Stranger escrita por Okay


Capítulo 33
Oportunidades.


Notas iniciais do capítulo

Beijos e Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 23/09/2020



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/383753/chapter/33

Capítulo 33 — Oportunidades. 

— Alô? — Alberto pegou o telefone, vendo o amigo em seguida ir com pressa ao quarto, ouvindo-o bater a porta com força. 

— Oi, Al, o que aconteceu? — Marcus indagou, não entendendo porque não obteve resposta do loiro, nem mesmo ele não ter desligado na sua cara como costumava fazer.

— O que você disse pra ele?!

— Eu só ofereci o plano da Verizon como sempre, com a voz rouca e tudo, não falei nada de diferente, por quê? 

— Eu acho que ele acabou de descobrir sozinho quem é você. — Alberto gelou. — Só pode ser isso, preciso ir falar com ele.

— Deixa que eu vou. — Rachel falou com os olhos arregalados, entendendo a situação. — Podem conversar, eu vou tentar falar com ele.

Ela caminhou até o quarto, batendo na porta e forçando a maçaneta, conseguindo entrar por não estar trancada. Rachel andou de mansinho até a cama, onde ele estava jogado, vendo-o soluçar inconsolavelmente. 

— Luke… — Sentou-se na beirada do colchão, colocando a mão ao ombro dele. — Olha aqui pra mim. 

Ele continuou em silêncio e ela começou a pensar no que diria, sabendo que não seria fácil explicar a situação, já que desde o começo ele merecia a verdade. Tentou começar com desculpas, explicando o porquê de não ter dito que sabia dessa situação, principalmente os motivos de Alberto e os receios dele, mas sabia que, no fim, o loiro estava mais do que certo em se sentir daquele jeito.

O coração de Rachel apertava e por mais que insistisse no consolo, ele apenas continuava a chorar, esfregou o braço dele por um segundo antes de levantar, pedindo desculpas mais uma vez e saindo. Foi até a sala, encontrando com Alberto, que havia acabado de desligar a chamada. 

— Ele está irredutível, tentei falar com ele e nada. — Ela explicou. — O Luke está péssimo e eu mais ainda, não devia ter escondido nada...

— Fui eu que pedi para que você não contasse pra ele, se a culpa é de alguém, é toda minha.  

Alberto deixou a namorada para trás e foi até o quarto dele, entrando, percebendo que assim que o amigo percebeu sua presença, bufou, tentando engolir o choro, limpando os olhos que já estavam inchados e vermelhos. 

— Eu sei que não tem desculpa para o que eu fiz… — Iniciou, se aproximando do loiro. — Eu não devia ter escondido isso de você, mas por favor, saiba que não foi com má intenção, você já estava passando por coisas demais e quando descobri que Marcus estava vivo, eu só… era como se uma parte de mim voltasse a vida também. Tenta me entender, foi maravilhoso descobrir que meu amigo ainda estava vivo. Você não daria tudo pro Gus estar aqui hoje? 

— Não compara o meu Gus com esse desgraçado! — Lucas tomou fôlego depois de quase perder a voz. — Eu não sei como você consegue ficar do lado de um cara que fez você passar por tudo isso! Além das coisas que ele fez comigo! Como você pode ficar feliz com uma coisa dessas?!

— Ele é o meu melhor amigo, Lu. — Respirou fundo, dizendo seriamente. 

— Entendi, agora eu entendi de verdade. — O loiro secou os olhos outra vez. — Agora tudo parece fazer sentido… eu não sei como pude ser ingênuo de acreditar que você realmente queria me ajudar e que você era meu amigo. Você só tá fazendo essas coisas por causa dele! 

— Como você pode dizer isso?! — Alberto sentiu o coração doer, aquilo claramente não era verdade, porque Lucas era como um irmão e doía saber que ele pensava assim. — Quer saber, eu vou te deixar em paz, pra você pensar melhor nisso que acabou de dizer. 

Alberto saiu do quarto contrariado, fechando a porta ao mesmo tempo que sentia as lágrimas virem, não entendendo como o amigo podia pensar daquela forma. Sabia que tinha cometido um erro, mas não conseguia ficar bem sabendo que ele achava que poderia ser tão desumano aquele ponto, amava tanto Lucas que seu coração apertava em saber que a amizade dos dois poderia acabar ali.

