Stranger escrita por Okay


Capítulo 31
Culpa.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 18/08/2020



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Capítulo 31 — Culpa.

Mais uns dias haviam se passado e Alberto e Rachel estavam juntos há duas semanas, ainda não haviam tocado no assunto de compromisso, estavam juntos e era aquilo que importava, não tinham pressa para falar em estabelecerem um namoro. 

Lucas estava começando a se acostumar com as medicações. Enquanto antes passava o dia todo deitado por sonolência, agora conseguia ter ânimo para fazer as coisas que queria, além de continuar suas sessões de terapia com os dois médicos.

Estavam próximos ao natal, era dia vinte e um de dezembro e Alberto fazia planos para a decoração da casa, tendo tirando da parte alta dos armários, as caixas que sempre usava no fim de ano. Tinha luzes natalinas, vários tipos de enfeites e a sua pequena árvore sintética desmontada. 

O amigo estava desde a tarde o ajudando a desembalar tudo e a tirar os nós dos fios das luzes natalinas, começando agora a montar com ele a árvore de natal. 

— Isso me lembra da minha infância. — Lucas comentou. — A gente sempre montava a árvore de natal juntos, lembro do meu pai me levantando pra eu conseguir colocar o anjo no topo, eu adorava… Eu gostava do natal até crescer um pouco mais e as brigas começarem, pouco depois o alvo das brigas não era apenas a minha mãe, mas eu também. 

— Minha mãe dizia que meu pai também não era boa pessoa, mas eu não cheguei a conhecer ele.  — Alberto revelou. — Mas ela soube me criar muito bem, tive uma infância boa...

— Você sente a falta dela? 

— Sim, sempre que eu me lembro. — Sorriu discretamente, pegando alguns enfeites dentro da caixa para começar a decorar a árvore. 

— Posso colocar o anjo? — Lucas pediu ao ver a peça na mão do amigo. 

— Claro que sim. — Passou o enfeite para ele, vendo-o sorrir como uma criança.

Alguns dias depois já era natal, Rachel havia avisado os pais que naquela data não iria visitá-los, mas prometia comparecer ao ano novo. Ela passaria a véspera do natal com Alberto e Lucas, já tendo se aproximado do loiro nessas últimas semanas, virando uma boa amiga do rapaz. 

— Comprei os presentes de vocês! — Rachel apareceu com várias sacolas. — Quero muito saber o que vocês vão achar! 

— Só por curiosidade, a gente vai abrir os presentes hoje mesmo ou vamos seguir a tradição e abrir amanhã de manhã? — Lucas afirmou. — Também quero saber o que vocês vão achar dos meus presentes.

— Acho melhor a gente abrir de manhã. — Rachel votou.

— Ok, por mim tudo bem. E você, Al? 

— Eu também prefiro abrir pela manhã. 

— Então está decidido, amanhã cedinho a gente acorda, trocamos os presentes e pra finalizar, tomamos chocolate quente, enquanto admiramos a neve cair lá fora! — Ela listou, dando um gritinho de empolgação ao final da frase. — Estou animada! 

— Acho que vai ser o meu primeiro natal realmente feliz depois de anos sozinho. — Lucas desabafou. — Algumas semanas atrás eu estava no meu pior momento e não imaginei que poderia ser feliz de novo, vocês dois estiveram comigo no inferno que eu passei e estou muito feliz que estou aqui com vocês hoje… Obrigado pessoal, por tudo. 

— Ah, você nem precisa agradecer! Eu que adorei te conhecer! — Rachel exclamou, indo abraçá-lo no mesmo momento. 

Alberto juntou-se ao abraço, afagando as costas do amigo, onde os três ficaram ali por alguns minutos. 

As férias de inverno já haviam acabado e o ano novo havia renovado cada um de um jeito diferente. Rachel havia passado a data com os pais e Alberto havia comemorado com o amigo em casa, como Lucas não estava podendo beber pelos medicamentos, fizeram drinks sem álcool, cantaram músicas e performaram do melhor jeito. 

A cada dia que passava, a amizade dos dois se fortalecia, assim como Rachel também se apegava ao loiro, passando as tardes com ele durante suas férias enquanto Alberto saía para trabalhar, fazendo-lhe companhia e ajudando-o no processo da sua recuperação. 

