Stranger escrita por Okay


Capítulo 1
Desconhecido.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 07/06/2020



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Capítulo 1 — Desconhecido.

Lucas só queria se esconder, não sabia mais para onde seus passos o levariam. Precisava de um tempo sozinho para pensar no rumo que a sua vida estava tomando. Por muito tempo, o jovem achou que fazer o que amava bastaria, mas ele estava errado. E não se surpreendia com isso.

Adentrou um beco sem saída por engano, achando ser a rua que dava atalho para a avenida dos prédios onde morava, porém, ao invés de girar o calcanhar e dar meia volta, o loiro somente desacelerou os passos, continuando a explorar o local pouco iluminado.

Lucas encostou-se na parede imunda de tijolos sem se importar se sujaria sua roupa, jogando sua mochila ao lado, ao mesmo tempo que escorregava suas costas até chegar ao chão. O lugar era malcuidado, a rua úmida, não havia sequer uma alma viva naquele lugar além dos gatos que vasculhavam o lixo. E ele permaneceu ali, como se fosse um dos sacos escuros que os felinos iriam rasgar e fuçar em todo o seu conteúdo.

Abraçou os joelhos e não conseguiu segurar as lágrimas. Pensava na mensalidade da faculdade de jornalismo que não podia pagar, também em seus colegas de turma, dos quais estavam conseguindo estágios em lugares bem conceituados, enquanto ele, ainda nada tinha conseguido.

O aluguel do apartamento onde morava também estava atrasado, mais precisamente, devia o mês passado e como se não bastasse, o boleto do mês atual já estava uma semana vencido.

A quantia em seu bolso era mais alta do que a presente em sua conta bancária, mesmo assim, não tinha grande diferença, pois a única coisa que poderia comprar com os poucos dólares que tinha em sua carteira, seria um café requentado de uma espelunca qualquer.

Lucas pesava as prioridades na balança, pois não poderia ficar sem o apartamento, enquanto a faculdade, ele poderia trancar. Tinha a possibilidade de voltar a fazê-la no futuro, mesmo achando impossível, pelo menos, com sua situação financeira atual.

O loiro não conseguia mais bicos noturnos como antes, as pessoas estavam cada vez mais exigentes com os funcionários que recrutavam e, particularmente, Lucas não tinha tantos dotes para apresentar no currículo e se destacar na multidão.

Não seria nada mal se trabalhasse em lugares simultâneos para juntar uma boa grana, pois a todo custo tinha que sair daquela vida, não ligava para o fato de somente ir para o apartamento para tomar banho e dormir.

Aquela não era a vida que Lucas tinha imaginado para si quando mudou-se para Nova York. Todas as rasteiras que a vida tinha lhe dado poderiam ter sido evitadas se não saísse debaixo do teto de seus pais.

No entanto, mesmo se o jovem quisesse retornar depois de todos esses anos, ele não poderia voltar atrás, não depois do que seu pai havia feito, porque mesmo tendo perdido sua dignidade nas ruas, jamais perderia na frente daquele que o ofendeu tanto.

Sua mãe não era como o pai, mas infelizmente, não fazia nada para mudar as agressões físicas e verbais. Sentia a falta dela, todas essas lembranças enchiam a sua mente e mesmo tendo completado seis anos após ter saído de casa, tudo ainda parecia vívido, como se tivesse acontecido ontem.

Por um momento, Lucas achou que estivesse pensando em voz alta, pois ouviu passos ecoando no beco, alguém passava por ali. Arrepiou-se, com medo de que fosse algum criminoso, encolhendo-se a cada vez que os estalos das botas no chão iam parecendo mais próximos.

O jovem, trêmulo pelo pavor, abraçou seus joelhos e enterrou sua cabeça entre eles para tentar camuflar-se ou passar despercebido, temendo por estar com roupas claras, que poderiam denunciá-lo facilmente.

— Boa noite. O que faz aqui a essa hora? — Uma voz assustadoramente fria soou.

Lucas levantou a cabeça vagarosamente para encarar o homem que lhe fitava, reparando em seu sobretudo longo, que escondia o que vestia por baixo.

— O gato comeu sua língua? — O homem de cabelos castanhos e presos em um coque indagou.

Quando ele fez a segunda pergunta, Lucas pode reparar melhor em seu rosto, não podendo negar que ele era muito atraente. O moreno tinha um ar misterioso, que fazia o jovem se questionar sobre quantos anos ele teria. Apesar disso, não aparentava ser muito mais velho que Lucas. Reparou também no cachecol aberto e em seguida olhou em suas mãos, notando que ele segurava um café. Embora a feição dele fosse confiável, o jovem sentiu um gelo na espinha quando ele esticou um dos braços em sua direção.

