Stranger escrita por Okay


Capítulo 19
Ruínas.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 11/02/2019



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Capítulo 19 — Ruínas.

Segunda-feira, 19 de novembro de 2012.

Já havia se passado uma semana desde que Lucas havia se mudado para o apartamento de Gustave e com ajuda dele, havia quitado todas as dívidas com o Sr. Thompson e encerrado a sua estadia por lá. Se livrou de seus últimos pertences com a maior rapidez que conseguiu, pois seu maior pesadelo era ter que trombar com Bob e agora apenas torcia para que ele não descobrisse o seu paradeiro.

Lucas ainda não sabia como agradecer ao namorado por tudo o que ele estava fazendo por si, Gustave mal sabia, mas o loiro já estava se sentindo no caminho de demonstrar o seu amor por ele, apenas esperando um dia especial para que dissesse a ele o quanto o amava. E agora seria de coração pleno e sincero.

— Então essa é a última vez que vou te ver? — Alberto indagou ao amigo.

— Não é um adeus, mas se tudo der certo, não vai ter que olhar para a minha cara por um bom tempo, já está tudo encaminhado, Al. — Marcus sorriu, tentando parecer convincente.

— Você disse que me contaria do seu plano B, acho que já está na hora, não acha?

— Só se realmente tudo der certo, Al, aí sim pode deixar que te falarei de todos os detalhes. — Marcus continuou. — Para a sua segurança é melhor que você não saiba disso agora. Tudo o que você precisa saber é que partirei de carro ao México e levarei muitos dias nessa viagem, vou levar apenas o dinheiro comigo e meus novos documentos. É arriscado, você sabe disso, então me deseje sorte.

— Boa sorte, seu encrenqueiro.

— Obrigado. — Sorriu, não querendo chorar na frente do amigo. — E sempre esteja de olho naquele e-mail que combinamos, ok?

— Eu vou ficar, prometo.

— Até logo. — Sentenciou, antes de agarrar Alberto com força, em um abraço desesperado.

— Eu vou sentir sua falta! — Choramingou.

— Também irei. — Afagou as costas do amigo, dando a iniciativa de se separarem. — Obrigado por toda a sua ajuda, por ter me acompanhado na jornada louca que foi a minha vida.

— Não é para agradecer, amigos servem para essas coisas.

— Você não é um simples amigo, você é meu melhor amigo, Alberto Mirano.

— Eu sei, Marcus Wayne. — Alberto disse, rindo em seguida. — E serei o melhor amigo do Mark Gonzalez.

Marcus riu com aquilo, até para si mesmo era estranho ouvir seu novo nome.

— Olha, me escuta. — Pousou as mãos ao ombro de Alberto. — O que eu vou fazer é muito arriscado, sei que você vai ter várias dúvidas ao longo de todo o processo, mas eu infelizmente vou demorar a entrar em contato. Eu tenho três possíveis caminhos: a cadeia, a liberdade e a morte.

— Não diz isso...

— Você tem que prestar atenção no que vou te falar. — Continuou. — Você não saberá de nada por um bom tempo, a única forma de saber que deu tudo certo e consegui minha liberdade pode levar meses...

— Eu já te falei sobre isso, não quero que você demore.

— Eu prometo que tentarei entrar em contato o mais rápido possível, Al, mas antes de algumas semanas, eu duvido muito, então só quando eu sentir que estou estabelecido que poderei entrar em contato tranquilamente, você me entende? Enquanto isso tem que me prometer que não vai desistir de mim.

— Por que diz isso? Por que pensa que a sua amizade é tão descartável assim? Eu te amo, seu idiota!

— Eu também amo você, Al, mas, às vezes, não me sinto merecedor da sua amizade, já te fiz sofrer demais. E eu quero me desculpar por tudo o que eu já te fiz passar e com tudo o que você vai enfrentar, não vai ser fácil... E se acontecer alguma coisa comigo, saiba que você sempre foi a pessoa mais importante na minha vida e eu não te deixarei desamparado.

— Não sei nem o que isso significa e nem quero saber! Idiota! Para de falar essas coisas!

— Eu tenho mesmo que ir agora... — Abraçou-o mais uma vez, com ele quase negando-se.

— Você é muito cruel. — Alberto murmurou, em meio ao abraço. — Não diz esse tipo de coisa de novo, você é a melhor pessoa que eu conheço!

— Então você não deve conhecer quase ninguém, pobrezinho... — Riu.

— Não diz isso. — Emburrou-se. — Eu só quero aproveitar o meu tempo com você antes de ficar meses sem te ver! Você não pode dormir aqui e sair pela manhã? Já escureceu, não é bom viajar a noite.

— A ideia é exatamente por estar escuro, Al, já está tudo planejado, tenho que ir mesmo.