Rachel ouviu os soluços do namorado e correu para abraçá-lo, sem exigir que ele falasse como foi a conversa, principalmente porque era nítido que não havia ocorrido bem. Ela limpou as lágrimas dele e falou que o loiro precisava de um tempo sozinho para pensar, se oferecendo para dormir com ele caso quisesse companhia para dormir.

Alberto agradeceu e pediu para que ela ficasse, pois precisava de um ombro para chorar naquela noite.

Sábado, 23 de fevereiro de 2013.

Alberto, que estava assistindo televisão com Rachel, desliga o aparelho quando vê que o amigo saiu do quarto, era um pouco mais de dez horas da manhã e eles já até mesmo haviam tomado o café, sem esperá-lo porque ele provavelmente não queria contato com os dois. 

Lucas foi ao banheiro e o casal estava na expectativa, temendo que ele fosse ignorá-los. Quando ouviram ele se aproximar, apenas observaram para ver o que ele faria. 

O loiro apareceu na sala e fez um curto contato visual com ambos, que não conseguiram deixar de reparar que ele estava arrumado como se estivesse pronto para sair, ele roubou um pacote de biscoito do armário e sentou-se à mesa para comer. 

— Bom dia. — Alberto levantou-se do sofá, indo em direção dele, juntando-se à mesa.

Rachel resolveu ficar de fora na conversa, sentada ao sofá apenas observando, vendo que o loiro não havia dito nada, enquanto o namorado insistia no contato mais uma vez:

— Eh… Eu precisava falar com você. — Encarou Lucas, percebendo seus olhos inchados, provavelmente por ter passado horas chorando na noite anterior. — Olha, eu não ligo para o que você me disse ontem, porque eu sei que você estava de cabeça quente e chateado. E sinceramente, você tem todo o direito de estar bravo com a gente, eu sei que não foi certo, mas só preciso que você confie em mim agora. Eu juro que eu não queria te fazer sofrer e eu juro pela minha vida que me importo demais com você, você é meu irmão, não consigo me imaginar sem a sua amizade, mas por favor, tenta me entender… eu sei que você pode não concordar comigo, eu só não quero ter que escolher entre vocês dois, porque não é justo.

— Sabe o que não é justo, Al? — Falou, quando ele menos esperava, parando de comer. — Eu estar morando aqui. Estou debaixo do seu teto, comendo da sua comida, eu sei que você não quis o meu dinheiro quando eu ofereci, mas enquanto eu estiver aqui, não tenho direito nenhum de dizer dizer se concordo ou não com o que você tá fazendo. Então é por isso que eu não posso continuar aqui. 

— O quê?! — Alberto perguntou espantado, vendo-o se levantar. — Como assim?! 

— Eu vou sair agora, vou visitar alguns apartamentos. — Explicou. — Se você permitir que eu fique aqui até achar um lugar pra eu me mudar, tudo bem, mas se quiser que eu vá embora hoje, minhas coisas já estão arrumadas e eu posso sair o mais rápido possível se você preferir.

— Não! Por favor, para com isso! Para de falar essas coisas como se eu quisesse que você fosse embora! — Alberto implorou, sentindo seu peito doer, sem saber o que dizer para fazer ele mudar de ideia. 

Rachel levantou-se do sofá, angustiada com a situação, aproximando-se dos dois, ouvindo Lucas responder:

— Eu já me decidi e acho que é o melhor a fazer, você já fez muito por mim e eu sou muito agradecido. Agora eu vou, tenho que ir antes que a imobiliária feche, mais tarde eu volto e digo o que encontrei.

Alberto ficou sem saber o que dizer vendo-o sair, ainda sentando enquanto Rachel ia decidida atrás dele.

— Luke, espera! — Chamou-o, com ele a olhando de relance sem parar de andar. — O Al já disse tudo então eu não quero ficar te adulando, eu sei que você não tá com saco pra isso agora, mas me escuta… 

Ele parou e encarou-a, enquanto esperava o elevador chegar, com ela continuando a dizer:

— Acredite em mim quando eu digo que me importo com você e que eu te amo. Quero estar aqui por você e não quero que se afaste de nós por esse erro, por favor, não abandona a gente. 

