, querendo saber mais. — E como surgiu o interesse por esse tema?

— Foi em um trabalho voltado à web, onde tivemos que criar um blog e gerar conteúdo pra ele. Eu percebi que se podia alcançar um público muito mais direcionado conforme eu mudava a maneira que eu abordava cada assunto, tive resultados impressionantes, que inclusive usarei de exemplo na tese. 

— Me anima muito que você já tenha essa mentalidade, porque é uma qualidade rara nos redatores hoje, muitos têm o potencial para dar certo, mas não conseguem se adaptar nesses conceitos simples. Tudo é muito dinâmico no mercado hoje. — Amber tirou os braços de cima de sua mesa para aproximar a cadeira de seu computador. — Posso dar uma olhada nesse seu blog agora? 

— Ah, mas é claro. — Sentiu sua garganta ficar seca, não estava pronto para aquilo, passando o link para ela. — Não repare, porque a estética é amadora, eu fiz tudo sozinho e eu não sou web designer. 

— Ah, não, está ótimo assim. — Ela falou, após colocar seus óculos de leitura. — A estrutura dos tópicos está excelente, seus parágrafos também. Gostei também do engajamento dos títulos. Você pretende dar continuidade ao blog depois da tese?

— Eu ainda não pensei nisso, mas pode ser uma possibilidade, porque eu realmente gostei de escrever para ele. E o tema saúde também é algo que me agrada. 

— A mim também. — Pontuou. — E qual a sua pretensão salarial?

Lucas não esperava por aquela pergunta, não havia preparado nada e tinha sido tão repentino que apenas falou o primeiro valor que veio em mente, sem pensar muito a respeito. 

— Dois. — Engoliu em seco, torcendo para que não tivesse sido abusivo no preço, pois era apenas uma vaga de estágio. 

— Te mandarei um e-mail até o fim do dia, está bem? Já tenho todos os seus dados salvos aqui comigo. — Ela levantou-se para se despedir do rapaz, estendendo sua mão. — Foi um prazer, Lucas. 

— Igualmente, Srta. Powell. — Retribuiu a saudação, já de pé, saindo da sala logo após isso. 

Andou pelos corredores de volta à entrada ainda sem acreditar que já havia acabado, com medo de que tivesse dito algo indevido ou se o valor que havia passado teria sido irreal. Torceu para que ela gostasse dele, despedindo-se de Lucy antes de entrar no elevador. 

— Dá um tempo nesse celular, ela vai responder! — Rachel aconselhou o amigo. 

— Daqui a pouco vai dar seis horas da tarde, eu tenho quase certeza que ela vai me mandar e-mail antes de sair do trabalho! 

— Não quer dar uma distraída? Quer ir pra academia comigo? — Ela ofereceu.

— E quem disse que eu tenho cabeça pra malhar hoje? — Lucas objetou, ainda pendurado ao celular. 

— Boa noite! — Alberto adentrou o apartamento após chegar do trabalho, vendo os dois ao sofá. — Como foi na entrevista, Lu?

— Fui bem, eu acho. — Respondeu, em dúvida. — É que foi tudo muito rápido e a Amber foi muito objetiva, eu não tava esperando por isso… Eu jurei que ela ia me fazer as clássicas perguntas dos entrevistadores e fazer caras e bocas pra me desestabilizar, mas foi basicamente um bate-papo sobre o que estou fazendo na faculdade, além de ela ter visto meu projeto escolar como portfólio…

— Acho que isso é uma coisa boa, afinal é um estágio, é pra ser descomplicado. Eu sei que é uma revista importante, mas você já tem uma recomendação influente e é um dos melhores alunos da sala, com certeza isso conta muito. 

— Eu não sei, Al… Acho que eu posso ter estragado tudo quando falei que a minha pretensão salarial era de dois mil dólares ao mês.

— Relaxa, tudo nesse mundo é negociável, você não poderia falar um valor muito abaixo do que você merece, ninguém faz isso. Fica tranquilo. 

— Fala pro Luke que ele precisa relaxar! — Rachel pediu ao namorado. — Ele não quer sair desse celular porque ela disse que ia mandar e-mail até o final do dia.