Alberto sabendo que não tinha mais volta e não teria mais como adiar aquele momento, abraçou-o mais uma vez, com a força que nem sabia que tinha, apertando o amigo até ouvi-lo estralar nas costas. Marcus riu com aquilo, mas retribuiu o abraço forte dele, percebendo que não levou muito tempo para o amigo começar a fungar.

— Não, Al, não chora, não na minha frente, por favor. — Pediu, segurando a própria vontade de cair em prantos.

— Seu imbecil. — Afastou-se do abraço, enxugando os olhos. — Como quer que eu me despeça de você definitivamente sem chorar?

— Eu sei que é difícil, mas vai ficar tudo bem. Prometo.

Em silêncio, se entreolharam por alguns segundos, já não tinham mais palavras para se despedirem, apenas sabiam que o momento havia chegado. Teriam apenas que aceitar a separação.

Alberto visualizou o amigo de mais de uma década sair pela porta afora. Foi tudo como o combinado, fechou a porta rapidamente, enquanto Marcus, encapuzado, saía rapidamente, evitando aparecer em qualquer possível câmera de segurança. Temia por ele, mas torcia para que ele conseguisse manter a sua promessa de que tudo daria certo.

— O que foi, que cara é essa? — Lucas saiu da cozinha, indo para a sala ao lado, onde via Gustave olhar aterrorizado para a televisão. — Nossa, o que houve com esse carro?

— Capotou e explodiu de um jeito bem louco. — O namorado respondeu, com o loiro sentando-se em seu colo e lhe entregando o copo d'água que havia pedido.

— E o motorista morreu?

— Ele não conseguiu escapar, morreu carbonizado preso no carro capotado. — Gus respondeu, trocando de canal.

— Poxa, que coisa horrível. — Se compadeceu. — Ah, pode deixar no noticiário, Gus, eu gosto de assistir.

— Não, Lu, você não vai querer ver.

— Ué, por que, não?

— Sinceramente? Eu acho que você não vai querer saber. — Gustave continuou.

— Acha que eu sou sensível demais pra essas coisas? Só porque eu chorei com o salvamento daquele cachorrinho da enchente que teve naquela cidade?

— Não, não é isso. — O namorado mordeu o lábio inferior, receoso, voltando ao canal de notícias enquanto Lucas saía de seu colo, ajeitando-se ao sofá.

"Ainda que não se tenha provas concretas, tudo indica que a vítima é Marcus Wayne, de apenas trinta anos de idade, o acidente ocorreu por volta de oito e meia da noite e não envolveu nenhum outro veículo; peritos ainda avaliam a causa da tragédia" a jornalista de corte chanel anunciou, logo mudando de tópico "logo mais, Nasdaq anuncia maior alta das ações desde as eleições presidenciais".

Gustave, apesar de sentir sua garganta seca, não conseguiu dar um gole na água. Ao lado, percebia o olhar vazio que Lucas carregava, ainda olhando para a televisão, agora já nos comerciais, sem conseguir nada dizer.

— Amor... Eu sinto muito.

— Oi? Por quê? — O loiro indagou, olhando para ele, com palidez em seu rosto.

— Você me disse o nome dele, esqueceu? E eu pude confirmar que era ele pela foto que mostraram. — Falou, tentando tocar a mão do namorado, sentindo-a fria como gelo.

— Não, não tínhamos mais contato. — Respondeu, querendo demonstrar que não se importava. — Quer dizer... É uma pena, mas... Mas é isso. Uma pena.

— Toma um gole de água. — Gustave ofereceu-lhe.

Lucas aceitou, levando o copo à boca. No primeiro gole, foi como se uma pedra tivesse lhe atingido com toda força internamente, então parou de beber, olhando mais uma vez para a televisão, torcendo para que a qualquer momento aparecesse uma notícia mostrando que estavam enganados e falavam da pessoa errada.

O namorado reparou cada reação do corpo do loiro, sabia identificar muito bem quando ele não estava se sentindo confortável. As mãos dele seguravam o copo sem a firmeza normal, pareciam trêmulas até mesmo enquanto tentava beber. Então ele devolveu-lhe a água e levantou-se, dizendo:

— Eu vou ao banheiro, já volto.

Gustave nada disse, observando-o de longe e sentindo seu coração apertar. Carregava uma mistura de ciúme e empatia, não queria que aquele homem agora voltasse a atormentar Lucas e apesar de sua morte, sabia que as lembranças poderiam ser fortes demais para ele suportar.

O loiro, já ao banheiro, encostou-se contra a porta fechada e suspirou. A notícia ainda não parecia real, não poderia ser real.

Terça-feira, 20 de novembro de 2012.

O depósito era o único lugar onde poderia ter um pouco de paz consigo mesmo, Alberto enxugava o nariz que escorria incessantemente e continuava a verificar as prateleiras e conferir os recebimentos, inutilmente, pois mal conseguia se concentrar.

