Stranger escrita por Okay


Capítulo 24
Audiência.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 11/01/2020



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Capítulo 24 — Audiência.

Segunda-feira, 26 de novembro de 2012.

— Lu, eu já estou indo trabalhar... — Gustave deu um beijo na bochecha de Lucas, que ainda estava deitado na cama. — Você não vai pra livraria hoje mesmo, né?

— Não vou. — Respondeu enquanto bocejava.

— Mais tarde você vai precisar de carona para a audiência?

— Não, já combinei com o Al, ele passa aqui pra me buscar e me traz na volta.

— Então tudo bem, eu já vou indo. — Beijou-lhe a testa. — Não esqueça que tem comida na geladeira, não saia sem almoçar.

— Pode deixar, papai. — Lucas riu, com ele lhe mostrando a língua.

— Até mais tarde.

— Até. — O loiro sorriu. — Eu te amo!

Gustave já tinha lhe dado as costas quando novamente caminhou até ele, voando de felicidade para cima do loiro e enchendo-o de beijos.

— Para! Para! Eu estou com bafo!

— Eu não ligo. — Continuou lhe dando selinhos por todo o rosto. — Eu também te amo, você sabe disso.

— Sei sim.

— Se cuida, tá? Eu vou tentar sair mais cedo pra gente ficar juntinho.

— Tá bom, mas não se preocupa com isso. Vai lá senão você vai se atrasar!

— Eu vou, eu vou! — Sorriu, dando-lhe mais um beijo antes de se retirar.

Lucas continuou deitado, percebendo o quanto estava feliz naquele momento, sabendo que tinha muita sorte de ter encontrado alguém como Gustave. Apesar de saber que seus últimos planos não tinham dado certo, era reconfortante saber que o namorado sempre estaria ali por ele, aquele era um amor verdadeiro.

E enquanto o loiro voltava a dormir, Gus interrompia o percurso do trabalho para parar em um estabelecimento. Desde sábado estava se sentindo tão feliz com seu relacionamento que achou que ele e Lucas precisam comemorar, queria fazer uma surpresa para o loiro. Entrou na loja e começou com a busca.

— E aí, Lucas, como foi seu fim de semana? — Alberto indagou ao amigo, assim que ele entrou no carro no horário combinado.

— Foi ótimo, eu e o Gus apenas ficamos em casa juntinhos. E você? Passou o fim de semana com a Rachel?

— Sim, foi incrível, dessa vez foi na minha casa, ela veio para o almoço no sábado e ficou até domingo. — Revelou, com um sorriso enorme, enquanto dava partida no carro e seguiam o caminho. 

— É muito bom saber disso, Al.

— Eu posso estar feliz por um lado, mas por outro está sendo difícil. Só agora eu estou começando a me acostumar com a ausência do Marcus... Acho que ter alguém especial como a Rachel ajuda bastante. — Assumiu tristemente.

Lucas sabia bem como era isso. Gustave tinha sido o pilar para sustentá-lo naqueles tempos onde tudo em sua vida parecia querer desmoronar.

— Mas mesmo com toda a alegria de tê-la comigo, eu ainda penso nele de vez em quando e... — Tentou conter os sentimentos, respirando fundo. — Eu sei que hoje vai ser difícil, porque eles vão perguntar muito sobre o Marcus...

— Eu não tinha parado para pensar nisso. — Lucas encarou-o, vendo-o dirigir. — O que eles vão querer saber? Será que eles sabem que eu tive um relacionamento com ele?

— Não, claro que não, eles querem todos os funcionários lá. — Alberto explicou. — Olha, como nós somos as únicas pessoas que conhecemos o Marcus de verdade, eu tenho que te dizer uma coisa.

— O quê?

— Nós temos que fazer o possível pra parecer que nós não conhecíamos o Marcus, caso contrário, começarão a suspeitar da morte dele, podendo até pensar que a morte dele não foi um acidente e sim assassinato.

— Mas isso não é verdade, ele morreu em um acidente de carro, como eles poderiam pensar que a gente teria feito algo?

— Eu sei que não há nada de errado em falar para eles que o conhecíamos, mas seria muito suspeito e muito mais difícil prosseguir com as respostas caso eles começassem a perguntar coisas demais. Eles gostam de encurralar as pessoas, então será muito mais fácil para a gente se simplesmente fingirmos que não o conhecemos. Tudo bem pra você?

