Soul escrita por Writer


Capítulo 6
Presunto


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora, denovo. Fiquei presa em O Último Sacrifício me afogando em lágrimas com o final perfeito. Graças à uma ajudinha do review da Liz Jensen eu deixei a Sophie mais baixinha, agora ela tem 1,65 (eu acho ou é 1,60). E eu estou mega feliz porque a Lizzie Jackson Valdez Styles (Vou abreviar pra Lizzie Jackson da próxima vez) está vendo Vampire Academy. Enfim, curtam o capítulo e a menção de VA, pra quem conhece.



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A cara deles não denunciavam sua surpresa. Tipo, queixos caídos, olhos arregalados. Estava mais para sobrancelhas erguidas - o caso de Hazel e Leo - e o olhar deles. Eles passaram a me estudar com os olhos. Eu corei e virei o rosto, olhando e descobrindo que haviam mais pessoas fora do grupo me encarando. Maravilhoso. Haviam uns quinze pares de olhos em mim.

-Podem parar de encarar? Tá ficando estranho. - Falei bruscamente virando pra eles e tentando ignorar os outros. Depois ironizei. - Adoro atenção.
-Como que aconteceu? - Piper ficou curiosa.
-Depois a gente conversa. - Frank deu uma olhada sugestiva para as pessoas na nossa volta.
-Vamos embora logo. - Hazel disse empurrando levemente os meninos.

Eles viraram e eu segui, pra variar. Piper e Hazel caminhavam de um lado e Leo estava do outro. Eles conversavam entre eles e eu não consegui prestar atenção. Ao invés disso me analisei, assim como o cenário. Eu estava levemente grudenta. Acho que isso é estar suada. Eca. Da agonia. Estavamos indo para o estacionamento, e eu não imaginei como ia caber 7 pessoas em um carro. Talvez tenham vindo em dois.

Havia um estacionamento antes da entrada da escola. Havia alguns canteiros, e carros obviamente. Grande parte das pessoas ficavam conversando por aqui. Os meninos populares tinham a oportunidade de exibir seus carros e suas namoradas. As meninas populares ficavam ou junto com seus namorados, quase sentadas em cima do carro, e gostavam de se exibirem. Era irritante, no mínimo. E eu me sentia em uma exposição de vacas. Em alguns pontos haviam árvores e hortências que ficavam floridas o ano inteiro. As flores eram de um rosa forte, e apesar de eu não gostar de rosa eu gostava das flores.

Eu podia ver a parte da frente quase inteira, do ponto onde estávamos. Ele era quase todo com paredes externas de vidro. O refeitório, a piscina, a sala de música, laboratório de química e a de sala de TV ficavam ali em cima. Tirando a última, todas tinham paredes de vidro. O primeiro andar era apenas com as salas de aula, armários, ginásio e vestiários. Haviam banheiros nos dois andares.

Logo paramos perto de um Honda Civic preto. Havia um do mesmo modelo, só que em prata, do lado. Eles se dividiram sem nem falar nada. Eu fui no carro de Nico, já que ele era o único que eu conhecia mais. Estávamos eu, Frank, Leo e Nico naquele carro. As meninas e Jason foram no outro. Fiquei com vergonha por ser a única menina ali.

Sentei na janela, ficando longe de Leo, que estava no passageiro comigo. Tentei me distrair com o lado de fora enquanto o carro andava. O ar estava mais frio que o do lado de fora. Acho que era por causa do ar condicionado.