Lucas sentia-se bem, sua autoestima tinha aumentado e não sentia-se infeliz como antes. Apesar de estar se recuperando, tinha dias melhores e piores, mas assim seguia com seu tratamento, reconhecendo que estava melhorando e que lentamente conseguia ver alegria nas coisas de novo. 

Rachel em breve voltaria a trabalhar e o loiro ainda estava afastado do trabalho por mais um tempo. A preocupação da amiga era o estado dele nesse tempo em que voltaria a ficar sozinho, não só ela, como Alberto, se preocupavam em deixá-lo sozinho, ela sabia da tragédia que o fez iniciar o tratamento e tinha medo de que ele regredisse até aquele ponto novamente.

Com isso, ela fez questão de incentivá-lo a voltar aos estudos, sabendo que faltava apenas um período para que ele terminasse seu curso de jornalismo. Lucas refletiu por alguns dias e aceitou a sugestão, se rematriculando na faculdade. 

 

Sexta-feira, 4 de janeiro de 2013.

 

— É tão bonitinho ver você arrumando a mochila com três dias de antecedência. — Rachel observava Lucas organizar seu caderno, estojo e outras coisas para a faculdade.  

— Eu me sinto como uma criança esperando o primeiro dia de aula. — O loiro parou o que fazia, rindo com ela. — Eu era uma criança esquisita, sempre gostei de ir pra escola, mesmo sofrendo bullying depois de crescer um pouco mais. 

— E quem não passa por isso, não é mesmo? Não tem como sair ileso da escola… Tem muitas coisas que eu não me esqueço até hoje. — Ela ergueu os ombros. — Mas olha, Luke… eu queria te pedir um conselho.

— Pode falar. — Lucas puxou uma cadeira do quarto e sentou-se. 

— Você sabe que desde que eu e o Al voltamos a ficar juntos, nós não colocamos rótulos no que estamos tendo, então basicamente não estamos namorando oficialmente, mas temos algo sério. — Ela começou a contar, envergonhada.  — Você acha que a gente deveria continuar assim? Quer dizer, você acha que eu deveria deixar tudo como está ou deveria tomar a iniciativa e pedir ele em namoro? Porque eu realmente não sei como ele vai reagir… Da última vez foi ele que me pediu em namoro e você deve lembrar que não deu muito certo. 

— Olha, eu acho que é uma decisão que só você pode tomar, eu gostaria de dizer pra você pedir ele logo em namoro, mas eu tenho medo de estragar o relacionamento de vocês… Então, escuta seu coração. — Lucas pensou, enquanto via a confusão se formar na expressão dela. — Vocês são a minha família agora, eu quero ver vocês felizes.

— É difícil, sabe? Eu gosto de como as coisas estão e tenho medo de que estou me iludindo pensando que precisamos rotular o que temos, mas ao mesmo tempo eu queria poder ter a liberdade de apresentar ele para os meus amigos e parentes sem medo de dizer que ele é meu namorado, entende? Ah! — Ela suspirou. — Hoje eu tenho certeza de que eu quero ficar com o Al…

— Então eu acho que você já sabe a resposta. — O loiro sorriu, vendo a expressão dela iluminar-se. 

E foi assim que Lucas convenceu a vizinha e amiga a fazer o que seu coração mandava, onde ouviu as ideias dela de como faria para surpreender Alberto. 

Alberto chegou em casa àquela noite um pouco cansado. Contava com Rachel e Lucas para animá-lo depois de tanto trabalho. Enquanto subia no elevador, só conseguia pensar em sentar em seu sofá e conversar um bocado para relaxar e quem sabe comer alguma coisa gostosa.

No entanto, o que encontrou foi um apartamento totalmente vazio. Nem Lucas e nem Rachel estavam em lugar nenhum. Ele chamou, procurou nos quartos, mas não houve resposta alguma. Conferiu rapidamente o relógio para ter certeza se não tinha se confundido, mas percebeu que não era dia de psicólogo, então, ainda não sabia onde o amigo estaria.

Indo a cozinha para tomar um copo d’água, deu de cara com um bilhete na geladeira, deixando-o apreensivo. Estava com um certo trauma de receber bilhetes surpresas depois que seus amigos desapareciam.