O loiro parecia ouvir atentamente o que ela dizia, mas não esboçava nenhuma expressão que ela pudesse decifrar, vendo-o entrar no elevador assim que ele atingiu o andar. Ela viu-o partir, resolvendo não insistir mais, ele precisava de tempo para pensar. 

Após algumas horas fora de casa, Lucas retornava, andando derrotado pelo corredor, tomando coragem para entrar, sabendo que enfrentaria todos aqueles questionamentos novamente. Entrou e se deparou apenas com Rachel no sofá, com ela desligando a televisão e voltando a atenção para ele.

Lucas tentou ignorá-la, mas a amiga seguiu-o até seu quarto, sem desistir. 

— Como foi a busca? — Ela perguntou. 

— É Nova York, já pode imaginar como foi. — Levantou os ombros, sentando-se no sofá-cama em seguida. — Tudo é muito caro. 

— Olha, eu sei que provavelmente você não quer conversar agora, mas aproveitando que o Alberto está no banho, eu queria te falar uma coisa que conversei com ele essa tarde.

— O quê?

— É claro que isso poderia acontecer de uma forma mais romântica, mas decidimos que eu poderia vir morar aqui, ainda é só uma situação hipotética, mas se você quiser ficar no meu apartamento, não precisaria nem me pagar, ele já está pago pelos meus pais, então eu só tenho os custos básicos como energia, gás e essas coisas… — Explicou de forma resumida. — É claro que o Alberto ficaria mais feliz se você continuasse aqui com ele, mas caso você quisesse ter seu espaço nesse momento, você pode ficar no meu apartamento quanto tempo precisar. 

— Eu agradeço a intenção, mas o problema é que eu não quero mais morar de favor, Rach, sei que posso parecer orgulhoso com isso, mas tenho meus motivos pra querer ter a minha independência de volta. 

— Então se fizesse você se sentir mais à vontade com isso, posso te cobrar aluguel. Claro que eu com certeza poderia perdoar atrasos tendo você como meu inquilino, além de outros benefícios, mas seria mesmo um prazer te ter por lá, digo de coração. 

— Mas e se vocês terminarem? Você precisaria voltar pra sua casa. 

— Se você não achar que é um problema, aí moramos juntos e dividimos seu aluguel na metade, eu tenho dois quartos por lá, isso não seria um problema. — Ela deu-lhe a solução, não enxergando aquilo como um problema real. — Outra parte boa é que você pode usufruir dos móveis sem se preocupar em mobiliar o local, eu sei que dificilmente você vai achar um apartamento mobiliado com bom preço e boa localização… só preciso que você pense na ideia.  

— Tudo bem, eu vou pensar nisso. — Ele parecia raciocinar enquanto permanecia em silêncio. — Valeu, Rach.

— Olha, uma última coisa que eu vou te pedir agora, é que antes de tomar essa decisão, você ao menos dê uma chance e fale com o Al… ele já sabe dessa possibilidade, mas eu não queria que a amizade de vocês acabasse assim, se não for pedir demais, tenta falar com ele de novo. 

Lucas manteve o silêncio de antes, ouvindo-a e começando a refletir em tudo o que ela havia lhe dito. 

— Ok, essa foi a última vez que insisto nesse assunto, prometo. — Ela sorriu. — Se quiser me mandar uma proposta com o valor que está disposto a pagar no aluguel, você sabe onde me encontrar. Enfim, eu já vou, Al pediu para que eu ficasse até você chegar pra eu falar com você, então missão cumprida, até mais, Luke.

— Espera Rach… não vai embora agora. — Pediu, ainda sentado na cama, cabisbaixo.

— O que foi? Tá tudo bem?

Perguntar se estava tudo bem foi o que fez disparar o choro de Lucas como um gatilho, como se alguém tivesse dito algo muito pior. Ela apenas se aproximou e sentou ao lado dele na cama, trazendo seu ombro para perto, abraçando-o.

— Você sabe que pode falar comigo o que quiser, não sabe?

— Hoje… hoje é o aniversário do Gus. — Falou com a voz chorosa, respirando fundo entre os soluços. 

