- Eu estou partindo Kazekage-sama! – a loira anunciou, em um tom formal e controlado, ao homem ruivo a sua frente.

Never let me go, never let me go

Never let me go, never let me go

- Tudo bem! Seus serviços já não são mais necessários mesmo! – Gaara respondeu indiferente voltando a prestar atenção nos papais em sua mesa, fazendo os olhos da kunoichi se encherem de lágrimas amargas, e seu peito afundar de dor.

- Adeus! – foi tudo o que ela conseguiu pronunciar antes de sair correndo como se não houvesse amanhã.

Ino encontrava-se desesperada, seguia qualquer rumo, estava de olhos fechados, grossas lágrimas escorrendo pelo belíssimo rosto. Era isso; era assim que as coisas terminavam no final; não havia amor, ou carinho, não havia nada; ela não era nada além de um corpo quente na cama, de lábios bons de beijar, ela não era nada para ele. Arrependia-se agora de quando aceitou a missão de ajudar os hospitais de Suna, fora tão altruísta deixando sua cidade e seus amigos para o bem de pessoas desconhecidas; mais de um ano a garota ficou a trabalhar e a ensinar nos centros de saúde, acordava cedo e dormia tarde, fazia de tudo: cirurgias, consultas, palestras, dedicou-se ao máximo; e em meio a tudo isso, não levou nem metade desse tempo e dessa vontade para se apaixonar por ele.

Tudo havia sido tão rápido; o primeiro encontro, o primeiro beijo, o momento em que a kunoichi decidiu se entregar a ele, não era uma santa, era devassa, e em meio aos lençóis de seda ele parecia gostar; todos os seus preciosos momentos com Gaara lhe saltavam aos olhos. Lembranças e mais lembranças a atingiam; pareciam kunais banhadas em veneno, de tanto que a machucavam, destruíam o seu ser. Era tudo uma ilusão. Ela amava sozinha; pensara assim desde o primeiro “Eu te amo” que disse a ele, não houvera resposta, nunca houve, e ela, mesmo assim, se deixou levar. Se enganara ao pensar que ele poderia ser como o amigo Naruto, bom e capaz de amar, mesmo possuindo um demônio em suas entranhas, e uma vida de ódio e indiferença; mas ele não era, o Kazekage da Vila da Areia era seco por dentro, era como o deserto que sempre o cercara, não possuía nada a não ser areia.

A jovem ninja, já passara dos portões agora, não olhava para trás, não enganaria a si mesma de novo, ele não estaria em seu encalço, jamais estaria; e isso doía ainda mais dentro dela. Queria chegar a Konoha, se atirar nos braços da amiga Sakura, e questioná-la de o porquê ela não tinha o mesmo destino afortunado da rosada, choraria em seu ombro ouvindo palavras de consolo, que no fim só a fariam se sentir pior, mas pelo menos ela estaria em casa, com seus pais e amigos, e poderia nunca mais vê-lo; o cabelo vermelho como fogo, os olhos verdes, a pele branca; nunca mais sentiria os seus toques: os dedos frios passeando de leve pelas suas costas, o peso do corpo másculo sobre o seu; nunca mais ouviria seus sussurros roucos, a voz melodiosa chamar seu nome.

Reflections still look the same to me,

As before I went under

And it's peaceful in the deep,

Cathedral where you cannot breathe,

No need to pray, no need to speak

Now I am under

And it's breaking over me,

A thousand miles onto the seabed,

Found the place to rest my head

Sem perceber, Ino se aproximava de um pequeno oásis; grandes árvores rodeavam o um profundo lago de água cristalina, aonde, de olhos fechados, a loira caiu. Sentiu a água fresca tocar a pele quente, de quem corre durante horas no Sol escaldante do deserto, e tremeu de prazer. Era um alívio, estar envolta por algo tão acolhedor, ela poderia agora esquecer-se de tudo. Abriu os olhos uma última vez, fitando a beleza dos raios dourados que perfuravam a água azul como o céu, viu os peixes coloridos se regozijarem com o que a natureza tinha de melhor, sorriu, por meros instantes, era algo raro de se ver; uma pessoa de coração partido, em completo desespero, aceitando todas as coisas desse mundo. Fechando com mais força os olhos azuis, a loira começou a soltar o ar de seus pulmões calmamente; havia decidido mil vezes morrer agora, deixar corpo e alma em harmonia, do que viver sem nada dentro de si, do que ser vazia e tomada de amargura. Seu amor por Gaara era assim, imenso e avassalador, ela não passaria um dia sequer sem ele; todo o seu relacionamento fora como esse momento: ela não sabia quem era ou que fazia, e ele trouxera frescor a sua vida, certezas e amor; ela admirara a beleza que toda a situação tinha, julgando pelos seus pecados, não ser merecedora de alguém assim;  ela havia trancado a sua respiração, lutando contra ele, tinha medo; e então, soltara o ar, sendo preenchida por ele, cada mínimo espaço do seu ser; fora dominada, assim, como agora, a kunoichi queria ar, voltar a ser quem era, mas sendo impossível, se deixou afogar. A pura e gostosa água lhe invadia os pulmões, um torpor lhe atingia a cabeça, seus sentidos a abandonavam, e quando a morte veio, a última coisa que ela sentiu foram braços fortes a retirarem do lago.