-Porque tá tão quieta, Sophie? - Nico perguntou e só percebi que ele falava comigo pela menção do meu nome.
-Distraída, só isso. - Passei o dedo pela estampa da legging, desenhando.
-Tem muita diferença entre viver e ser do jeito que você era? - Leo perguntou sorrindo. Ele já sabia a resposta, só estava puxando assunto e tentando me fazer falar.
-Você não faz idéia. - Sorri.
-Você tem cheiro de flores. - Ele observou e eu corei.
-Deixa eu adivinhar: Rosas e Lavanda? - Nico perguntou passando as mãos pelo rosto.
-Acho que sim.
-Porque? - Questionei.
-Você cheira morte, Sophie.
-Nossa, obrigada. Me sinto com o ego inflado. - Os meninos sorriram.
-Esse cheiro não devia ser só para filhos de Hades sentirem? - Leo bocejou. Segundos depois fiz o mesmo.
-O dela é mais forte. Se fosse mais do que já é acho que eu me asfixiava. - Nico me insultou ou me elogiou? Eis a questão.
-Obrigado de novo. - Ironizei. Eles me ignoraram.
-Não parece tão forte pra mim. - Leo defendeu meu 'cheiro'.
-Porque você não é filho de Hades. O cheiro é bem mais forte pra mim.
-Porque ela tem esse cheiro? - Frank voltou ao assunto.
-Chuta.
-Sua irmã?
-Está mais para filha do cara que trabalha pro meu pai. - Nico me olhou pelo espelho do retrovisor e eu fiz cara feia. Ele esboçou um sorriso.
-Tânatos? - Perguntou Frank incrédulo.
-Acertou.
-O carinha da foice e do roupão preto? - Leo parecia chocado.
-Ele não parece assim! - Protestei.
-Desculpe. - Leo murmurou sem jeito. No mínimo fofo.

Entramos em uma garagem de um prédio, no subsolo. Eu já havia 'entrado' nesse prédio. Havia uma piscina, quadra de esportes, churrasqueira e uma sala que eu não entendi para o que era. Acho que era um salão de festas.

-Cara, eu quero comer alguma coisa. - Frank disse estacionando em uma vaga. O outro carro estava entrando.
-Eu não sei definir se estou com fome ou não. - Murmurei. - Eu acho que estou também.

Ele desligou o carro e nós saimos. As portas bateram quase silenciosamente. O outro Civic estacionou do lado e eles sairam também. O cheiro era forte, não era bom mas também não era ruim. Mas fez minha cabeça doer levemente.

-Cade o Percy e a Annabeth? - Nico perguntou para ninguém em especial.
-Lá em cima. - Hazel respondeu.

Andamos um pouco e fomos para o elevador. Ele era todo de aço escovado, e um espelho ia do chão ao teto. Ele começou a subir e eu senti o frio engraçado na barriga. Piper apertou o botão para o último andar - 13 -. Encostei na parede, me observando no espelho pelo canto do olho. O aço era gelado, quase o suficiente para me fazer sair dali. Mas eu continuei. Por algo que acho que era preguiça. Acho que o silêncio só seria pior se tivesse aqueles sons ambientes.

Chegamos no nosso andar, e saímos do elevador. Havia apenas um hall pequeno, e uma porta.

-É um apartamento por andar? - Eu havia deixado isso passar quando passei por aqui. Eu nunca havia subido até os apartamentos. Só dado uma volta.

Nico me respondeu com um preguiçoso aham e Jason destrancou a porta e a abriu.

O apartamento era enorme. A porta de entrada dava direto na sala de TV. Era uma sala retangular. Haviam um sofá grande com chaise na maior parede. Na parede oposta havia uma TV e um rack. No outro lado da sala havia uma mesa de jantar de 8 pessoas. Do lado havia uma porta de correr de vidro aberta, dava em uma cozinha. A parede do sofá era pintada de azul petróleo. Também havia um vão que dava para um corredor na parede de frente á nossa. Percy estava sentado no sofá e Annabeth deitada com a cabeça em cima das pernas dele. Ela mal se mexeu quando entramos. Percy olhou mas ao perceber que era o pessoal ele voltou a assistir TV. Ele provavelmente não havia me visto.

-E ai, como foi? - Annabeth disse bocejando. Bocejei depois, e várias outras pessoas fizeram o mesmo. Contagioso.
-Ahn... Foi bem. - Nico murmurou olhando de mim para eles. Dei de ombros.

Jason colocou as chaves do carro em uma prateleira ao lado da porta, assim como Frank. Eles se espalharam entrando no corredor, ou na cozinha. Ficamos apenas eu, Nico e o casal do sofá. Eu e ele nos entreolhamos.

