Consumista. Ele não era consumista. Sabia que não era. Tinha sim mais gravatas do que precisava, ternos suficientes para não repetir durante uns bons meses, inúmeros pares de sapato quase iguais, abotoaduras, cintos e lenços; mas não era consumista, nunca o fora talvez nem por um momento. Tinha outros motivos por trás das compras excessivas, motivos que vinha guardando só para si apesar dos julgamentos alheios sobre o seu novo comportamento; e por isso, em ordem de manter seus segredos, encontrava-se calado, dedos cruzados sustentando o queixo, olhar perdido.

A boca de Hiashi se movia rapidamente, e ele falava algo sobre roupas e dinheiro, e tempo gasto com futilidades, e que simplicidade era uma arte, e apesar de concordar com o tio, Neji pouco se importava com isso; o som das palavras chegava até seus ouvidos, porém, a assimilação delas era nula. Não havia nada que o Hyuuga mais velho, ou qualquer outra pessoa, pudesse dizer que o faria cancelar a rápida saída das duas horas para a loja sofisticada e cara de roupas sociais no centro da cidade.

Ele sabia que esse hábito já estava perturbando a todos; dia sim dia não, Neji saia do escritório a qualquer hora da tarde, adiando compromissos, cancelando reuniões e rumava apenas com seu chofer para fazer compras. Isso nunca lhe fora característico, ele sempre se contentara com um guarda roupa pequeno e elegante, vivia em ternos e acessórios sociais, no entanto, dois meses antes, em uma quarta feira como qualquer outra, o moreno acompanhara a prima até uma loja nova, esta queria um vestido social para um jantar de negócios e precisava de opiniões sinceras, e lá, atendendo solicitamente e sorridentemente ao casal Hyuuga, se encontrava a mulher mais linda e perspicaz que ele já havia conhecido; depois disso, voltar à loja para ver e interagir com Tenten Mitsashi fora uma mania fácil de ser adquirida.

O poderoso homem sentado à mesa soltou um longo suspiro de alívio que sequer sabia que estava segurando; graças a Deus Hiashi havia desistido de lhe dizer palavras inúteis e tinha feito seu caminho de volta para casa. Para Neji era tranquilizador ter silêncio novamente, a empresa era sempre um caos completo e ele tinha muito trabalho a fazer se quisesse suspender seus serviços por algumas horas. Ah! Torturantes longas horas! Por que ele mesmo não podia girar os ponteiros do relógio? Sentia-se ansioso para desfrutar da visão da vendedora mais linda de Chicago.

...

– A Senhora está realmente linda nesse vestido verde! – elogiou com sinceridade a morena.

– Tenten! – Ino a chamou baixo enquanto se aproximava.

– O Senhor Hyuuga está aqui.

– E... – deixou no ar a Mitsashi com uma falsa expressão de quem não se importava.

– Ele exigiu que você o atendesse. – esclareceu em tom provocativo a loira enquanto Tenten fazia cara de poucos amigos.

– Mas eu já estou atendendo a Senhora Tsunade. – ela frisou com um sorriso nervoso.

– Mas ele exige você! Então pode ir que eu assumo a peituda aqui. – a outra debochou em um sussurro sorridente enquanto apontava o polegar para o outro lado do salão e causava um sorriso no rosto da amiga.

– Só você mesmo Ino! – a morena soltou com um balançar de cabeça incrédulo.

Atravessar aquele espaço com passos firmes foi difícil; Tenten já tinha tomado consciência da tensão que se instalava entre ela e o empresário todas às vezes em que se encontravam, mas era primeira vez que temia por isso. Neji jamais a havia solicitado desse jeito, ela sempre estivera à disposição para atendê-lo ou se agilizava para fazer dele o próximo cliente enquanto alguém começava o atendimento, entretanto, exigir que somente a Mitsashi o atendesse era de um descaramento tão grande, que poderia lhe causar problemas futuros.