— É claro que sim, eu entendo. E eu sou a última pessoa da face da Terra que quer problemas como esse, eu já tenho problemas demais, você nem tem ideia.

— O Marcus era o meu melhor amigo, os problemas dele eram os meus problemas também. E eu sei que você sabe do passado dele e o quanto ele estava encrencado.

— Acho que sei, um pouco, não muito. Ele nunca me falou muito claramente da vida pessoal, só vivia me dizendo que queria fugir, mudar de vida, recomeçar. É isso.

— Bom, qualquer dia desses nós podemos nos sentar pra falar disso, eu posso te contar o que sei.

— Eu não sei se eu realmente quero saber, Al. Ainda dói um pouco lembrar de tudo o que ele me fez, das falsas promessas, do falso amor...

— Entendo, mas se um dia quiser conversar, eu estou aqui, tudo bem? — Alberto falou, olhando para ele quando pararam em um semáforo. — Eu posso estar exagerando, mas eu te considero o meu melhor amigo agora, Lucas.

— Eu fico muito feliz em saber disso, Al, porque eu confio em você e você está sendo um grande amigo pra mim também.

— Nós não sabemos como vai ser lá, não sabemos se eles mostrarão fotos do Marcus ou algumas histórias, então promete pra mim que não importa o quão difícil seja hoje, nós vamos nos apoiar, caso um esteja precisando do outro para desabafar, é só avisar.

— Eu prometo. — Lucas esforçou-se para sorrir, sentindo seu coração apertar.

A audiência se iniciou e ao contrário do que imaginaram, não foi solicitado que cada funcionário fosse interrogado em particular, ela ocorreu no tribunal com todos presentes. Fizeram uma breve apresentação do acontecido e deram os detalhes de como estavam prosseguindo com os últimos desejos do falecido filantropo.

A quantia ao todo era alta, mas dividida para quase vinte funcionários, não rendia mais do que cinco mil dólares, que seria o valor designado para cada um deles. Ao encerrarem a sessão, percebeu-se um tumulto entre os funcionários, todos eles muito felizes com o valor que receberiam em até quarenta e oito horas.

Não era como se Lucas estivesse reclamando, mas torcia para que o valor fosse mais alto, apenas assim para Marcus pagar a dívida que deixou. Porém, qualquer quantia era melhor que nada e tentaria negociar com Bob aquele valor como entrada, pedindo mais tempo para pagar o restante. Estava mais preparado para caso recebesse outra ligação dele. 

Alberto encontrou-se com Lucas na saída do tribunal e no caminho do estacionamento avistaram uma lanchonete, onde decidiram tomar um café antes de irem embora. Apesar de terem muitas opções de mesa pelo local estar vazio, escolheram uma próxima da porta, ao lado da janela e foram atendidos na mesa, com o loiro escolhendo um cappuccino e Alberto um café sem cafeína.

— Alberto, você disse mais cedo que eu poderia perguntar qualquer coisa sobre o Marcus, não disse?

— Claro que sim. — Confirmou. — Tem algo que queira saber?

— Tem. — Afirmou, ainda receoso. — Sabe... Você sempre disse que ele era o seu melhor amigo, o que ele te contou sobre mim? Ele te contou que brigamos feio na última vez que nos vimos?

— Sim, talvez você não queira saber disso agora, mas eu nunca o vi tão arrasado em toda a minha vida.

— E ele disse o motivo da nossa briga?

— Você quer saber se ele me contou da cocaína, não é? — Falou em voz baixa.

— Sim, era isso. — Lucas acenou afirmativamente com a cabeça. —  Eu queria muito saber o que você pensa sobre mim.

— Eu continuo achando você um rapaz muito esforçado, simpático, inteligente e educado. No fim das contas, eu acredito que eu fui mais compreensivo com você do que o Marcus foi, eu não acreditava que a droga era sua desde quando o Marcus me contou, até tentei fazer ele pensar direito, mas ele foi irredutível na escolha dele. 

— Eu agradeço por você acreditar em mim, Al, mesmo eu sabendo que você soube do que aconteceu pelo Marcus, então acredito que as palavras que ele usou para se referir a mim podem não ter sido muito bonitas.

— Ele podia estar desiludido, mas nada explica o que ele fez. Eu nem acreditei quando ele me disse, ele foi muito injusto, porque ele sabe o risco que é e poderia ter te colocado em perigo. — Alberto encarou-o caridosamente. — No dia que ele me contou ele parecia arrependido, mas nada reverte o que ele fez. 

