Stranger escrita por Okay


Capítulo 18
Rumo.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 08/02/2019



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Capítulo 18 — Rumo.

— Tá com fome? — Alberto indagou ao amigo, assim que ele entrou em seu apartamento.

— Para falar a verdade, um pouco sim, eu não comi direito hoje. — Marcus falou, retirando a mochila das costas.

— Vou fazer algo pra gente comer, então.

— Antes disso, pode me fazer um favor, Al?

— O que é? — Alberto indagou, vendo-o abrir a mochila, retirando uma maleta de dentro dela.

— Por favor, guarde para mim em um lugar seguro. Precisarei dela daqui uns dias. — Entregou-lhe.

— O que é isso? — Indagou, sentindo o peso. — Não são bombas nem nada do tipo, né?

— Não, são as minhas economias em dinheiro vivo.

— Não me diga que chegou a hora do plano B?

— É exatamente isso.

— Você deve estar feliz... Já decidiu para onde você e o Lucas vão? Ah, olha só para quem eu estou perguntando isso! Com certeza você já pensou em tudo. — Alberto falou, caminhando ao seu quarto, com o amigo seguindo-o. — Vou colocar  aqui no maleiro do guarda-roupa, o que acha?

— Tá ótimo, Al, não é por muito tempo também.

— Mas então, você não respondeu a minha pergunta, vocês vão para onde?

— Ah... O Lucas não está mais nos meus planos. — Falou, voltando para a sala.

— O quê? — Alberto perguntou, estático, sendo deixado para trás. — Marcus! Me explica isso direito!

— Você entendeu. — Falou, virando para o amigo. — Eu nunca mais pretendo ver o Lucas, vou finalmente deixar ele seguir a vida dele em paz.

— O que você tá dizendo? O que aconteceu?! — Alberto colocou a mão sobre a testa do amigo. — Você tá bem? Tá delirando de febre ou algo do tipo?!

— Não, Al, eu nunca falei tão sério. — Afirmou, tristemente.

— Mas... Como assim? Esse moleque era o seu propósito de vida! Você me dizia isso o tempo todo! — Disse, espantado.

— Não é mais. — Olhou para baixo, com voz levemente embargada. — Ele me decepcionou... E aconteceu o pior, ele não é mais a mesma pessoa.

— Vem cá... — Abriu os braços, envolvendo-o. — Me fala, você tá bem?

— Não. — Falou, quase sem voz.

— Eu consigo imaginar. — Acariciou as costas do amigo. — Vai ficar tudo bem, eu sei que você tinha expectativas altas durante todos esses anos, mas independentemente do que aconteça, a gente tem um ao outro e eu sempre vou estar aqui por você.

— Você é a única pessoa pelo qual eu ainda estou me esforçando para fazer isso tudo acontecer, Al. Agora eu só espero que os meus planos deem certo por você.

— Eu sei que vão dar e logo você vai estar livre de todo esse inferno. — Sorriu para Marcus, segurando firme nas laterais do rosto do amigo. — Você pode chorar se quiser.

— Eu não consigo, não ainda.

— Bom, mas enquanto eu preparo o que a gente vai comer, por que você não me fala como vai colocar o plano B em prática?

— Bom, eu preciso de duas coisas fundamentais e ambas estão bem encaminhadas. Uma delas é a minha identidade nova.

— Identidade nova? Com um novo nome e tudo mais?

— Isso mesmo.

— E como você vai fazer isso?

— É uma longa história, mas eu conheço pessoas ótimas nisso.

— Que bom, então, espero que dê certo. E qual vai ser o seu novo nome?

— Bom, eu li que o essencial é escolher um nome que seja parecido com o seu verdadeiro, para você associar logo de cara quando te chamarem, então eu escolhi Mark.

— Mark é legal. — Alberto caminhou para a cozinha. — E o sobrenome?

— Como eu serei mexicano, Gonzalez.

— Tá aí, acho que combina com você... Seu espanhol é fluente, né?

— Eu presumo que sim, andei vendo alguns filmes e séries em espanhol sem legenda para aperfeiçoar e estou conseguindo entender bem.

— Que sorte, eu acho espanhol uma língua sexy pra caramba, uma pena que eu esteja enferrujado. — Queixou-se. — Se minha abuela estivesse viva, me acertaria na cabeça com suas huaraches antigas. 