— É o e-mail dela! — Lucas interrompeu todos ao gritar a frase. 

— O que tá dizendo aí? — Alberto indagou, aproximando-se mais, enquanto Rachel esgueirava-se ao lado do loiro para tentar ler algo. 

— Eles mandaram uma contraproposta com o valor de mil e oitocentos mensais. — Lucas resumiu a mensagem, segurando um sorriso. 

— Você conseguiu! — Rachel animou-se, puxando-o para um abraço. 

— Parabéns, Lu! Você merece demais! — Alberto abraçou-o do outro lado. 

Lucas recebeu beijos nas suas duas bochechas pelos amigos, decidindo responder o e-mail na manhã seguinte para poder ter tempo de pensar melhor na proposta. 

— A gente tem que comemorar! — Rachel animou-se, ficando de pé. — Vamos sair pra jantar e beber! 

— Eu não posso beber, mas eu tô a fim de sair. — O loiro concordou. 

Alberto também concordou, apenas pedindo um instante para poder trocar de roupa e ficar pronto para sair. Rachel afirmou que pagaria a conta de todos naquela noite, com todos votando para irem a um restaurante famoso pela gastronomia italiana. 

Marcus não tinha a mínima pretensão de ser discreto naquela noite, já era o segundo dia em que via a graciosa bartender Angela lhe atender e estava cada vez mais interessado em fazê-la notar sua presença. Não sabia até que ponto ela havia reparado em si, mas faria com que ela soubesse seu nome até o fim daquela noite. 

Tentava ser sutil e educado ao fazer um novo pedido a ela, sorrindo todas as vezes em que ela se aproximava. A verdade era que mesmo que tentasse, não conseguia mais disfarçar seu crescente interesse. 

Angela trajava uma camisa branca de botões por baixo de um colete social preto, que combinava com suas calças. Sua franja solta era a parte mais longa de seu cabelo, pois as laterais eram raspadas, com um batom vermelho vivo realçando seu sorriso carismático, deixando seu rosto ainda mais alegre. 

Ela lhe encarou mais uma vez enquanto trazia seu próximo drinque, fazendo-o vibrar internamente ao trocar contato visual com seus brilhantes olhos azuis, se retirando para atender outra pessoa. 

Marcus não conseguia tirar os olhos dela, ela tinha algo que a deixava iluminada. Olhar para ela era tão viciante que ele até mesmo se esqueceu de tomar sua bebida, ainda vendo-a se mexer atrás do balcão.

Alguns dos clientes que estavam sentados ao seu lado da bancada se retiraram após pegarem suas bebidas e o homem que atendia com Angela, limpava as mesas espalhadas pelo ambiente externo, onde Marcus percebeu então que, por poucos instantes, teve a oportunidade de ficar a sós com ela. 

— Algum problema com a bebida? — Angela se aproximou, ao ver que ele ainda não havia tomado seu drinque, mesmo após vários minutos de ter sido entregue. 

— Não, nenhum. — Respondeu. — Mas eu queria te perguntar uma coisa. 

— Diga, o que é? — A loira prontificou-se. 

— Você é nova aqui? — Marcus indagou. 

— Não, na verdade trabalho há quase dois anos no hotel. — Ela respondeu. — Por quê?

— É que há um tempo atrás eu não te vi por aqui e eu tenho certeza de que eu me lembraria se tivesse visto uma mulher tão bonita antes. — Paquerou-a, já alegre pelas bebidas anteriores, mas estava sóbrio o suficiente para ver o rosto dela se contorcer em uma careta. — Já sei… você ouve isso todo dia né?

— Olha só, você se tocou rápido! — Ela riu baixinho. — E você é bem bonito também, então posso te dar uma vantagem, nessa. 

— E com essa vantagem eu consigo te levar pra sair? — Ergueu uma das sobrancelhas, com ela cruzando os braços com sua petulância, segurando a risada. 

— Eu não saio com clientes. 

— Então que horas acaba seu turno?