“Estamos na Rachel” dizia a pequena folha de papel colada com um ímã.

Respirou, aliviado. Não tinha lembrado que podiam estar no apartamento dela. Tomou sua água e foi direto para lá pronto para vê-los. Bateu na porta, mas ninguém respondeu. Constatando que estava aberta, decidiu entrar sozinho, imaginando que estariam ocupados. Deu de cara com um buquê de flores sob a mesinha de centro da sala de Rachel, onde ele não costumava ver flores ultimamente.

— Gente? — Chamou, estranhando o silêncio ali. — Cadê vocês?

Como não tinha sido ele que mandou aquelas flores para Rachel, se perguntava de quem era. Será que eles estavam planejando contar a ele que tinha outra pessoa envolvida e por isso o mistério?

Havia um bilhete sobre as flores e Alberto não pôde controlar a curiosidade, pegando-o rapidamente e começando a ler, temendo que alguém fosse aparecer.

“São pra você” dizia a nota, que ele havia lido em voz alta.

— Sim, pra você. — Rachel disse, revelando-se. Ela mantinha um braço escondido nas costas, obviamente segurando algo que deveria ser surpresa. — Tive que esperar a tarde toda pra te entregar isso, não sabia o quanto eu estava ansiosa.

— Não estou entendendo nada. — Admitiu Alberto, confuso. — Por que a surpresa e as flores?

— Porque eu tenho algo importante pra te falar. — Aproximou-se dele. — Eu sei que você lembra da última vez que tivemos essa conversa. Eu fui muito insensível com você, você foi sensível demais comigo... Acho que ainda não estávamos prontos.

— Que conversa, exatamente? — Alberto questionou, querendo saber se era o que se passava em sua mente nesse momento.

— Sobre nós dois. Sobre o que nós somos. — Declarou Rachel. — Eu precisei de um tempinho para pensar, mas hoje eu tenho certeza de que estou muito bem ao seu lado e não quero esperar mais nem um segundo.

Rachel revelou o que mantinha oculto em suas costas. Uma caixinha vermelha de uns vinte centímetros, com um lacinho branco.

— Por isso, Alberto Mirano, eu quero saber: você quer namorar comigo? — Perguntou ela, destampando a caixinha e revelando um colar com um pingente que era metade de um coração.

Só então Alberto percebeu que Rachel já usava a outra metade daquele coração em seu próprio pescoço. Lágrimas se formaram em seus olhos e por um instante, ficou mudo, olhando para o presente e depois para Rachel diversas vezes.

— Que foi, Al? Agi rápido demais? — Perguntou Rachel, preocupada.

— Você está falando sério? Quer dizer, está mesmo me pedindo em namoro?

— Depende, você está bem com isso?

— Se eu estou bem?

A resposta seguinte de Alberto foi tirar a caixinha da mão de Rachel, para poder puxá-la para um beijo apaixonado. Este foi rápido, porém, assim que se separaram e Rachel se deu conta de que a resposta era positiva, ela puxou para outro beijo ainda mais determinado que o primeiro.

— Você não faz ideia do quanto eu estou feliz! — Assumiu Alberto, com os olhos cheios de lágrima. — Quis fazer isso tem um tempo, mas fiquei com medo de estragar tudo de novo. 

— Eu sei, te traumatizei da primeira vez. — Rachel riu.

— Eu posso sair agora? — A voz de Lucas perguntou da cozinha.

— Pode. — Ela gargalhou.

O loiro saiu com um largo sorriso indo abraçar os dois, contente que tudo começava a dar certo na vida daquelas duas pessoas tão maravilhosas para ele.

Naquela noite, tiveram um jantar muito bem preparado para comemorar o novo feito. Alberto já estava com o pingente em seu pescoço, onde Lucas pôde ver que de vez em quando ele pegava-o entre os dedos e o acariciava, como se precisasse ter certeza que era real. Talvez Alberto não tivesse percebido, mas hora ou outra, Rachel fazia a mesma coisa.

Foi assim que Lucas teve certeza que daria certo.

♚ 

Assim o tempo passou, Lucas iniciou suas aulas e se empenhou tanto nos seus estudos quanto se empenhava para tentar superar os dias sombrios que o perseguiam. A faculdade e os novos colegas de turma que havia feito o ajudavam a se distrair e conseguir clarear seus objetivos, mas ainda assim, continuava difícil.