Lucas engoliu em seco, tomando coragem e segurando na mão gelada daquele homem, levantando-se.  

— Você não parece bem. — O homem insistiu. 

— Eu só estava voltando da faculdade e... acabei me perdendo. — Mentiu.

— Você está embriagado? Precisa de ajuda para voltar para casa?

— Não, eu estou bem, consigo ir sozinho, obrigado. — Lucas negou, dando alguns passos para o lado.

— Então por que estava aqui encolhido? — Ele olhou-o fixamente, espremendo os olhos pela pouca luz. — Que curso você faz?

— Não é da sua conta. — O loiro rebateu, tentando desviar do homem, que segurou-lhe pelo antebraço

— Eu vou ignorar a sua resposta grosseira, pois fui igualmente mal educado ao não me apresentar. — Manifestou-se irritado. — Meu nome é Marcus. 

— Me solta. — Pediu e o homem largou-o.

— Aceita um café? Acabei de comprar. — Mostrou o copo que segurava. 

— Não, obrigado. — Conseguiu esquivar-se dele, começando a caminhar.

— Eu sei que você gosta de café, Lucas. Pra você recusar com certeza deve estar achando que está envenenado. — Riu, percebendo que ele virou-se bruscamente. 

— Como você sabe meu nome?!

— Que tal dar uma volta? A gente tem muito assunto pra botar em dia. 

Lucas engoliu em seco, sem conseguir pensar em nada além de acelerar seus passos. 

— Ei. — Chamou-o, começando a acompanhá-lo. — Pra que tanta pressa? Eu quero falar com você. 

— Tenho mesmo que ir. — Relutou, andando com pressa. 

— Posso, pelo menos, te acompanhar? — Inquiriu.

— Não é necessário, além do mais, o meu bairro é perigoso. — Falou, estranhando o quanto aquele homem se aproximava, continuando a andar para fora dali. 

— Exatamente por isso. — Marcus alcançou-o, agora andando ao seu lado. 

— Agradeço a oferta, mas não. — Apertou os passos, querendo deixá-lo para trás, começando se preocupar.

Lucas dava passos pesados e apressados, olhando para trás, aliviando-se por um momento ao ver que o homem não estava seguindo-o. Na cidade de Nova York, aprendeu que devia desconfiar de todas as pessoas, independentemente de terem um rostinho bonito ou não.

As luzes do centro quase cegaram os olhos do jovem que já tinha se acostumado com a escuridão do beco, tornando-o assim, um pouco lento para caminhar, não deixando de preocupar-se com o sujeito de poucos minutos atrás.

Assim que o loiro não avistou mais o homem, diminuiu a velocidade de seus passos para normalizar sua respiração. Caminhou pelo comércio, vendo algumas lojas serem fechadas, não encontrando nenhum bar nem restaurante que pudesse entrar para ficar por um tempo até se sentir seguro o suficiente para voltar para casa. 

Olhou tudo em volta para garantir que aquele homem não o encontraria e mudou sua rota ao seu apartamento, deparando-se com uma livraria que já estava fechada, mas que um cartaz tinha lhe roubado a atenção, com um enunciado de que precisavam de funcionários. Iria com certeza entregar o currículo ali na manhã seguinte. Enquanto salvava o telefone em seu celular, sentiu-se aterrorizado novamente ao ouvir:

— Ei, você esqueceu sua mochila! 

Lucas arregalou os olhos quando viu o mesmo homem, olhando na direção de onde ele tinha exclamado, assustando-se ao ver que ele já estava tão próximo. Pensou em ficar e aceitar a mochila de volta, mas simplesmente não saberia como lidar com ele depois daquilo, com medo do homem ser um completo maníaco.

O jovem pensou até que poderia arrepender-se por fazer aquilo e não ter suas coisas de volta, mas a única opção que tinha clareado sua mente no momento tinha sido fugir e foi isso o que fez. Começando a correr, entrando na primeira esquina, desviando das pessoas na calçada. Ouviu os mesmos passos de antes, agora correrem atrás dele, parecendo estar cada vez mais próximo.

— Por que você está correndo?! — Marcus gritou. — A sua mochila está comigo! Eu só quero te devolver! Ei!

Lucas já estava ofegante quando virou outra esquina e mais uma em seguida, voltando para a rua de seu prédio. Estava quase chegando e não queria olhar para trás, com medo de que ele estivesse muito próximo.

