Stranger escrita por Okay


Capítulo 25
Proposta.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 15/01/2020



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Capítulo 25 — Proposta.

Bob mostrou discretamente o revólver dentro do cós de sua calça, fazendo-o que Lucas estremecesse e tentasse manter a compostura na frente de outros colegas de trabalho e clientes que poderiam ser vítimas caso aquele homem resolvesse prestar contas naquele momento.  

— Pelo que eu saiba você não é débil mental, não é mesmo? Você é até esperto o suficiente para saber que o dia do nosso trato era até ontem. — Bob iniciou o assunto. — Cadê o meu dinheiro?

— Eu estou para receber uma grana, não sei se já caiu, ainda não fui ao banco, mas posso conferir. — Falou corajosamente, sabendo que muito provavelmente sofreria as consequências de não ter cumprido o acordo na data prevista.

— Eu vou ser bonzinho e te dar até meio dia para trazer o meu dinheiro, mas antes de tentar qualquer gracinha, saiba que eu tenho homens por todos os lados, então pensa bem se você for inventar de acionar a polícia.

Lucas se sentia observado enquanto caminhava ao banco mais próximo, tentava andar o mais rápido que conseguia, mas sentia que tinha perdido toda a força de suas pernas desde que Bob lhe havia feito aquela visita. Tinha se preparado mentalmente para receber uma ligação dele e negociar, mas jamais teria se preparado para aquele encontro, deveria ter imaginado antes que ele se manifestaria de alguma forma inesperada como ele sempre fazia.

Já dentro do banco, esperou um tempo na fila para sua vez chegar, a sua impaciência fazia parecer que o tempo ali dentro estava congelado. Decidiu se sentar para esperar, enquanto olhava initerruptamente para o televisor que mostrava as senhas que eram chamadas.

Não soube dizer quantos minutos tinha se passado quando chegou sua vez, caminhando ao atendente indicado. Não demorando para informar que precisava verificar a quantia que estava prevista para receber e, se possível, retirar. 

Para sua sorte, o dinheiro que disseram que poderia levar até dois dias para receber, já estava disponível, onde pediu para fazer o resgate imediatamente. Respirando aliviado ao perceber que pelo menos aquilo tinha dado certo.

Apesar de saber que sua situação não era favorável para um empréstimo, aproveitou que já estava na mesa com o atendente para saber se poderia tomar emprestado a quantia que precisava. O homem que lhe atendia buscou as opções que ele tinha e nenhuma delas era viável para o que precisava nesse momento. Lucas desanimou-se com aquilo, mas buscaria outras opções, abandonando o banco com os cinco mil dentro de um envelope.

Um arrepio subia pela sua espinha ao pensar no que diria a Bob que não tinha a quantia completa do quanto lhe devia. Se ao menos saísse vivo estaria no lucro, pois aquele homem não brincava em serviço.

Ao dar o horário indicado por Bob, caminhou para o local em que combinaram de se encontrar, um estacionamento atrás da cafeteria, próximo aos fundos, escondidos pelos grandes containers de lixo. Lucas tremia ao caminhar sozinho para aquele lugar, segurando firme o envelope com suas mãos suadas.

— Revista ele. — A ordem foi dada assim que o rapaz se aproximou do grupo.

— Está limpo. — O homem mais alto entre quatro capangas respondeu, após apalpar o corpo do loiro.

— Pega o envelope pra mim e confere. — Bob novamente pediu.

— Aí tem cinco mil. — Lucas tomou a coragem de dizer antes que conferissem. — Foi o que eu consegui...

— Cinco mil?

— É.

— Deixa eu ver se entendi direito. — Bob coçou o queixo, caminhando em direção a ele. — Você acha que eu sou trouxa mesmo, né? Você quer o que mais, cuspir na minha cara? Fala logo!

— Não estou insultando você, nem sua inteligência, eu tenho plena noção de que não cumpri nosso acordo. — Lucas assumiu, sentindo seu estômago embrulhar.

— Ofereci esse trato de bom grado, mesmo depois de você ter fugido do apartamento que eu te arranjei, com a audácia de tentar me despistar! E ainda por cima sumiu com o meu pacote! — Bob enfureceu-se. — Eu fui bonzinho até demais.

— Eu fugi de medo, já disse que pegaram toda a coca e eu não sabia o que faria pra te pagar! — Respondeu, sentindo o coração na garganta.

— O que você acha que eu vou fazer com esses cinco mil, hein? Enfiar no meu rabo?!

