Stranger escrita por Okay


Capítulo 22
Protocolo.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 07/01/2020



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Capítulo 22 — Protocolo.

Fugir não adiantaria mais, Lucas não poderia negar a intuição falando mais alto que o seu desejo de sumir. Aquele carro poderia ser de qualquer outra pessoa, mas ele preferia acreditar que Bob não seria tolo a ponto de deixar qualquer ponta solta antes de ameaçá-lo. Estava transtornado, mas teria que enfrentar qualquer consequência de seu ato impensado de ter fugido de um traficante com capangas espalhados por toda a cidade.

Faria o possível para se manter firme e com a cabeça no lugar, o que já não era uma tarefa fácil, pois com as crises de ansiedade que estava tendo, não conseguia dormir direito e com isso, saía da cama mais exausto do que quando havia se deitado.

Registrou sua entrada e foi o mais rápido possível ao depósito, alguns colegas de trabalho que passavam por ali lhe deram bom dia e acenou de volta, abrindo o sorriso mais falso que conseguiu no momento. Após deparar-se sozinho no local, Lucas esfregou o rosto, sem conseguir tirar a imagem do carro preto de sua mente e o perigo que o namorado poderia estar correndo.

Ao mesmo tempo que não queria estar formulando aquelas coisas à toa, estava preocupado com Gustave e não poderia ficar sem fazer nada. Após alguns minutos a sós com sua mente perturbada, tomou o celular do bolso e pensou em uma desculpa rápida, precisava saber se ele estava bem, mas sem preocupá-lo caso suas cogitações apenas fossem paranoias mirabolantes.

— Alô?

— Oi, Gus... — Iniciou, tentando controlar a respiração acelerada. — Desculpa te ligar assim, você deve estar dirigindo.

— Não, estacionei tem pouco tempo, acabei de chegar no trabalho.

— Ah, então você chegou? — Sentiu-se um pouco mais calmo.

— Já sim, acabei de entrar na minha sala. — Afirmou. — Tá tudo bem?

— Sim, é que, desculpa te ligar assim, não queria te preocupar, na verdade é uma coisa bem bobinha, eu só queria te falar que o livro que você queria já está pra chegar.  

— Ah, que ótimo, se puder separar uma cópia dele pra mim quando chegasse, eu agradeceria.

— Pode deixar.

— Você não me ligou só pra isso, foi?

— A-Ah, foi... Por quê? — Lucas respondeu, querendo não gaguejar.

— Ah, assuma que sentiu saudade e só tá me ligando pra falar que me ama. — Gustave riu, brincando com ele.

— Você se acha. — O loiro continuou. — Só por causa disso vou desligar também.

— Poxa, você é mal.

— Até depois, Gus.

— Até mais tarde, Lu. — O namorado também se despediu. — Eu te amo.

— Beijos. — Lucas apenas desligou, sentindo-se péssimo.

Estava mal tanto por não lhe responder da mesma maneira, como também por ainda estar assustado, apenas aquilo não havia sido o suficiente para saber se ele corria perigo ou não. Tinha que manter-se em alerta e continuar de olho em seu celular, Bob poderia entrar em contato a qualquer momento e aquilo lhe perturbava.

O loiro sentia suas mãos trêmulas e queria não estar ouvindo os próprios batimentos em seu ouvido. Esfregou mais uma vez o rosto, levando os dedos aos cabelos, bagunçando-os, com raiva e frustração, sentia-se em uma areia movediça e cada vez que tentava tomar uma decisão, parecia apenas afundar mais. 

Deu início ao expediente e retirou os livros separados no depósito que precisavam dar a entrada no sistema, uma longa pilha o aguardava e em breve novos exemplares chegariam, então precisava acelerar antes que tudo acabasse acumulando.

Alberto naturalmente se viu dentro dos recados deixados para Marcus, relendo todos os que havia enviado e ainda estavam sem resposta. Apagou o texto da mensagem que escrevia naquele momento, tendo em mente que era em vão, ele não iria ler.

Respirou fundo para evitar a vontade de chorar e soltou a respiração lentamente, a cada dia que passava não deixava a esperança morrer, ainda sonhando receber notícias de Marcus. Para ele não seria tão simples assim esquecê-lo, só torcendo para aquele acidente ter sido mais uma das artimanhas do amigo.

As últimas palavras dele ecoavam em sua cabeça todos os dias como um mantra, era um ritual, jamais deixava de conferir a caixa de entrada do e-mail com um nome falso que havia criado para que o amigo entrasse em contato. Mesmo assim, era sempre em vão, nenhum recado desde que ele havia partido.