— Me desculpa se você não entendeu, mas eu não posso sair com você. — Ela descruzou os braços, vendo-o dar um gole na bebida sobre o balcão. 

— Sabe, Angela? A gente nunca sabe quem a gente pode encontrar em um bar. — Bebeu outra vez. — Quem sabe o amor da sua vida? Ou apenas uma transa boa...

— Você é bem direto, né?! — Ela riu com o descaramento, vendo um sorriso pervertido formar-se no canto do lábio dele. 

— Eu tento ser. — Tomou outro gole do uísque. 

Desviou seu olhar ao perceber que ela havia ficado envergonhada, voltando sua atenção ao gelo que restou no fundo de seu copo. Dessa forma, apenas levantou-se, já de costas quando ouviu-a dizer:

— Às dez. 

Marcus, ligeiramente surpreso, sorriu com aquilo, encarando-a, dizendo:

— Te espero no hall

Já beirava quase meia-noite quando os três amigos chegavam em casa, felizes com o jantar que tinha sido ótimo e apesar de Lucas ser o único que não havia bebido, estava tão alegre quanto os outros.

— Achei muito mesquinho o gerente do restaurante não deixar a gente dar um show de graça pra galera de lá, tenho certeza que iriam adorar me ouvir cantando! — Rachel falou, desabando no sofá do namorado em seguida. 

— O Lu também canta bem, ele até diz que não, mas já ouvi ele cantarolando e cantando baixinho pela casa, ele fica com vergonha quando eu o elogio. — Alberto acrescentou.

— Ah, tá brincando comigo né? — Rachel levantou em um pulo do sofá, caminhando até o loiro, que pegava um copo de água na cozinha. — Agora você vai ter que cantar pra eu ouvir!

— E o que você quer ouvir? — O loiro deixou o copo de lado, vendo a amiga totalmente embriagada saltitar de empolgação.

— Britney! Britney! — Ela pediu histericamente.

— Eu não sei cantar nenhuma dela… 

— Mentiroso! — Ela retrucou, o conhecia bem o suficiente para saber que ele tinha a maioria das letras da cantora loira na ponta da língua.

— Tá bom, tá bom... — Se rendeu com facilidade. — Alguma em especial? 

— Não, pode ser qualquer uma… — Ela empolgou-se. 

— Eu canto, mas com uma condição.

— Qual? — Rachel indagou, enquanto Alberto se aproximava dos dois.

— Você vai ser minha backing vocal… Eu preciso de apoio. 

— Tá bom, tá bom! — Ela agitou-se. 

— Eu vou adorar isso. — Alberto riu baixinho, vendo Lucas se posicionar no meio da sala, combinando qual música cantaria com a amiga. 

— Ah, eu amei! Mas espera um pouco! — Rachel exclamou, correndo para sua bolsa, procurando algo dentro dela. — Achei!

— O que é? — Lucas não tinha entendido de início o que ela havia pego, até pedir para que ele se sentasse para arrumar seu cabelo. — Ficou lindo! 

— Maria-chiquinha? Sério? — Alberto indagou, olhando para os curtos cabelos do loiro divididos ao meio, rindo consigo mesmo. 

— É por causa do clipe! — Lucas explicou, enquanto Rachel arrumava a camisa de botões que ele usava.

O loiro agora estava com a parte debaixo da camisa desabotoada, onde a amiga deu um nó para que ele ficasse como a cantora, de barriga de fora e com a camisa amarrada na frente, no meio da cintura. 

— Você tá uma gracinha. — Alberto se divertia com os dois, sentando na poltrona da sala para aproveitar o show. 

— Acho que agora podemos começar! — Rachel confirmou o look do amigo. — Mas se você quiser eu tenho maquiagem!

— Maquiagem não precisa, Rach. — Lucas riu, sabendo que, se deixasse, ela realmente pintaria sua cara toda. 

— A música já tá escolhida, vamos começar então! — Ela bateu palma duas vezes, ficando de pé atrás dele. 

