Happiness Is A Warm Gun escrita por Miss Johnerfield


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Se você ainda não leu "O Pacifista" ou está em andamento com a leitura do mesmo, pense duas vezes antes de ler o que escrevi. Sim, o texto contém spoilers sobre o gran finale da obra, então não digam que não avisei. Boa leitura :)



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“Quando eu lhe seguro em meus braços

E eu sinto o meu dedo em seu gatilho

Eu sei que ninguém pode me fazer mal

Porque felicidade é um revolver quente (...)” – The Beatles

– Você está bem, Sadler? – perguntou Wells quando larguei o fuzil e caí de joelhos. Permaneço um tempo assim até me dar conta do que aconteceu. O corpo de Will está caído a poucos metros de onde me encontro; seu sangue recém-derramado forma uma enorme poça que se esparrama pelo chão a cada segundo.

Sinto uma tontura repentina e meu estômago está embrulhado – não pelo corpo que jaz ali, e sim pelo o que fiz. Tento me levantar e minhas pernas fraquejam, traindo-me, tal como fez Will. Will, Will, Will... Seu maldito nome ecoa em minha cabeça junto com suas palavras de ódio ditas enquanto estávamos na “solitária” – ou o que, pelo menos, era para ser antes de eu chegar e perturbar a paz do meu amante.

Tentei me levantar outra vez mais e obtive sucesso. Apesar de a tontura ter dado uma trégua, meu estômago ainda está revirado; minha visão está turva devido às lágrimas que ardem em meus olhos e teimam em escapar. Viro-me para o lado e acabo vomitando em alguém que esbraveja instantaneamente.

– Porra Sadler! Puta que pariu! Tinha que vomitar em mim? Seu puto de merda! – grita Wells e eu apenas o observo calado, limpando minha boca com a manga da camisa imunda. – Eu disse para não participar disso, não foi? Eu bem que avisei! No fundo, você é um galinha branca, assim como Bancroft e Wolf foram! Um covarde! Um fracote de merda... – continuou ele, mas eu não lhe dei ouvidos. E, mesmo com as pernas bambas, consegui chegar ao rancho e me isolar dos demais que me olharam com curiosidade quando entrei.

Encostei-me num canto escuro qualquer e sentei-me no chão frio, abraçando as próprias pernas. Só percebo que ainda estou chorando quando uma lágrima escorre até a ponta do meu nariz e eu a sinto fria sobre a pele do mesmo. A dor no ombro diminui um pouco, mas a raiva cresce a cada segundo dentro de mim.

Raiva por ter beijado Peter e ter sido expulso de casa; raiva por ter visitado meus pais antes de ir para Aldershot e ter encontrado Sylvia; raiva por ficar sabendo de maneira tão rude a respeito do que acontecera à minha irmã; raiva por ter sido praticamente chutado do açougue feito um cão sarnento, raiva pelas palavras que me foram proferidas e pela hostilidade com que fui tratado, como se fosse um louco desconhecido. E talvez eu fosse mesmo, afinal, onde eu estava com a cabeça quando me apaixonei por um homem tão desprezível como Will? Teriam sido seus cabelos escuros, totalmente opostos dos meus? Ou seriam seus olhos azuis tais como um pedaço do céu? Ah, é claro! Seu sorriso doce e as covinhas que sempre o acompanhavam não podiam ficar de fora dessa pequena lista.

Não me arrependi de ter participado do que acontecera há pouco, e duvidava muito que me arrependeria mais tarde. Mas sua expressão a me ver ali, junto aos seus outros atiradores encheu minha mente, desde o momento que subiu as escadas ao momento em que pronunciou meu nome. Teria ele se arrependido por me tratar daquela maneira? “Não, não”, pensei, afastando rapidamente aquela ideia absurda da minha cabeça. Afinal, William Bancroft era orgulhoso demais para isso. Quais foram suas palavras mesmo? Ah, sim. Disse que havia se aproximado de mim por pena, pois sabia que ninguém ali haveria de fazê-lo. Wolf havia contado tudo sobre mim. Ele precisava “aliviar-se” e eu estava ali. Ele não era como eu. Tinha nojo do que fizemos.

Se tudo isso era realmente verdade, por que se aproximou de mim e me fez sofrer tanto? Se era só para aliviar a saudade daquela cadela filha da puta chamada Eleanor, por que não ficou com alguma oferecida qualquer das cidades por onde passamos quando teve a chance? Por que teve de me fazer amá-lo para partir meu coração ao meio e depois me estapear?

É como as pessoas fazem, metaforicamente falando, com um cão de rua: acham graça, acariciam um pouco. Mas basta uma pequena insistência do cão para um pouco mais de carinho para o coitado ser chutado e sair com o rabo entre as pernas.

“Ah, Tristan” – era o que ele repetia quando estava prestes a me beijar – ou pelo menos, quase. Eu podia jurar que, naquele momento, ainda podia sentir o gosto de seu beijo misturado à nicotina de seu cigarro em minha boca; podia sentir também a urgência em suas mãos calejadas e grossas ao retirar minhas roupas e envolver meu corpo junto ao seu. Senti outra vez mais o meu peito se apertar ao lembrar-me da hostilidade que Will despejava sobre mim depois que me entregava a ele; lembrei-me de como um único gesto vindo da parte dele derrubava aquele muro que fora construído entre nós – fosse seu sorriso com covinhas que eu tanto amava ou quando se referia a mim não por Tristan ou Sadler, mas sim por Tris. Parece bobo, mas isso significava o mundo para mim.

“Puta que pariu Tristan” – foi o que ele disse na noite em que quase me beijou pela primeira vez. E, nossa, como eu detestei aquilo. Tão perto e tão longe...

De qualquer forma, era tarde demais para alguma redenção. De ambas as partes. Infelizmente, o meu Will – aquele com um sorriso cativante que sempre escrevia para casa, fosse onde fosse ou como fosse – se foi no momento em que assinou sua sentença de morte. Em partes, por minha culpa; por outro lado, culpo seu orgulho e sua coragem cega. Já o soldado Bancroft – aquele que eu mais detestava, ainda mais quando brigávamos ou ficávamos sem nos falar – se foi quando apertei o gatilho de um dos seis fuzis e atirei contra seu peito. Independente de tudo, Will foi corajoso até o fim, e deu sua própria vida para defender algo em que acreditava.

Wells é que tinha razão, pelo menos em partes. Eu era um covarde, um fraco, um pobre coitado. Matar o homem que eu amava apenas por vaidade. Apenas por não poder tê-lo. Apenas porque fui rejeitado. Essa sim era a verdadeira atitude de um galinha branca e egoísta feito eu: agir da maneira mais fácil ao invés de optar pela mais sensata.

“Não vamos deixar essa gente nos prejudicar, está bem?”, foi o que ele disse naquela tarde em que eu insistia em chamá-lo de Bancroft. Entretanto, essa não foi bem a nossa realidade. Aquela gente prejudicou (e muito) o meu final feliz.


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Notas finais do capítulo

Ficaria grata se recebesse um review (positivo ou negativo, só não vale acabar comigo :#).



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