POV David

Acordei em algum lugar estranho... Tinha cheiro de terra molhada. Meus braços estavam doloridos e eu não conseguia movê-los. Tentei gritar, mas tinha um pano amarrado em minha boca. A última coisa que eu me lembro foi de ter entrado no carro de Helena. Olhei para todos os lados e não conseguir visualizá-la. Estava muito escuro, o que me fez pensar que horas já eram. Será que a minha pequena estava dando falta de mim?! Ou será que aquele desgraçado do Peter está consolando ela nesse exato segundo?! Movi meus pensamentos a rumos menos dolorosos. Mas que desgraça de lugar é esse?! Parece com aquela música “Era uma vez, um lugarzinho no meio do nada, com sabor de chocolate e cheiro de terra molhada...”. Aqui só não tem o cheiro de chocolate.

POV Gaby

Eu não agüentava mais ouvir os soluços da minha tia. Eram 2:00 a.m. ainda, mas ninguém conseguiu dormir. Fazem mais de 9 horas que o David sumiu. Eu tentei falar com elas e pedir para chamarem a policia, mas eu também não estava lá essas coisas.

- Eu não sei por que vocês estão tão preocupadas com o David. – fuzilei o Peter com o olhar. – Não me olhe assim. Ele costumava sair a noite lá em SC só para pensar. Talvez ele esteja caminhando no calçadão, ou enchendo a cara no bar ou algo do tipo. – Acho que deu para ver a interrogação se formar em minha cabeça. – É ele fica de porre quando fica mal.

Eu não disse nada mais sobre isso. Estava muito cansada. Minha tia continuava chorando em seu quarto e eu ouvia minha mãe tentar consolar ela. Fui no banheiro, tomei um banho, escovei meus dentes, coloquei meu pijama tentando não cair com essa merda de gesso, e deitei na minha cama. Peter que estava ao pé da cama, me olhou com os olhos arregalados e eu dei “boa noite” para ele, me virei para a parede e apaguei.

 POV David

Ouvi alguém se aproximando de mim. Tombei a cabeça de lado, e fingi estar desacordado. Parecia ser duas pessoas. Tentei ouvir o que elas estavam conversando.

- ... ele não podia ter... – Parecia uma voz feminina. Não, com certeza era uma mulher.

- ... esse cretino me largou e... – Outra voz feminina. Mas essa me parece familiar... Para tudo, se eu larguei essa pessoa... E essa voz... Só pode ser uma pessoa: Marina.

Eu estava com meu celular no bolso da camisa. Tentei pegar ele, mas minhas mãos estavam acorrentadas uma na outra e presa em algum lugar. Tentei soltá-las desse lugar uma, duas, três, quatro vezes e nada. Na quinta vez, eu consegui. De algum modo inexplicável eu tirei meu celular do bolso e mandei uma mensagem para a única pessoa que me importa nesse momento.

POV Gaby

Acordei com um barulho do meu celular. Alguém tinha me enviado uma mensagem.

De: David

Para: Gaby

SOCORRO!

Eu gritei apavorada quando li essa mensagem. Alguma coisa grave tinha acontecido com o David. Não consigo acreditar. Senti minha cabeça ficando mais leve... Não, eu não podia me dar ao luxo de desmaiar agora.

De: Gaby

Para: David

ONDE VC ESTA?! ESTAMOS PREOCUPADOS!!

Eu espero que o celular dele esteja no silencioso.

POV David

Meu celular vibrou, avisando que tinha uma nova mensagem.

De: Gaby

Para: David

ONDE VC ESTA?! ESTAMOS PREOCUPADOS!!

Mesmo estando nesse estado, adorei que ela se incluiu no “estamos”. Tentei responder a mensagem.

De: David

Para: Gaby

EU NÃO SEI, TALVEZ NUMA CASA ABANDONADA. ACHO QUE FUI RAPTADO POR UMA EX MINHA!

Respondi a mensagem e guardei o celular no bolso, para tentar ouvir mais alguma coisa. Nada. Elas tinha ido e me deixado aqui. De novo.

POV Gaby

Eu não avisei ninguém sobre as mensagens. Sei lá, se ele mandou a mensagem para mim e não para a mãe dele, deve ser porque ele quer que só eu saiba.

Recebi outra mensagem em poucos minutos.

De: David

Para: Gaby

EU NÃO SEI, TALVEZ NUMA CASA ABANDONADA. ACHO QUE FUI RAPTADO POR UMA EX MINHA!

Eu vou arrancar cada fio de cabelo dessa vagabunda, de gesso e tudo.