Aquela frase atingiu o peito de Rachel como uma flecha, fazendo com que ela o aninhasse com seus braços ainda mais apertado, dizendo:

— Oh, meu amor… 

— Eu tô sentindo tanta saudade, mas tanta. — Respirou fundo, encarando-a com os olhos vermelhos.

— Eu imagino. — Ela falou, enxugando uma lágrima que descia pela bochecha rosada dele.  

— Se ele estivesse aqui, eu provavelmente estaria tentando fazer um jantar pra ele, mas a gente acabaria indo pra um restaurante porque eu sou péssimo na cozinha. — Riu em meio ao choro. — Ou talvez ele até comeria a gororoba que eu teria preparado sem reclamar, porque ele era esse tipo de pessoa. 

— Ele parecia ser um cara incrível, eu adoraria ter conhecido ele.

— Incrível é pouco pra descrever o Gus. — Falou apaixonadamente. — Você iria o adorar, ele era meigo, gentil, a pessoa mais doce que já conheci. O mundo não merecia ele, eu não merecia ele…

— Não, não diga isso. — Ela pegou em uma de suas mãos. 

— Até hoje eu me arrependo, mas teve um dia que eu cometi a maior besteira da minha vida e acabei traindo ele… eu contei tudo e ele me perdoou sem nem pensar duas vezes, como nenhuma outra pessoa faria, não da mesma forma, porque ele me perdoou de verdade, sabe? Ele nunca jogou na minha cara o que eu fiz depois disso, ele sempre fez de tudo pra eu me sentir querido e amado.

Rachel percebeu que ele havia parado de chorar enquanto contava sua história, deixando com que o loiro continuasse a falar, sabendo que aquilo estava fazendo bem pro coração dele. 

— Ele seria um marido incrível. — Lucas falou, quase num sussurro, sorrindo tristemente, acariciando o anel da corrente em seu pescoço. 

Rachel sentiu seus olhos marejarem, tentando manter-se forte para poder ajudá-lo, vendo-o se deitar, abraçando um travesseiro. 

— É tão injusto que alguns tipos de pessoa estejam vivas e ele não. — Lucas falou, após fungar. 

— Não diga isso, Luke, nem no momento de maior raiva. — Ela aconselhou. — Não faz bem pro coração guardar esse tipo de rancor. 

— Você não sabe nem da metade.

— Eu sei bem de quem você está falando e posso dizer que essa pessoa foi importante pra você. 

— Até que ponto o Alberto te contou? — Encarou-a, ainda deitado. 

— Tudo. — Revelou, após recear por um momento. — Tanto que sei de quem se trata quando você falou da traição. 

— O Al é mesmo um fofoqueiro. — Riu fracamente. — Mas então você sabe tudo sobre o Marcus?

— Sim. E o que ele fez não foi certo, ele te deixou na pior situação possível, não achei nem um pouco justo o que ele fez… 

— Você sabe sobre…

— O tal pacote? — Ela indagou, dando continuidade a pergunta dele, vendo-o assentir com a cabeça. — Sim, eu sei e eu não te julgo pelo seu passado, você pode confiar em mim. 

Lucas não conseguiu respondê-la, apenas sentindo uma outra lágrima se formar no canto de seus olhos, sentindo uma mistura de alívio e conforto. Rachel percebendo o choro do amigo, acariciou seus cabelos, deixando com que ele colocasse aqueles sentimentos para fora. 

O loiro enxugou seu rosto, fungando outra vez, guardar aquele tipo de segredo era estressante e apenas saber que tinha mais uma pessoa com quem podia contar, era tranquilizador.

— Eu tô aqui por você, assim como o Al… eu sei que eu disse que não entraria nesse assunto de novo, mas olha, você não precisa duvidar das intenções dele. — Ela continuou a acariciar os cabelos do amigo. — Ele comentou comigo que se fosse preciso, ele abriria mão do contato com Marcus e nunca mais falaria com ele se isso fizesse você o perdoar. E sabendo de toda a história e quem esse cara é importante pro Alberto, eu achei uma atitude linda e só me fez ver o quanto o Al te ama. Posso estar sendo muito repetitiva nisso, mas pelo menos dê uma chance pro Al se explicar, ele tá muito arrependido. 