— Quando você for pra lá morar comigo, isso vai ser a fácil pra você.

— Morar com você, no México?

— Ainda não escolhi a cidade, mas sim, o que acha? A gente ia viver muito bem, o dólar vale muito por lá.

— É... Acho que seria divertido.

— Eu não vejo a hora desse momento chegar, eu já sei que vai levar alguns meses pra gente se ver até eu estar estabelecido e poder te tirar daqui em segurança.

— Meses?

— Talvez uns seis meses ou mais, não posso te dar a certeza, pode ser até que dê tudo errado e eu vá preso. — Soltou uma risada baixa.

— Não diz isso, Mark. — Riu com ele.

— Bom, temos que pensar em todas as possibilidades possíveis.

— Então enquanto eu espero, irei aperfeiçoar o meu espanhol.

— Faça isso. — Encostou-se ao balcão, vendo-o vasculhar a geladeira.

— Droga, acho que acabou as minhas cebolas... Que tipo de cozinheiro eu sou se não tenho cebolas em casa? — Alberto queixou-se.

— Quer que eu vá comprar?

— Não, eu vou me virar com o que tenho. Que tipo de cozinheiro eu seria se não conseguisse me virar com o que tenho?

— É, já pode participar do Masterchef.

— Não mesmo, eu tenho medo do chef Ramsay. — Alberto riu, colocando legumes sobre o mármore da pia. — Quer me ajudar a descascar isso tudo enquanto eu vou adiantando outras coisas?

— Posso sim, o que você vai cozinhar? — Marcus afirmou, caminhando até a gaveta onde sabia que o amigo guardava o descascador.

— Legumes salteados com alguma coisa. — Falou, ainda olhando para dentro da geladeira. — Que tal um simples purê de batata com filé de frango grelhado mais os legumes?

— Qualquer coisa tá ótimo pra mim, Al. Tudo o que você faz é gostoso.

— Não diz isso, só me deixa mais confuso. — Alberto riu. — Eu nunca sei o que você restringe na sua alimentação, fico mais em dúvida ainda quando você não colabora.

— Eu que estou de intruso na sua casa, não posso exigir o que quero comer, isso seria arrogância da minha parte.

— Você não é um intruso, você já é de casa, pode muito bem dar pitaco no que quer comer, até porque eu não sou todo fitness igual a você, não sei o que pessoas viciadas em academia comem.

— Você sabe que eu prefiro malhar em excesso do que me privar das coisas, então fica tranquilo.

— Então vai ser isso mesmo. — Retirou o saco de batatas da geladeira e a bandeja com os filés de frango.

Tendo sua ajuda negada, Marcus sentou-se junto ao balcão, vendo-o colocar água para ferver e começar a descascar os legumes. Ficou em silêncio enquanto observava os movimentos dele, até vê-lo dizer:

— Ei, Marcus, sei que pode parecer uma pergunta chata, mas você tem certeza mesmo do que vai fazer? Quer dizer... Eu sei que você já arquitetou tudo, mas você está realmente preparado para isso?

— Não sei se estou, Al, acho que não tem nada na vida que prepare a gente pra isso.

— É verdade... — Concordou ao terminar de temperar o frango com as mãos, em seguida lavando-as.

— Mas para ser bem sincero, eu estou assustado. — Marcus respirou fundo. — Eu nunca estive sozinho nessa vida, você sempre me acompanhou em tudo, até nas minhas más decisões.

— Se você quiser adiar um pouco esse plano, você sabe que eu posso ir com você... — Encarou-o.

— Não, Al, não tem como, você não estaria em segurança. — Retribuiu o olhar preocupado do amigo, voltando ao que fazia. — Você seria o principal suspeito e não teria paz, eu não quero isso pra você. Já te envolvi em muito perigo, dessa vez eu quero fazer as coisas direito, além do mais, eu preciso ter você trabalhando na livraria por um tempo, você vai entender em breve.

— Mas você tem que me prometer que será menos de um ano. Por favor.

— Eu vou fazer meu possível, mas eu não posso te prometer nada. Eu só prometo que vou me esforçar o máximo possível para dar tudo certo e eu não ser preso. — Riu baixinho.

— Não diz essas coisas.