Contudo, não deixava os ensinamentos do amigo de lado, sabia que teria que continuar seguindo os protocolos, na esperança de que um dia o encontraria novamente. Sentindo seu coração ainda doer, acordou de seus pensamentos quando uma das funcionárias lhe pediu ajuda com o sistema que parecia estar lento naquele dia.

No que aproximou-se do balcão, teve sua atenção tomada por dois homens bem vestidos que entraram no local, indo em sua direção, eles não pareciam interessados em nenhum livro. Ambos se apresentaram e chamaram pelo responsável presente, Alberto se prontificou.

Quando descobriu que ambos eram oficiais da justiça e vinham em nome de Marcus para tratar da audiência a respeito de seu inventário, soube que era o momento de começar a atuação.

Era hora de pôr em prática o protocolo.

— Até amanhã! — Alberto acenou para Camille, que se despedia. 

— Ei, Al... Posso falar com você? — Lucas aproximou-se, assim que terminou de ajudar Alberto a fechar a livraria.

— Claro que sim, sobre o quê?

— Sobre aqueles dois caras engravatados que eu vi mais cedo, eles pareciam ser da polícia ou algo assim, o que aconteceu?

— Ah, eu ia mesmo falar com o pessoal sobre isso, mas achei melhor comunicar todos amanhã... Bom, o que posso te adiantar, é que eles são oficiais da justiça e vieram anunciar uma audiência, mas fica tranquilo, amanhã eu vou falar com todo mundo e explicar melhor do que se trata, eu até poderia falar melhor sobre isso, mas eu tenho mesmo que ir agora, tenho um compromisso.

— Sem problemas, acabei de ver que minha carona chegou. — Lucas informou. — Então vou indo, amanhã a gente se fala.

— Até amanhã!

— Até!

O loiro encontrou-se com o namorado no carro, onde partiram ao apartamento. Como o trânsito estava um pouco mais agitado naquele dia, demoraram mais que o comum para chegar, mas apesar do tempo extra juntos, não conversaram muita coisa, onde a maior parte do assunto veio de Gustave, que estranhava o comportamento de Lucas.

Assim que passaram pela porta de entrada e se jogaram ao sofá, a pergunta surgiu:

— Lu, me desculpa, mas eu preciso mesmo saber, o que está havendo com você, hein? Mesmo que você negue, tem algo te perturbando...

— Por que está dizendo isso?

— Você está distante e você só fica assim quando tá pensando demais.

— Não é nada, eu tô bem. De verdade.

— Não, não tá, não. — Gustave entristeceu-se. — Poxa, me fala, por favor. Somos melhores amigos, eu sei de todo seu passado, por que quer esconder algo de mim agora? O pior que seja, eu vou te entender.

Lucas refletiu nas palavras do namorado e sabia que eram verdade, ele realmente lhe compreendia. Mesmo depois de descobrir coisas horríveis a seu respeito não saiu de seu lado, além de ter perdoado sua traição.

Respirou fundo e tomou coragem para desabafar, lembrando-o de quando o contou sobre seu passado, onde havia confessado ser conivente no tráfico de drogas, guardando cocaína em seu antigo apartamento. Com isso, lhe contou como perdeu toda a droga que estava consigo e que estava em maus apuros.

— Lembra de quando eu te liguei hoje? — Lucas continuou.

— Sim, lembro.

— Então, na verdade eu não liguei para te falar do seu livro, aquilo foi só uma desculpa para saber se você estava bem, porque assim que você me deixou na livraria e seguiu para o trabalho, eu vi um carro muito suspeito te seguindo. — Prosseguiu, passando a mão pelos cabelos, declaradamente preocupado. — Eu não sabia dizer se era coisa da minha cabeça ou não, mas não tenho escolha, eu não tenho mais como fugir... Esse cara já sabe onde trabalho, para saber onde nós moramos, não vai demorar muito tempo.

— Você devia ter me contado desde essa primeira ligação que ele te fez, Lu. — Segurou a mão do namorado, totalmente suada e gelada. — Eu estou aqui por você, estou com você nessa e não vou te deixar na mão, vamos enfrentar esse cara juntos e vamos vencer.

— Não entendi o que você quis dizer com “vencer”, porque com esse tipo de gente você nem tenta lutar. Nem mesmo a polícia é uma solução.

— Eu quis dizer que vai dar tudo certo.