Lucas não respondeu, enxugando mais lágrimas, ainda deitado, sentindo as carícias delicadas da amiga em seus cabelos. Se acalmou e refletiu nas palavras dela, Rachel permaneceu ali em silêncio com ele, apenas saindo do quarto ao ver que ele havia caído no sono. 

Domingo, 24 de fevereiro de 2013.

Após Lucas lavar o rosto pela manhã, se enxugou e encarou-se no espelho, vendo seus olhos inchados após escovar os dentes, nada atraente. Saiu do banheiro, indo à cozinha e encontrando-se com Alberto, que terminava de cozinhar, dizendo:

— Você chegou na hora certa, as panquecas estão quentinhas. 

Lucas andou até a geladeira, pegando uma caixa de suco e indo ao armário, ficando de costas para Alberto enquanto se servia. A frieza do loiro doía demais no amigo, mas como poderia culpá-lo? Alberto ficou simplesmente tão feliz por Marcus ter reaparecido, que acabou esquecendo por quanta coisa Lucas passou.

— Lu... Eu queria... queria pedir perdão mais uma vez. — Gaguejou, incerto. — E eu não me importo se tiver que pedir todo dia, daqui pra frente. Eu escondi o Marcus na desculpa de querer te proteger, mas na verdade, eu estava protegendo a mim mesmo, porque eu já sabia qual seria a sua reação quando descobrisse que ele estava vivo. Eu tenho muito medo de te perder, Lucas. Já passei perto disso vezes o suficiente para saber que não queria correr o risco de mais uma.

Lucas continuou de costas, já tendo terminado de se servir do suco, mas não esboçava nenhuma outra ação. Alberto apenas respirou fundo, tentando controlar o nó na garganta por mais uma tentativa fracassada.

O loiro terminou de beber o suco e colocou o copo na pia. Alberto estava certo de que ele deixaria a cozinha sem sequer olhar em seu rosto, mas foi surpreendido quando Lucas o abraçou por trás com força, aconchegando-se contra seu corpo.

— Eu sei, Al. — Disse, simplesmente.

Foi o suficiente para que o nó na garganta de Alberto aumentasse de tamanho e ele quase não conseguisse se controlar. Seus olhos estavam marejados e ameaçavam respingar na chapa onde fritava as panquecas.

— Eu deixei a raiva tomar conta de mim por um tempo. — O loiro continuou, agora acariciando a barriga do amigo, um gesto bobo, mas que ele considerava certo no momento, queria passar a ele toda a segurança que tinha em suas palavras e em seu perdão. — Você merece a sua segunda chance com o Marcus... Mesmo que ele seja um estorvo.

— Agora essa palavra eu não escuto há muito tempo. — Alberto riu, virando-se para ele, já com algumas lágrimas escorrendo pelo rosto. — Nunca mais duvide que você é importante pra mim de novo, ouviu? Senão eu vou te deixar de castigo.

— E qual castigo seria esse? — Lucas riu baixinho, com os olhos marejados, mas sem chegar a chorar. 

— Não sei, não parei pra pensar... Eu seria um péssimo pai, né? — Alberto disse e o loiro soltou uma gargalhada gostosa, abraçando-o novamente.

Segunda-feira, 4 de março de 2013.

O período do afastamento de Lucas havia terminado e era o primeiro dia em que ele voltaria a trabalhar. Estava animado para aquilo, porque para ser sincero, sentia falta de fazer algo a mais no seu dia e gostava do trabalho que tinha. 

Durante a semana que se passou, o loiro não fez questão de perguntar nada sobre o incidente que ocasionou a briga com o amigo na semana passada e Alberto também não entrava nesse assunto, basicamente ele mantinha o contato com Marcus discretamente para não incomodar Lucas, que dessa forma, não precisava se lembrar desse fato com frequência.

— Bom dia… — Alberto viu o amigo chegar na cozinha, já com o uniforme da livraria. — Animado pra começar?

— Tô sim. — Sorriu, sentando-se à mesa, encarando uma caixa com um laço de presente sobre ela. — Que isso?

— É pra você. — Revelou. — Abre.

Lucas sorriu como uma criança enquanto desembrulhava a caixa. Ficando surpreso com o conteúdo dela, dizendo:

— É pra mim mesmo?