— Como você pode ter certeza de que ele se arrependeu? Você não viu como ele me tratou no dia que descobriu, Al, eu me senti um lixo... — Lucas afirmou, segurando a vontade de chorar.

— Eu consigo imaginar. — Concordou, compadecendo-se dos sentimentos do amigo. — Ei... Posso te falar uma coisa?

— Pode sim.

— Não quero desvalidar o que você se sente, muito pelo contrário, eu te apoio e eu estou aqui por você. — Segurou na mão do amigo. — Só queria que você soubesse que ele te amou como jamais vi alguém amando outra pessoa, talvez isso seja ruim, porque era um amor doentio, uma obsessão. 

— Realmente, ele já chegou a me dar medo. — Lucas riu, ao mesmo tempo que queria chorar. 

— Ele sonhava com coisas impossíveis, lembro que até antes mesmo de te encontrar, ele me falava de você todos os dias, ele era obcecado por você, ele te procurou por todos os cantos, até cheguei a achar que ele nunca te encontraria. A minha preocupação era que ele parecia se recusar a ser feliz enquanto não te encontrasse... — Fez uma pausa, lembrando-se das conversas antigas com o amigo. — Acredito que ele colocou todas as apostas dele em você e o erro dele foi esse, você era só um garoto quando se conheceram e talvez ele não imaginava encontrar um adulto, uma pessoa com segredos como qualquer outra.

— Eu percebi isso, ele realmente parecia gostar de mim, mas ao mesmo tempo não quis escutar nenhuma explicação sobre como aquela “coisa” estava comigo. — Lucas sentiu o lábio inferior levemente trêmulo, segurando um possível choro quando percebeu que seus pedidos se aproximavam.

A garçonete colocou o cappuccino e o café a mesa, se retirando em seguida, dando a liberdade para Alberto continuar a dizer:

— Ele sonhava demais, Lucas, imaginava que quando vocês se encontrassem seriam fogos de artifício, um casamento digno de realeza e uma linda casa no campo. Você era o propósito de vida dele. Quando ele percebeu que nada do que ele esperava aconteceu, ele ficou mais angustiado e sombrio do que antes.

— Mas eu sinceramente não tenho culpa, Al, ele que colocou todas as expectativas em mim, logo eu que mal sei o que estou fazendo com a minha vida, que só me meti em confusão desde que fugi de casa...

— Eu sei de toda a sua história, Lucas. — Alberto deu um gole em seu café. — Bom, pelo menos o que ele me disse... E eu sei que você é apenas a vítima disso tudo.

— Eu só queria ter conseguido me explicar pra ele, ter feito ele me ouvir... Eu tentei, mas ele não acreditou em mim, não acreditou que era contra a minha vontade. — O loiro olhou para o próprio cappuccino, não contendo mais a vontade de chorar, deixando as lágrimas caírem pelos seus olhos avermelhados. — Eu não sou uma pessoa ruim, Al, eu juro que não sou, eu não sou um traficante como ele disse que eu sou...

— Ei... Eu sei disso, tá tudo bem. — Alberto encarou-o com compaixão, ainda segurando em uma das mãos do rapaz, acariciando-a. — Eu acredito em você. 

— Obrigado. — Tentou sorrir, com os lábios trêmulos. — Eu sou sortudo demais, obrigado por ser meu amigo. 

— Você é importante pra mim, tá? Não se esqueça disso. Agora limpa essas lágrimas e não me faça chorar também. — Afastou sua mão da dele, vendo-o rir.

Lucas e Alberto tomaram suas bebidas conversando sobre como aproveitariam aquele dia longe do trabalho e em seguida foram para casa. O loiro se despediu da carona dele em frente ao prédio e entrou em casa, decidindo deixar a casa arrumada para quando Gustave chegasse.

Terça-feira, 27 de novembro de 2012.

Lucas tinha tido uma ótima noite com Gustave, além de ter dormido bem. Com isso, já havia começado seu expediente de forma animada, arrumando a estante dos lançamentos até ser cutucado no ombro por um cliente.

— Com licença, acho que você pode resolver o meu problema.

Lucas arregalou os olhos, virando bruscamente para ver o dono daquela voz que gelou sua espinha. Por um momento sentiu suas pernas sem forças, segurando-se na estante atrás de si.

— Tem algum lugar que possamos conversar mais à vontade? — Bob encarou-o friamente.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Não deixem de deixar seu oizinho por aqui! ♕