— Só me fala que vai tomar cuidado sempre que for entrar ou sair de qualquer lugar, por favor, me promete. — Lucas exigiu. — Não tenta ir atrás de ninguém por conta própria, promete pra mim!

— Prometo, sim. — Levou a mão dele até sua boca e depositou um rápido beijo em seus dedos. — Amanhã mesmo eu vou ao banco, certo? Vou conseguir um empréstimo e você vai quitar essa dívida e se ver livre dele pra sempre. Vai dar tudo certo.

— Você não existe. — O loiro abriu um sorriso sincero. — Eu nem sei como agradecer por você continuar do meu lado... 

— Agora deixa a tristeza de lado e não pensa nisso por enquanto, amanhã vai ser um novo dia.

Após Alberto terminar seu banho, não economizou no perfume e escolheu uma boa roupa para vestir. Penteou os cabelos castanhos, que eram tão claros que nunca sabia dizer se o tom era de uma variação de loiro.

Desde que havia recebido uma resposta afirmativa de Rachel, estava confiante, pensando que seria bom ter uma companhia naquela noite e torcia para que ela fosse uma boa pessoa, aquilo era o que mais lhe chamava atenção em alguém. 

Pegou o chocolate belga que estava em uma embalagem pomposa e o buquê de flores coloridas que havia comprado na volta do trabalho, preparando-se para encontrá-la. 

Aquela era a primeira vez em que caminhar pelo corredor de seu andar trazia borboletas em seu estômago, estava ansioso e ainda não sabia o que diria a ela, tentando descobrir a poucos passos antes de chegar a porta dela.

Tocou a campainha e esperou, sentindo seu coração acelerar ao ouvir a movimentação se aproximando da entrada:

— Boa noite! — Ela recebeu-o com um abraço e um beijo na bochecha. — Pode entrar!

— Boa noite. — Alberto sorriu, entrando com ela e lhe entregando os presentes. — É pra você. 

— Que lindo! — Os olhos dela brilharam. — Não precisava trazer esses mimos, mas eu adorei!

— Não é nada demais. — Sorriu, embasbacando-se com a felicidade sincera que ela esboçava.

— O chocolate vou deixar aqui na mesa para a gente, mas primeiro, vou pegar um jarro de água para essas flores, enquanto isso pode se sentar, fique à vontade! — A moça explicou, indo para a cozinha. 

Alberto andou até a sala, tomando a liberdade de sentar-se no sofá enquanto deu uma breve olhada em tudo ao redor, percebendo as poucas e elegantes decorações do local.

— Fico tão feliz que tenha vindo! — Rachel voltou, colocando o jarro com as flores sobre a mesinha de centro da sala. — Já até coloquei água para ferver para a gente tomar um chá, também fiz hummus e comprei pão sírio, você gosta?

— Eu adoro! 

— Sério? Que bom! Porque eu cheguei a comprar outras coisinhas para caso você não gostasse de culinária árabe.

— Eu amo, o meu prato árabe preferido é o falafel.

— Se eu disser que é o meu também seria muito esquisito? — Ela riu empolgada. — Enfim, eu preciso experimentar esse chocolate que você trouxe, eu sou apaixonada por chocolate! 

Alberto sorriu com a graciosidade com que ela falava de todas as coisas, gostava de pessoas empolgadas, pois pareciam mais sinceras e de bem com a vida. Apesar de estar preocupado pensando que aquela noite deveria ser perfeita, não deixava sua ansiedade dominar seus pensamentos. 

Sexta-feira, 23 de novembro de 2012.

Lucas mal acreditou que seu horário de almoço já havia chegado, pois estava tão inquieto que a hora não parecia passar, o nervosismo por novas ligações de Bob aumentava, ao mesmo tempo que não sabia o que estava acontecendo com a livraria, pois Alberto ainda não havia lhe dito nada sobre a audiência e nem do que se tratava.

Como era o intervalo da maior parte dos funcionários, Alberto avisou para que todos se reunissem no estoque para um aviso que tinha a fazer. Lucas pensou ser um aviso prévio para uma possível demissão em massa, pois a situação deveria estar feia para terem recebido um aviso de oficiais da justiça.

Ouvia burburinhos enquanto se encaminhava com todos para o local do pronunciamento, sem saber o que esperar. Todos se juntaram e formaram um semicírculo de frente para Alberto.

— Primeiramente me desculpem por interromper o almoço de vocês, mas prometo que serei rápido. — Alberto iniciou, ganhando o silêncio de todos. — Bom, nós tínhamos um cliente que muitos aqui conheciam, um homem que praticamente toda semana estava por aqui, ele era muito fiel aos lançamentos e sinceramente, nosso melhor cliente. Infelizmente ele faleceu em um trágico acidente de carro e deixou uma homenagem para nós.