And the arms of the ocean are carrying me,

And all this devotion was rushing out of me,

And the crashes are heaven, for a sinner like me,

The arms of the ocean deliver me

Though the pressure's hard to take,

It's the only way I can escape,

It seems a heavy choice to make,

Now I am under

- Você está maluca? Perdeu a noção? – o ruivo a sacudia furiosamente. A garota em seus braços não dava qualquer sinal de vida.

- Ino! Acorde! Vamos lá! – o Kazekage se desesperava agora, se encontrava completamente molhado, de joelhos tentava reanimar a garota.

- Vamos! Você tem um futuro pela frente! Vamos Ino acorde! Acorde! – vendo os seus esforços tornarem-se inúteis, o poderoso homem, se atirou sobre o corpo inerte.

And it's over,

And I'm going under,

But I'm not giving up!

I'm just giving in

Oh, slipping underneath

Oh, so cold, but so sweet

- Você não pode morrer! Não pode! Eu não a deixei livre pra isso! Era pra você encontrar um cara melhor do que eu, alguém que não fosse controlado pelos seus demônios; alguém que lhe desse filhos e pudesse expressar amor por eles. Acorde Ino! Por favor! Por favor! Eu te amo! – o homem chorava ruidosamente.

Never let me go, never let me go

Never let me go, never let me go

Uma dor maior do que qualquer outra que ele já tivesse sentindo atingia suas entranhas. Uma loucura maior que tudo o atingia, seria capaz de matar a Vila inteira assim, queria matar, matar e morrer, porque sem ela, sem a sua loira, nada fazia sentido, não havia luz, nem amor, nem felicidade, só havia dor e escuridão. Sem perceber, um manto negro foi sendo tecido sobre o Kazekage, uma aura de poder se espalhava, e o chakra do Shukako começou a fazer envolver também a kunoichi desacordada. Quanto mais Gaara chorava, mais chakra era transmitido para Ino.

Never let me go, never let me go

Never let me go, never let me go

- Eu te amo! Eu te amo! Acorda por favor! – a voz do ruivo morreu, a pessoa abaixo dele começara a tossir freneticamente.

- Ino! Ino meu amor, vai ficar tudo bem! – ele tranquilizou a ninja, enquanto a ajudava a se sentar. Ela expelia uma grande quantidade de água, e assim como se iniciou, o manto da besta foi voltando para o interior do seu receptáculo.

- O que você disse? – a loira perguntou olhando o nos olhos.

- Vai ficar tudo bem! – Gaara lhe respondeu.

- Não. O que você disse antes? – ela insistiu, e o homem a sua frente ponderou.

- Eu disse que eu te amo! – ele disse baixo, quase um sussurro, sentando-se de frente para Ino, que se encontrava espantada.

In the arms of the ocean, so sweet and so cold,

And all this devotion I never knew at all,

And the crashes are heaven, for a sinner released,

And the arms of the ocean,

Deliver me

- Como você ousa me deixar, hein? Se você me ama, o que você estava pensando? – ela se encontrava confusa; o homem de sua vida, a manda embora e depois diz que a ama. Ele só podia ser louco.

- Você precisa entender que eu não sou o melhor para ninguém! Quanto mais para a mulher que eu amo! – ele replicou, sentia medo de que ela o odiasse agora.

- Eu te amo! Você não entende! Você é tudo, e sem você eu sou nada. – Ino declarou sem medo, estava morta há minutos atrás, não tinha nada a perder sendo verdadeira.

- Então, você está voltando para Suna comigo? – o Kazekage inquiriu apreensivo. Não poderia fazer nada, a amava, a queria, e sendo o sentimento recíproco, o que mais poderia fazer? Antes pensamentos culpados por não ter dado certo, do que culpados pela morte dela.

- Sim, estou. Mas com uma condição! – Ino sorriu largamente.

- Qual? – o ruivo disse a centímetros dos lábios rosados da loira.

- Nunca me deixe ir. – então ele tomou seus lábio em um beijo tórrido de amor,  e a prendeu fortemente em seus braços, para poder cumprir a ordem que lhe foi dada; nunca mais a deixar ir.

Never let me go, never let me go

Never let me go, never let me go