-Cade a Sophie, Nico? - Percy perguntou. Eu estava do lado de Nico e ele não havia me notado.

Foi então que olhou me notou e quase teve um ataque fulminante.

-JESUS! - Ele levantou do sofá quase derrubando Annabeth. Segurei uma risada alta. Annabeth logo sentou e olhou para Nico, depois me notando.
-Não. Essa é a Sophie. - Nico murmurou. Olhei para ele e vi que ele sorria. Seu sorriso de verdade e grande.
-Deuses, Nico! Avisa ou apresenta na próxima vez. Qualquer coisa. - Annabeth disse colocando sua mão em cima do coração.
-Não é a toa que eu assustei. - Percy respirou fundo. Me permiti sorrir.
-Tão linda que chega a assustar? - Leo apareceu na porta da cozinha com um copo de água. Jogaram tinta na minha cara novamente.
-Eu não sei se isso é um elogio ou um insulto. - Falei cruzando os braços em frente ao corpo, tentando disfarçar. Certamente funcionou.
-Elogio. - Ele bebeu a água. Porque os meninos dessa casa flertavam com as meninas com essa naturalidade sobrenatural?

Me obriguei a não corar. Ao invés disso escorei o corpo na parede e mantive uma expressão casual. A parede era fresquinha e o ar era um pouco mais frio do que o lado de fora.

-Então, Sophie. - Esse era o jeito mais chato de se começar uma conversa mas deixei Annabeth continuar. - Você vai ficar aqui?
-Segundo Nico, sim. - Respondi tímida.
-Como foi lá? - Hazel perguntou chegando e se jogando no sofá.
-Foi... Estranho. - Nico disse.

Ele foi até o sofá e deitou na chaise. Ele estava sem a jaqueta de couro preta. Virei e percebi que havia um cabideiro do lado da prateleira.

-Tira o sapato, Nico. - Percy murmurou. Nico bufou e tirou o coturno e as meias. Seu pé branquinho contrastou com as calças pretas.

Fui até o sofá e parei de frente a ponta da chaise.

-Tira o pé. - Fiz um sinal com as mãos para dar mais ênfase. Ele bufou novamente, mas tirou. Eu sentei no macio chenile.
-Tira o sapato também Sophie. - Annabeth disse sorrindo de leve.

Com um pouco de trabalho tirei os sapatos e as meias também, já que havia um tapete felpudo que ia até o rack.

-Sophie você tem cheiro de enterro. Sai. - Nico reclamou. Na verdade o cheiro era mesmo forte, e estava me dando dor de cabeça. Mas eu não ia dar essa satisfação á ele. - Senta pra lá.
-Grosso! - Disse irritada de leve. - Os incomodados que se retirem.
-Quantos anos você tem? Três?
-Meia hora! - Dei um meio sorriso vitorioso. Jason, Piper e Leo chegaram na sala.
-Sai. Você me dá dor de cabeça. - Ele protestou.
-Vai você.
-Eu cheguei primeiro!
-Calem a boca vocês dois! - Jason colocou ordem. - Que tipo de insulto foi esse?
-Cara, ela tem um cheiro de morte insuportável. E da dor de cabeça. - Ele explicou. - Vai tomar um banho!

Ele me empurrou com os pés. Eu não acredito que ele havia feito aquilo.