Apesar dos materiais e livros que teria que comprar novamente, não fazia questão de que ele ficasse com sua maldita mochila, sua vida valia muito mais do que o conteúdo dela. Estava próximo do prédio e já não escutava passos atrás de si, podendo agora desacelerar para conseguir recuperar o fôlego.

O edifício onde morava era um reflexo do bairro, pouca segurança, pouca iluminação, os aluguéis pela região eram baixos para compensar a falta de manutenção nos prédios velhos. E apesar da exposição para qualquer um que tivesse a pretensão de roubar, ninguém ali esbanjava de bens materiais, muito menos ele.

Suas mãos estavam trêmulas ao pegarem o chaveiro do bolso e procurarem pela chave do portão, que para ajudar, não tinha uma tranca decente e por várias vezes ficava aberto. Sua mente estava tão vazia ao entrar, que mal se lembrava se havia batido o portão com força, apenas correndo para o elevador, apertando o botão inquietantemente. 

Entrou e foi ao seu andar, ainda trêmulo pelo estresse que passou na rua, demorando para abrir a porta ao procurar pela chave, confundindo-a com a do portão da frente, com suas mãos ainda trêmulas. 

Assim entrou e quando estava prestes a fechar a porta internamente, sentiu algo forçá-la de volta, impedindo que se fechasse. Não demorou para ver mãos fortes ganharem das dele, enquanto lutava  para fechar a porta o quanto pôde.

O coração de Lucas quase saiu para fora quando o homem de mais cedo colocou uma perna para dentro de seu apartamento, sentindo um mau pressentimento subir desde os seus dedos dos pés, tomando conta de suas pernas, que ficaram moles.

— Porra, por que você correu tanto? Eu só queria te devolver. — Jogou a mochila no chão da sua sala de estar.

— Como você me seguiu até aqui?! E como soube qual era o meu andar?

— Relaxa, eu só queria te entregar as suas coisas. — Respondeu, ofegante. — E o elevador que você subiu era o único que estava ocupado e vi o número para onde ele subia, aí eu vim pelas escadas. 

Lucas deu um passo para trás, não sabia o que fazer enquanto o homem agia naturalmente, deixando-o ainda mais nervoso.

— Você tá pálido. — Marcus foi em sua direção. — O que você tá sentindo?

— Sai de perto de mim. — Arregalou os olhos, não querendo que ele lhe tocasse. — Você é maluco! Sai daqui! 

— Me desculpa, eu já vou. Eu juro que eu não queria ter te deixado com medo, mas eu não podia deixar de devolver suas coisas. — Levou uma mão para nuca, desconcertado. — Eu sei que te seguir até aqui não foi o mais inteligente pra te dizer que eu não vou te fazer mal, mas… 

— Vá embora. — Foi tudo o que Lucas conseguiu dizer, com sua voz quase rouca pelo pavor. 

— Eu só precisava falar com você antes. — Aproximou-se dele — E sim, eu posso ser um pouco louco de estar aqui, mas eu não deixei de ter sentimentos por você. 

O jovem encarava o homem enorme a sua frente, forçando cada vez mais, uma proximidade indevida. Saberia que se fosse se livrar dele não seria com sua força, pois Marcus era mais alto e com certeza não sairia ganhando. 

— Eu nem te conheço, por que tá fazendo isso?! — Lucas se afastou, recebendo uma erguida de sobrancelha do homem, em resposta.

— Qual é?! — Deu outro passo para frente, fazendo o rapaz recuar, como em uma dança esquisita e constrangedora. 

— Não temos nada para conversar. — Continuou. — Se é dinheiro que você quer eu não tenho, mas você pode pegar qualquer coisa e ir embora. 

— Eu não quero nada daqui além de você… Não me conhece mesmo? — Perguntou fechando a expressão. — Ok, se você quiser fazer isso tudo bem, mas eu não posso fingir que nada aconteceu. 

O loiro sentiu um embrulho no estômago, sem entender o que parecia um diálogo desconexo e pervertido daquele homem. Quando viu-o se aproximar mais, continuou recuando, desviando de sua mochila ali jogada, ficando sem saída por estar longe da porta. 

— Só me escuta… — Marcus aproveitou a oportunidade para prendê-lo contra a parede. — Eu fiquei muito feliz de te ver, não consegui controlar, é isso. 