— Alberto?! Eu estava procurando por você! — Lucas aproximou-se com pressa, ficando chocado ao deparar-se com a expressão chorosa de seu superior. — Por favor, não me diz que é verdade...

Alberto não respondeu e o choro que antes estava controlado, tornava aos seus olhos. O loiro mal pensou antes de aproximar-se mais para assim poder envolvê-lo com seus braços, afagando as costas dele, sentindo-o soluçar. Lucas tinha um coração de manteiga derretida e segurava-se ao máximo para não parecer fraco naquele momento.

— Eu sinto muito, Al. — Falou, ainda abraçado com ele. — Eu não... Eu não consigo acreditar, eu...

Alberto abaixou a cabeça para poder encaixá-la ao ombro do loiro, ainda não conseguindo dizer nada, sentindo seus lábios tremerem, mal conseguindo parar de soluçar. Lucas suspirou, continuando a passar as mãos pelas costas dele, consolando-o.

— Eu acho que nada do que eu disser vai fazer sua dor passar agora, não existe nada que prepare a gente para isso. — Sussurrou, sentindo o tecido do uniforme ficar úmido pelas lágrimas dele.

Ele agarrou-se ainda mais ao seu corpo, travando seus dedos na camiseta do loiro, ainda sem conseguir formular nenhuma frase.

— Sei que pode parecer bobo, mas sabe, Al? Ele mexeu muito comigo e... Bom, no começo eu não percebi, mas ele era um cara de bom coração, ele já me deu tanta coisa, foram jantares, bebidas, chocolates, até mesmo remédios quando eu mais precisei. Ele só tinha aquele exterior de cara durão, mas na verdade ele era uma pessoa muito doce. — Procurou palavras bonitas para dizer, mesmo que seu coração ainda se remoesse em mágoa. 

— Obrigado. — Alberto levantou a cabeça, enxugando os olhos, finalmente encarando-o.

— Pelo quê? Nem fiz nada. — Lucas sorriu fracamente.

— Suas palavras. — O supervisor afirmou. — Tudo o que você disse sobre ele é verdade.

— Eu nunca vou me esquecer dele. — Lucas falou baixinho, mas foi o suficiente para que Alberto ouvisse.

— Depois que ele entra na sua vida, não tem mais volta. — Concordou, fungando.

— Ele me marcou demais. — O loiro agora ficava com os olhos avermelhados, suspirando para controlar a vontade de chorar, não sabendo se era por tristeza ou ódio.

— Obrigado, mesmo, Lu. — Alberto continuou, enxugando os olhos mais uma vez. — Por estar aqui e... e me dar apoio, não tá sendo fácil. 

— Não, não precisa agradecer. — Lucas pediu. — E por favor, se precisar de mim, é só me chamar. Eu digo de coração. Sinta-se à vontade pra me ligar quando quiser conversar. 

— É claro que sim! — Alberto sorriu, em meio as lágrimas. — Eu vou adorar.

Deram mais um curto abraço, onde conversaram até as lágrimas se amenizarem, para finalmente seguirem com o trabalho até onde conseguiriam.

Apesar daquela sensação estranha que pairava sobre o clima daquela terça-feira, Lucas conseguiu seguir seu trabalho sem lembrar-se muito do acontecido. Às vezes era inevitável recordar-se e sentir seu coração apertando, mas não o suficiente para atrapalhá-lo durante o expediente.

Passou-se as horas e com o fechar das portas, Lucas esperava Gustave chegar, ele havia se atrasado um pouco mais que o comum. E quando pegou o celular para discar para ele, outra ligação tomou conta de sua tela. Um número privado chamava-o, onde então o loiro imaginou que pudesse ser o namorado ligando do trabalho para avisar-lhe de algo.

— Alô? — Atendeu.

— É melhor você devolver o que me pertence.

Um pouco mais de dez segundos foi o que durou aquela chamada, já sendo o bastante para levar a força das pernas de Lucas embora. Ele sentiu um calafrio subir pela sua espinha e tinha certeza de que aquela voz era de Bob. Respirou fundo, olhando tudo ao redor com pavor, com medo de estar sendo observado, mas a rua ainda estava movimentada, o que deixou-o desorientado.

Gustave ainda não havia dado nenhum sinal de aparição, então Lucas, com pressa, forçou-se a ligar para ele. Depois de ouvir os toques, o celular do namorado caiu na caixa postal, fazendo-o tremer. Ao mesmo tempo que tentava não pensar no pior, falou com dificuldade após o sinal:

— Gus... Onde você está? Eu estou te esperando aqui em frente, por favor, vem logo. 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

O coração de vocês também ficou apertadinho nesse final de capítulo como o meu ficou?

Não deixem de comentar o que estão achando!