-TIRA ISSO DO MEU OMBRO! - Apelei e empurrei os pés dele. Mas mesmo usando toda a minha força ele era mais forte. Ele deu uma risada vitoriosa ao perceber que eu era mais fraca.
-Parem logo. - Percy apareceu e tirou os pés dele de mim e tirou meus braços. Ele empurrou Nico para fora do sofá e eu sentei no seu lugar.
-HA! - Gritei apontando pra Nico.
-Senta aqui. - Jason apontou para o braço do sofá do lado oposto ao meu. Nico foi e sentou mal humorado.
-Ok. Vamos pelo começo. - Annabeth respirou fundo. - Porque Sophie tem cheiro de morte?
-Porque, eu sou filha de Tânatos. - Expliquei escorando minha cabeça na minha mão.
-Essa eu não esperava. - Ela murmurou.
-Porque o cheiro dela é forte e dá dor de cabeça em você, Nico? - Piper perguntou.
-Porque ela é filha de Tânatos. Tânatos é a personificação da morte. A morte tem um cheiro de flores de enterro. Ela naturalmente pegou isso. - Ele massageou entre os olhos.
-Tipo esse cheiro que dá pra sentir dela? - Piper tentou entender mais.
-Exatamente esse. Se vocês podem sentir como se fosse um perfume normal e nem são filhos de Hades, imaginem o que eu sinto.
-Eu me sinto dentro daquele filme. Crepúsculo. - Leo observou. - Exceto pela parte que ninguém é um vampiro.
-É, e pela parte dos lobos. - Hazel falou.
-E a parte de vampiros atrás dela. - Piper completou sorrindo.
-Foi uma comparação ruim, ok? - Ele se frustrou. Sorri com a conversa deles.
-Agora, podem contar como foi? - Os olhos acinzentados de Annabeth brilhavam de curiosidade.

Nico contou grande parte da história. Eu só expliquei o que Perséfone havia me contado e a minha curta conversa com Afrodite. Quando terminei minha garganta estava quente e seca, assim como meus lábios e língua.

-Acho que estou com sede. - Falei um pouco tímida.
-Eu vou te mostrar onde fica. - Piper disse se levantando. Eu a segui até a cozinha.

A cozinha era em preto, vermelho e inox. Havia uma ilha com fogão cooktop e coifa. Uma geladeira de de duas portas com bebedouro embutido de inox estava no canto. Ela me mostrou onde ficavam os copos e algumas outras coisas.

-Nós temos uma adaga em cada cômodo no caso de uma emergência. - Ela me mostrou uma adaga básica de bronze celestial e logo guardou em uma gaveta. - Aqui estão os copos. - Estavam em uma prateleira em cima da pia.
-Que tipo de emergência?
-Monstros por exemplo. - Ela encheu metade do copo com água do filtro embutido na torneira e metade da gelada e me ofereceu.
-Porque misturar? - Peguei o copo e observei. Não tinha diferença nenhuma na água.
-Acredite em mim, você não ia gostar de apenas água gelada ou apenas quente.

Bebi. Não tinha gosto de nada, mas era bom. Era meio termo, e eu tenho quase certeza de que não ia gostar de água gelada. Terminei e coloquei o copo na pia. Voltamos para a sala de estar. Eles pareciam reclamar de algo sobre a escola.

-Eu não gosto de todas aquelas paredes de vidro. - Nico disse, me observando quando eu entrei. Ele parecia observar detalhes em mim. Quando nossos olhares se encontraram eu logo desviei, mas ele se atreveu a sorrir da minha vergonha e continuar me observando.

Sentei na chaise que eu havia tomado dele. Não havia notado, mas eu havia deixado minha carteira jogada ali. Com uma pontada de curiosidade eu abri para ver o que exatamente tinha lá dentro.

Em uma parte havia o dinheiro. Não precisei contar, porque graças á Afrodite eu sabia que haviam 1500 dólares. Eu não sei se ia gastar tudo e precisar de mais ou se ia gastar quase nada. Mas eu certamente não iria manter todo esse dinheiro comigo. Eu podia ser uma semideusa mas não era anti-assaltos. Haviam também os documentos. RG, CPF, Carteira de Motorista, e todas aquelas outras coisas. Eu tinha 16 anos. E um sobrenome.

Naquela altura do campeonato eu não tinha pensado em sobrenome. E em quase nenhuma outra coisa. Meu nome era Sophie Seele. Seele era alemão. Alma. Algo meio cômico. E mais uma coisa estranha: meu aniversário de 16 era hoje.