Alberto fez uma pausa para conter os sentimentos que vinham ao lembrar-se do amigo, olhou para o chão e em seguida encarou os funcionários, ávidos pela continuação, assim dizendo:

— Ele era uma pessoa muito solitária, não tinha família e vivia dizendo o quanto considerava cada funcionário daqui como parte de sua família. Fui informado pelos oficiais de justiça que estão lidando com o inventário dele, que esse homem dedicou uma parte de sua herança para nós. O que é incrível, mas ao mesmo tempo triste. — Explicou resumidamente. — Portanto, o dever de cada um de vocês é comparecer na audiência que está marcada para essa próxima segunda-feira, dia vinte seis, às duas da tarde, mandarei ainda hoje um e-mail para vocês com o endereço. Lá eles explicarão todos os detalhes para vocês e não se preocupem, pois não abriremos nesse dia em homenagem a ele. Isso é tudo, estão liberados.

Alberto nunca quis se livrar tanto de uma obrigação como naquele momento, saindo rápido do estoque para evitar que percebessem que seus olhos estavam marejados. Apesar disso, a maioria dos funcionários conversavam empolgados, mais preocupados com especulações de quanto ganhariam do que olharem ao redor para verem o que se passava com ele.

Lucas, porém, era o único que não parecia ter se alegrado com a notícia, pois fazia alguns dias desde que não havia pensado em Marcus e ouvindo aquilo, um sentimento tão pesado recaiu em suas costas, que se deu conta de que ainda não havia superado a morte dele.

O loiro se sentiu mal em meio as conversas escandalosas dos colegas de trabalho, saindo do local com pressa. Como não estava com apetite para almoçar, mas também estava sem o café da manhã, decidiu que precisava de um chocolate quente para confortar-se.

Caminhou para o estabelecimento ao lado da livraria, onde mal entrou e já pode reparar na presença de Alberto, esperando para ser atendido. Foi até ele para também aguardar e cumprimentou-o.

— Oi, Al. — Forçou um sorriso. — Você está bem?

— Já estive melhor. — Respondeu francamente.

— Eu sinto muito, deve ter sido difícil para você fazer esse pronunciamento hoje. — O loiro encarou-o, vendo a expressão aborrecida do amigo. — Mas olha, eu assumo que fiquei surpreso, jamais imaginaria isso, estou até agora sem acreditar.

— Eu também. — Revelou, aproximando-se do caixa por ter chegado sua vez.

Após fazerem seus pedidos, sentaram-se juntos, aguardando serem chamados. Lucas sabia que o silêncio de Alberto não era algo comum, pois o amigo costumava ser extremamente comunicativo, então vê-lo em silêncio o incomodava, não tinha dúvidas de que ele estava sofrendo.

— Eu tive um encontro ontem. — Alberto suspirou.

— Sério? Me conta mais, Al! — O loiro empolgou-se.

— O nome dela é Rachel, é minha vizinha de andar. Ela é linda, inteligente, bem-humorada e gostamos das mesmas coisas. — Iniciou. — Ela me convidou pra ir até o apartamento dela e eu fui, comemos e conversamos muito, nem vi as horas passando, até fiquei para dormir.

— Então posso presumir que rolou algo?

— Pode sim. — Abriu um sorriso envergonhado. — Eu geralmente não faço esse tipo de coisa no primeiro encontro, mas com ela eu me senti bem, como se a conhecesse há tempos, foi natural, nós combinamos muito. 

— Eu fico muito feliz por você, Al.

— Eu também deveria estar feliz. — Encarou-o, com mais tristeza nos olhos.

— Eu não posso te dizer para não se sentir assim, porque eu sei que perder alguém querido não é fácil... — Fez uma pausa, sentindo um nó na garganta. — Eu também sinto falta dele.

Ambos olharam para o lado ao terem seus nomes chamados para retirarem seus pedidos. Buscaram juntos e tornaram a se sentar. Por um momento, nem repararam que tomavam suas bebidas em silêncio, cada um sentindo o luto de uma forma diferente.

Alberto só queria mais uma vez o abraço do amigo, enquanto Lucas cogitava como seria aquele futuro que Marcus tinha lhe prometido, voltando no tempo onde a ideia de fugirem juntos não parecia tão utópica, sonhando com seu conto de fadas nunca concretizado.  

 

 

 


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Notas finais do capítulo

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