A carga de leitura do curso estava pesada, não conseguia ler os livros emprestados de Alberto e estava exausto porque suas provas se aproximavam. Assim que chegou ao apartamento, deixou a mochila de lado e como amigo ainda estava no trabalho, aproveitou para descansar um pouco antes de sair novamente, como havia prometido para Rachel.

Jogou-se ao sofá e fechou os olhos por alguns segundos e assustando-se quando o telefone tocou, apesar da preguiça de se levantar, pensou que poderia ser Alberto e foi atender. 

— Alô? — Falou, bocejando em seguida, percebendo que o outro da linha lado estava silencioso. — Alô?

— Olá! Boa tarde! Sou representante da Verizon, gostaria de te oferecer um ótimo plano com a internet mais rápida já disponível no mercado. — O vendedor animado se apresentou. 

— Me desculpa, mas não tenho interesse. — O loiro revirou os olhos. 

— Nós aumentamos nossa cobertura da nova tecnologia 4G, você sabe quais são as mudanças que a quarta geração dos dados móveis traz?

— Eu não sei e… Sinceramente, eu não estou com tempo agora. 

— Posso fazer o senhor mudar de ideia. — O vendedor desacelerou a fala, fazendo o loiro se irritar. — E será rápido.

— Moço, nem celular eu tenho...

— Mas com certeza essas informações podem ser úteis na hora de escolher a operadora e…

Lucas interrompeu a ligação irritado, bufando ao colocar o telefone de volta na base. 

— Cheguei! — Alberto fechou a porta de entrada, chamando a atenção do loiro. — Eita, que cara é essa?

— Um vendedor idiota! — Esbravejou. — Ficou insistindo em me oferecer um plano mesmo quando eu falei que nem celular eu tinha! 

— Calma, esse pessoal é determinado mesmo. — Riu baixinho. — Mas falando nisso, você não acha que é uma boa hora de comprar um? Agora você está saindo mais e às vezes quero falar com você no meio do dia e me lembro que você não tem mais celular… 

— Eu sei que preciso ver isso, mas já vou avisando que não vou contratar o plano desse cara. — Riu de si mesmo. 

— E aí, que horas você combinou com a Rachel? — Alberto indagou. 

— Daqui uns vinte minutos, mais ou menos. — Informou. — Inclusive, vou comer alguma coisa agora.

— Não quer levar meu celular? — Seguiu-o até a cozinha. 

  Não precisa, eu vou estar com ela, qualquer coisa ela te liga. — Pegou uma garrafa de suco da geladeira. 

— Tudo bem, então. 

— Não quer mesmo ir? — Lucas perguntou ao amigo, enquanto se servia. 

— Não, academia não é minha praia. — Alberto fez cara feia. — Além do mais, eu gosto de ver a amizade de vocês, eu fico muito feliz que estejam se dando bem. 

— A Rachel é um amor, além de ser muito engraçada. — O loiro sorriu, dando um gole no suco. — Esses dias eu falei com ela sobre o Gus, foi bom sabe? Poder falar com mais alguém sobre, além de você e o psicólogo. 

— Isso é bom, falar com alguém sobre nosso passado demonstra confiança, então eu fico feliz que você está se abrindo com ela, porque eu também confio na Rachel. — Falou orgulhoso. — E bom, quem sabe você indo na academia não encontra nenhum gatinho por lá, hein?

— Me respeita, eu sou viúva! — Lucas tocou o peito, em falsa indignação, fazendo o amigo gargalhar. 

O loiro terminou seu suco e foi arrumar as coisas para levar para a academia, pegando uma troca de roupa e uma garrafa de água. Rachel chegou para buscá-lo e assim os dois seguiram para a aula de funcional. 

Quando chegaram, os dois passaram pela recepção, onde o loiro assinou um termo de responsabilidade antes de adentrar a academia.  A amiga estava animada enquanto apresentava seus colegas de academia para Lucas, ele parecia perdido enquanto ela lhe mostrava seu cronograma e falava dos exercícios que mais gostava.  

— Rachel! Achei que não viria hoje depois do corpo mole que você fez ontem! — O homem com o uniforme da academia se aproximou deles. 