O coração de ambos falhou uma batida; seus olhos se conectaram de longe e expressões sérias mascararam o sorriso que queriam dar. Foi um esforço mútuo manter as aparências daquele jeito, na verdade, vinham se esforçando gritantemente para negar que se gostavam mais do que a simpatia cliente-vendedor exigia. Neji era rico e bem sucedido, ocupava o cargo mais alto dentro das empresas Hyuuga, mulheres muito mais bonitas e ricas do que ela, deveriam estar competindo pela sua atenção; e Tenten, bom, Tenten era de classe média baixa, para não dizer pobre mesmo de marré de si, e lutava todos os dias para ser alguém melhor no futuro, fazia um turno de oito horas na loja e passava mais cinco na sala de aula do curso de marketing na universidade.

Ele poderia lhe fazer perder o emprego, ela lhe poderia fazer perder o prestígio.

– Senhor Hyuuga! – a morena cumprimentou com um aceno cortes de cabeça e uma voz controladamente animada.

– Senhorita Mitsashi já lhe disse que pra você é apenas Neji. – o empresário a repreendeu com um sorriso discreto pela teimosia.

– E eu já lhe disse que sou apenas Tenten. Então estamos quites eu acho. – devolveu a mulher com um tom divertido que encobria a provocação nos olhos. O Hyuuga riu.

– O que deseja para hoje? – ela inquiriu educadamente segurando as próprias mãos em frente ao corpo em uma vã tentativa de defesa.

“Você! E não só hoje se quer saber a verdade!” Neji pensou em responder, porém se conteve; não seria muito educado da parte dele dizer tal coisa em um local cheio de olhos e ouvidos, e Tenten poderia ficar constrangida; seria malicioso e luxuriante, mas ele preferia guardar as suas chamas para momentos melhores, momentos mais prazerosos, momentos que ele pretendia passar exclusivamente em um lugar íntimo com a morena a sua frente.

– Gravatas. – ele concluiu como quem acorda de um transe.

– Tenho uma festa de negócios amanhã à noite. Quero algo sofisticado e festivo. E gostaria também de camisas de algodão egípcio, soube que chegaram essa semana.

– Ah! Sim. O Senhor vai adorá-las. – Tenten replicou com graça, seu coração quase saindo lhe pela boca, pois sabia que apesar de tudo só havia uma coisa que Neji Hyuuga não conseguia fazer: dar nó em uma gravata.

...

– Aqui! – a morena disse gentilmente sacudindo o punhado de gravatas que segurava na mão direita para dentro do provador.

Neji riu melodiosamente.

– Obrigado! Mas você sabe que vai ter que entrar aqui de qualquer jeito não sabe?! – ele brincou em tom divertido, fazendo a Mitsashi revirar os olhos do outro lado da porta de madeira que os separava.

– Vem! – o Hyuuga ordenou puxando a para dentro sem qualquer cerimônia, enquanto Tenten bufava; nervosismo se instalando em seus pulmões.

– Neji não! Nós não podemos! – ela ralhou tentando ao máximo não encarar os olhos claros, e acabando por engolir em seco ao vê-lo com os botões da camisa abertos.

– Por que não? Você só entrou aqui para me ajudar com as gravatas.

– As pessoas irão comentar. – Tenten esclareceu irritadiça enquanto começava a colocar vagarosamente os botões em suas casinhas.

– Você sabe que eu não posso perder esse emprego; e ainda assim aparece aqui exigindo ser atendido por mim. O que há de errado com as outras vendedoras? – a morena inquiriu seriamente o encarando, suas mãos já paradas no colarinho, pensamentos temerosos lhe rondando a mente.

– Elas não são você. – Neji soltou decididamente, o barulho dos dois corações ensurdecendo ambos no silêncio da pequena cabine.

– Você não pode dizer essas coisas pra mim! – ela replicou com a voz tremula tentando dar um passo para trás e sendo impedida pelo braço forte do Hyuuga em suas costas.

– Por que não?

– Você sabe o porquê! Olha só as nossas vidas, as nossas diferenças. Você não pode aparecer aqui e dizer que me quer, eu arruinaria a sua reputação. – Tenten esclareceu o óbvio, começava a achar que iria desmaiar.