— É claro que sim! — Falou, rindo. 

— Eu não… não posso aceitar isso. — Lucas ainda estava admirado pelo presente. — É desses celulares chiques que tem toque na tela! 

— Não tem nada de chique nisso.

— Como não? O meu antigo quase não tinha visor e esse aqui é uma tela inteira! — Riu, ainda embasbacado, com a embalagem do aparelho em mãos. 

— Vai, tira logo isso da caixa antes que eu tire pra você!

O loiro abriu o presente, encarando o celular novo por um bom tempo, ligando-o e vendo o que seria preciso pra começar a usar, tendo ajuda do amigo pra guiá-lo nos primeiros passo-a-passo.

— Poxa, Al… Eu nem sei como te agradecer, sério mesmo, não precisava.

— Como não precisava? Você estava incomunicável sem celular.

— Mas não precisava ser o modelo mais recente do mercado. Você entendeu o que eu quis dizer. — Falou, segurando o smartphone. — Mas obrigado mesmo, eu tô muito feliz. 

— Você merece tudo do melhor, Lu. — Abraçou-o por trás, com ele ainda sentado. 

Conversaram por um tempo sobre o novo aparelho enquanto tomavam o café da manhã e, após isso, seguiram juntos ao trabalho. Onde, ao chegarem, Alberto destrancou a porta e desligou o alarme. Ninguém além deles havia chegado ainda, e para o loiro era estranha a sensação de estar na livraria vazia.

Sentia uma mistura de emoções, lembrando de cenas que antes estavam adormecidas dentro de si. Era como se conseguisse sentir a presença de Marcus em meio às prateleiras, mas ao mesmo tempo, como se conseguisse se lembrar perfeitamente da sensação de ter Gus para o buscar após o turno. 

Aqueles pensamentos foram embora conforme o loiro tentava preencher a cabeça com o trabalho, tinha várias novidades em que precisava se atualizar e algumas alterações no sistema que precisaria aprender. Alberto tinha lhe ajudado de começo, mas nos momentos em que o amigo estava ocupado, precisava pedir ajuda para alguém.

E aquele era o grande problema, pois conforme os colegas de trabalho chegavam, era como se vissem um fantasma ao olhar para ele. Não sabia o que estava acontecendo, pensando de início que poderiam estar espantados por terem pensado que havia sido demitido.

Lucas passou as primeiras horas da manhã lidando com sussurros e olhares indiscretos em sua direção, tendo que aguentá-los até mesmo no banheiro. Não conseguiria suportar aquilo pelo restante do dia, então ao ver duas pessoas conhecidas conversando baixinho após olharem para ele, teve que ir até lá para saber o que estava acontecendo. 

Uma delas saiu com pressa ao ver que ele se aproximava e a outra manteve-se no lugar, esperando-o chegar. 

— Camille, o que tá acontecendo? — O loiro indagou, tentando conter o estresse que sentia.

— Como assim? — Ela encarou-o, disfarçando. 

— Você sabe o que eu quero dizer, tá todo mundo me olhando estranho. Eu tenho todo o direito de saber o que estão falando de mim e não se faz de desentendida porque eu vi vocês duas me olhando enquanto fofocavam.

— É que… pode ser que estejam achando que você estava morto. É isso. — Ela desviou o olhar para o lado, sentindo-se receosa com a reação dele. 

— E por que achariam que estou morto?!

— Eu posso ter falado algo que tenha dado a entender isso. — Ela quase sussurrou, ainda evitando contato visual com ele. 

— Como é?! 

— Desculpa, eu só achei que você não apareceria mais por aqui depois daquela noite perturbadora que te vi andar igual zumbi nas ruas… achei mesmo que você tivesse sido internado depois daquilo, eu falei isso pra uma única pessoa e aí os boatos correram soltos. Quando percebi, já tinham até rumores de que você tinha morrido, as coisas saíram do meu controle!

— Eu não acredito nisso, precisava mesmo falar da minha vida pessoal por aí, é sério?! 

— Eu só falei pra minha amiga! Tá legal? — Ela irritou-se. — Foi sem querer, eu já estou explicando pra todo mundo que foi um mal entendido, mas temos quase vinte funcionários, não é fácil falar com todo mundo tão rápido! 