— Eu tentei te explicar! Não consegui impedir que pegassem! O apartamento ficou vulnerável, eu tive que sair de lá! — Lucas inventou, desesperado para que ele não reparasse que estava mentindo, sentindo sua boca secar.

— Você tem que agradecer por eu não ter feito nada com você... — Agarrou o rosto do loiro pelo queixo. — Mas e agora? Você passou dos limites, não acha? Parece que você não se lembra do que eu sou capaz... Tenho que refrescar sua memória?

Lucas não precisava se esforçar muito para que imagens vívidas dos acontecimentos ao lado de Bob viessem à tona em sua mente. Lembrava-se do carro que transportava ele e sua antiga amiga Lys para fora daquela boate, quando estavam longe o bastante, Bob mostrou sua verdadeira personalidade, deixando de lado o papel de cara bonzinho, encarnando o próprio demônio.

Tudo o que se lembrava era de sentir medo, desde a saída da boate clandestinamente, até chegarem ao local onde passaria seus piores dias. Os gritos de Lys novamente vinham em sua cabeça, atormentando-se com a lembrança da moça sendo arrastada para um quarto pelo grupo de homens sem nunca saber o que se passava lá dentro. O loiro sentiu suas bochechas arderem quando um tapa lhe atingiu, fazendo-o acordar de seus pesadelos.

— Eu sei que achou que seria fácil se livrar de mim! — Bob tornou a dizer, com a mão levantada, ameaçando outro golpe.

— Mas eu estou aqui, não estou?! — Lucas retomou a coragem, sentindo o lado esquerdo de seu rosto queimar. — Eu quero te pagar! Eu não estaria aqui se não estivesse disposto a cumprir com o que te devo!

— Todos dizem isso quando a situação aperta. — Revirou os olhos, fazendo um sinal para um de seus homens se aproximar do rapaz.

— Se eu quisesse ter te passado a perna, eu teria feito há muito tempo! Nesses anos todos eu nunca te dei prejuízo, te encobri todas as vezes! Você tem que me dar mais tempo! É tudo o que eu te peço! — Exclamou, desesperado, tentando se desvencilhar dos braços do homem que tentava lhe segurar. — Me dá um valor novo! Eu pago! Me dá mais uma chance! Você sabe pode confiar na minha palavra! Eu sei que eu não deveria ter fugido quando me passaram a perna, mas eu só errei uma vez!

— Cala a boca, você está me impedindo de pensar direito. — Fez sinal para outro homem, que agora caminhou em direção de Bob, onde começaram a conversar em voz baixa.

O corpo todo de Lucas tremia e ele tentava conter os espasmos e a ânsia de vômito que surgia, suando frio, pedindo mentalmente para continuar vivo. A conversa dos dois não parecia um bom sinal.

Enxugou as lágrimas que corriam pelo seu rosto, pensando em tudo de ruim que poderia acontecer consigo e o que eles estavam planejando. Foi então que os dois homens interromperam a conversa, caminhando em direção ao loiro, que apenas exclamou, soluçando:

— Por favor, só deixa eu me despedir deles antes!

— Do que você tá falando? Tá achando que eu vou te matar, é? — Bob riu sarcasticamente. — Bom, talvez depois de você pagar o que deve ou se você fizer outra burrada de novo, mas por enquanto, eu ainda quero o meu dinheiro.

— Eu vou pagar. — Lucas tentou se recompor, ainda com a voz embargada pelo choro.

— Eu quero vinte e cinco mil. — Continuou. — Eu vou fingir que esses cinco mil nunca existiram. 

— Eu vou conseguir, eu só preciso de mais tempo...

— Uma semana. — Cruzou os braços. — Você tem exatamente sete dias, nem a mais, nem a menos. Não queira saber o que eu vou fazer caso você tente me passar a perna de novo. 

Lucas engoliu em seco, sabia que não era muito tempo, mas também estava aliviado por ter conseguido que ele lhe oferecesse uma proposta melhor.

— É justo. — Acenou afirmativamente com a cabeça, enquanto fungava.

— E depois disso você vai voltar a trabalhar comigo. — Falou, fazendo os olhos de Lucas se arregalarem. — É isso mesmo, ou tá pensando que iria se livrar das suas obrigações tão facilmente?

— Não tem nada que eu possa fazer sobre isso? Você sabe que quem pegou o pacote da última vez pode vir atrás de mim achando que tem mais, eu sou um alvo fácil agora! — Mentiu novamente para tentar convencê-lo. — Eu não quero passar por isso novamente, eu já te disse que não foi um plano meu, eu não sei como, mas descobriram que eu mantinha a coca comigo!

— Isso não é problema meu. 