-Criatividade interessante. - Murmurei enfiando tudo na carteira e notando a pedra que eu havia colocado ali antes.
-O que foi? - Hazel me perguntou. Ela estava sentada do meu lado.
-Nada. - Peguei a pedra e fechei a carteira.
-O que é isso aí?
-Uma espada. Segundo Afrodite.
-A minha espada é uma caneta. Não tem nada de estranho nisso. - Percy me explicou e eu quase ri da caneta/espada.
-Deixa eu ver. - Nico estendeu a mão para pegar.
-Não. Você me chamou de 'cheiro de enterro'.
-Foi mal. Deixa eu ver?
-Não.
-Eu posso? - Hazel me perguntou docemente. Entreguei a pedra pra ela e ela analisou. - Não é preciosa nem nada. Mas é linda.
-Eu deduzi isso. - Ela me devolveu a pedra.

Ficamos conversando assuntos aleatórios até as 6 da noite. Fiquei girando a pedra em minhas mãos por grande parte do tempo, e outra parte a jogando pra cima e a pegando. Quase caiu no meu rosto alguns pares de vezes mas eu disfarcei discretamente.

-Vamos buscar alguma coisa pra comer. - Percy disse se levantando. Por "vamos" ele quis dizer ele e Annabeth. Ele se espreguiçou. Annabeth levantou do chão.
-Vão tomar um banho e arranjar roupas pra Sophie. - Ela disse.

Assim que disseram isso eles saíram. Nico foi o primeiro a levantar.

-Finalmente vou ver se esse cheiro diminui.
-Ah cala a boca. - Tentei não sorrir ao dizer isso.
-Vem Sophie. Vamos dar uma olhada no seu novo quarto. - Piper disse. Ela e Hazel levantaram e eu as segui.

Entramos pelo corredor. Ele era claro, com as paredes brancas e algumas pinturas abstratas espalhadas. O chão era frio mas eu já havia me acostumado.

-Nós temos quatro quartos. - Hazel começou. - Um deles é meu e da Piper, dois deles são dos meninos. Sobrou um, então mantemos mobiliado no caso de alguma visita ou novo morador.

Ela abriu a segunda porta á direita. A primeira coisa que notei foi que um lado do quarto estava decorado. Haviam duas camas box, de solteiro. Duas escrivaninhas, três prateleiras de cada lado e um guarda roupa com portas de correr, uma delas com espelho. Ambos brancos. O lado decorado era o esquerdo. Haviam almofadas coloridas na cama. Azul, amarelo, roxo, vermelho e verde. A colcha era um edredom branco. Na escrivaninha havia um notebook roxo, uma luminária branca, e um enfeite de uma árvore dourada com todas as folhas de pingentes da mesma cor. Em cima haviam três prateleiras cheias com os meus livros favoritos e alguns enfeites. Provavelmente o guarda roupa estaria lotado.

-Sutil. - Piper murmurou olhando para o teto. Havia uma luminária eclipse branca.
-O culpado deve ser meu pai. Desde que estou viva ele tá me dando todo tipo de coisa. - Passei a mão pelos pingentes da árvore e elas tilintaram. Havia uma carta em cima da escrivaninha. Discretamente eu coloquei ela embaixo do Notebook.
-É um bom começo, se ele quer te conquistar. - Hazel apareceu ao meu lado, olhando os livros.
-Tenho que concordar. Mas vai ser um caminho longo até ele conseguir.

Coloquei minha carteira em cima da escrivaninha. Haviam algumas gavetas ali, mas eu não quis por ali por medo de esquecer. Coloquei minha pedra perto da árvore e me voltei para o guarda roupa.

Assim que abri fiquei chocada com o tanto de coisa. Várias blusas, vestidos, saias, estavam pendurados ali. Em baixo haviam mais quatro gavetas e duas prateleiras. Na primeira haviam mais blusas. Na segunda havia uma quantidade infinita de shorts, calças e leggings. A outra tinha pijamas e ligerie. E a última eram blusas de frio. As prateleiras estavam cheias de sapatos.

-Como cabe tudo isso? - Perguntei assustada.
-Todos os guarda roupas daqui são meio que encantados. Cabem tudo e mais um pouco. - Hazel me explicou enquanto eu fechava a porta e abria a do meio.

Maquiagens, perfumes, cremes, acessórios. Tudo isso organizado em prateleiras, porta-treco, e aqueles tipos de pequenos cabideiros para colares. Na parte de baixo do guarda roupa haviam materiais escolares, uma mochila listada, e algumas coisas para desenho. Eu desenhava porque não requeria muito esforço, segurar lápis ou borracha.