— Todo mundo sabe que não se pode faltar no dia de treinar as pernas. — Ela riu baixinho, em seguida apoiando a mão ao ombro do amigo. — Bom, esse é meu amigo Lucas, ele será meu novo companheiro de treino daqui em diante… quer dizer, isso se você pegar leve com ele. 

— Prazer, sou Brock. — Acenou. — Espero que você não seja tão molenga como essa aí. 

— Vou tentar. — Sorriu envergonhado, sentindo os olhares constantes dele sobre si. 

— Então… — Rachel falou, voltando a atenção do instrutor para si. — Já peguei minha ficha dos exercícios de hoje, vou começar meu aquecimento e aí eu te chamo.

— Tudo bem, estou por aqui se precisarem. — Ergueu uma das sobrancelhas, se afastando. 

— O que foi isso? — Rachel sussurrou ao amigo, assim que o instrutor se afastou. — Ele ficou te encarando sem parar.

— Qual é?! Para com isso! — Lucas exigiu, constrangido.

— Não tenta disfarçar, pelo pouco que eu conheço o Brock, ele com certeza está interessado… — Ela avistou o instrutor ao longe, que os olhou em seguida, fazendo com que disfarçassem. — Ai meu Deus, ele tava olhando pra você até agora. 

— Você tá pirando. — O loiro negou, querendo mudar de assunto. — Quais exercícios eu posso fazer pra começar? 

Mesmo com o pedido, a amiga continuou a falar do instrutor, em como ele era bonito e que já havia tido uma queda por ele no passado, mas descobriu que ele não era muito fã de mulheres. 

Enquanto começavam o aquecimento, Lucas percebia que, de vez em quando, Brock voltava a olhar em sua direção, fazendo com que Rachel voltasse para o mesmo assunto. Não queria confessar que gostou dos olhos castanhos do professor sobre si, ele era atraente e aquilo não podia negar, era um pouco mais alto e com os cabelos ondulados e escuros.

Durante um dos exercícios, perturbou-se com a ideia de estar sendo constantemente observado, não só pelo instrutor, como pela amiga, que insistia em continuar conferindo se Brock estava olhando em sua direção. Já estava incomodado e sentia que não conseguiria se concentrar em nenhum movimento, parando para descansar, enxugando o suor da testa com seu antebraço. 

— Cansou? — Rachel falou, no intervalo dos seus agachamentos. 

— É, me deu um pouco de fraqueza… — Mentiu. — Acho que eu vou parar por aqui.

— Bebe um pouco de água, vê se passa. — Ela lhe deu uma garrafinha. — O que você tá sentindo? 

— Nada demais, relaxa, minha pressão deve ter abaixado, só isso. 

— Pode ter a ver com seu pré-treino também, vai demorar um pouco pra você se adaptar com o que é melhor comer antes do treino. — Ela sentou-se próxima a ele. — Quer ir embora?

— Pode terminar sua sequência, não quero atrapalhar você.

— De jeito nenhum! Se você tá passando mal a gente vai embora daqui agora! 

— Não é pra tanto, já estou melhor… é sério. 

Ela semicerrou os olhos como se desconfiasse do que ele dizia e levantou-se. 

— Já fiz o suficiente hoje, vou tomar uma ducha bem rápido e aí já vamos, tá bom?

— Vou me trocar também e aí te espero. — Levantou-se em seguida. 

Lucas pegou o que havia trazido e caminhou para o vestiário, aliviando-se que única pessoa que estava ali, já estava prestes a sair. Quando encontrou-se sozinho, retirou a camiseta que usava e assustou-se ao perceber pelo reflexo do espelho que o instrutor de mais cedo havia acabado de entrar. 

Com o coração acelerado, agarrou uma camiseta limpa de dentro da mochila e vestiu-a com pressa, desistindo de tomar banho. Quando vestiu-se, percebeu que ele olhava em sua direção novamente pelo espelho, saindo dali no mesmo momento, não dando tempo para nenhum outro contato.

Com medo de encará-lo, escondeu-se atrás da parede que dividia os dois vestiários, ficando próximo a porta do lado feminino, esperando a amiga sair. Por sorte, não viu Brock novamente, ficando ali por alguns minutos até que Rachel finalmente saísse. 