Alberto viu o amigo começar a cantar baby one more time e no mesmo momento soube que aquela era uma oportunidade única e precisava gravar os dois. Pegou seu celular e começou a filmar discretamente para não atrapalhá-los.

O que era totalmente inesperado e que deixou a situação ainda melhor, foi o fato do loiro aparentemente saber a coreografia da música, fazendo com que seu vídeo ficasse ainda mais icônico. Lucas cantava bem e mesmo com a situação toda sendo engraçada, os dois formavam uma bela dupla de cantores.

My loneliness is killing me… 

And I! — Rachel completou o coro. 

— I must confess, I still believe…

— Still believe! — Ela continuou outra vez, sendo a melhor backing vocal bêbada já vista. 

When I'm not with you I lose my mind… Give me a sign

Alberto terminou de filmar para em seguida curtir o show, ficando pensativo sobre a letra da música e se o amigo teria a escolhido de propósito em relação ao período que ele estava vivendo. Mesmo que não fosse o caso, ele era uma ótima Britney homem e arriscava dizer que alcançava notas ainda mais agudas que as da música original. 

— Não vai me perguntar como se saiu? — Angela questionou-o de pé, enquanto terminava de abotoar sua camisa, achando seu colete social no chão.

— Não precisa, se você tiver gostado, vai querer me ver de novo. — Marcus sorriu convencido.

— Um homem bem resolvido, que milagre! — Ela voltou para a cama ainda sem a calça, engatinhando e sentando sobre o colo dele. — Ou é apenas fachada pra me atrair? 

— Desde o início já deixei minhas intenções bem claras. — Acariciou as bochechas dela. — Se você precisar de companhia mais uma vez, já tem meu número.

— Mas é claro que vou te ligar… — Ela abaixou-se até ele para distribuir beijos atrevidos por seu pescoço. — Você faz um sexo incrível.

Angela subiu para a boca dele e sugou seu lábio inferior antes de se retirar de cima de seu colo, pegando a última peça de roupa que faltava vestir, subindo as calças pelas pernas e fechando o zíper. 

— Você sabe que pode ficar mais um tempinho, se quiser. — Marcus ofereceu.

— Tenho mesmo que ir, mas a gente se vê de novo. — Ela recusou o convite, olhando para o corpo seminu dele sobre a cama e mordendo o próprio lábio. — Você é muito gostoso.

Ele foi pego totalmente de surpresa com o comentário, envergonhando-se, sem saber direito o que responder. Assim sentou-se na beirada da cama e recebeu outro beijo dela, vendo-a caminhar para porta, dizendo: 

— Até depois, Mark. 

Lucas acordou antes mesmo do despertador do celular, estava ansioso demais e precisava falar com Alberto antes de enviar o e-mail definitivo para a revista. Se arrumou antes de sair do quarto, tirando a roupa de dormir e colocando o uniforme da livraria, provavelmente seria a última vez que o usaria. 

Achou o banheiro livre e terminou de ficar pronto, encontrando com Alberto na cozinha, começando a preparar o que comeriam, sendo cumprimentado por ele assim que chegou:

— Bom dia, Lu. 

— Bom dia, Al. Como você tá? Acordou bem?

— Apesar de já ter tomado um analgésico pra dor de cabeça, estou bem, quero só ver como a Dona Rachel vai levantar. Ela parecia desmaiada hoje pela manhã, não quis saber de levantar, ainda bem que o horário dela no trabalho é flexível.

— Acho que ela vai ter uma enxaqueca daquelas. — O loiro riu baixinho. — E aí, precisa de ajuda com alguma coisa?

— Se quiser montar a mesa, eu agradeço.

— Pode deixar. — Lucas pegou três pratos no armário, ajeitando-os com os talheres ao lado e os copos para cada um. — Al… Eu queria falar com você. 

— Sobre o quê? — O amigo terminou o ovo mexido que fazia em grande quantidade, despejando-o em uma travessa. 

— Sobre a oportunidade de estágio. — O loiro continuou, aproximando-se dele. — Eu ainda não respondi o e-mail, eu queria esperar pra falar com você direito sobre isso, porque foi você que me ofereceu o emprego na livraria, foi você que me acolheu, eu não quero parecer ingrato e quero que saiba que a sua opinião conta muito.