-Me sinto mimada. - Comentei rindo.
-Provavelmente era essa a idéia. - Piper disse sorrindo simpática.
-O que vocês usam pra vestir nesse horário?
-Na maioria das vezes pijama. Pode colocar um se quiser. - Hazel se sentou na minha cama. Fiquei com medo de ser a única de pijama ali.
-Pode ficar tranquila. Eu e Hazel vamos usar pijama também, ok? - Ela riu da minha expressão.
-Ok. - Respondi sorrindo.
-Vou pegar uma toalha pra você.

Ela saiu, deixando apenas eu e Hazel no quarto. Me coloquei para escolher um pijama. Acabei ficando com uma regata branca com alça de renda e um short vermelho com barrado azul.

Piper voltou com uma toalha, e eu inventei de fazer um coque no meu cabelo para não molhar. Eu sabia fazer, na teoria. A prática era outra coisa. Só consegui que ele ficasse sem despencar depois da quarta tentativa.

Peguei as minhas coisas e as meninas me mostraram onde era o banheiro das meninas. Haviam dois banheiros no apartamento. O das meninas e o dos meninos. Isso servia para não virar tudo uma bagunça.

O banheiro era do lado do meu quarto. Ele era básico. O azuleijo era branco e vermelho. Havia um chuveiro e, naturalmente, uma privada. Entrei no chuveiro, e apesar do pedido das meninas para não demorar eu tive trabalho para sair de lá. A água era quentinha e os jatos eram suaves. Também fiquei um bom tempo brincando com o sabonete e a espuma, e ficando irritada quando ele caia. Quando eu sai estava enrugada como um repolho. Me sequei, coloquei o pijama e sai.

O vapor quente contrastou com o frescor do lado de fora. Meu cabelo ainda estava preso. Caminhei pelo corredor ouvindo as vozes na sala e o banheiro masculino jorrando água. Fui até o meu quarto e coloquei a toalha no cabideiro atrás da porta. Depois fui para a sala.

Apenas Hazel, Leo, Piper e Jason estavam ali. Frank estava no quarto, segundo sua namorada. Sentei em uma parte normal do sofá. Piper foi tomar banho depois de mim. Fiquei feliz ao constar que meu cheiro não estava tão forte. Eu só podia sentir se cheirasse a mim mesma. Ao invés disso eu cheirava sabonete.

Algum se passou e eu preciso notificar: eu não estava acostumada a ver garotos sarados e lindos andando apenas de toalha. Eu não ia até o vestiário masculino porque eu não me permitia. Nico apareceu nesse estado e eu quase tive um treco. Ele parecia tranquilo com aquilo, assim como os outros.

-O que está procurando dessa vez? - Jason perguntou mudando de canal. Eu desviei o olhar de Nico, mas ainda pude ver um flash de suas costas musculosas desaparecendo na cozinha, provavelmente indo para a área da lavanderia.
-Minha calça. - Ele falou da cozinha. Pelos deuses ele não tinha nenhuma outra calça? Respirei fundo tentando manter minha respiração normal.
-Cade a outra? - Hazel confirmou que ele realmente tinha outra.
-Não sei. - Ele disse, novamente passando pela sala. Meus olhos, sem eu notar direito, o seguiram.

Quando ele entrou no corredor novamente eu soltei o ar que nem percebi que segurava. Me concentrei em Wall-e antes que eu começasse a pensar coisas que não deveria.

Mais um tempo se passou. Todos eles tomaram banho e magicamente tiveram algo que fazer no quarto. Todos menos Nico. A sorte não estava ao meu favor de jeito nenhum. Ele vestia uma calça de moletom cinza e estava sem camiseta. Porque ele fez aquilo nem o Oráculo de Delfos deveria saber. E eu tive vontade de mandar ele ir vestir uma camiseta, ou um cobertor. Ou qualquer outra coisa que cobrisse ele. Acho que até aquelas algas fedidas de fazer chá serviam.