— Isso é inacreditável, sabia? Qual é a necessidade de espalhar esse tipo de coisa por aí? 

— Não foi minha culpa, chega desse assunto. — Ela bufou. — Eu tô fazendo a minha parte e falando com eles. Pra ser bem sincera, eu nem ia te falar isso, mas como provavelmente iriam começar a te perguntar as coisas, eu queria que você soubesse logo a verdade. 

— Eu só queria um pouco de paz, isso é pedir muito? Tá todo mundo me olhando como se eu fosse uma assombração!

— Foi mal por isso, não queria que tomasse essa proporção. — Ela ergueu os ombros, em gesto de que não tinha mais o que ser feito. — Daqui uns dias eles esquecem isso, então só relaxa. 

Lucas não queria ter que esperar, mas era a única alternativa que tinha até o momento, tendo que aturar aquilo por sabe-se lá quanto tempo. E enquanto tentava lidar com o comportamento estranho dos colegas de trabalho, encontrou com Alberto saindo de uma ligação importante, em seguida vendo-o se aproximar.

— Ei, qual é do pessoal hoje? Tá todo mundo estranho. Já até perguntei, mas não me falam nada. 

— Você nem imagina. — O loiro tentou conter a cara azeda, mas era difícil de disfarçar seu descontentamento. — A Cam espalhou por aí um boato sobre aquela noite que ela me encontrou e ligou pra você. Ela achou que eu tinha sido internado depois daquilo e falou pra amiga dela, quando ela percebeu, o boato tinha se espalhado e até mesmo disseram que eu estava morto. Então tá todo mundo achando que eu sou o Gasparzinho. 

— É sério isso? — Alberto tentou segurar a risada, vendo-o irritado. — Eu não acredito na criatividade desse pessoal. Trabalhar ninguém quer, né? 

— Isso não tem graça, o que eu vou fazer? — Suspirou. — Tá foda aguentar todo mundo me encarando e cochichando. 

— Sabe do que a gente precisa? Comer! — Alberto colocou um dos braços ao ombro do amigo. — Vamos, tire a sua pausa do almoço agora comigo e vamos sair um pouco, se der tempo a gente pode aproveitar pra comprar um chip pro seu celular novo, você precisa de um bom plano de internet pra se distrair enquanto esse pessoal não inventa outra coisa pra fazer. 

— Tudo menos Verizon, pelo amor de Deus! — Lucas resmungou, fazendo o amigo gargalhar. 

O dia tinha sido cansativo para o loiro e nem havia acabado, sabendo que ainda teria que ir para a faculdade. Precisava de energia, então assim que seu turno acabou, encaminhou-se para a cafeteria ao lado do trabalho, tirando a carteira do bolso enquanto entrava. Por um momento seu coração disparou ao quase trombar com um homem alto que estava à sua frente na fila, com um flashback retornando em sua mente, lembrando daquele ser um ponto de encontro frequente com Marcus.

Lembrou-se de como era deparar-se com ele sempre por ali, como se ele não tivesse outro propósito do que espreitá-lo por todos os cantos. Era desconfortável pensar na possibilidade de vê-lo novamente, sabendo que muito provavelmente isso aconteceria pela amizade em comum com Alberto.

Tentou não pensar mais naquilo após fazer o pedido, mas era difícil afastar tais pensamentos, principalmente porque as lembranças eram fortes demais. Assim que ouviu seu nome, caminhou ao balcão para pegar seu pedido, saindo da cafeteria o mais rápido que conseguiu. 

Andou até a estação de metrô mais próxima e tomou seu café enquanto esperava o horário da próxima embarcação, conseguindo beber todo o conteúdo da embalagem média de café com leite que havia pedido. 

Mesmo com pressa e andando rápido, chegou em cima da hora na sua primeira aula, achando um lugar para sentar, tentando ser discreto para não atrapalhar o professor. Respirou fundo, deixando a mochila pesada de lado, tentando prestar atenção na explicação; porém, não sabia se era por já ter pego a aula andando, ou se era pelas suas preocupações constantes, apenas não conseguia prestar tanta atenção como deveria, sua concentração estava em algum lugar bem longe dali. 