Foi a primeira vez que o loiro encarou-o tão de perto, com medo de se movimentar, temendo que qualquer gesto seu pudesse tirar a tranquilidade que ele aparentava e o agredisse de qualquer maneira. 

Marcus sorriu ao encarar os olhos azuis, levando sua mão ao pescoço dele, ao mesmo tempo que se abaixava para ficar de sua altura, puxando vagarosamente a nuca de Lucas para si. O loiro sentiu uma pontada em seu peito, tendo seus lábios tomados em um beijo desajeitado antes mesmo de conseguir desviar seu rosto para o lado.

Mexia os braços enquanto balançava a cabeça para que ele soltasse sua boca, tentando reunir forças para poder empurrá-lo. Lucas conseguiu levar suas mãos aos ombros dele, querendo afastá-lo, ao mesmo tempo que ele persistia na aproximação. 

Era como se suas forças fossem tomadas a cada vez que Marcus continuava com suas investidas, suas mãos despencavam e seus lábios ocasionalmente se esfregavam com os dele, enquanto continuava a fugir, desviando o rosto do dele. 

— Eu senti saudade… — O homem sussurrou próximo de sua orelha, depositando selinhos furtivos em seu pescoço. 

— Vai embora, por favor… — Lucas pediu quase sem voz, com dificuldade de respirar. 

— Se você me beijar de volta, vai recuperar a memória. — Falou debochado, acariciando os cabelos dele.

— Só se você for embora depois. — Impôs, agora tendo coragem de encará-lo, tirando a mão dele de sua franja.  

— Eu dou a minha palavra. — Deu-lhe um pouco mais de espaço, desencostando seu corpo do dele. 

O loiro ergueu suas mãos para poder puxá-lo novamente para sua altura, com ele avançando para sua boca ao mesmo tempo. Deu-lhe brecha para aprofundar o beijo, abrindo ligeiramente os lábios, sentindo um sabor de café ao mesmo tempo que a língua dele começava a brincar com a sua. 

Lucas sentiu seu lábio inferior ser mordido por Marcus, que abriu um sorriso pervertido ao ter notado o grunhido tímido, quase um gemido, saindo da boca do loiro. Tomou os lábios dele novamente, provando a saliva dele com vontade, sem conseguir disfarçar a satisfação de estar o beijando novamente. 

Em um gesto atrevido, quis escorregar com sua mão para debaixo da camiseta dele, sendo interrompido por ele. Mas ao mesmo tempo que a mão dele impedia a sua de continuar o percurso, ele não havia se afastado de sua boca, não sendo aquele um sinal totalmente negativo.

Lucas xingou mentalmente por saber que aquilo já tinha passado do trato há alguns minutos, atraindo-se para os lábios dele toda vez que pensava em se afastar. Tinha que aceitar que Marcus sabia mesmo o que fazer para convencê-lo, era fato de que aquele homem provavelmente estaria o confundindo com alguém, então de longe aquilo era certo, mas poderia se aproveitar daquela situação, principalmente quando o beijo estava gostoso e envolvente demais para parar. 

Os dedos de Lucas que antes impediam a mão de Marcus de explorar seu corpo, agora afrouxavam o toque, não o proibindo mais de tocá-lo. Outro grunhido teimoso fugiu de seus lábios ao sentir a mão gelada dele sob a camiseta, fazendo-o esquecer por um momento de sua sanidade. 

Agora as duas mãos deslizavam provocativas para debaixo da camiseta e apesar de seus dedos estarem gelados, as partes em que Marcus tocava no corpo do loiro, pareciam arder, fazendo-o sentir uma queimação gostosa subindo pelos seus quadris. 

Lucas sentia seu corpo em chamas ao perceber o rumo que as coisas estavam tomando e repleto de vergonha, sentindo-se extremamente culpado por receber carícias de um homem completamente estranho. E no momento que virou para interrompê-lo, teve o pescoço tomado por mais beijos de Marcus. 

— Você tem que ir embora. — Fechou os olhos, arrepiado com as fungadas que recebia naquela região sensível.

— Vai continuar com isso de que não se lembra de mim? — Riu baixinho, enquanto esfregava seu rosto em sua pele exposta. 

— Eu fiz a minha parte, agora faça a sua. Vai embora agora. — Falou, sem querer encará-lo. 

Marcus sorriu, aproveitando a oportunidade para roubar-lhe um último selinho antes de afastar-se, ajeitando suas roupas enquanto caminhava à porta.

— A gente se vê, loirinho. 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, esse capítulo foi reescrito com muito carinho! Deixe seu review, mesmo que curtinho! ♕