— Você tá querendo saber se eu concordo com isso? Porque você sabe que é uma decisão só sua e eu vou ficar feliz e te apoiar em qualquer uma que seja sua escolha. — Falou sinceramente para ele, sorrindo. — É claro que eu vou sentir sua falta, mas caso se arrependa, as portas de lá continuarão abertas pra você. 

— Você é demais, Al. Não sei nem o que te falar. — Lucas abraçou-o. 

— Então você vai formalizar a demissão hoje, certo? 

— Uhum. 

— Eu tô muito feliz por você, demais mesmo. — Alberto declarou, afastando-se do abraço dele, olhando-o nos olhos. — Boa sorte nessa nova fase, Lu. 

— Valeu, Al. 

Era fim de semana e enquanto Lucas fazia compras com Rachel, Alberto preferiu ficar em casa, pois tinha combinado de conversar com Marcus no horário da tarde e pediu para que a namorada levasse o loiro dali, não queria que ele ficasse desconfortável com suas interações com seu antigo amigo.

Apenas continuou com seu tique de limpeza enquanto aguardava ansioso pela ligação do amigo. E apesar de compreender o motivo dele não passar o número pessoal, não gostava de esperar por ele toda vez que combinavam de se falar ao telefone, mas isso era melhor do que trocar e-mails. O telefone tocou e atendeu com pressa, para seu alívio, era quem tanto esperava. 

— Oi, Al! Há quanto tempo! — Marcus saudou-o, em tom brincalhão.

— Você não devia me fazer esperar tanto tempo pra gente poder conversar… — Reclamou. 

— Oi pra você também. — O amigo revidou. — Mas a gente sempre se fala pelo e-mail.

— Você sabe o que eu quis dizer! Eu quero ouvir a sua voz! Assim consigo saber o que você realmente tá sentindo, ou pelo menos, eu tento. — Admitiu. — Aprendi que tendo um amigo sarcástico como você, a gente precisa ouvir a entonação da pessoa antes de tirar qualquer conclusão. 

— Que exagero! — Marcus riu com o protesto do amigo. — Eu não acho que sou tão ruim assim...

— Enfim… Senti saudade. — Respirou fundo. — Você parece feliz.

— Tem dias melhores, dias piores, mas no todo, estou tentando lidar com essa adaptação. Eu só queria que tudo voltasse ao normal.

— Eu também, nem me fale… — Alberto concordou com ele. — E então, como você está? A gente se falou muito pouco semana passada… Até cheguei a pensar que você tinha ficado chateado por eu ter desligado a ligação naquele dia que o Lucas descobriu que você estava vivo, porque foi depois daí que você começou a ficar esquisito. 

— Não, não foi por isso… Fica tranquilo. — Assumiu. — Mas falando nele, como ele tá? Você só disse no e-mail que voltaram a se falar.

— Ah, ele tá bem, inclusive ele vai sair da livraria, vai começar um estágio na segunda-feira em uma revista bem importante, eu tô muito feliz por ele. E nossa! Você precisa ver o vídeo que eu gravei dele cantando com a Rachel!

— Quero ver sim, pode me enviar. 

— Espera aí, por que esse interesse todo nele agora? 

— Que interesse? Eu só fiz uma pergunta. 

— Aham, me engana que eu gosto. — Riu, percebendo que apesar do amigo ter guardado mágoa do que houve, ainda parecia nutrir sentimentos pelo loiro. — Eu não te contei antes, porque eu queria esperar a gente se falar no telefone, mas o Lucas descobriu que a gente namorou no ensino médio, sabia? 

— Não que isso fosse um segredo, mas como aconteceu?