Se esforçou para que aquilo não se repetisse nas próximas aulas e assim que retornou do intervalo, já parecia estar mais focado, conseguindo absorver melhor as próximas disciplinas que teve. 

A última aula acabou alguns minutos mais cedo que o habitual e como Lucas já sabia dos horários do transporte que pegaria para voltar para casa, pensou em conversar com a professora sobre a tese que estava trabalhando. 

— Boa noite, Dra. Foster. Eu queria te perguntar uma coisa.

— Quanta formalidade, Sr. Fontaine! Pode me chamar de Catherine, querido. — Ela sorriu, enquanto guardava suas coisas. — Diga, em que posso te ajudar? 

— Eu gostaria de saber se você tem interesse em ser minha orientadora. Eu estou trabalhando na minha tese, é do seu segmento e gostaria de te enviar para que você desse uma olhada, sem compromisso nenhum. Caso não consiga, não tem problema. 

— Que orgulho saber que te inspirei. — Ela parou o que fazia para lhe dar mais atenção. — Então, qual o tema?

— Por conta daquele trabalho que tivemos, comecei com uma linha inicial voltada à comunicação informal nas redes, também pensei se seria interessante trazer uma abordagem do marketing um pouco menos categórica do que vemos hoje e por isso queria a sua opinião.

— É bem original, se quer saber. Você tem meu e-mail?

— Tenho sim. 

— Então assim que puder me enviar, darei uma olhada e depois devolvo as minhas considerações. 

Lucas agradeceu a oportunidade e saiu da sala, parando no corredor em frente à parede do mural de avisos. Lendo sobre as ofertas de trabalho e estágio, vendo até mesmo alguns anúncios de móveis usados e pessoas procurando colegas de quarto. 

— Se ajuda dizer, esses avisos estão aí há tanto tempo que provavelmente nenhuma dessas vagas estão abertas. — Catherine, que saiu logo após ele, lhe avisou, vendo-o próximo ao mural. 

— É sério? — O loiro desapontou-se. 

— O que está buscando?

— Estou trabalhando em tempo integral hoje, o ideal seria fazer um estágio para sobrar mais horas do dia pra focar nos estudos. — Respondeu, vendo-a abrir sua bolsa, retirando um cartão de visitas dali, lhe entregando.

— Caso você tenha interesse, essa minha amiga deixou alguns cartões dela comigo, ela pediu para que eu entregasse caso algum aluno meu precisasse de indicação para estagiar com ela. 

— Ela trabalha pra essa revista? Sério? — Lucas inquiriu, após ler o nome de uma grande marca no cartão. — Seria incrível ter uma chance de trabalhar em um lugar importante como esse.

— Liga pra ela e marca uma entrevista, diga que te passei o contato. — Ela aconselhou, fechando a bolsa em seguida. — Depois me avise como foi. Boa sorte. 

Lucas agradeceu-a outra vez, olhando esperançoso para o cartão, sabendo que dificilmente conseguiria entrar em uma grande corporação como aquela, mas não deixaria de tentar mesmo assim. Precisava ligar para pedir uma chance e não esperaria que a indicação fosse o suficiente, pensando que precisava treinar seu espanhol para se destacar na entrevista. 

— Vodca pura, sem gelo? — A bartender confirmou com Marcus, que parecia ligeiramente distraído antes de confirmar. — Certo. 

Ele perdeu-se por alguns segundos no fundo dos olhos azuis dela, antes de vê-la virando-se para pegar a garrafa de bebida para o servir. Os movimentos dela pareciam em câmera lenta na frente de seus olhos, não apenas porque ela era confiante com o que fazia, como também era absurdamente linda. Ela retirou a franja de seus curtos cabelos loiros da frente de seus olhos depois de virar-se para ele, levando seu copo. 

— Algo para comer? — Ela perguntou. 

— Não, obrigado. — Falou, quase sem fôlego. 

— Se precisar de algo mais, estou à disposição. Sou Angela. — Ela sorriu antes de afastar-se para atender outro cliente. 

“Prazer, Angela” pensou, sem nada dizer, continuando a admirá-la à distância. 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que estão achando desse ponto da história? O que acham que está prestes a acontecer? Quero saber tudo o que estão achando!

Não esqueçam de deixar seu review, mesmo que curtinho! ♥