Não importava o quanto a morena estava apaixonada por Neji, ela tinha que ser realista; eles nunca dariam certo, e mesmo que dessem no inicio acabariam separados ao final, ele de volta a sua vida perfeita e ela sem ter aonde cair morta. Era assim que as coisas funcionavam no mundo real, alguém sempre acabava machucado, e a corda, como dizia sua mãe, sempre arrebentava do lado mais fraco. Por mais que a Mitsashi quisesse se entregar a esse conto de fadas, porque o moreno era verdadeiramente um príncipe, havia todos os outros fatores a se considerar; e um deles era cristalino como água: ela não estava socialmente à altura de um homem como aquele.

– Que se dane a minha reputação então! – Neji confirmou enraivecido depois de um silencio constrangedor e esclarecedor, os olhos claros faiscando de raiva pelo mundo preconceituoso em que vivia.

– Mais fácil falar do que fazer; você não acha?! – Tenten provocou impensadamente, frustração estampada nas linhas ao redor de seus lábios; lágrimas quentes e amarguradas lhe descendo pela face.

A surpresa veio em seguida, o Hyuuga a beijou; o encontro dos lábios parecia um dança sincronizada e a névoa que lhes tomou a mente foi o suficiente para que a lembrança do local onde estavam desaparecer. A morena instintivamente colocou as mãos macias no pescoço do empresário que, ao se arrepiar e desejar mais e mais daquela paixão incomum, tomou uma decisão; com um esticar de braço escancarou a porta que os separava do resto do mundo. O momento vibrou quando ambos ouviram alguém gritar, suspiros se seguiram, e a Mitsashi caiu em consciência e choque, abrindo os olhos para encarar Neji enquanto sentia até seus ossos tremerem.

– Acho que não foi tão difícil assim fazer alguma coisa a respeito. – brincou o moreno, enquanto a chefe de Tenten abria caminho entre a pequena plateia.

– Você é louco!

– Absolutamente! Sou louco! E estou apaixonado por você! – ele confessou em um suspiro baixo, mais como uma prece.

– Não me importo com o resto! Confie em mim! Quero você como jamais quis outra coisa em minha vida!

– Senhorita Mitsashi, o que está acontecendo aqui? – a mulher ruiva, gerente da loja questionou sem realmente vê-los ainda.

– É agora que eu perco o meu emprego. – a morena reclamou agarrando-se à mão quente do homem que amava.

– Pelo menos vai valer a pena! Também estou apaixonada por você! – ela concluiu virando-se para frente sem poder encará-lo.

– Oh! Desculpe-me! É que não consegui me conter; a Senhora já deve ter percebido a beleza da minha namorada aqui, e bem, sabe, simplesmente não consegui manter a compostura dessa vez. Perdoe-nos! – Neji explicou com bom humor, e uma entonação diferente que implicava que o assunto estava encerrado ou alguém pagaria por isso.

– Tudo bem Senhor Hyuuga! Essas coisas acontecem mesmo! – assentiu a mulher corando violentamente.

– Todos trabalhando! – ela continuou com o olhar autoritário, espalhando o bolinho que havia se formado ao redor dos provadores.

– É, vamos lá, vocês ouviram o Senhor Hyuuga seus fuxiqueiros! – Ino deu o ar de sua graça piscando para o casal maravilha a sua frente e desaparecendo em seguida.

– Namorada? – inquiriu a morena encarando o.

– Se você não quiser podemos arrumar outro termo. Mas já vou avisando, terá que ser algo que deixe bem claro por aí que você é minha. – ele rebateu fechando a porta de madeira.

– Não, por enquanto acho que assim está bom Senhor Hyuuga! – ela brincou agarrando-se novamente a ele.

– Não comece Senhorita Mitsashi, ou só por teimosia lhe farei usar meu sobrenome algum dia!

Então eles voltaram a se beijar, não calcularam o tempo extra que passaram no provador, e Neji partiu com a promessa de que voltaria para leva-la para jantar. Mal sabia seu tio, ou qualquer outro membro da empresa, quando ele retornou, que sua alegria e bom humor significavam maior intensidade em suas visitas à loja de roupas, ficariam loucos nos próximos meses ele soube; mas esse era o plano: em ordem de fazê-lo ficar concentrado, prosperar e etc, teriam que torcer para que a vendedora chamada Tenten Mitsashi logo pudesse ser vista todos os dias por ele em sua cama ao acordar.