— Vamos? — Ela falou, com os cabelos molhados do chuveiro, reparando nas roupas do amigo em seguida. — Você não tomou banho? Você pode tomar banho aqui se achar melhor. 

— Eu sei, mas prefiro tomar em casa, tava muito cheio lá, aí eu só troquei pra uma camiseta seca e vim.

— Ah, eu também tive vergonha nos primeiros dias pelos chuveiros não serem privativos. — Ela falou, colocando a mochila nas costas, caminhando para fora da academia com ele. — Mas, depois de um tempo, você vai ver que a vergonha passa… 

— Rachel, queria falar com você. — Interrompeu a conversa, prestes a entrar no carro com ela. — Queria um conselho. 

— Claro. — Ela sentou-se, com ambos fechando a porta do veículo. — Fala.

— Então… eu, eu gostei de vir aqui, mas não sei se eu vou voltar… 

— Como assim, Luke? Você não gostou? Eu te forcei demais, né? Eu sei que eu sou assim às vezes, mas você não precisa fazer tudo o que eu mando… — Ela atropelou as palavras.

— Não, relaxa, não é por você. — Interrompeu, suspirando em seguida. — É que eu posso estar maluco, mas eu realmente acho que o seu instrutor queria alguma coisa comigo. Não sei, eu só… Não sei, eu não posso dizer que eu não gostei de ver alguém interessado em mim, não é isso, mas eu… 

— Você não tá pronto, né? — Ela completou a frase do amigo, vendo-o sacudir a cabeça positivamente. — Eu fui muito insensível, fiquei tão empolgada que nem pensei nisso… Me perdoa, Luke. 

— Não, não pensa nisso, eu sei que eu não deveria estar me sentindo desse jeito, mas é que… quando eu percebi que estava gostando do fato de ele estar me encarando, me senti mal porque eu pensei que eu estaria traindo o Gus, mas aí eu lembrei... — Murmurou, tentando conter o choro evidente. 

— Ah, meu amor… — Ela agarrou-o pelos ombros, dando um abraço desajeitado dentro do carro, acolhendo seu pranto. — Vai ficar tudo bem...

Alberto arrumava a casa, guardando as coisas espalhadas e tirando o pó das superfícies. No que caminhava para a sala, o telefone tocou, chamando sua atenção.

— Alô? 

— Olá! Boa tarde! Sou representante da Verizon, gostaria de te oferecer um ótimo plano com a internet mais rápida já disponível no mercado.

— Ah, acho que você já ligou aqui hoje. — Alberto se pronunciou. 

— Pois é, eu falei com seu amigo, bem mal-educado ele inclusive, desligou na minha cara, você acredita?

Alberto ficou em silêncio, sentindo um calafrio percorrer seu corpo, sem forças para continuar a falar, perdendo a voz ao dizer:

— Marcus?

— Achei que você demoraria mais para perceber. — Ele riu baixinho. — Eu tive saudade, Al! 

Alberto piscou várias vezes, ainda em silêncio, acreditando que tinha enlouquecido ou que estava dormindo, só sabia que precisava acordar.

— M-Mas… — Murmurou. 

— Você tá bem? — O amigo perguntou, do outro lado da ligação.

Gaguejou, desligando o telefone, ainda piscando. Foi para a pia do banheiro jogar água no rosto, percebendo que seu corpo tremia, ainda assustado com o que tinha ouvido, pensando ter sido uma alucinação. 

Ainda no banheiro, ouviu o telefone tocar, estremeceu, ainda sem se movimentar. Em seguida, deu o primeiro passo, receoso se atenderia a ligação, respirando fundo antes de decidir. 

— Alô? — Atendeu, sentindo sua voz falhar.

— Alberto? O que aconteceu? — Perguntou e não obteve resposta. — Ei… Fala comigo… por favor.

— M-Marcus? 

— Sim, sou eu, Al. — Assumiu emocionado. — Mas se quiser me fazer uma pergunta para garantir que eu não sou o gêmeo do mal, pode fazer. 

— É você mesmo! — Alberto acelerou as palavras, com lágrimas formando no canto dos olhos. — M-Mas como?! 

— Você tá com tempo agora? 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

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