— Eu estava vendo uns vídeos antigos e a Rachel também estava comigo, o Lu tinha saído pra consulta dele no psicólogo e, nisso, mal vi a hora passar, quando percebi, ele estava chegando em casa e viu que eu tava vendo umas gravações da época que a gente tava no colégio… — Resumiu. — E o vídeo era de um projeto que a gente tava treinando junto e bem no meio da filmagem você me beijou e ele me olhou com uma cara, que eu nem sei descrever, é engraçado agora, mas na hora eu fiquei morrendo de vergonha porque até então só a Rachel sabia. Eu expliquei a situação pro Lu, mas ele não ficou chateado, nem nada, só parecia estar com muita vergonha e saiu da sala depois. 

— Eu queria muito ter visto isso. — Marcus riu baixinho, imaginando toda a situação. — Agora parando pra pensar, eu poderia ter trazido comigo um desses vídeos, eu até tenho algumas fotos nossas e recordações que trouxe, mas não lembrava que você tinha esses vídeos guardados. 

— É só você me passar seu endereço que eu te envio. Ou apareço na sua porta pra te entregar.

— Engraçadinho! — Falou, fazendo Alberto gargalhar. 

— Mas é sério, eu não aguento de ansiedade, a gente nunca ficou tanto tempo separado. 

— Pelo menos você tem o loirinho e a Rachel pra te fazer companhia. — Rebateu. — Tá sendo difícil pra mim também, acredite. 

— Loirinho, é? — Alberto indagou, com tom de voz sugestivo. — Fazia tempo que eu não ouvia você chamar ele assim. 

— Nem comece com essas insinuações…

— Que insinuações? Eu não fiz nada! — Contestou, cinicamente. — Mas se você viesse pra cá, eu dividiria a atenção do loirinho com você. 

— Como se ele quisesse olhar na minha cara…

— A-há! — Alberto exclamou, como se desvendasse um mistério. — Eu sabia! 

— Sabia o quê?

— Que você ainda se interessava por ele, até tentou disfarçar, mas não conseguiu! Achei que você diria algo como não querer mais nada com ele, mas você disse o que eu achei que iria dizer! Significa que dentro desse seu coração duro de pedra tem resquícios da sua paixão doida por ele.

— Você é maluco, sabe disso, né?

— Olha lá você de novo tentando disfarçar o foco da atenção dos seus sentimentos, você não me engana. — Revelou, estalando com a língua três vezes em reprovação. 

— Eu acho que eu vou desligar e te deixar sozinho com suas próprias paranoias. — Falou rindo, não querendo afirmar que as constatações dele eram verdadeiras. 

— Não, por favor, não desliga! — Alberto pediu, sabendo que, no fundo, ele não faria aquilo. 

— Tá bom, tá bom… — Riu com ele. — Só não vem com esse papo de novo.

— Vou tentar! Vou parar de falar apenas os fatos.

Alberto passou mais tempo do que os outros dias com ele ao telefone, tinha sido a melhor ligação desde então, era como se as coisas estivessem voltando ao normal, pelo menos, era o que torcia para estar acontecendo. 

Colocou o aparelho de volta à base e como ainda estava sozinho em casa, Alberto foi ao computador e transferiu os arquivos recentes de seu celular. Em seguida, abriu seu e-mail e enviou o vídeo que tinha feito do loiro cantando com Rachel e as fotos mais recentes que tinha tirado, escrevendo uma curta mensagem sobre aquilo.

Não sabia ao certo quais efeitos teria no amigo caso enviasse aquelas coisas, mas torcia para que a saudade batesse mais forte e o convencesse a voltar, queria mostrar para Marcus o que ele estava perdendo. 

Alberto só não sabia que seria tão eficaz.

Sexta-feira, 15 de março de 2013. 

Cerca de uma semana já havia passado e Lucas não tinha do que reclamar de seu estágio, eles estavam sendo bem receptivos em seu treinamento. Já havia feito um pouco de cada coisa e estava adorando trabalhar no ambiente da revista, era dinâmico e isso tornava tudo uma grande correria, mas adorava fazer parte da equipe e Amber era uma ótima líder.

Trabalhava seis horas por dia e gostava de ter mais tempo livre para si mesmo, conseguindo agora combinar com Rachel de irem à academia mais vezes, treinando com a amiga quase todos os dias, enquanto antes ia de três a quatro vezes na semana. 