Lucas preocupava-se em ter que voltar a fazer o que ele lhe pedia, mas no momento, só podia agradecer por ele ter lhe dado uma chance de viver.

O loiro voltou para a livraria atônito, sentindo-se anestesiado, nem mesmo conseguia raciocinar direito. Todo o nervosismo foi embora com Bob e a gangue que estava com ele, mas não conseguia nem mesmo ficar alegre, já que sua energia havia sido sugada por toda adrenalina que seu corpo sentiu com aquela visita.

Um gole de água foi tudo o que conseguiu tomar, indo ao banheiro em seguida, lavando o rosto com água gelada, tentando voltar para seu corpo, sentindo-se distante de si mesmo. Ao enxugar-se, se olhou no espelho, percebendo que sua boca, antes pálida, agora voltava a ter cor.

Suas pernas reclamaram, não queriam mais mantê-lo em pé, forçando-o a sentar-se. Foi para o canto mais reservado do banheiro, acomodando-se ao chão, abraçando seus joelhos e apoiando o rosto contra suas pernas.

Não envergonhou-se com os outros colegas de trabalho entrando ali e o vendo, ninguém questionou-o, provavelmente pensavam que estaria tirando um cochilo. No entanto, um único funcionário se preocupou e aproximou-se para entender o que estava acontecendo.

— Ei... Lucas, tá tudo bem? — Alberto agachou-se ao seu lado.

— Ah, mais ou menos. — Tentou forçar um sorriso. — Hoje não está sendo um dia bom.

— Você não parece bem. — Passou a mão nos cabelos do amigo, tirando-os dos olhos, você tá meio gelado. — O que está sentindo?

— Um pouco de tontura, só.

— Acho que você deve estar com a pressão baixa. —  Alberto deduziu. — Eu tenho um tempo livre do meu almoço, quer que eu te leve pra casa? Depois você justifica a falta, fica tranquilo.

Lucas aceitou, com o amigo ajudando-o a se levantar. Assim que se pôs de pé, viu algumas estrelinhas brancas tomarem conta de sua visão, tendo a certeza de que realmente sua pressão tinha baixado.

Quando passaram pela porta de entrada da livraria, o loiro evitou olhar em direção ao estacionamento da cafeteria, por sorte, o carro do amigo estava em outro lugar. Caminharam juntos até o veículo, conversando de outros assuntos no caminho, onde Lucas evitou falar do ocorrido, não achava que deveria colocá-lo no meio daquela confusão que estava sua vida.

Como se lesse seus pensamentos, assim que colocaram os cintos de segurança e partiram, Alberto indagou:

— Lucas, eu tenho a impressão de que você está precisando de ajuda e não quer me falar.

— Por quê?

— Porque sempre vejo a situação que você está, você sempre parece apavorado com algo, da outra vez você estava vomitando, não pensa que eu esqueci disso. Eu sei que não foi a comida do restaurante. — Explicou. — Você está com algum problema de saúde?

— Até onde eu saiba, não. — O loiro respondeu. — Mas não se preocupa comigo.

— Não diga isso, é claro que eu me preocupo. — Reforçou, enquanto dirigia.

— Obrigado, Al. — Lucas sorriu com sinceridade.

Os dois amigos mudaram de assunto durante o percurso, Alberto sabia que ele não estava confortável em se abrir e teria que respeitar os limites dele. Mesmo assim, continuaria a ajudá-lo, sem intenção de se intrometer em sua vida pessoal.

Lucas poderia estar se sentindo um pouco mais tranquilo durante o caminho, mas as palavras do amigo martelavam sua cabeça, tirando todo o restante de paz que tinha. Era horrível ter que viver uma vida onde colocava todas as pessoas próximas em perigo.

Assim que chegaram, o carro foi estacionado próximo a entrada do prédio e o loiro retirou o cinto, agradecendo-o.

— Não foi nada. — Alberto sorriu. — Ei, Lucas!

— Oi? — Interrompeu sua saída, encarando-o.

— Queria te falar uma coisa...

— Pode falar, Al.

— Nunca se esqueça de que eu estou aqui para te apoiar... Não sei se você está passando por algum momento difícil, mas algo me diz que eu preciso te falar que você pode confiar em mim. Se precisar da minha ajuda, eu estarei aqui e não digo isso da boca pra fora.

Aquelas palavras atingiram Lucas como um soco certeiro, pois ele sabia que era verdade e que Alberto tinha boas intenções. Seu coração palpitou de alegria, abraçando-o subitamente, agradecendo mais uma vez.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Capítulo reescrito com carinho, deixe seu review, mesmo que curtinho! ♕