-Não tem nada mais interessante passando? - Ele perguntou. O filme estava no fim. Na parte em que o Wall-e era meio que esmagado pelo negócio da planta.
-Não. - Provoquei. - Quando acabar eu vou te dar o controle.
-Você não está com cheiro pavorosamente forte. - Ele observou, depois de um tempo de silêncio.
-Só se cheirar a pele dá pra sentir. - Respondi. - E você bem que poderia vestir uma camiseta.
-Porque?
-Porque sim. Não é educado ficar semi-nu perto de uma menina.
-Eu não estou "semi-nu".
-Eu sou antiquada. Então, pra mim é.

Bufando, ele se levantou e foi até o quarto dele. Fiquei triste quando achei que ele tinha me deixado ali. Mas ele voltou, vestindo uma camiseta preta.

-Melhorou? - Ele perguntou se jogando ao meu lado no sofá.
-Melhorou. - Eu não tinha tanta certeza sobre essa minha resposta.
-Pode me dar o controle remoto agora?
-Como você é irritante. - Entreguei o controle.
-Você também.
-Cade todo mundo? - Mudei de assunto.
-Fazendo tarefa de casa.
-Como vocês vivem todos juntos, fora do acampamento e não são atacados?
-Você fala demais. - Ele disse mudando de canal e sem mostrar nenhuma expressão.
-Eu sei. Agora me explica. - Exigi.
-Existem grupos como esse por toda a cidade. Eles são para o caso de algo acontecer. Os deuses disfarçam nosso cheiro, como um favor.
-Acho que entendi.
-Bom. Porque eu não ia explicar denovo. - Ele finalmente parou em um canal que passava Gigantes de Aço.

Levantei para ir beber água e Nico me perguntou onde eu ia. Murmurei um "água" pra ele e sai. Os copos eram as únicas coisas que eu sabia onde ficavam. Sem contar com a adaga, mas não dava pra fazer muita coisa com ela a não ser esfaquear alguém ou matar monstros. Peguei o copo e o enchi do jeito que Piper havia feito. Quando estava bebendo, Nico apareceu para vasculhar a geladeira. Ele enfiou a cabeça ali e por alguns segundos achei que ele ia entrar ali. Até que ele saiu segurando um treco rosê enrolado.

-O que que é isso aí? - Perguntei com a boca ainda dentro do copo.
-Presunto. - Ele fechou a geladeira com o cotovelo.
-Eu quero.
-Pega um ué.

(...)

Eu não achei o presunto. E fiquei com raiva de Nico porque ele não quis pegar pra mim.

Quando Annabeth e Percy chegaram eu estava sentada no sofá com as pernas encolhidas, cabeça encostada nos joelhos e abraçando minhas pernas. Pra completar, uma cara de infelicidade com um leve bico. Melhor posição para mostrar meu ultraje. Quando me viu, Percy logo perguntou o porque do meu estado. Mantendo a cara eu expliquei.

-Presunto?! - Ele exclamou.
-Presunto.
-Presunto?
-Caramba Percy! Sim, presunto. Aquelas coisas rosês. - Me revoltei.
-Existem coisas melhores que presunto, Sophie. - Leo disse entrando na sala e indo direto vasculhar as coisas que Percy e Annabeth trouxeram e haviam deixado na mesa. Eles haviam ido ao McDonalds.
-Quer mesmo falar de comida com quem nunca nem sentiu o cheiro delas? - O cheiro da comida que eles haviam trazido havia me dado vontade de atacar tudo, mas eu fui um ser humano decente e esperei.
-Eu vou dar de tudo pra você comer, então. - Ele concluiu tirando as coisas da sacola e dando seu sorriso torto e charmoso.
-Contanto que não tenha cobras, escorpiões, baratas e coisas cruas nessa lista tudo bem. - Ele veio até mim e me entregou um dos sacos de papel, e um copão de isopor com tampa e canudo. - O que que é isso?
-Sua primeira refeição. - Ele deu seu sorriso charmoso.

Olhei o copo para ver o que tinha dentro mas não consegui nenhuma dica. Tomei um gole e a coisa era meio ácida, com umas bolhinhas. Reprimi uma careta ao engolir, mas acho que não fui muito bem nisso.