— Infelizmente é a verdade, Al, eu não gosto de prometer nada sem motivo.

— Eu sei, te conheço desde a adolescência, esqueceu? — Sorriu. — Ah, Marcus...

— Diga.

— Eu sei que você provavelmente não vai querer falar do Lucas, mas...

— É, você tá certo, eu não quero falar dele. — Interrompeu-o.

— Marcus... — Chamou-o, percebendo que ele havia se estressado.

— O quê? — Respondeu, levantando uma das sobrancelhas, parecendo alterado.

— É que eu jurava que tudo daria certo... Eu percebia que algo estava mudando com ele, até você mesmo dizia que ele estava te aceitando melhor. — O amigo enfatizou, querendo sua resposta. O que aconteceu?

— Quer mesmo saber?

— É claro que sim.

— Ok, mas não reclame se não conseguir olhar na cara dele depois disso.

— Tudo bem, eu assumo as consequências, só me fala logo. — Alberto insistiu.

— Ele se tornou um traficante, foi isso que aconteceu.

— Traficante?

— Eu encontrei um pacote de cocaína em uma das gavetas falsas no guarda-roupa dele.

— Sério? — Alberto arregalou os olhos. — Jamais imaginei isso vindo dele, ainda mais com aquela cara de santo...

— É, os ditados nunca erram, quem vê cara, não vê coração. — Marcus fechou a expressão.

— O que leva um garoto como ele, tão jovem, bonito, com tanta coisa pela frente, entrar nesse mundo? — O amigo se questionou. — Sei que ele foi induzido a fazer coisas que não queria quando era adolescente, mas depois de conseguir a liberdade, por que decidiu tomar essa decisão? É como dar um tiro no próprio pé!

— É o que eu ando me perguntando Al... O que ele me falou não sai da minha cabeça. — Suspirou. — Ele disse que estava sendo forçado a fazer isso, mas a quantia que valia aquela cocaína que estava com ele não me fez restar dúvidas. Ele disse que o que tinha ali valia uns vinte mil dólares.

— Vinte mil?

— Não se assuste, menos de meio quilo já chega facilmente nesse valor. — Afirmou. — E eu não sei, acho que eu e ele estamos quites, apesar de eu nunca mais querer olhar na cara desse manipuladorzinho de merda.

— Mas se valia tudo isso, por que você acha então que ele levaria uma vida tão ruim? Pelo o que você me falava, ele mal tinha comida nos armários de casa... E quando ele pediu emprego na livraria, ele me pareceu bem desesperado.

— Ganhando bem com isso ou não, ele vai precisar declarar renda como todo mundo, mesmo que com um emprego de fachada... Mas não só isso, eu me questiono também se ele não é um usuário, apesar de não aparentar ser. — Falou, pensativo.

— Pessoas viciadas tem a pele toda detonada. — Alberto completou. — Ele tem um rostinho de bebê.

— Pode ser que ele esteja apenas no começo do vício, sei lá. Pessoas viciadas omitem as coisas, mentem, então seria bem plausível caso ele fosse. Isso explicaria a magreza dele e a falta de comida em casa...

— Eu posso tentar descobrir. — Falou. — Posso ver algum tipo de teste pra saber se a pessoa cheira.

— Eu sinceramente não sei nem o que pensar. Caso seja isso, eu não sei se fico preocupado ou aliviado que eu tenha me livrado de toda a cocaína que estava com ele... Ainda não sei se fiz certo em ter jogado tudo na privada e dado a descarga.

— Você fez o quê?!

— Eu fiquei furioso, foi a primeira coisa que eu pensei na hora! — Encarou o amigo, com expressão aflita. — Eu me senti um pouco mal depois, eu assumo, tenho medo de ele amanhecer morto por essa dívida e ser minha culpa. Eu sou doido, eu sei, ao mesmo tempo que eu estou com raiva, tenho medo de que algo aconteça com ele, Al...

— Essa história é tão louca que mesmo sendo difícil de acreditar, vindo de você, não duvido nada, sua vida é uma montanha russa de emoções. — Alberto pegou uma frigideira e levou-a ao fogão.

— Pois é, mas eu já cheguei nos trinta, tenho que dar um ponto final antes que a idade não me permita emoções demais.

— Que exagerado, você! — Alberto riu alto.