Naquele dia em específico pensava em faltar, mas já tinha marcado o compromisso com a amiga, então olhava na hora enquanto saía do prédio da revista para ir diretamente à academia se encontrar com ela. Por sorte, chegou ao mesmo tempo que ela, não gostava de fazer ninguém esperar. 

Seguiram a sequência de treinos normalmente e enquanto o loiro recebia ordens do instrutor, percebia que Brock não fazia contato visual além do necessário, notando algo diferente, pois um mês atrás ele parecia mais do que interessado e agora parecia envergonhado em estar por perto. 

Rachel terminou seu treino e enxugou-se com sua toalhinha antes de avisar o amigo que ia ao vestiário tomar um banho. Então Lucas ficou sob a tutela de Brock e um silêncio esquisito se formou entre os dois, até que o instrutor iniciou um assunto:

— Então… eu queria… Queria te perguntar uma coisa. 

— Fala. — O loiro colocou as anilhas que usava de volta ao lugar. 

— Eu só espero que não se ofenda, nem que pareça estranho. — Brock encarou-o rapidamente antes de mais uma vez desviar o olhar. — Quer sair comigo?

Lucas surpreendeu-se por um instante e não pensou muito para responder.

— Seria legal. 

— Sério? Você tá livre esse fim de semana? — O instrutor mudou a expressão instantaneamente. 

— Tô sim, vou te passar meu número. 

— Salva seu contato aqui no meu celular. — Brock falou com pressa, entregando o aparelho na mão dele. 

— Tá bom. — Lucas sorriu, digitando seu número e nome na agenda dele. — Prontinho, depois me manda uma mensagem pra eu salvar seu número também. 

— Pode deixar. — O instrutor deu-lhe um beijo rápido na bochecha, ficando envergonhado por ter feito aquilo sem pensar.

Lucas percebeu que as bochechas de Brock estavam coradas, achando fofa a agitação dele, antes de um aluno aparecer para pedir ajuda, com ele despedindo-se ali. O loiro observou-o ir para longe, analisando-o à distância, ele era atraente e apesar de ter tido seus receios em relação a ele, agora se sentia um pouco mais confortável para tentar algo novo, apesar de estar ligeiramente assustado por dentro. 

Encontrou com Rachel pouco depois, indo ao estacionamento, entrando no carro com ela, querendo atualizá-la do que havia acontecido, com a reação dela sendo a mesma que havia imaginado, com gritinhos histéricos de alegria por ele. 

Chegaram ao prédio juntos e Alberto já os esperava com o jantar pronto. O loiro comeu com os amigos e se despediu dos dois, Alberto dormiria com Rachel naquela noite, então Lucas ficaria com o apartamento inteiro apenas para ele. 

Após tomar banho, enxugou seus cabelos e ainda com a toalha enrolada no quadril, sentou-se em frente ao computador do quarto que dormia. Assim que ligou-o, verificou suas redes sociais e aproveitou para olhar seu e-mail, até perceber que o site abriu a conta do amigo automaticamente.

Não queria vasculhar nada, mas de relance viu os e-mails mais recentes, que aguçaram sua curiosidade. Era errado, mas clicou no topo da lista, vendo uma resposta para algo que Alberto tinha enviado. O remetente era de nome Mark Gonzalez e aquilo soava um pouco estranho para o loiro, principalmente porque a conversa parecia ser informal como de bons amigos. 

Estava disposto a não espiar mais, até ver qual tinha sido um dos últimos e-mails que Alberto tinha enviado para aquele tal de Mark. Viu anexado o que se tratava de um vídeo seu no dia que tinha comemorado o estágio e estava cantando com Rachel. 

Sentiu seu estômago embrulhar ao ligar os pontos e perceber que se tratava de Marcus, sabia que eles estavam se correspondendo e fazia todo sentido que ele mudasse de nome para a própria segurança. Aquilo conseguia entender, mas não conseguia compreender o porquê de Alberto estar divulgando sua vida pessoal, principalmente para aquela pessoa. 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, deixe seu oizihnho para eu saber que passou por aqui! ♕