-Bebe outro gole que fica melhor. - Annabeth disse com um meio sorriso.

Eu me sentia uma daquelas crianças que os pais dão comidas diferentes e assistem a reação deles. Bebi outro gole, e felizmente foi melhor. A acidez era menor, as bolhas ainda estavam ali, mas eu senti o gosto pelo menos. Era doce e gelado. Engoli com menos relutância.

-O que que é isso? - Perguntei pela terceira vez em uma noite.
-Você não tem outra maneira de perguntar as coisas? - Ignorei Nico. Ele já estava comendo.
-Refrigerante. - Leo disse como se fosse óbvio.

Coloquei meu copo no chão por falta de lugar onde colocar. Minha "posição do ultraje" havia ido embora. Abri o saco e vi batatas fritas e um lanche. Comi uma batata, a mordendo pela pontinha. Estava ótima. Dei uma mordida no lanche, e decidi deixar para comer as batatas no fim. O lanche era maravilhoso. Vou descrever assim porque não conhecia quase nenhum dos sabores de quase nada. Terminei de comer tudo depois de um longo tempo. E eu não demorei de propósito. Metade do recheio do lanche decidiu tomar um ar, então travei uma pequena batalha.

Ajudei Annabeth a entregar a comida para os outros, que estavam presos na tarefa de casa, e logo depois disso eles foram embora. A casa ficou mais parada quando eles foram. Estava mais quieto. Descobri que detergente para lavar as mãos não era bom porque era infernal para tirar das mãos e deixava fedendo. Eu também descobri que a expressão "estar apertado" era realmente uma boa definição.

Eram mais ou menos 22:00 quando eu fui para o meu quarto. Vasculhei meus livros e descobri a maior crueldade que poderiam fazer comigo: eu não alcançava a última prateleira.

-Ah qual é! - Gritei sem me conter depois de ficar me esticando para tentar alcançar um livro. Minha cadeira da escrivaninha era de rodinhas, então não era uma idéia muito esperta subir nela.
-O que foi Sophie? - Ouvi Nico gritar na sala. Ele e Leo ainda estavam lá e eu descobri que eles dividiam o quarto.
-Meu pai está fazendo bullying comigo, é isso que está acontecendo! - Gritei de volta, irritada. Ouvi alguns passos no corredor e logo Nico e toda a sua brancura apareceram.
-O que foi? - Ele perguntou novamente. Pra mostrar o que era tentei, inutilmente, alcançar a prateleira. Ele logo entendeu e abriu um sorriso estupidamente bonito. - Não alcança?
-Não. - Choraminguei e ele riu. Fiz careta e ele veio me ajudar.
-Qual você quer? - Ele perguntou, escondendo um sorriso.
-O Beijo das Sombras. - Murmurei, me sentindo inútil ao ter que pedir ajuda a ele. Ele o alcançou sem a mínima dificuldade, e se pôs a observar a capa.
-Vampire Academy? Sério?
-Cala a boca. É a minha segunda série favorita.
-Olha que eu ponho o livro de volta. - Ele ameaçou.
-Pode me dar logo? - Exigi. Ele me entregou o livro e rolou os olhos. - Fecha a porta quando sair.
-Folgada. - Ele disse saindo do quarto e fechando a porta atrás dele.

Acendi a luminária e coloquei na ponta da mesa. Apaguei a luz e me joguei na cama. A luz estava melhor assim, mas deixava minhas pálpebras pesadas. Logo me enterrei no romance conturbado e na ação.


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Notas finais do capítulo

ME DIGAM O QUE ACHARAM MINHAS COISINHAS. O QUE ACHAM DA RELAÇÃO SOPHIE/NICO? TEM ALGUMA IDÉIA DE SHIP? PORQUE EU REALMENTE NÃO PENSEI EM UMA (PENSEI EM SOCO MAS NÃO É ALGO MUITO AGRADÁVEL). NIPHIE? ME DEEM IDÉIAS COISINHAS LINDAS DO MEU CORAÇÃO



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