— Obrigado por me deixar ficar aqui por um tempo, Gus. — Lucas agradeceu. — Eu ainda vou te recompensar, eu juro.

— Não precisa fazer nada. —  Gustave continuou, com expressão abatida.

— Ei, por que essa cara? — O loiro aproximou-se dele.

— É bom e ruim te ter aqui. — Sentou-se ao sofá, puxando-o para sentar-se consigo.

— Como assim? — Lucas quis entender, ajeitando-se ao lado dele.

— Eu sei que você só aceitou vir para cá porque eu tinha um quarto extra, mas eu não quero me separar de você, quando eu disse que queria continuar fazendo parte da sua vida, eu estava falando sério. Eu quero ficar com você, na mesma cama, dividindo o guarda-roupa, quero que nossa vida continue como estava!

— Mas Gus...

— Eu sei o que você vai falar! — Interrompeu-o. — E não, não importa que você teve um dia de deslize, eu não ligo! Eu ainda amo você e queria que você ficasse ao meu lado, nem que seja como um ficante, mesmo que você não sinta nada por mim, por favor, me dá uma chance pra eu fazer você se apaixonar por mim... Sei lá, eu só... Não sei o que fazer. Eu te amo, Lucas.

— Você é a melhor pessoa que eu já conheci. — O loiro encarou-o no fundo dos olhos, levando sua mão à bochecha dele. — Você não imagina o tamanho do desejo que eu tenho por você, eu adoro seus beijos, seu carinho, seu abraço e isso não mudou.

— Não? — Estranhou. — Então qual é a desse papo de querer dormir no quarto de hóspedes?

— Era pelo simples fato de eu não achar mais merecedor do seu amor, Gus. — Sorriu de canto. — Eu posso sim continuar sendo seu amigo, mesmo ainda querendo namorar você.

— Você sabe que esse lance de amizade depois do término não existe, né? — Gustave sorriu maliciosamente. — Eu apenas tenho segundas intenções se formos ter uma amizade.  

— Então seria uma amizade colorida?

— Eu não vejo problema nenhum com isso. — Riu baixinho, trazendo-o para mais perto, roubando um selinho, vendo que em seguida o sorriso de Lucas se desmanchou. — O que foi, Lu?

— Como você pode ter ignorado todas as coisas horríveis que eu te disse? Depois do que eu fiz com você?

— Eu sei que você não me traiu só por trair, você amava aquele cara, Lu.

— Não, eu não amava.

— Amava sim, Lucas, só o jeito que você falava dele dava para ver, os seus olhos brilhavam enquanto me contava a história de vocês, até mesmo o meu coração bateu mais forte imaginando o que vocês sentiam um pelo outro, se não é amor, eu não sei mais o que isso é.

— Eu não sei, pode até ser que eu tenha dificuldades em assumir isso, porque ele realmente mexeu comigo naquele dia, mas eu não devia ter cedido. Eu só sei que agora eu aprendi a minha lição, se tinha algum sentimento, agora não resta nada senão nojo, eu estou com raiva, estou me sentindo péssimo, usado.

— Olha, assumo que eu não entendo ele. — Gus afirmou. — Se ele queria tanto começar do zero com você, porque ficou tão incomodado quando ele descobriu sobre aquilo? Seria tão difícil assim parar para te ouvir?

— Eu só sei que eu quero esquecer isso, não quero pensar nas coisas que poderiam ter sido, nem nada do tipo, eu agora sim sei quem dá valor em mim e vejo que também devo dar valor no que eu já tinha antes. Apenas você, Gus.

— Eu já fui o seu melhor amigo no passado e continuarei sendo, eu estou aqui. — Falou, com os olhos lacrimejando. — Eu sei que você hoje pode não me amar como amou esse cara, mas eu espero me tornar essa pessoa um dia, quero conquistar o seu amor e eu vou me esforçar para isso.

— Não precisa se esforçar, você é a pessoa mais maravilhosa que existe, o problema não é você. Eu não mereço você, o mundo não merece você. — Lucas sorriu, também com lágrimas prestes a escorrer. — Tudo o que você precisa fazer é ficar ao meu lado.

— E isso é tudo o que eu quero.

Gustave enxugou as lágrimas dos olhos azuis de seu amado e trocaram sorrisos mais do que sinceros.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

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